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Capítulo 2: O uso das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) na sala de

2.2. Os efeitos das TIC no processo de ensino-aprendizagem

Como afirmado anteriormente, a escola constitui um dos pilares da sociedade do conhecimento e da informação e desempenha o papel de interveniente e de principal responsável pela formação de cidadãos flexíveis, capazes de se adaptar e de acompanhar os avanços tecnológicos e todas as transformações sociais, económicas e outras que essa mudança acarreta. Como tal, também no ensino das línguas estrangeiras se atribui importância e se incentiva ao uso das TIC na prática pedagógica, como constatável nos

Programas de Inglês e de Espanhol para o 3.º ciclo do Ensino Básico e Secundário e

ainda, no Quadro Europeu Comum de Referência para as Línguas (QECR) 2. No

Programa de Espanhol Nível Iniciação e Continuação (10.º, 11.º e 12.º anos), uma das

finalidades é “implementar a utilização dos media e das novas tecnologias como instrumentos de aprendizagem, de comunicação e de informação” (Ministério da Educação, 2005, p. 8). Não obstante, também, o Instituto Cervantes se preocupou em garantir a integração das TIC na aprendizagem de segundas línguas no Plan Curricular, no ano de 2006 (Gómez-Pantoja, 2008, p. 3).

De facto, são inúmeros os benefícios que estas ferramentas pedagógicas produzem no processo de ensino-aprendizagem pelo que seria improfícuo e impensável não tirar partido das suas potencialidades. Carmelo Loya ressalta os seguintes:

i. mayor facilidad en el acceso a la información; ii. trabajo colaborativo, horizontalidad: interactividad; nos convertimos en prosumidores y no sólo en consumidores de la información; iii. favorece el aprendizaje autónomo, creativo y constructivo; iv. contenidos compartidos; v. mayor simplicidad en el manejo de las TIC gracias a los Sistemas de Gestión de Contenidos (CMS); vi. omniaprendizaje: el aprendizaje puede hacerse global y mantenerse a 360º. (2006, p. 1)

2 http://metasdeaprendizagem.dge.mec.pt/sobre-o-projecto/documentos-de-referencia/ no dia 3 de junho de 2013.

26 Relativamente ao trabalho ou aprendizagem colaborativa, Hedge está em concordância com o autor supracitado, acrescentando que as TIC beneficiam a motivação, a auto-estima, a responsabilidade, a organização, a interação e a comunicação, ajudando a gerar discussões e atividades que sustentam o verdadeiro processo de escrita (2000, p. 12). Outrossim, as investigações levadas a cabo por Trenchs (2001), Rodríguez Martín (2004) e Castro (2007) (citados em Gómez-Pantoja, 2008, p. 11) também mencionam o fator motivação e acrescentam que esse entusiasmo se manifesta numa melhoria da competência comunicativa da língua meta.

Como justificativa para este aumento da motivação, Gómez-Pantoja (2008, p. 7) alega duas razões: a preferência pelo meio informático em vez de uma folha de papel e o gosto por trabalhar em ambientes digitais. A aprendizagem através de espaços digitais é vantajosa, porquanto facilita a interação entre os alunos, diminuindo os problemas de gestão de aula (Bitter & Legacy, 2009, p. 154). Além disso, Lou, Abrami, e d’Apollonia (citados em Bitter & Legacy, 2009, p. 154) sustentam que o contexto social é importante na aprendizagem através das TIC, afirmando que trabalhar em grupos pequenos é benéfico na interação social, ou seja, na partilha de conhecimento com os colegas, visto que conduz ao desenvolvimento de melhores atitudes perante o grupo de trabalho, bem como ao aumento de estratégias de aprendizagem adequadas.

Outro estudo desenvolvido centrou-se no efeito que a tecnologia pode produzir na aquisição da língua. Este estudo foi realizado com um grupo de alunos que frequentava o 6.º ano de escolaridade. Foi-lhes pedido que escrevessem uma composição, embora recorrendo a meios diferentes: alguns alunos escreveram no computador e outros em papel. Nichols (1996, citado em Bitter & Legacy, 2009, p. 151) revela-nos que nos seus textos escritos foram detetadas algumas diferenças nos dois grupos quanto à qualidade, complexidade e uso correto e cuidado da gramática. Reed (1996, citado em Bitter & Legacy, 2009, p. 151-152) defende que a utilização de programas de processador de texto para a produção de textos escritos é favorável nos seguintes aspetos: melhoria das atitudes em relação à escrita, produção de textos mais longos e mais fluentes e maior facilidade e rapidez na revisão dos textos. Depois de concluídos os trabalhos escritos, há uma interação e colaboração mais abertas no que se refere à troca de opiniões sobre os trabalhos dos colegas.

Por último, Baker & Kinzer (1996, citados em Bitter & Legacy, 2009, p. 151) argumentam que a tecnologia permite aos alunos realçar as palavras escritas usando

27 múltiplas modalidades através das quais se comunicam e que englobam o vídeo, animação e efeitos de som.

No que diz respeito aos inconvenientes do uso desta ferramenta, Loya (2006, p. 1) alega razões que estão, na sua maioria, relacionadas com a impreparação da classe docente nesta área: a falta de conhecimento e habilidade no manuseamento das TIC; a ausência de estratégias de aprendizagem; a inadequação das TIC em algumas atividades (disfuncionalidade) e o insuficiente acompanhamento ao longo das atividades didáticas. De facto, a utilização desta ferramenta produz algumas mudanças na prática pedagógica, como comenta Higueras:

al introducir las TIC en el aula cambian los materiales que utilizamos, los papeles de profesores y alumnos, la forma de concebir la evaluación y la comunicación y hasta se modifica el concepto “clase”, que ya no se utiliza como sinónimo de aula, puesto que Internet ha acabado con los límites tradicionales del espacio y del tiempo. (citado em Gómez-Pantoja, 2008, p. 9)

Gómez-Pantoja (2008, p. 9) esclarece-nos relativamente a todos estes aspetos. Quanto ao primeiro – os materiais didáticos -, com as TIC há um maior investimento na utilização, bem como uma maior diversidade na escolha de materiais autênticos/reais (vídeos, músicas, fotografias e outros) que se adaptem às preferências e às necessidades educativas dos alunos. O professor abandona o papel de transmissor do saber, adotando o de guia na aprendizagem dos alunos, que se tornam, por sua vez, mais autónomos e independentes. Aos olhos de Moran, nasce um profissional:

mais criativo, experimentador, orientador de processos de aprendizagem presencial e à distância. (…) menos falante, menos informador e mais gestor de atividades de pesquisa, experimentação e de projetos. (…) um professor que desenvolve situações instigantes, desafios, solução de problemas e jogos, combinando a flexibilidade dos espaços e tempos individuais com os colaborativos grupais. (2005, p. 12)

Em relação ao terceiro aspeto, a avaliação abrange mais do que os exames e as atividades em sala de aula, alargando-se o tempo de exposição à língua de chegada graças aos novos meios de comunicação que a internet oferece. Surge, então, o novo “conceito de aula”, caracterizado pela mudança das interações e das relações pessoais (Gómez- Pantoja, 2008, p. 9-10).

28 Segundo a mesma autora, apesar da eficácia das TIC no ensino de idiomas já ter sido comprovada em várias e recentes investigações, há ainda um número considerável de docentes que rejeita o seu uso, optando por ferramentas mais tradicionais (Gómez- Pantoja, 2008, p. 3). Quanto a esta matéria, é pertinente sublinhar que o Plan Curricular

del Instituto Cervantes contempla a competência digital como habilidade que o docente

deve possuir:

La competencia digital implica el uso confiado y crítico de los medios electrónicos para el trabajo, ocio y comunicación. Las destrezas de TIC comprenden el uso de las tecnologías multimedia para recuperar, evaluar, almacenar, producir, presentar e intercambiar información, comunicarse y participar en redes sociales a través de Internet. (Plan Curricular del Instituto Cervantes, citado em María Mercedes, 2012, p. 77)

De igual modo, também o documento intitulado European Profile for Language

Teaching Education - A Frame of Reference se centra na formação do professor nas TIC

como ferramenta profissional (Kelly & Grenfell, s.d., p. 21).

Para terminar, tornam-se evidentes as vantagens e os efeitos positivos que as TIC produzem no processo de ensino-aprendizagem, que são também comuns ao blogue, como constataremos seguidamente. Todos estes factos explicam o motivo pelo qual se optou por uma ferramenta tecnológica, nomeadamente, um meio de comunicação digital, para a promoção das atividades de escrita durante a prática pedagógica realizada.