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2.1. O P ARQUE DA V ÁRZEA

2.1.1. I NTRODUÇÃO

Na prática, o conceito de desenvolvimento sustentável tem limites, não limites absolutos, mas os impostos pelos recursos naturais disponíveis e pela capacidade da biosfera absorver os efeitos da própria acção humana, bem como pelos estágios actuais de desenvolvimento tecnológico e da organização social.

A construção sustentável assume-se, em consequência, como uma forma alternativa de pensar, projectar e edificar baseados no paradigma da ecologia ambiental. Nela está implícita uma série de estratégias de utilização do solo, projecto e construção que, por si só, reduzem o impacte ambiental. Nesta perspectiva deve ser entendida como um organismo vivo que respeita as leis naturais. Trata-se de pensar o habitat, não só como resposta a uma função e (ou) a uma estética, mas também para a promoção da saúde do corpo e do espírito, pressupondo a criação de ambientes salubres e confortáveis, onde esteja presente a harmonia entre o edificado, o clima e o contexto físico em que está inserido.

A implementação efectiva destes pressupostos implica a conjugação de esforços e a convergência de objectivos de todos os agentes envolvidos, ou seja, de todos os cidadãos.

Em termos do desenvolvimento e requalificação urbana bem como de conservação de biodiversidade e ecologia local, os instrumentos mais importantes e determinantes para a sua efectiva implementação são os utentes e investidores. São eles que criam a procurae definem as características dos empreendimentos, o desempenho previsto e a quantia que estão dispostos a investir. O seu determinismo será tão mais significativo quão mais sensibilizados estiverem pelas preocupações ambientais, podendo, dessa forma, exercer uma influência cada vez mais positiva na protecção e mitigação dos impactes negativos e, consequentemente, na melhoria da biodiversidade.

No entanto, os maiores obstáculos que se erguem à sustentabilidade dos meios edificados são provavelmente de ordem comercial. Na construção civil as margens de lucro são limitadas e existe um receio generalizado do mercado em envolver-se em acções que possam reduzi-las ainda mais. Se o promotor não incluir sustentabilidade como prioridade, as possibilidades de acção pró- activa de projectistas e construtores tornam-se, nesta perspectiva, limitadas e pouco prováveis.

Adicionalmente, a sustentabilidade do empreendimento é decisivamente determinada pelas decisões do projectista ao nível da concepção, influenciando o grau de afectação do sítio, o seu impacte económico e social, a qualidade dos espaços criados e o seu efeito na saúde, conforto, satisfação e produtividade dos usuários.

Não obstante, os construtores são os agentes mais visíveis no processo e, consequentemente, aqueles comummente apontados como culpados do prejuízo ou destruição ambiental. Na realidade, porém, salvo se forem também os empreendedores, os construtores

cumprem obrigações contratuais definidas previamente por clientes e projectistas. Assim, quando o contrato de construção é estabelecido, já é normalmente tarde demais para se procederem a alterações significativas ao processo, no sentido de o tornar mais sustentável. Por outro lado, como são os construtores que efectivamente executam o projecto, eles têm (diferentemente dos processos de planeamento, projecto e gestão da operação) o poder de influenciar a maneira como o processo de construção afecta, em termos ambientais, económicos e sociais, não só o sítio original, mas a comunidade local. Adicionalmente, a etapa de construção encerra parte considerável dos impactes sociais e económicos de todo o ciclo do empreendimento. Consequentemente, no grupo dos construtores, a implementação de políticas para a sustentabilidade e de instrumentos de informação tem um dos maiores potenciais de benefício de entre os agentes envolvidos em todo o ciclo, que provavelmente só encontra paralelo entre os projectistas.

Finalmente, o desempenho em uso resulta da combinação do desempenho potencial esperado a partir das decisões de projecto e construção, bem como dos padrões de comportamento dos usuários, que podem diferir – positiva ou negativamente – das expectativas assumidas nos programas de projecto. O longo período de uso potencia a interferência dos usuários e gestores, mas num momento em que há pouco a fazer para se obter melhoria significativa. Na verdade, normalmente espera-se mais que o utente e o planeamento da gestão contribuam para a manutenção do desempenho esperado em projecto do que para o melhorar efectivamente.

No pressuposto de todos estes considerandos, constituem princípios basilares para uma eficaz estratégia de intervenção:

Aumentar os níveis de sensibilidade por preocupações ambientais promovendo a informação e sistematização de procedimentos com base nos princípios de desenvolvimento sustentável. É fundamental que clientes, promotores, projectistas, construtores e utilizadores, ou melhor, a sociedade em geral, tenham uma percepção o mais informada possível das implicações do seu desempenho no resultado final de cada acção; Só assim será possível “…satisfazer as necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades...”33;

Poupar energia projectando e construindo edificações de baixo consumo. O consumo contínuo de energia de uma construção é, provavelmente, o seu maior impacte ambiental. Soluções e técnicas construtivas adequadas, bem como equipamentos e comportamentos

33

Definição clássica do desenvolvimento sustentável, segundo o Relatório Brundtland. Relatório Brundtlan – http://pt.wikipedia.org/ [Consult. 2011-03-15].

em conformidade com essa necessidade, contribuem decisivamente para o equilíbrio energético-ambiental;

Reciclar construções já existentes aproveitando as infra-estruturas existentes, em vez de ocupar novos espaços. As construções existentes são, em geral, fontes riquíssimas de recursos materiais e culturais. No entanto, deverá ser dada especial atenção à identificação, manuseamento e destino de certos materiais perigosos, que possam, eventualmente, estar patentes nessas construções;

Diminuir o consumo de materiais optimizando o aproveitamento dos espaços e a eficiência dos sistemas. Quando se trata de zelar pelo meio ambiente, aplicar menos recursos é melhor, independentemente dos materiais utilizados. Por outro lado, é, em geral, aconselhável usar menos quantidade, desde que essa medida não comprometa a durabilidade ou integridade estrutural da construção. Diminuir a área superficial de uma construção, significa reduzir o consumo de energia. Mitigar o desperdício, além de proteger o meio ambiente, reduz o custo. Aproveitar bem o espaço e simplificar geometrias significa, também, poupar energia e materiais;

Proteger e melhorar o local. Preservar ou restaurar o ecossistema e a biodiversidade nos ecossistemas frágeis ou significativos deverá ser a prioridade número um. Antes de tudo, é preciso avaliar se a construção deve realmente ser realizada. Proteger as árvores existentes e a camada superior do solo durante a execução da obra. Evitar o uso de pesticidas. Procurar reintroduzir espécies nativas;

Escolha de materiais de baixo impacte. Há que ter em consideração que o impacte ambiental causado pelos materiais de construção tem início a montante da construção – as matérias-primas extraídas da natureza, os poluentes emitidos durante a fabricação, a energia gasta durante a produção, etc. Por outro lado, a jusante da construção, alguns materiais, como os que destroem a camada de ozono, continuam a poluir durante o seu uso. Outros, ainda mais a jusante, implicam um forte impacte ambiental quando deixam de ser utilizados e se transformam em resíduos. Assim, há que usar materiais de baixo consumo de energia na extracção da matéria-prima, industrialização e transporte, dar prioridade a materiais reciclados e materiais reusados. Deverão ser, igualmente, evitados materiais que consomem recursos naturais limitados, bem como banir os materiais que integram produtos tóxicos ou perigosos;

Maximizar a longevidade, projectando com sentido de durabilidade, adaptabilidade e elegendo materiais duradouros. Quanto mais tempo uma construção mantiver as suas características, maior o período durante o qual o seu impacte ambiental pode ser amortizado. Ao construir para durar, deverá ter-se em conta a facilidade de modificação da

edificação para se adaptar a novas necessidades. Construir de forma a impedir a deterioração prematura. Pensar na manutenção e substituição dos componentes menos duráveis;

Poupar o consumo de água. Promover a optimização de redes e sistemas. Colectar e reutilizar as águas pluviais. Separar a água das descargas das retretes (águas negras) das outras (águas cinzas) e promover sistemas de reaproveitamento das mesmas. Prever sistemas ecológicos para tratamento de águas residuais;

Promover a construção saudável. Criar ambientes seguros e confortáveis. Os ambientes internos e externos estão inter-relacionados e qualquer construção deve garantir a saúde de seus ocupantes. Projectar sistemas de ventilação natural e contínua. Evitar equipamentos mecânicos, principalmente os que possam introduzir gases de combustão e, nos casos em que tal não seja de todo possível, projectá-los para que as operações de limpeza e manutenção sejam fáceis. Controlar a humidade para evitar o mofo e o desenvolvimento de colónias de bactérias nocivas. Evitar materiais que libertam poluentes. Permitir que a luz do dia penetre no maior número possível de ambientes. Dar aos ocupantes o máximo de controlo possível sobre o ambiente;

Minimizar o desperdício de construção e de demolição. Separar os resíduos de construção e demolição para reciclagem;

Minimizar o impacte ambiental associado aos estilos de vida. Divulgar e falar sobre sustentabilidade. Usar veículos de baixo consumo. Incentivar o uso do transporte público e da partilha. Usar consumíveis reciclados e promover a sua reciclagem. Usar o projecto para sensibilizar e educar clientes, colegas, prestadores de serviço e o público em geral sobre os impactes negativos e como diminuí-los.

Não obstante, a arquitectura, como aliás tudo na vida, resulta do assumir de uma série de compromissos, da escolha de um determinado caminho em detrimento de um outro, tudo porque, soluções universais e absolutas representariam, por si só, contra-sensos e empecilhos incontornáveis na persecução da sustentabilidade.

FIG.2–ESTANDARTE DO MUNICÍPIO DA LOURINHÃ,[AUTOR DESCONHECIDO] Fonte: http://pt.wikipedia.org/ [Consult. 2011-09-11]