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O alargamento da UE à Europa Central e Oriental: lógicas e condicionamentos

Dimensões políticas da adesão da Roménia à UE.

II.1. O alargamento da UE à Europa Central e Oriental: lógicas e condicionamentos

Na literatura da especialidade, o alargamento ou a extensão da UE é considerada “an organization as a process of gradual and formal horizontal institutionalization of organizational rules and norms” (Schimmerlfenning Frank e U. Sedelmeier 2005). A institucionalização significa o processo pelo qual as acções e interacções de alguns agentes sociais se tornam modelos normativos.

Por outras palavras, o alargamento é um processo pelo qual o sistema político, económico e de regulamentação duma organização internacional, neste caso a UE, tem sido e é horizontalmente estendido a outros Estados-Membros. A diferença entre horizontal e vertical neste processo é comparada com a diferença entre “alargamento” e “aprofundamento”, conceitos utilizados na acepção comum do processo da integração europeia.

O processo é gradual porque se baseia em várias fases, que começam, no caso dos Estados da Europa Central e de Leste, com os pedidos de adesão, seguido do processo de negociação conforme os critérios de Copenhaga (1993), mas continuam após a adesão, quando os novos Estados-Membros implementam tanto os compromissos assumidos, bem como os objectivos políticos da UE.

Este processo gradual baseia-se no Tratado de Roma de 1957 (art.237), no qual se enfatizou que qualquer país europeu podia solicitar a candidatura para tornar-se membro das Comunidades Europeias (CE). Este Tratado foi reforçado pelo Tratado de Maastricht (1992), sem que a palavra “europeu” seja claramente definida. A falha de Marrocos para

36 aderir às Comunidades Económicas Europeias (CEE) tem demonstrado pelo menos que ser “europeu” significa geograficamente situar-se a norte do mar Mediterrâneo. (Coffey P., 2003)

A dimensão histórica e cultural do processo de integração tem sido um elemento constante de alargamento, especialmente porque corresponde à diversidade e ao pluralismo que têm caracterizado e caracteriza a Europa. Um dos fundadores da UE afirma que “nós precisamos fazer a Europa não só para os povos livres, mas também

para aqueles do Leste que precisam do nosso apoio e aderência moral.” (Dumont

Gerard-François, 1997).

O processo do alargamento foi baseado em diversos aspectos, tanto da parte da UE como também dos países candidato (Wallace Helen, 1999). No primeiro alargamento, que incluiu o Reino Unido, Irlanda e Dinamarca, os motores da integração foram económicos e políticos, enquanto no último alargamento, à Europa Central e de Leste, foram principalmente políticos (por razões de segurança).

A UE é a resposta actual que os Estados fundadores da CE e os que aderiram após a constituição desta deram ao plano de unidade europeia magistralmente apresentado por Robert Schuman no dia 9 de Maio de 1950. A UE tende a tornar-se um agente global cada vez mais importante, que pode e deve oferecer aos seus membros um quadro de desenvolvimento económico moderno, um mercado integrado, baseado na união económica e monetária, mas também de segurança. Além disso, a UE teve que responder às consequências da divisão causada pela Guerra Fria, pela transição nos países ex- comunistas através duma política coerente, progressiva, causada por razões de ordem económica (o mercado), políticas e de segurança (gestão de crises europeias), nas quais o alargamento ocupou uma dimensão muito importante, o que foi destacado por Jacques Delors, Romano Prodi, Gunther Verheugen etc.

No caso dos países como Grã-Bretanha, Irlanda, Dinamarca, que constituíram o primeiro alargamento (1973), não se tratava de voltar à Europa ou de unir-se à família europeia, porque estes nunca abandonaram a Europa. Como Desmond Dinan (2004) mostra, no caso de Grã-Bretanha, a razão económica foi, provavelmente, a mais importante. O exemplo mais ilustrativo a este respeito foi o momento em que a Grã- Bretanha, registando quaisquer danos resultantes das restrições que seus produtos

37 estavam sujeitos no mercado da CEE, não hesitou abandonar a Associação Europeia do Livre Cambio, uma organização criada por esta economia e mais 6 economias europeias, em 1959. Mais do que isso, os britânicos intuíram rapidamente o potencial global que a CE tinha, especialmente no comércio.

Quanto ao seguinte grupo de países incluídos na comunidade, Grécia (1981), Portugal e Espanha (1986), as razões de adesão foram sobretudo políticas, tendo em conta os regimes autoritários sobre quais se libertaram no final dos anos 70. A adesão destes países era a garantia da consolidação dos regimes democráticos, mas também o apoio ao desenvolvimento económico e à modernização.

O grupo que se seguiu, composto por Áustria, Suécia e Finlândia foi integrado em 1995. Todos os 3 Estados correspondiam à definição “europeia” dos critérios de integração, aproveitando o crescimento económico e consolidação dos regimes democráticos. Mesmo assim, sua neutralidade, tão importante durante a Guerra-fria, arriscava comprometer a sua posição internacional.

O alargamento à Europa Central e de Leste trouxe à UE não só numerosos nacionalismos e problemas de transição, mas também numerosas economias que se anunciavam dinâmicas, um número significativo de consumidores e mão-de-obra especializada, que podia constituir, num determinado momento, a vantagem comparativa da Europa Unida frente aos seus concorrentes globais (Lopez Maria, 2006).

A tendência de alargamento, anunciada pelas orientações do Conselho Europeu de Helsínquia (Dezembro de 1999), certamente foi influenciada também pelos efeitos da globalização económica, a migração em massa e a conquista de mercados, o comércio cada vez mais dinâmico com a Europa Central e de Leste já em plena fase de transição, mas também pelos efeitos positivos das reformas políticas e económicas na região. Em 2004, a UE alargou-se com 10 novos membros, o maior e talvez o mais desafiador da história do alargamento da UE.

O Livro Branco da CE, “O mercado interno perfeito”, publicado em 1985, apoiava em favor da finalização do mercado interno. Fortemente motivada pelos receios de uma diminuição da competitividade europeia na indústria de alta tecnologia, importante para a competitividade internacional e segurança nacional, o Livro Branco afirmava que, desde finais de 1992, deveriam ser retiradas todas as barreiras do interior da CE no caminho da

38 livre circulação de capitais, bens, serviços e pessoas. As propostas deste documento, incorporadas no Acto Único Europeu (1986), estiveram como base para a criação de um mercado único oeste-europeu de grandes dimensões e da União Económica e Monetária. (UEM)

A fundação da UE em Novembro de 1993 redireccionou o movimento europeu. Anteriormente, o alvo perseguido era “o alcance duma maior unidade política”, e a programação tinha como base um processo lento e seguro para esse objectivo implícito, mas incerto; a premissa básica era que a união económica, lenta mas bem-sucedida, impulsionaria a cooperação política e uma maior integração política. O Tratado de Maastrich transformou a natureza desse movimento, quando reformulou o objectivo a longo prazo e acelerou o processo da finalização duma Europa federal centralizada, através da construção dos fundamentos monetários e económicos necessários.

Podemos concluir esse capítulo, dizendo que uma Europa mais unida é certamente no caminho de seguir; as nações chegaram longe demais para voltar para trás, e interesses fortes encorajam a seguir em frente.

II.2. As relações da Roménia com a UE: uma visão romena sobre a ideia de