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Capítulo 2: O uso das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) na sala de

2.3. O blogue: origem, definição e potencialidades

Em 1994, com o aparecimento da Web 2.0 ou Web social, caracterizada pelo dinamismo, pela participação e colaboração, onde os utilizadores assumem o papel de protagonistas ativos, criando e partilhando conteúdos, opinando, participando e relacionando-se, surgiu este meio de comunicação, isto é, uma ferramenta que favorece o intercâmbio de informação e comunicação entre as pessoas (Gómez-Pantoja, 2008, p. 7). A criação do blogue remonta ao ano de 1999, data em que muitos bloguistas começaram a construir os seus blogues, utilizando-os como diários virtuais e/ou para comentários sobre política e humor (Novaes, 2007-2008, s.p.). Desde o seu aparecimento, o número de utilizadores não para de crescer, de acordo com as estatísticas de Technorati (citado

29 em Gómez-Pantoja, 2008, p. 20), que apontam para a criação diária de cerca de cento e vinte mil blogues, o que atribui uma grande popularidade à blogosfera. Entre os visitantes mais habituais podemos encontrar, sobretudo, docentes, jornalistas e estudantes.

O seu número elevado de seguidores deve-se à facilidade, simplicidade e eficácia na partilha de informação com outros internautas, sendo considerada um fenómeno integrador e reprodutor de relações sociais (Paz, 2003, p. 1), já que serve vários públicos (grupos de trabalho, familiares, amigos e outros) e diversas finalidades de comunicação.

No que se refere à definição de “blogue”, são apresentadas duas, visto se complementarem e, portanto, oferecerem uma visão mais completa da funcionalidade desta ferramenta tecnológica. A Real Academia Española (2005) define o termo como: “sitio personal, actualizado con mucha frecuencia, donde alguien escribe a modo de diario o sobre temas que despiertan su interés, y donde quedan recopilados asimismo los comentarios que esos textos suscitan en sus lectores”.

Orihuela (2005) completa a definição anteriormente citada, classificando-o como:

(…) una página web organizada cronológicamente, que admite comentarios y suscripciones y que lleva una línea editorial más o menos definida. Básicamente, nos hallamos ante un espacio personal de escritura en Internet. Los blogs se organizan mediante categorías y los define su carácter multimedia (imágenes, audio, vídeo). (citado em Mercedes, 2012, p. 67)

Trata-se de uma ferramenta de comunicação assíncrona, isto é, a interação entre os participantes não é instantânea, ocorrendo de modo diferido, o que não exige que partilhem o mesmo tempo e espaço (físico ou online), tal como ilustrado na figura 1, à esquerda. Esta comunicação em momentos e espaços diferentes pode permitir, por parte dos utilizadores, maior tempo de reflexão sobre os conteúdos disponibilizados e produzidos. Por sua vez, as ferramentas de comunicação síncrona (chats e sistemas de mensagens instantâneas), ilustradas na figura 1, à direita, permitem aos participantes interatuar simultaneamente em tempo real (Gómez-Pantoja, 2008, p. 8).

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Ainda relacionado com a comunicação, mais precisamente com os tipos de discurso que esta ferramenta concede, Wrede destaca a combinação de dois princípios - o monólogo e o diálogo. O autor esclarece:

Weblogs combine two oppositional principles: monologue and dialogue. A reaction to a statement is not only directed to the sender but also to unknown readers. Very often the weblogger gets feedback from unexpected sources: new relations and contexts emerge. This (assumed) undirected communication develops to an open and involving activity. Weblogs not only enable interaction with other webloggers, they offer a way to engage in a discursive exchange with the author's self (intrapersonal conversation). A weblog becomes an active partner in communication, because it demands consistent criteria for what will be posted to a weblog (and how). This “indirect monologic dialog” of weblogs allows us to conduct communicative acts that otherwise would only be possible in very particular circumstances. (2003, s.p.)

Relativamente às inúmeras potencialidades pedagógicas deste espaço de publicação e comunicação, são destacadas as visões de alguns autores que ora se completam, ora convergem. A primeira (anteriormente assinalada na definição apresentada por Mercedes), nomeadamente o caráter multimédia, ou seja, a oferta diversificada de materiais online (vídeos, imagens, textos, dicionários, entre outros) que podem ser consultados, partilhados e publicados. Como veremos em capítulos posteriores, o blogue criado tirou partido deste tipo de materiais para apoiar o processo de escrita e torná-lo mais motivador.

31 Os benefícios desta grande variedade de recursos para o desenvolvimento da escrita são também perfilhados por Castro (2007, p. 75-76, citado em Gómez-Pantoja, 2008, p. 23), ao alegar que com os elementos multimédia e a variedade de cores e o tipo de letra que se podem visualizar e utilizar nas várias publicações, os estudantes sentem maior entusiasmo pela escrita e têm a possibilidade de personalizar as suas produções académicas, enriquecendo, desta forma, os seus comentários. Por seu lado, Von Staa (s.d., s.p.) acrescenta que esta funcionalidade torna divertida a utilização do blogue, ao mesmo tempo que possibilita a exploração da linguagem de uma forma mais atraente, por parte do corpo docente e dos alunos.

Impõe-se ainda sublinhar que, através da consulta dos materiais disponíveis na internet, os alunos têm a oportunidade de desenvolver as competências de compreensão escrita e auditiva, bem como capacidades de pesquisa, tornando-se mais autónomos e envolvidos no processo de aprendizagem que, por sua vez, vai ganhando significado. Esta atitude vai ao encontro da perspetiva do Construtivismo Piagetiano, desenvolvida por Jean W. F. Piaget (1896-1980), que defende que o aluno experimenta, participa no processo de aprendizagem, construindo o seu próprio conhecimento, o que o torna mais responsável e autónomo (Macedo, 1994, s.p.).

Ferdig e Trammell (2004) estão em concordância com Macedo, classificando este meio de comunicação digital como um propulsor da construção do conhecimento. Também lhe reconhecem as possibilidades de autorreflexão (dos alunos em relação aos seus trabalhos e aos dos seus colegas) e a interação social, que espelham a visão de Vygotsky (1896-1934) sobre a perspetiva sócio-histórica-cultural. Atente-se no seu discurso:

Drawing on Vygotsky’s educational theory (1978), educators highlight the “knowledge construction” processes of the learner and suggest that “meaning making” develops through the social process of language use over time. (…) Blogs are useful teaching and learning tools because they provide a space for students to reflect and publish their thoughts and understandings. And because blogs can be commented on, they provide opportunities for feedback and potential scaffolding of new ideas. Blogs also feature hyperlinks, which help students begin to understand the relational and contextual bases of knowledge, knowledge construction and meaning making. (Ferdig & Trammell, 2004, s.p.)

32 Como explanado anteriormente, o blogue permite dois tipos de discurso (o monólogo e o diálogo) e, portanto, uma interação aluno-aluno, aluno-alunos, aluno- professor e aluno-meio, este último (meio digital) caraterizado pela interatividade. Importa aclarar que o blogue criado, como é comprovado em capítulos posteriores, abrange todas estas interações, seguindo, por isso, a teoria sócio-histórico-cultural de Vygotsky que advoga que a aquisição do conhecimento é pautada pelas interações referidas anteriormente.

Na perspetiva de Gómez-Pantoja (2008, p. 23), o blogue funciona como um incentivo para aumentar as produções escritas e melhorar a qualidade das mesmas. Os jovens têm acesso a todas as publicações - suas, dos colegas e do professor –, o que lhes permite avaliar a evolução da sua competência comunicativa na língua de chegada, bem como estimulá-los à reflexão contínua sobre a mesma. No entanto, a mesma autora refere que a exposição pública dos erros pode provocar uma certa ansiedade e preocupação nos alunos. Para Franco (2005, p. 9), esta troca de informação permite que aprendam num ambiente colaborativo, através da partilha das suas experiências e opiniões, o que favorece a aprendizagem real da língua escrita.

Outro elemento pertinente aludido por Gómez-Pantoja (2008, p. 23) está relacionado com a avaliação das produções escritas dos alunos. A autora sugere duas formas possíveis de avaliar os seus textos escritos. Uma delas é o comentário direto das suas publicações, que classifica como sendo uma forma de correção rápida e eficaz, à qual se podem acrescentar endereços eletrónicos relacionados com o tema em discussão a fim de oferecer ao aluno mais um modelo de língua sobre o qual ele pode e deve refletir. A segunda, denominada peer tutoring, consiste na verificação dos textos pelos seus colegas de turma e ajuda o aluno a consciencializar-se para a aprendizagem da língua.

O espírito de colaboração e interajuda subjacente à segunda forma de avaliação é potencializado pelo uso do blogue, na medida em que este meio de comunicação digital facilita a existência de uma audiência real e cria um contexto de desinibição, fatores que contribuem para a melhoria da interação entre os participantes. Através destes dois elementos (audiência e contexto) enfatizam-se os processos e produzem-se situações reais de comunicação que permitem o desenvolvimento de competências comunicativas de forma efetiva e adequada. Esta ferramenta oferece, também, novas formas de produção escrita e criatividade com diferentes níveis de redação e de escrita Mercedes (2012, p. 68).

33 Se é verdade que o blogue potencia novos géneros textuais, que vão desde declarações de cunho pessoal a textos descritivos ou de opinião, também é inegável que as formas emergentes neste processo adotam um estilo muito próprio, conforme enunciado por Tracie ao apresentar oito potencialidades desta ferramenta, que convergem com algumas das já apresentadas por outros autores:

i) regularly updated content; ii) unique style; iii) focused topics; iv) potential for immediate feedback; v) an interactive community; vi) the ability to involve multiple people in an activity without complicated programming issues; vii) opportunities to write on specific themes; viii) a place to post rough drafts and receive feedback. (2009, p. 5)

De notar, ainda, que o blogue funciona como uma ferramenta de comunicação global, como defendido por D’ Eça (1998, p. 35): “a aprendizagem (com o blogue) adquire interesse e razão de ser e sentido”, pois, graças às suas funcionalidades, a capacidade de comunicação ultrapassa os limites da sala de aula, permitindo a sua abertura ao mundo global (o da Internet), o que aumenta a criatividade e a motivação dos alunos pela aprendizagem. Esta possibilidade permite estender os horizontes culturais, sociais, linguísticos e geográficos dos alunos (D’ Eça, 2007, p. 20).

Em suma, e tendo em consideração as visões de distintos autores, pode afirmar-se que o blogue reúne excelentes qualidades potenciadoras do desenvolvimento da expressão e interação escritas. A sua integração na sala de aula melhora substancialmente a competência comunicativa e social dos alunos, aumentando o grau de motivação dos aprendizes, inclusive dos que tendem a participar menos (Gómez-Pantoja, 2008, p. 10). Além disso, é um bom meio de transportar a escrita para a vida real, desenvolver a comunicação e a organização de ideias e demonstrar que o Inglês e o Espanhol, como línguas, se inserem na realidade do dia-a-dia, não se confinando apenas ao papel de disciplinas.