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CAPÍTULO I - PERCURSO DA HISTÓRIA

1.1 O cenário em ação

Antes de selecionarmos a instituição de atuação da pesquisa, fizemos um levantamento das escolas de tempo integral da cidade de Catalão – GO, que se constitui o lócus da pesquisa uma vez que, as escolas de tempo integral foram um dos nossos critérios de seleção já que os alunos de tais instituições passam mais tempo na escola, o que pressupõe a possibilidade da realização de oficinas no período extraclasse.

Outro motivo relevante na escolha de instituições de tempo integral foi a vivência em uma escola da cidade, anteriormente caracterizada como de tempo integral, através de projetos voltados para a promoção de atividades de recreação desenvolvidos com alunos do fundamental I. Na época em que participei do projeto, a instituição havia adotado o programa “Mais Educação – Alunos terão mais atividades e mais tempo na escola”. Era o primeiro ano de vigência do projeto de ampliação do tempo escolar na instituição estadual, que foi contemplada para a realização das oficinas no contraturno por ser uma escola que atendia um grande público com alto índice de vulnerabilidade social. O programa atendia um número especifico de alunos no período de 13h00min às 15h30min e a maioria das crianças que participavam do projeto não tinha com quem ficar neste período da tarde, vez que antes de sua realização, ficavam sozinhas em casa ou na rua. Havia uma lista de espera, então o aluno se comprometia a participar assiduamente de todas as atividades e se tivesse mais de três faltas sem justificativas era cortado do projeto, dando vaga à outra criança. O programa contava com cinco oficinas:

letramento, jogos e brincadeiras, dança, futebol e voleibol, ministradas no período extraclasse, ou seja, de manhã havia as disciplinas curriculares e a tarde as atividades complementares que eram consideradas como momentos de lazer para os alunos.

A oficina ministrada por mim, era intitulada letramento e se voltava para a inserção dos alunos no mundo letrado, através de atividades de leitura e produção

textual. Várias dificuldades eram enfrentadas no desenvolvimento das ações propostas, pois, a escola não possuía livros literários, em quantidade e em qualidade, específicos para a faixa etária dos alunos e o material disponibilizado era reduzido e se restringia a

atividades xerocopiadas.

Durante a execução da oficina, foi evidenciado que os alunos tinham muitas dificuldades em realizar tarefas como produzir textos e, no que se refere à leitura, construir sentido para os textos lidos, tornando-os significativos, conforme ressaltam Koch e Elias (2015). Entretanto, o grupo gestor da instituição propunha, enquanto planejamento, a melhoria do rendimento dos alunos nas disciplinas regulares, com atividades direcionadas às aulas de reforço, muito mais voltadas à técnica da leitura e escrita do que a formação integral dos alunos na perspectiva do letramento, como era a proposta da oficina. Tal direcionamento provocava o desinteresse dos alunos, pois essa era a oficina que os alunos menos tinham afinidade, vez que a percebiam como uma continuidade da dinâmica da sala de aula e com o que era proposto nas disciplinas

regulares.

Neste sentido, segundo Moraes (2009), o grande problema deste programa educacional é que o termo integral se refere à ampliação do tempo/ permanência do aluno na escola, sob cuidados da instituição. A grande questão é: como esse tempo tem sido ministrado? Tal questão torna-se pertinente, quando se constata que as atividades propostas na perspectiva lúdica na área de esportes e das artes, ocorrem sem intencionalidade pedagógica planejada. Estas, são oferecidas apenas como um passatempo, do mesmo modo que ocorrem em outros espaços fora do ambiente escolar e não, como salienta o autor, como uma abordagem integral da educação, voltada para formar sujeitos completos.

Nesta perspectiva, a partir das experiências elencadas sentimos necessidade em estabelecer maior aproximação com alunos de uma escola de tempo integral, para percebemos a realidade da instituição, em especial a turma do primeiro ano, no âmbito dos trabalhos com a leitura mediada, no desenvolvimento de competências leitoras e se esta realidade se distância ou aproxima com as vivências enfatizadas anteriormente.

A cidade de Catalão está situada no sudeste goiano, a pouco mais de 100 quilômetros da divisa com o estado de Minas Gerais e a 250 quilômetros da capital do estado, Goiânia. Atualmente, possui três escolas de tempo integral, sendo uma municipal e duas estaduais. Optamos por selecionarmos uma Escola de Tempo Integral Estadual, devido à exigência do Comitê de Ética em Pesquisa da UFG em ter o termo de

anuência da secretaria de educação assinado, para a aprovação da pesquisa e a liberação do trabalho no campo. Pelo fato do ano de 2016 ser ano eleitoral, não conseguimos a autorização da Secretaria Municipal de Educação para realização da investigação nas

escolas da rede.

A Secretaria Municipal assinou um oficio assegurando o apoio à pesquisa apenas no ano seguinte, 2017. Mas, pela necessidade de definição da rede para aprovação no referido comitê, descartamos a possibilidade da escola de tempo integral municipal.

Tivemos então a anuência da rede estadual e, das duas escolas estaduais, apenas uma seria escolhida para a atuação direta, através de oficinas de leitura ministradas no primeiro ano do ensino fundamental.

Inicialmente, foi realizado um levantamento com o grupo gestor das duas escolas, com o intuito de estabelecer um primeiro contato com as instituições.

Dialogamos com o grupo gestor trazendo algumas questões voltadas à possibilidade para o desenvolvimento da pesquisa, demanda de livros literários na instituição, espaços disponíveis para prática de leitura e promoção de oficinas de leitura com os alunos, principalmente os do primeiro ano. Buscamos saber ainda sobre a existência, nas duas instituições, de biblioteca estruturada com um acervo de livros voltado para o público infantil.

A partir do levantamento, percebemos que uma escola se destacou pela receptividade com que fomos acolhidos. O grupo gestor mostrou interesse na pesquisa, ressaltando a necessidade de estabelecermos parceria, acreditando nas contribuições da investigação para a instituição.

Atendendo às normas do Comitê de Ética da Universidade Federal de Goiás – UFG2, o nome da instituição escolar, dos alunos participantes e da professora regente ficaram em sigilo, a fim de assegurar a privacidade da instituição e dos sujeitos parceiros da pesquisa que são as crianças do primeiro ano do ensino fundamental e a professora regente da turma. Na descrição e problematização dos dados da pesquisa foram atribuídos a estes sujeitos, nomes fictícios.

É importante destacar que duas professoras regentes compuseram a produção dos dados empíricos desta pesquisa, a professora Emília e a professora Aurélia. Isto porque, as observações realizadas no segundo semestre de 2016, das aulas de língua

2 Número do Parecer do CEP: 1.749.252.

portuguesa e letramento, ocorreram na sala da professora Emília que, no ano seguinte em que as oficinas foram realizadas, foi substituída pela professora Aurélia.