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2. O PERCURSO DAS LETRAS NO ENSINO SUPERIOR EM RONDÔNIA

3.3 O CAPITAL ECONÔMICO DOS ESTUDANTES DE LETRAS

Para analisar o capital econômico dos alunos, considerei informações referentes a registros de trabalho/emprego do próprio aluno observáveis nos documentos consultados - em relação aos alunos pretéritos - e nos questionários – quanto aos alunos em curso. No que concerne especificamente aos alunos do período de 2005-2008, foram considerados, ainda:

x o número de pessoas na família;

x a renda familiar bruta mensal;

x a ocupação do responsável pelo sustento da família;

x a idade com a qual o estudante passou a exercer atividade remunerada.

3.3.1 Tipos de trabalhos exercidos pelos estudantes de Letras

Os estudantes de Letras se caracterizam por serem alunas e alunos trabalhadores. Com relação a registros acerca de trabalho/emprego, a pesquisa demonstrou os dados configurados na Tabela 16, a seguir:

Tabela 16 - Trabalhos exercidos pelos estudantes de Letras, 1983-2008 Tipo de Atividade Período 1983 a 1989 1990 a 1999 2000 a 2002 2005 a 2008 Total Funcionário Público 143 62 01 26 232 Trabalhador de Empresa privada 37 13 01 15 66 Empresário 00 00 00 02 02 Autônomo 00 00 00 14 14 Não trabalha 00 00 00 11 11 Desempregado 00 00 00 35 35 Sem registro 164 214 37 00 415 Total 344 289 39 103 775

Fonte: Elaboração própria

Dos documentos consultados no período de 1983 a 1999, note-se o grande número de funcionários públicos (205 alunos); eram poucos os trabalhadores de empresa privada (40 alunos). O estado de Rondônia – e a cidade de Porto Velho,

especialmente, que é a sede do governo estadual - não dispunha de indústrias ou grande comércio. Com o encerramento da chamada década da destruição (colonização da década de 70) e fechamento dos garimpos de ouro (na década de 80), a economia de Rondônia passou a girar quase que exclusivamente em torno do funcionalismo público.

Os dados “sem registro” não significam que os alunos não trabalhavam; em verdade, não há, nas pastas individuais, nenhum tipo de ficha ou documento acadêmico que registre o fato de o aluno trabalhar ou não; as informações que aqui expus foram extraídas de documentos como: pedidos de licença médica, pedidos de permissão para ausentar-se das aulas por motivo de trabalho, diversos tipos de requerimentos dos alunos, declarações de empresas ou órgãos governamentais em que os alunos trabalhavam. As informações aqui dispostas são produtos de uma árdua “pescaria” a partir do parco material disponível. O mesmo se pode dizer em relação aos alunos do período de 2000 a 2002.

Quanto aos alunos do período de 2005 a 2008, como os dados foram coletados por questionário, as informações são mais consistentes: diminuiu o número de funcionários públicos (25 alunos) e trabalhadores de empresas privadas (15 alunos); por outro lado, é bastante significativo o número de desempregados (35 alunos); além disso, já são registradas funções diferentes como: trabalhador autônomo (14 alunos) e empresário (dois alunos); 11 alunos não trabalham - nunca trabalharam e não se classificaram como desempregados.

3.3.2 Número de pessoas nas famílias dos estudantes de Letras

Os estudantes de Letras se caracterizam por pertencerem a fratrias numerosas - na maioria, e incluindo o aluno(a) - constituídas por cinco ou mais pessoas (45 alunos), seguido por fratrias de quatro pessoas (27 alunos) e de três pessoas (15 alunos); 12 alunos vivem em fratrias de duas pessoas e apenas quatro alunos vivem sozinhos. Não foi questionado aos alunos se o número de pessoas na família incluía os avós residindo com a família nuclear.

Em sendo os a maior parte dos alunos pertencentes a famílias numerosas e com baixa renda familiar, percebe-se claramente a necessidade de trabalho

evidenciada no item 3.1 acima. Desta feita, a necessidade de contribuir no orçamento familiar, de alguma maneira, faz com que 90% dos estudantes sejam alunos-trabalhadores, o que pode, evidentemente, levá-los a obter baixo rendimento no curso, por falta de tempo e local adequado para os estudos, em decorrência de suas condições materiais de existência.

3.3.3 Renda bruta familiar mensal dos estudantes de Letras

A maioria dos estudantes de Letras pertence a famílias de baixa renda, portanto de baixo poder aquisitivo, situando-se na faixa que compreende o valor de um a três salários mínimos. Considere-se que estas famílias são numerosas, a maioria constituída por cinco ou mais pessoas.

A renda bruta familiar mensal dos estudantes de Letras está representada na Tabela 17, a seguir:

Tabela 17– Renda familiar bruta mensal dos estudantes, 2005-2008

Fonte: Elaboração própria

A renda bruta familiar mensal da maioria dos estudantes de Letras se situa na faixa acima de um até três salários mínimos (37 alunos), mas um bom número de estudantes (27 alunos) possui renda familiar bruta na faixa acima de três até cinco salários mínimos e acima de cinco até sete salários mínimos (18 alunos); oito

Renda familiar bruta Total

Até 1 salário mínimo 06

Acima de 1 até 3 salários mínimos 37 Acima de 3 até 5 salários mínimos 27 Acima de 5 até 7 salários mínimos 18 Acima de 7 até 10 salários mínimos 08 Entre 10 e 20 salários mínimos 07 Total 103

alunos, na faixa acima de sete até dez salários mínimos e sete alunos na faixa acima de dez até 20 salários; apenas seis alunos possuem renda familiar bruta de até um salário mínimo.

Vê-se que os estudantes de Letras, por seu poder aquisitivo, não são ricos; em se tratando de famílias numerosas, então, a maior parte deles vive com dificuldades financeiras no que toca ao sustento da família.

3.4 Responsável pelo sustento da família

A economia familiar da maioria dos atuais estudantes de Letras, situada na faixa de um a três salários mínimos, como vimos, é destinada ao sustento de cinco ou mais pessoas. Como muitos alunos estão em situação de desemprego e/ou não trabalham, a responsabilidade pelo sustento da família recai sobre outras pessoas.

A Tabela 18, a seguir, apresenta a(s) pessoa(s) que figura(m) como principal(s) responsável(s) pelo sustento da família dos estudantes:

Tabela 18– Principal responsável pelo sustento da família dos estudantes, 2005-2008

Fonte: Elaboração própria

A Tabela 18 demonstra que a mãe tem o papel social de maior provedora da família, no caso dos estudantes de Letras; o pai, enquanto responsável pelo

Responsável Total Pai 17 Mãe 20 Pai e Mãe 09 Você próprio 14 Cônjuge 22 Parente 06 Outros(s) 15 Total 103

sustento da família, está em segundo lugar; isto reflete a inserção da mulher no mercado de trabalho, mas também sugere uma nova estrutura familiar, em que mulheres assumem sozinhas a criação e a educação de seus filhos.

Alguns alunos (14) são eles próprios responsáveis pelo sustento de suas famílias; outros (22) são dependentes de seus cônjuges ou de parentes (seis) ou outras pessoas (15). O alto grau de dependência financeira – aliado ao baixo grau de participação do estudante no sustento da família revelados pelos dados - reflete o grande número de estudantes solteiros, desempregados e/ou que nunca trabalharam, portanto dependentes de seus familiares.

3.3.5 Ocupação do responsável pelo sustento da família

A cidade de Porto Velho é a sede administrativa do estado de Rondônia, centralizando toda a administração governamental. Vimos, através de informações da SEPLAN, que o estado é bastante dependente do setor público não apenas em relação a serviços (saúde e educação), mas também com relação aos empregos. Assim, os governos federal, estadual e municipal se revelam como os maiores empregadores.

A ocupação do principal responsável pelo sustento da família a que pertence o estudante está representada na Tabela 19, a seguir:

Tabela 19 – Ocupação do responsável pelo sustento da família dos estudantes, 2005-2008

Fonte: Elaboração própria

Tipo de Ocupação Total

Empresário 05

Servidor público 56 Empregado de empresa privada 22

Outro 11

A principal ocupação do responsável pelo sustento da família é a de servidor público (50%); os demais se distribuem em: empregados de empresas privadas (22), profissionais liberais (09), empresários (05). 11 alunos não especificaram o tipo de ocupação do responsável pelo sustento da família, talvez por este(s) exercer(em) ofícios não reconhecidos socialmente.

3.6 Idade com a qual o estudante passou a exercer atividade remunerada

No caso dos alunos que trabalham, ou já trabalharam, ou estão em situação de desemprego, a Tabela 20 demonstra a idade com a qual o estudante passou a exercer alguma atividade remunerada.

Tabela 20– Idade com a qual o estudante iniciou a exercer atividade remunerada, 2005-2008

Fonte: Elaboração própria

Os estudantes de Letras, embora muitos estejam desempregados atualmente, têm uma história de trabalho aliada a sua trajetória escolar, exercendo algum tipo de atividade remunerada. Entre os 92 alunos que já trabalharam ou trabalham, 50 iniciaram sua trajetória de trabalho antes dos 18 anos e 42 após os 18 anos. Os alunos que nunca trabalharam (11) dependem absolutamente de outras pessoas para sustentá-los.

Faixa etária Total

Entre 14 e 16 anos 14

Entre 16 e 18 anos 28

Após 18 anos 42

Nunca trabalhou 11