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SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO

2. EDUCAÇÃO E TRABALHO

2.4. CAPITAL HUMANO E CRESCIMENTO ECONÔMICO

2.4.1. O capital humano

Segundo Campos (2006, p. 121) “o capital humano vem conquistando espaço nas teorias sobre o crescimento econômico no que se refere à sua contribuição para a explicação das taxas de crescimento da produção”. Com a intensificação do processo de globalização, ocasionando um aumento de competição entre os países, criou-se maior demanda por produtos de melhor qualidade e menores preços. Neste cenário, a educação surge como fator crucial e preponderante no processo de aumento dos níveis de formação, qualificação e requalificação profissional, que desencadearia um processo de crescimento econômico. No que se refere à educação voltada para o crescimento econômico, Theodore Schultz foi um dos precursores no estudo dos investimentos em capital humano e os retornos dele advindos. Conforme Schultz (1973), o capital deve ter um conceito mais amplo, incluindo capital humano e estoque de conhecimentos. O caráter inovador da proposta pode ser visto na medida em que as qualificações dos trabalhadores passam a ser tratadas como uma variável endógena, ao contrário dos modelos anteriores, em que eram tratadas de forma exógena, ou seja, eram consideradas como dadas e não necessitavam de maiores explicações. Assim, a partir desta concepção a educação não mais seria tratada como um custo, mas sim como investimento capaz de aumentar significativamente a produtividade (e consequentemente os lucros) dos fatores de produção. Para Schultz, há uma relação direta entre capital humano e distribuição de rendimentos.

Alterações de investimentos no capital humano são um fator básico na redução das desigualdades da distribuição pessoal de renda (SCHULTZ, 1973, p. 82).

Na trajetória histórica aberta por Schultz, encontramos Denison (1962) que investigou alguns fatores que contribuíram para o crescimento econômico norte-americano no século XX. Entre eles estava a educação que, no período de 1909 a 1929, contribuiu com 23% para o aumento do Produto Interno Bruto; e no período de 1929 a 1957, houve um incremento de 42%. Myint (1967), nesta mesma linha de estudo e buscando auxílio na história, observou que o crescimento econômico dos países desenvolvidos não podia ser explicado unicamente pelo aumento quantitativo e mensurável de capital fixo. Outros elementos estariam relacionados,

embora de modo tangencial, a explicações relacionadas a níveis de produtividade dos recursos, devido a inovações e aperfeiçoamento nos métodos de produção e organização. Tais elementos estariam, portanto, de certo modo, relacionados a um maior nível educacional. A partir das ideias que relacionavam a importância e influência do capital humano no aumento da produção, surgiram vários estudos destacando a necessidade da educação para o crescimento econômico. O trabalho de Romer (1990) aponta que, até a década de 1950, os economistas atribuíram total importância às mudanças tecnológicas como causadoras do aumento do volume de produção. Segundo o autor, as mudanças tecnológicas possuem grande importância, mas não menos importante é o capital humano, que ainda possui o papel e a capacidade de gerar novos produtos e ideias, auxiliando na evolução do progresso técnico.

O capital humano é gerado e estruturado através da educação formal, bem como por mecanismos informais de aprendizagem. Assim, sobre esta ótica não podemos negar os conhecimentos implicitos e explicitos, conforme preconiza Nonaka e Takeuchi (1997). Este desenvolvimento de construção e difusão do conhecimento faz parte da natureza humana, onde atraves da interação com o outro, na externalização de conhecimento, na sua combinação e no processo de internalização, por exemplo, da capacidade de fazer e/ou ensinar algo novo, o ser humano aumenta o seu capital intelectual5. O conhecimento neste caso pode ser visto como um elemento que quanto mais se compartilha ou se socializa – durante o processo de externalização do tácito para o explícito – mais se constroi.

Naturalmente, medir, quantificar de modo preciso, o capital humano em sua dimensão integral é uma tarefa praticamente impossível (ROCHA, 2004). Por esta razão, a literatura em geral limita-se a medição de elementos mais explícitos, tais como os anos de escolaridade da população ativa de uma determinada comunidade e utiliza o resultado como uma aproximação para a totalidade do capital humano no país. (PISSARIDES, 2005)

Segundo Pissarides (2005) quando iniciamos o estudo dos mercados de trabalho e crescimento, como primeiro passo faz-se necessária uma série para o estoque de capital humano (anos de escolaridade) na força de trabalho ou para a população em idade ativa. Isso

5 Aqui se considera como Capital intelectual é o nome dado a toda a informação, transformada em conhecimento que se agrega àqueles que você já possui. Este é formado pelo: capital humano (qualificações, habilidades, conhecimento e a criatividade das pessoas), capital estrutural (parte que pertence a empresa como os bancos de dados e os manuais de procedimentos) e capital dos clientes (o relacionamento com os clientes, por exemplo)..

pode ser feito através do emprego de uma metodologia de inventário dos dados de matrículas em escolas nos diferentes níveis de ensino.

O estoque de capital humano é aumentado pelos anos de escolaridade de jovens, porém seguindo a mesma lógica, os que abandonam a escola e deprecia a educação, reduzem naturalmente este estoque, já que não contribuem efetivamente para a força de trabalho. Os dados relativos ao estoque de capital humano para a população em idade de trabalhar também é útil para fazer inferências sobre as prováveis mudanças na oferta de trabalho. Um país com grandes quantidades de capital humano fora da força de trabalho (por exemplo, muitas mulheres instruídas que não trabalham) é mais susceptível a sofrer alterações em suas taxas de participação que o outro.

Num quadro resumo pode-se assumir que, com base na teoria do capital humano, segundo Lima (1980, p. 226):

a) As pessoas como seres racionais e sociais, se educam de modo conjunto;

b) A educação formal apresenta a capacidade de estruturar habilidades, conhecimentos e atitudes, formando assim competências socialmente úteis – principalmente se considerarmos os processos formativos para as atividades laborais;

c) Quanto mais uma pessoa estuda, maior é o desenvolvimento de seus conhecimentos, habilidades cognitivas e atitudes que, no campo laboral, permite que seu trabalho ganhe uma maior produtividade – se comparada a outros, que não passaram pelo mesmo processo de preparação;

d) Maior produtividade permite que a pessoa receba maiores salários;

e) O recebimento de maiores salários é um elemento de estímulo ao processo de busca de novos conhecimentos, habilidades e atitudes, fechando assim um circulo virtuoso.

No Brasil, a questão do aumento de renda em função de melhores níveis educacionais vem sendo estudada por diversos autores. Analisando-se por esta ótica, os rendimentos salariais dos indivíduos são proporcionais ao seu nível educacional (treinamentos, ações de escolarização formal ou informal), que aumentam a sua produtividade. Deste modo a mobilidade no mundo do trabalho e na sociedade seria função do processo educativo.

Ressalte-se que a educação pode ser vista, como um dos elementos, mas não o único e exclusivo meio para a mobilidade social.