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2.6 A LÓGICA DA PRODUÇÃO DE CUIDADOS DAS

2.6.1 CTs filiadas à cruz azul no brasil

2.6.1.4 O CERENE de Ituporanga

O CERENE de Ituporanga difere das demais Unidades por atender somente mulheres.Esta Unidade está em processo de reformulação, pois sua direção da mudou há dois anos. Antes a CT se chamava Renascer e era ligada a Obra Evangélica, depois se ligouou ao CERENEem período de comodato. Após estes dois anos de funcionamento a CT deve passar por uma avaliação para ver se continua ou não a ser administrada pelo CERENE ou se volta à Obra Evangélica. Período esse denominado pela Equipe de laboratório.

A inserção em campo da pesquisadora no CERENE de Ituporanga foi bastante desafiante. Depois de dirigir 160Km pela belíssima e perigosa Serra Dona Francisca, parou na CT, uma casinha de madeira de cor azul situada em uma zona rural cujos pinheiros, árvores e flores despertaram sua atenção pela enorme beleza. A narrativa do diretor foi seguida por entrevistas com residentes, que disponibilizaram suas experiências de vida, para depois explorar o espaço da CT.

A CT, com capacidade para atender 16 meninas (termo utilizado pelos profissionais para se referir às residentes) atendia na data da entrevista 11 mulheres. Até o final do ano de 2013 a idéia é ampliar para 20 a capacidade de residentes.

O diretor da CT informa que nestes dois anos de funcionamento foram atendidas cerca de 100 residentes. Que ataxa de desistência é grande, só 15 a 20% terminam o tratamento. A taxa masculina é, segundo ele, mais elevada, cerca de 30% chegam ao fim do programa.

Que a droga mais freqüente é o crack e nunca tiveram casos de drogas injetáveis.

Segundo o diretor, gestantes ainda não são atendidas por falta de estrutura e em função do medo que a Equipe possui em arriscar um trabalho novo.A CT solicita na à entrada exames específicos para gravidez, além dos exames exigidos em outras unidades do CERENE: hemograma, glicose, VDRL, raios-X e secreção vaginal. Não existem restrições para o atendimento de pessoas diagnosticadas com infecção por HIV e AIDS.

Com relação à infra-estrutura física esta CT situa-se emuma área de dois hectares, dispõe de seis quartos para quatro pessoas, dois banheiros, sendo o banheiro acoplado ao quarto somente no caso das adolescentes. As demais contam com banheiro coletivo. A CT não tem quadra de esportes, mas segundo seu diretor pretendem construir uma quadra de vôlei. O alojamento conta com refeitório, sala, quartos, dois banheiros e cozinha. A residência de alvenaria se destina ao colaborador e ao escritório. Há, ainda, um galpão onde ficam instaladas a garagem de ônibus, oficina de artesanato, área de criação de animais earmazenamento de lenha. Há ainda um chalé destinado a área de lazer.

Pode-se observar o toque pessoal de cada uma das residentes em seus alojamentos e as entrevistadas sugeriram uma esfera familiar, compartilhada com os profissionais. Um toque feminino é ressaltado pelos objetos pessoais que ali se encontravam. Talvez não seja esta Comunidade a que dispõe de ambientes mais sofisticados, porém de todas as que visitei, foi aonde mais foi mencionado contentamento por parte das residentes, algumas delas referindo-se à oportunidade de viverem em um lugar onde se sentiam em casa. O esmero em fazer o melhor, como no preparo de uma refeição, e o toque decorativo dos ambientes chamou a atenção desta pesquisadora.

Por ser considerada uma unidade distante a maioria das residentes são encaminhamentos, não é feita triagem no CERENE de Ituporanga, como nas demais CTs do CERENE. A CT recebe também demanda espontânea, embora seja raro.

Não existe CAPS em Ituporanga, somente em Rio do Sul, cerca de 28 Km e que foi recentemente inaugurado - em 2012. Portanto a relação da CT com estes serviços é modesta. Há encaminhamentos de outras cidades, onde há CERENEs e CAPS, por parte dos CAPS destas cidades, que encaminham as dependentes para as Unidades do CERENE local que fazem o primeiro acolhimento e em seguida as re-encaminham para a CT de Ituporanga. Quando "as meninas" completam o tratamento o CERENE, afirma seu diretor, as estimula a participar do CAPS de sua

região.

Atualmente o CERENE de Ituporanga não administra nenhum convênio. O custo mensal de um residente adulto, conforme informa seu diretor, é de R$ 1.620,00 e o de um adolescente é de R$ 1.850,00. O valor a ser cobrado pelo tratamento depende de avaliação sócio- econômica feita à entrada.

A residente é avaliada, segundo o diretor, por meio do relatório mensal que a equipe técnica da Comunidade realiza para entregar aos órgãos que encaminham as residentes, como os Conselhos Municipais de Políticas sobre Drogas - COMADS, por exemplo, de maneira a informá-los sobre a situação e a participação das mesmas no tratamento. A equipe técnica conta com: médico clínico geral que atende de 15 em 15 dias; estudante de psicologia sob supervisão de uma professora de seu curso. Além destes, dois teólogos e auxiliar de enfermagem que trabalhaàd tarded e noites.Eles empregam os 12 Passos com dois grupos de residentes: um com menos de 75 dias e outro grupo com mais de 75 dias de internação. Para o futuro está planejada somente a realização de um grupo.

Além dos 12 Passos, o CERENE oferece, segundo seu diretor, aulas de ensino fundamental e de ensino médio, ministrados dentro da CT. Além disso, promove palestras todos os dias das 8:30h às 9:30h. Os palestrantes convidadossão geralmente pastores da Igreja Evangélica de Confissão Luterana do Brasil ou missionários da Missão Evangélica da União Cristã. Voluntárias da Igreja Luterana da região também trabalham na CT com atividades de artesanato, música epintura, além de trabalhos manuais. No momento não havia atividades de geração de renda nem cursos profissionalizantes.

Esta CT conta também com duas vagas destinadas a Reinserção Social. Segundo o Diretor,

Tivemos um caso de reinserção social de uma menina que conseguiu completar o tratamento e hoje trabalha como voluntária no CERENE. O outro caso foi uma adolescente de risco, porque seu irmão também era usuário de drogas, e ela esperou que ele se tratasse permanecendo um ano e três meses na CT. Participava das atividades do CERENE pela manhã e a tarde ia à aula aqui no bairro.

Para trabalhar no CERENE, relata o diretor, os funcionários foram primeiro conhecer outra CT feminina, pois, segundo ele,

Trabalhar como mulheres é diferente. Tudo aqui é mais intenso. Trata-se com um público cuja demanda é reprimida por falta de instituições destinadas a ele. É uma demanda nova e que vem crescendo em função dos problemas de ordem legal que estão acometendo cada vez mais um maior número de mulheres. Só pegamos meninas acima de 16 anos embora tenhamos residentes mais jovens encaminhadas sub judice.

Como atividades de laborterapia há o cuidado com o jardim e com o bosque, de limpeza, panificação, corte de lenha, manutenção, etc.

Além das atividades internas as residentes participam, segundo o diretor, de outras fora da CT, tendo citado como exemplo os cultos religiosos na comunidade. No dia das mães foram a Rio do Sul na Missão Evangélica e participaram de palestras sobre temas como agressão à mulher dentre outras, embora esta tenha sido uma atividade desestimulante, na visão do diretor, pois as residentes foram às únicas pessoas da região que compareceram a este encontro.

Assim como os CERENEs de público masculino, no CERENE de Ituporanga as residentes também têm horários a cumprir, como para acordar, se alimentar e participar dos grupos terapêuticos, dentre outras atividades.

Após a descriçãodo funcionamento e da estrutura física e humana dos recursos disponíveis dos CERENEs de Santa Catarina, o Pró-Vida, que também é uma instituição evangélica e uma das filiadas do CERENE será o objeto das próximas linhas.