• Nenhum resultado encontrado

O bilinguismo numa perspectiva linguística educativa 

Representações da nação na narrativa latino­americana contemporânea 

1. O bilinguismo numa perspectiva linguística educativa 

Franciele Maria Martiny (UNILA)   

O objetivo deste trabalho é discutir o conceito do bilinguismo, visto a partir de um complexo        fenômeno linguístico que engloba relações sociais e culturais mais amplas. Defende­se a        necessidade de contemplar tal discussão para haja uma linguística educativa plurilíngue no        contexto escolar em torno do ensino de línguas de imigração. Isso porque, na maioria das        vezes,  essas  ainda  são  ensinadas  nas  comunidades,  tanto  ideológica  como  metodologicamente, como línguas estrangeiras, sem observar os contextos sócio­históricos        referentes à origem étnica e à hibridização interna dos dialetos com a língua padrão. A fim de        refletir sobre esse cenário, primeiramente, será feito um levantamento bibliográfico em torno        do conceito de bilinguismo, para após, mencionar os contextos linguísticos e socioculturais        de regiões de imigração, sugerindo, em seguida, sob o aporte teórico da Linguística Aplicada        (HAMEL; SIERRA, 1983; CAVALCANTI, 1999; RAJAGOPALAN, 2005; MAHER, 2007)        e da Sociolinguística (SAVEDRA, 2003; BORTONI­RIARDO, 2004; HEYE, 2006), uma        linguística educativa bilíngue que possa contribuir para que os direitos linguísticos de grupos        minoritários sejam contemplados e respeitados. 

 

Contribuições iniciais contrastivas entre “la gente” e “a gente​”  

Francisca Paula Soares Maia (UNILA)   

O presente trabalho nasce de ocorrências realizadas em sala de aula de Português para        hispanofalantes, mais especificamente na graduação da Universidade Federal da Integração        Latino­Americana. Tem por objetivo relatar as dificuldades apresentadas por hispanofalantes        quanto ao uso das formas “a gente” em Português Brasileiro (doravante PB), as quais vem        sendo investigadas no grupo de pesquisa do CNPq/UNILA “Estudos (Sócio)Linguísticos e de        Culturas em Espanhol e Português como Línguas Estrangeiras”, na linha “Estudos        Linguístico­culturais de Português Língua Estrangeira”. Como é sabido, tanto falantes de        Espanhol quanto falantes do PB acreditam que é bastante fácil aprenderem a língua um do        outro. Todavia, algumas formas dessas línguas são muito semelhantes, às vezes na identidade        sonora, como os chamados falsos amigos, mas muitas dessas semelhanças acabam gerando       

dificuldades em vez de facilidades. Sendo o foco desse trabalho a aquisição/aprendizagem de        Português por hispanofalantes, serão abordadas as interferências do Espanhol na produção da        forma “a gente” em Língua Portuguesa. A exposição será realizada de forma contrastiva, com        embasamento teórico em pesquisas linguísticas realizadas sobre a forma “a gente” (cf. Maia,        2009, 2011; Zilles, 2007; Lopes, 1999; dentre outros), bem como na abordagem feita à forma        “la gente”(cf. García Romero, 2004; dentre outros), a partir de dados coletados de produções        dos discentes. 

 

1. “Me comi la quena”: a carnavalização em obra de Jorge Lazaroff 

Franklin Larrubia Valverde (Estácio)   

No final dos anos 80 do século passado vivíamos os últimos anos da guerra fria, encerrada        com a queda do Muro de Berlim e o fim da União Soviética. Nesse período, a América Latina        sobrevivia mergulhada em ditaduras militares e atolada em suas dívidas externas, tendo,        culturalmente, como pano de fundo a resistência de vários artistas das mais variadas correntes        estéticas. Esse era o caso do cantor e compositor uruguaio Jorge Lazaroff que, em 1989,        lançou o disco “Pelota al medio” (Orfeo). Dentro dessa obra ganha destaque a faixa        “Progresos nocturnos”, canção que, utilizando­se da carnavalização, passa a limpo a situação        histórica da América Latina naquele momento, denunciando sua dependência econômica e        colonização cultural com relação ao chamado primeiro mundo. Neste trabalho o conceito de        carnavalização de Bakhtin é utilizado no que se refere à oposição da cultura oficial e à        produção do riso, satirizando a indústria cultural e a sociedade de consumo latino­americana.        A composição “Progresos nocturnos” explicita essa crítica, usando a imagem da quena, como        uma síntese cultural da identidade do ser latino­americano, relacionando­a com as questões        relativas ao consumo, à dependência econômica e à indústria cultural. A carnavalização,        nesse caso, atua também desnudando todas as contradições que conviviam, de certa forma,        abafadas pela situação política latino­americana. “Progresos nocturnos” foi uma das últimas        obras de Lazaroff, que morreu logo depois, e pode ser considerada como uma síntese de seu        trabalho, situado na renovação da música popular uruguaia dos anos 70 e 80. 

 

A Seleção de Eduardo Galeano 

Gabriel Macêdo Poeys (UFRJ)   

Propomos com este texto, uma reflexão crítica acerca do fenômeno da modernização        uruguaia através da observação dos fenômenos históricos e políticos que tornaram do futebol        uma ferramenta do modelo administrativo do Uruguai durante a Era Batllista e como este se        aliou às políticas de intervenção do Estado, do rádio e da prática esportiva para lograr seus        êxitos. Na literatura, contemporâneo aos fatos supracitados, o autor Mario Benedetti se        encarrega de lançar um olhar sobre a massa. O escritor uruguaio é um dos que integra a        coletânea organizada pelo seu conterrâneo Eduardo Galeano, a pedido da editorial Arca. Su        majestade el fútbol (1968) aponta para uma nova modalidade, a coletânea de textos cujo tema        central era o futebol. O título de sua obra faz alusão ao primeiro texto do livro Lo que debo al        fútbol, do escritor argelino Albert Camus, escrito originalmente para a France Footbal em        1957. Galeano, em seu livro, congrega diversos escritores em torno de um tema comum. Sua        seleção conta com escritores uruguaios intelectuais e jornalistas, inclusive, alguns com        participação no periódico Marcha, como Mario Benedetti e Carlos Maggi, por exemplo. Para        tanto lançar­se­á mão da leitura de DA MATTA (1982), FRANCO JÚNIOR (2007) e       

ROCCA (1991) para dar conta do fenômeno do futebol, bem como DELEUZE (1987) a fim        de levantar os signos que perpassam o ato de rememorar. Ao perceber a peculiaridade e a        distinção de como a modernidade se apresenta na periferia do capitalismo, laçou­se mão da        leitura de investigadores como ARTEAGA (2008), BAUMAN (2001), BETTHEL (2002) e        BERMAN (2007).    Colaborações de Perlongher em Xul  Gabriela Beatriz Moura Ferro Bandeira de Souza (USP)  icamisy@yahoo.com.br   

Sob a direção do filósofo e poeta argentino Jorge S. Perednik, a revista de poesia Xul ­ Signo        viejo y nuevo teve doze números publicados de 1980 a 1997. Lançada durante a última        ditadura na Argentina, tinha como leitmotiv o trabalho com a linguagem poética.        Mostrando­se receptiva, em seus números, às mais variadas linhas de experimentação        poética, Xul abriu espaço para ensaios, manifestos, poemas – dentre outros gêneros – cuja        temática abrangia desde autores das Vanguardias, como Oliverio Girondo, a poesiavisual – o        que inclui produções teóricas e poéticas da poesia concreta argentina e brasileira­ até o        neobarroco, praticado pelo também argentino Néstor Perlongher (1949­1992). Dos doze        números da revista, Perlongher marcou presença em quatro, com poemas e ensaios. Sua        primeira colaboração data de 1983, ano em que vem a público o número cinco da revista. A        partir dessa primeira contribuição, o poeta argentino apresenta textos para as três publicações        subsequentes: número 6 (1984), 7 (1985) e 8 (1993). É meu objetivo fazer uma leitura da        produção de Perlongher em Xul, observando não somente cada texto em si, como, sobretudo,        o diálogo estabelecido entre eles e a temática de cada um dos números em que colaborou,        como também com a proposta geral da Revista.  

 

  O cruzamento das vozes narrativas em La caída de Madrid (2000), de Rafael Chirbes 

Gabriele Franco (USP)  O objetivo deste trabalho é analisar de que forma o cruzamento de vozes narrativas possibilita        uma multiplicidade de interpretações do passado histórico na obra La caída de Madrid        (2000), de Rafael Chirbes. A narrativa é concentrada em algumas horas, marcada pelo tempo        que falta para a festa de aniversário de José Ricart e os últimos momentos de vida do General        Francisco Franco, que agoniza no hospital. Diante da suspeita da morte do ditador, os        personagens vão rememorando o passado e refletindo sobre o novo cenário político. Visto        que se trata de um período de censura, somente a representação dos pensamentos e o discurso        do narrador onisciente podem revelar os verdadeiros desejos dos personagens e as diversas        interpretações desse período histórico. Desse modo, serão analisados os recursos literários        que auxiliam na representação do fluxo de consciência de dois grupos presentes na obra, a        polícia franquista e os perseguidos políticos. Para compreender esses procedimentos foram        utilizados como suporte teórico as obras La corriente de la conciencia en la novela moderna,        de Robert Humphrey e As estruturas narrativas, de Tzvetan Todorov, assim como o ensaio        “A personagem do romance”, de Antonio Candido. 

 

A inferência: o que é necessário para desenvolver essa estratégia de leitura? 

Geraldo Emanuel de Abreu Silva (UFMG) 

 

A busca pela compreensão satisfatória de um texto vem sendo buscada por décadas pelos        professores e autores de livros didáticos. Aos primeiros, com frequência, cabe analisar,        selecionar e, posteriormente, aplicar tarefas que são preestabelecidas pelos autores em suas        obras. Tal análise se baseia em diversos fatores e, dentre eles, há a exigência de as atividades        incentivarem a participação em sociedade dos alunos e que esses possam depreender        significados explícitos e implícitos dos textos. Entendendo que para ocorrer tal depreensão de        significados necessita­se desenvolver o processo inferencial dos estudantes, que passa pela        cognição e pelos conhecimentos socioculturais, desenvolvemos este estudo para analisar        atividades de leitura que exigem a inferência na coleção para o ensino de espanhol Cercanía        Joven (COIMBRA; CHAVES; BARCIA, 2013), visto que, em seu material de divulgação, a        editora destaca a inferência como habilidade a ser trabalhada em tais atividades. Este estudo        foi motivado pelos seguintes questionamentos: como desenvolver a estratégia de produção de        inferências? Essa estratégia é, de fato, trabalhada na coleção? Os textos contidos nela        induzem a geração de inferências? As atividades levam em consideração o entorno social e os        conhecimentos prévios dos estudantes e professores sobre o assunto? Buscaremos oferecer        reflexões e discutir possibilidades baseando­nos em outros trabalhos relacionados ao tema,        tais como: Dell’Isola (1988), Coscarelli, (2002) e Torniquist (2007). 

 

Imaginários da identidade: Macunaíma e Altazor 

Gerardo Andrés Godoy Fajardo (UFRN)   

A literatura é uma espécie de espelho profundo da identidade, pois a obra de arte nunca        reflete com claridade nem perfeição os objetos que coloca em pauta, mas, graças a isso,        consegue dizer e deixar em xeque o próprio objeto representado. De fato, nem a realidade        nem a representação da mesma são estruturas fechadas, mas fluxos de significação que        cobram vida nas mãos do escritor, do leitor e do crítico. Por isso, quando buscamos marcas        de identidade cultural em obras como Macunaíma (1928) de Mario de Andrade e de Altazor        (1931) de Vicente Huidobro, que foram escritas sob o ímpeto da modernidade na sua        expressão vanguardista, sacolejamos o discurso nacional do Brasil, por um lado, e do Chile,        por outro. Isso porque o artista que leva a linguagem a ser permeada pela rapsódia ―como        chamara o próprio Mario de Andrade a seu romance― e pelo poema longo ―como é a        criação de Huidobro― trabalha com outro lugar da enunciação. Entretanto, a genialidade da        obra não é só uma questão de forma, mas também o trabalho realizado com os conteúdos, que        tanto em Macunaíma quanto em Altazor possibilitam um instigante desdobramento da        identidade. Nesse ensaio inédito desenvolvemos a crítica literária com um perfil neomarxista        graças às leituras de Eagleton e de Benjamin, procurando uma ideia do Brasil com autores        como Darcy Ribeiro e Sérgio Buarque de Holanda e sobre a identidade chilena com Jorge        Larraín entre outros. 

 

O romance histórico contemporâneo de mediação – releituras críticas do passado pela                        ficção atual 

 

As releituras da história pela ficção marcaram fortemente os períodos do boom e do pós­bom        da literatura latino­americana, com produções desconstrucionistas do discurso hegemônico        que silenciou as vozes dos colonizados. Essas produções podem ser amalgamadas em duas        modalidades de escritas híbridas: os novos romances históricos latino­americanos – cujas        bases teóricas foram lançadas por Fernando Aínsa (1988­1991) e Seymour Menton (1993) – e        as metaficções historiográficas, segundo Hutcheon (1991). Altamente críticas, tais romances        requerem um leitor especializado na construção de sentidos pela leitura. Contudo, na década        de 80 do século XX, começam a surgir romances históricos críticos que apresentam        dificuldades aos que buscam classificá­los segundo os paradigmas dessas escritas        desconstrucionistas. Essas obras abandonam as superestruturas multiperspectivistas, as        sobreposições temporais anacrônicas, os desconstrucionismo altamente paródicos e        carnavalizados das releituras ficcionais anteriores. Elas adotam uma linearidade narrativa        singela, com algumas analepses ou prolepses e um discurso crítico sobre o passado que        privilegia uma linguagem próxima daquela cotidiana do leitor atual. Nelas a construção da        verossimilhança, em boa parte abandonada pelas escritas precedentes, volta a ser essencial.        Essas narrativas não se fixam em grandes heróis da história e suas ações, mas em        perspectivas silenciadas e negligenciadas pela historiografia. Dessas produções atuais, que        denominamos romances históricos contemporâneos de mediação, é que trataremos ao longo        de nossa exposição. 

 

1. O novo romance histórico contemporâneo e a representação imagética do