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2 A EXPANSÃO DO ENSINO SUPERIOR E O ACOMPANHAMENTO

2.2 ACOMPANHAMENTO DO EGRESSO

2.2.1 O acompanhamento do egresso em diferentes figurações

No intuito de conhecermos melhor como a política de acompanhamento de egressos vem acontecendo na prática, encontramos alguns direcionamentos no recente estudo de Queiroz e Paula (2016), intitulado “O Relacionamento com Egressos como Estratégia Organizacional para o Desenvolvimento das Instituições da Educação Superior”. O artigo tem como propósito apresentar as estratégias concebidas para identificar os mecanismos do relacionamento entre a IES e seus egressos, partindo da seguinte questão: é possível determinar formas de utilização de estratégias de relacionamento com egressos no aperfeiçoamento das IES?

Segundo os autores, a criação e a manutenção do vínculo com os ex-alunos podem ser subsidiadas por possibilidades práticas: eventos esportivos, de lazer e culturais com participação das famílias, envio de notícias relevantes à área de atuação do egresso (sobre formação continuada, oportunidade de emprego, eventos, por exemplo) por e-mail.

Assim sendo, pautados nesses construtos teóricos, os autores concluem que é desafiador formar cidadãos aptos a exercer profissões (que às vezes ainda não existem); portanto, é necessário que haja modificações constantes em seus currículos

e a opinião dos egressos contribuam para a obtenção de necessidades do mundo do trabalho.

Na mesma direção, Michelan et al. (2009) realizaram um estudo que resultou em um artigo intitulado “Gestão de Egressos em Instituições de Ensino Superior: Possibilidades e Potencialidades”, no qual buscaram evidenciar o tema para além da avaliação e da caracterização de egressos, explorando as possibilidades e as potencialidades da gestão de egressos, para que esta adquira maior visibilidade e prestígio, primeiramente na sociedade acadêmica, e, num segundo momento, alcance os gestores de instituições de ensino superior.

Com base no problema de pesquisa, os autores buscaram, dentro da temática, discutir e impor uma definição de egresso válida para as IES, aduzir leis, teorias e práticas adotadas por IES no contexto nacional, retratar as políticas institucionais aplicadas por IES no acompanhamento de seus egressos e propor uma forma de gestão de egressos para as IES.

Ao final do estudo, os autores concluem ser desvantajoso às IES não obter o feedback acera do ensino ofertado, porque as instituições deixam de realizar as mudanças necessárias em seus currículos e processos de ensino-aprendizagem e de saber sobre as necessidades do mundo do trabalho e os interesses por parte dos egressos para cursos de pós-graduação. Diferentemente disso, os autores afirmam que o acompanhamento sistemático de egressos pode contribuir para o relacionamento entre as IES, os egressos e a comunidade, uma vez que as informações colhidas podem propiciar ajuste e ampliação contínua das relações universidade/empresa.

Os autores comprovam ainda serem pré-requisitos para a gestão de egressos em instituições de ensino superior uma política institucional realmente consolidada e um sistema de informação pautado em diretrizes de gestão do conhecimento, pois, quanto maior o nível de interação, tanto maior será o benefício para ambas as partes e consequentemente, para a sociedade. E, por fim, os autores deixam clara a relevância da temática gestão de egressos devido às possibilidades de correção e diminuição de desperdícios que o estudo viabiliza.

Em sua dissertação de mestrado intitulada “O Bom filho a Casa Sempre Torna: Análise entre o Relacionamento da Universidade Federal de Minas Gerais e seus Egressos por Meio da Informação”, Queiroz (2014) investigou o relacionamento entre a UFMG e seus egressos por meio do seu programa de egressos, o “Sempre UFMG”, tendo por enfoque principal a identificação das necessidades e dos desejos dos usuários e dos usuários em potencial desse programa, para conhecer mais profundamente o próprio sistema e fornecer subsídio para as ações de aproximação com os egressos, por meio das categorias de análises: perfil demográfico/acadêmico, perfil de identificação/vinculação e perfil do usuário da informação do “Sempre UFMG”.

Queiroz (2014) concluiu que: a identificação e o vínculo podem estar relacionados ao tempo de saída do egresso da instituição; a relação com um professor que exerce o papel de mentor e o prestígio percebido da UFMG repercutiram positivamente na identificação e vinculação com a instituição, pelo fato de os egressos recomendarem a UFMG a outros e demonstrarem interesse em cursar outro curso; os egressos desejam manter-se informados sobre o que está acontecendo em sua universidade, dada a busca por notícias nos sites da UFMG pela maioria dos respondentes; os egressos estão bastante propensos a se manterem vinculados à UFMG, mas esperam mais atenção e cuidado por parte da instituição em atender certas demandas, como oferecimento de desconto nos cursos de especialização e extensão, empréstimo domiciliar nas bibliotecas e banco de oportunidades de trabalho direcionado aos ex- alunos; o serviço disponibilizado pelo “Sempre UFMG” demonstrou-se ser pouco conhecido pela comunidade de egressos, evidenciando falha na divulgação; memórias e experiências positivas devem ser incentivadas ao longo do percurso acadêmico, como o bom relacionamento com professores e colegas e o bom atendimento administrativo por parte dos servidores técnicos.

A autora concluiu, ainda, que: na transitoriedade desse momento acadêmico, os vínculos e os laços de reciprocidade serão construídos; a conduta de apoio por parte dos ex-alunos à UFMG também deve ser um comportamento instigado desde o seu ingresso na universidade, evidenciando a importância desse público na perpetuação da instituição e permitindo a criação de um senso de responsabilidade compartilhada, ressaltando o propósito de retribuição social. Ao trabalhar essas proposições, alinhando-se aos atributos institucionais de qualidade, transparência e credibilidade,

a ideia de criar um canal de contribuições para a UFMG possivelmente seria, aos poucos, mais bem aceita pelos seus ex-alunos.

Nessa mesma direção, encontramos o estudo de Machado (2010) em sua tese de doutorado intitulada “Perfil do Egresso da Universidade do Rio Grande do Sul”, que avalia as características de identificação pessoal, situação profissional, formação acadêmica e expectativas em relação à instituição dos egressos dos cursos em geral dessa universidade, por meio dos dados colhidos em seu “Portal do Egresso”, disponibilizado eletronicamente no site institucional.

O estudo contou com cerca de sete mil respondentes cadastrados no “Portal do Egresso”, o que viabilizou as hipóteses estabelecidas e seus objetivos, tais como: os egressos atribuem grande importância aos conhecimentos adquiridos durante o curso para o exercício das atividades profissionais; há diferentes perfis de egresso entre as modalidades de cursos de graduação e de pós-graduação; a análise histórica é fundamental para compreender a evolução do desemprego, da participação feminina nos cursos de graduação e pós-graduação e do tipo de dedicação dos alunos durante a realização de seus cursos. Segundo Machado (2010), estabelecer um canal de comunicação entre a UFRGS e seus egressos é possibilitar melhoria da qualidade das políticas institucionais relacionadas ao ensino.

Com base nesses estudos, verificamos quanto a temática relacionada a “egressos” nas IES ainda é escassa e quanto importante ela se faz dentro do cenário de expansão e democratização por que passa o ensino superior no Brasil. Percebemos como se modifica a oferta desse nível de ensino em instituições federais. Se, no passado, era necessário um engessamento do ensino nessas instituições por meio de currículos estáticos, ingresso restrito a um grupo favorecido de alunos, hoje temos um cenário de mudanças onde a voz do profissional formado poderá implicar grandes contribuições à continuidade de seus estudos ou à oferta/oportunidade a outros. Outra questão está relacionada ao profissional formado por essas IES: que, no cenário atual, não basta a formação de mão de obra.

No próximo capítulo, apresentaremos os percursos metodológicos que subsidiaram nosso estudo acerca da política de acompanhamento de egresso na figuração do Ifes campus Cachoeiro de Itapemirim.