Ao iniciar essa pesquisa imaginava a possibilidade de chamar a atenção para a necessidade da organização pesquisada criar mecanismos de capacitação para seus servidores como um todo. No decorrer da pesquisa e ao final dela descobri que a demanda por capacitação era de todos os servidores sim, mas um grupo especialmente me chamou a atenção pela escassez de oportunidades de se capacitar efetivamente para o aprimoramento de seu trabalho, que é o grupo de servidores atuantes em áreas técnicas. Ficou nítido que este grupo é o que hoje mais requer atenção por parte da Instituição em relação à capacitação.
A sequência da pesquisa e o tempo necessário para cada fase, que trazem preocupação e ansiedade ao pesquisador no decorrer do processo, fazem todo o sentido ao final da pesquisa, pois a antecipação de uma etapa pode resultar em prejuízo e retrabalho na próxima fase. Assim, passei a entender a cadência ideal da pesquisa.
E todo esse processo trouxe ganhos não apenas para mim, enquanto pesquisadora, em minha vida acadêmica, mas também em minha vida profissional, permitindo um entendimento maior da organização em que estou inserida, das necessidades dos servidores e as dificuldades inseridas nesses processos. Esse entendimento aumentou ainda mais meu envolvimento com a Instituição e o desejo de promover melhorias através da proposição de novos processos e métodos.
4 RESULTADOS DE CAMPO
Os dados empíricos foram coletados entre os meses de outubro de 2014 e fevereiro de 2015, sendo que a maioria das entrevistas foi realizada nas dependências do Instituto pesquisado, com exceção de uma que a pedido do entrevistado foi realizada no Pólo do CEDERJ de Volta Redonda.
Os dados colhidos no campo somaram: diversos eventos observados no campo; documentos variados da universidade, do Instituto e dos servidores, a maioria dos quais disponível no formato online e de acesso público; e onze entrevistas com roteiro semiestruturado. Neste total de entrevistados nove servidores eram técnicos-administrativos, um deles gestor, os outros dois entrevistados eram professores ocupantes de cargo de gestão.
As entrevistas tiveram duração média de quarenta minutos. Cada uma delas foi transcrita e analisada individualmente num primeiro momento, extraindo-se de cada resposta suas idéias centrais, palavras-chave para sintetizar a idéia central e auxiliar na categorização, conforme ilustra-se no Apêndice V.
Num segundo momento as respostas foram categorizadas e depois compiladas de acordo com a categoria/subcategoria recebida, conforme quadro ilustrativo apresentado no Apêndice VI.
Os depoimentos foram classificados em quatro categorias criadas, subdivididas em dezessete subcategorias para responder à pergunta central deste estudo que foram articulados e apresentados de forma sistemática.
Quadro 7. Categorias e Subcategorias de Análise
Categoria Subcategoria Trechos emblemáticos dos depoimentos para ilustrar
1a. Aprendizagem no trabalho
1.1 Interação para aprendizagem/ aprendizagem vicária
“um exemplo é o sistema de diárias, por exemplo que eu nunca tinha feito solicitação de diárias, e ... foi solicitado que eu ficasse com essa... responsabilidade, então, é ... eu procurei saber, perguntei no ... no ... setor financeiro lá com uma colega de trabalho que já mexia com esse sistema, e ela que me ensinou a mexer nesse sistema.” (E1)
1.2
Interação para aprendizagem em grupos fechados e entre grupos
“Eu só sei as pessoas que eu posso perguntar e aquelas que não vão me ajudar. Então eu já vou direcionada nas pessoas que vão me ajudar” (E3)
1.3 Múltiplas formas de aprendizagem “Aí tem um misto dos dois. Ora é por treinamento, por apostila, por livro, por manual. Ora é por conta própria” (E5) 1.4 Formação formal e sua aplicação [ajuda no dia-a-dia do trabalho] “Acho que não [ajudou], foi muito teórico mesmo. (...) eu busco colocar em prática aqui, pequenas coisas que a gente aprende formalmente” (E1)
1.5 Impactos da aprendizagem no desempenho dos servidores
“como eu aprendi a fazer as atividades daqui eu acho que é um exemplo maior disso, que eu convivi com mais 3 ou 4 funcionários na época que eu trouxe essa bagagem pra cá, e... acho que... eu menciono isso como um crescimento.” (E2)
2ª Desafios no trabalho
2.1 Desafios apresentados
“Acredito assim que problemas eu não tenho. A gente já passou por dificuldade de não ter determinado reagente no laboratório ou vidraria, e isso acarretava dificuldade porque a gente precisava pegar um material, por exemplo, a vidraria de uma disciplina e usar em outra e repartir entre a gente, entre os colegas de trabalho, repartir entre os técnicos. Então você tinha que fazer isso porque não tinha suficiente. Não tinha vidraria, faltava algum equipamento.”
2.2 Desenvolvimento de soluções “E a gente tenta fazer uma forma daquilo não se repetir. (...) É a atitude que a gente toma: procura qual é a causa do erro, no nosso caso ali era a desorganização, e a gente arrumou uma forma de organizar isso: vamos desenvolver um sistema.” (E5)
2.3 Os erros no trabalho “Então, até os erros aqui são positivos. (...) A grande sacada é você aprender com o seu erro pra você não fazer mais igual” (E4) 2.4 Oferta da Universidade “Não, a Universidade... Pelo menos aqui, no nosso Campus aqui do Interior, ela não oferece [capacitação] Ou quando oferece, não é flexível o suficiente pra atender todos os servidores” (E8)
2.5 Plano de Carreira de Capacitação e de Qualificação
“Você atinge a remuneração máxima de gratificação por capacitação, você atualmente entra no nível I e pode ganhar gratificação até o nível 4, ou seja, atingindo o nível mais alto, o servidor não tem mais motivação nenhuma pra se capacitar. Eu pelo menos vejo dessa forma.” (E8)
Categoria Subcategoria Trechos emblemáticos dos depoimentos para ilustrar 3ª Desenvolvimento do Técnico-
Administrativo
3.1 Iniciativa para aprendizagem “Não; não tenho um treinamento oficial não. A gente vai e descobre por conta própria” (E5)
3.2 Motivação para aprendizagem “Eu busquei mais pra... minha vida mesmo, pra...por exemplo...se eu quiser ... é ... um outro emprego, passar em um outro concurso porque eu acredito que não..., que fazer uma faculdade, uma pós- graduação, não altera, não influencia na execução do meu trabalho aqui não” (E1)
4ª Competências para o trabalho
4.1 Vantagens percebidas no formato atual “Positivos, eu acredito que além de você aprender com outra pessoa você acaba fazendo amizade com outras pessoas também, de uma forma informal, porque você vai conversar com ela sobre serviço e acaba formando um vínculo de amizade” (E1)
4.2
Competências desenvolvidas no trabalho atual,
competências pregressas e competências necessárias
“Eu acho que essa parte da iniciativa, até um pouco assim de relacionamento interpessoal, eu acho que já tinha isso, mas talvez aqui eu consegui aprimorar isso” (E6)
4.3 Críticas ao formato atual
(...) “o ponto negativo, é que as vezes a gente se prende muito a isso e você acaba não desenvolvendo seu lado técnico, que você poderia aprimorar (...) às vezes também, há o risco de você propagar um erro, né? A pessoa faz de uma forma errada e ensina também da mesma forma errada” (E8) 4.4 Forma sugerida de desenvolvimento de competências na percepção dos entrevistados
“O que mais faz falta na UFF é um curso de capacitação pra cada um no seu setor. É importante a gente ter uma visão geral? É. Igual até a gente já teve lá na UFF uma experiência disso. Mas se você "tá" naquele setor, você tem que ter a capacitação dele ao máximo e ali falta muito” (E3)