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Após o marco histórico citado acima a respeito da construção do conceito de pessoa, da sua correspondente dignidade e da solidificação dos direitos inerentes a ela, como o da liberdade religiosa, inicia-se, a partir do século XX, um novo tempo a respeito do conceito de pessoa humana, bem como dos direitos humanos.

Fábio Comparato nos esclarece a respeito do início desse novo tempo:

Reagindo contra a crescente despersonalização do homem no mundo contemporâneo, como reflexo da mecanização e burocratização da vida em sociedade, a reflexão filosófica da primeira metade do século XX acenou o caráter único e, por isso mesmo, inigualável e irreprodutível da personalidade individual.

73 COMPARATO, Fábio Konder. A afirmação histórica dos direitos humanos. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2013, p. 39.

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Confirmando a visão da filosofia estoica, reconheceu-se que a essência da personalidade humana não se confunde com a função ou papel que cada qual exerce na vida.74

Desta maneira, o caráter único e insubstituível de cada ser humano, portador de um valor próprio, demonstrou que a dignidade da pessoa existe singularmente em todo indivíduo e que, por conseguinte, nenhuma justificativa de utilidade pública ou reprovação social pode legitimar violações à dignidade, como por exemplo, a pena de morte.75

Os pensadores da pós-modernidade consideram que a dignidade humana nada tem a ver com os esquemas assinalados anteriormente, nem com as qualidades intelectuais – a razão – nem com os pressupostos metafísicos – ontologia do ser humano, e nem com a capacidade moral – autonomia – que buscavam fundamentar a dignidade humana.

Esses pensadores consideram que a dignidade humana consistia em uma ação institucional segundo a qual determinadas sociedades, através do processo democrático, decidiriam de forma contingente e convencional – o único modo possível – o grau de sua utilidade ou eficácia para resolver conflitos, sendo a dignidade uma consequência dessa ação.

De certa forma, quem trouxe um caráter universal aos direitos inerentes à pessoa humana, determinando, assim, uma esfera de proteção inviolável da dignidade da pessoa humana foi a Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948). Essa consagrou o princípio de que todo o homem tem o direito de ser, em todos os lugares, reconhecido como pessoa, independente do resultado ou convenção de determinado grupo social.

De fato, no século XX houve graves problemas que suscitaram a “necessidade” de uma construção de uma carta universal de proteção aos direitos da pessoa humana. Os horrores das guerras mundiais e dos “novos” problemas sociais, morais, éticos, ambientais e econômicos, provocados pelo avanço tecnológico, industrial e científico, estão entre alguns motivos que contribuíram para a construção desse instrumento universal.

74 COMPARATO, Fábio Konder. A afirmação histórica dos direitos humanos. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2013, p. 40.

75 COMPARATO, Fábio Konder. A afirmação histórica dos direitos humanos. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2013, p. 43.

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Além disso, mesmo após os longos processos de “conceituação” da pessoa humana e da proteção jurídica dos direitos do homem a partir da Declaração Universal dos Direitos Humanos, ainda há uma crescente violação dos direitos da pessoa humana, ou seja, inúmeros direitos, inclusive os referentes à liberdade religiosa, estão sendo violados a todo o momento.

Enfim, existem ainda inúmeros problemas referentes à pessoa humana e seus direitos que suscitam uma proteção efetiva, tendo em vista que o avanço histórico – tecnológico, científico, cultural, jurídico – no qual caminha a humanidade nem sempre vem acompanhado do progresso da proteção dos direitos referentes à pessoa humana. Por isso, faz-se necessária a solidificação da concepção de que a pessoa humana e seus direitos consistem na fonte primária para a construção dos valores morais, éticos e jurídicos da sociedade.

Portanto, toda a evolução conceitual da pessoa humana e sua dignidade produziram uma melhor consciência e proteção dos direitos humanos; contudo, este desenvolvimento “filosófico” e jurídico, que culminou na Declaração Universal dos Direitos Humanos, não pode ficar refém de políticas públicas ou interesses privados, uma vez que o progresso deve ser utilizado como ferramenta de promoção humana, visando à prevenção de horrores e violações à dignidade da pessoa humana ainda presente na sociedade.

2.4 – A fundamentação histórica dos direitos humanos

A compreensão da dignidade da pessoa humana, bem como dos direitos inerentes a ela, muitas vezes se deu após violações extremas a essa dignidade, como por exemplo: violências, torturas, explorações, massacres, mutilação em massa entre outros, atos esses que constituem, de fato, uma afronta aos direitos da pessoa humana. Houve momentos em que essas violações eram institucionalizadas, o que dava certa “legitimidade” para esse tipo de conduta.

A partir da evolução intelectual, social e científica da sociedade, foi sendo construída ao longo da história certa colaboração para o aprofundamento dos temas referentes à pessoa

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humana, e neste aspecto, como vimos, em muito colaborou a Teologia e a Filosofia na fundamentação da dignidade da pessoa humana, bem como dos direitos inatos a ela.

Porém, foi longo o processo histórico que reconheceu que as instituições devem ser utilizadas para o bem do homem, e não a serviço dos líderes. Pode-se dizer que um pontapé inicial contra a centralização do poder e, consequentemente, contra os abusos cometidos pelas autoridades em relação à violação dos direitos da pessoa humana, foi dado com a Magna Carta de 1215.

A Magna Carta (Grande Carta das liberdades, ou concórdia entre o rei João e os barões para a outorga das liberdades da Igreja e do rei Inglês) limitou o poder dos monarcas da Inglaterra, impondo alguns direitos como o respeito ao devido processo legal, a presunção de inocência, a garantia de propriedade e outros.

Aos poucos, a partir da Magna Carta, foi sendo construída a ideia da autonomia da sociedade civil e da liberdade do homem frente à autoridade estatal. Destaca-se a força que ganhou a liberdade, quer seja econômica, civil e religiosa, passando ela a ser um fundamento importante dos direitos neste período.76

Outros documentos são de fundamental importância para a construção dos direitos dos homens; dentre esses, a lei inglesa de Habeas Corpus (1679), criada para proteger a liberdade de locomoção, acabou tornando-se matriz de todos os demais instrumentos jurídicos que vieram a ser criados posteriormente que visavam à proteção das liberdades. Destaca-se também, devido a sua importância a Bill of Rights (1689), que reafirmou alguns direitos fundamentais, como o direito de petição e a proibição de penas inusitadas ou cruéis.

Também, fundamentadas no conceito liberdade-individualismo, surgiram as primeiras declarações de direitos na América do Norte, dentre essas a Constituição Americana (1776) e a Declaração Francesa dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789).

Contudo, foi a Declaração de Direitos do Povo da Virgínia, de 16 de junho de 1776, que constitui o registro de nascimento dos direitos humanos na história, ou seja, a que expressou claramente o reconhecimento de direitos inatos ao homem, como liberdade,

76 FACHIN, Melina Girard. Fundamentos dos Direitos Humanos: Teoria e Práxis na Cultura da Tolerância. Rio de Janeiro: Renovar, 2009, p. 41.

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propriedade, igualdade, reconhecendo, em síntese, que todos os homens são igualmente vocacionados à liberdade.

A influência desse documento pode ser encontrada em outras declarações de direitos, como na Declaração de Independência dos Estados Unidos (1776), na Carta dos Direitos dos Estados Unidos (1789) e na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão francesa (1789). Também há de se considerar a influência desses ideais na Revolução Francesa (1789- 1799), onde foram reconhecidos os direitos à igualdade e liberdade de todos os seres humanos, a partir da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão.77

De fato, pode-se dizer que a origem da fundamentação histórica dos direitos dos homens se encontra nas declarações citadas acima, que consagraram a ideia de que a “Constituição” é uma garantia para os direitos humanos e para a dignidade humana, ao proteger direitos como da liberdade, da segurança e da propriedade, sendo estes direitos o eixo central das “Constituições”.

Outro detalhe importante é que a história da fundamentação dos direitos humanos e fundamentais – amparados pelas ideias de pensadores como Locke, Montesquieu e Rousseau – surgiu como reação e resposta aos excessos dos regimes absolutistas, ou seja, como tentativa de impor controle e limites à abusiva atuação do Estado.

Desta maneira, esses direitos visavam à autonomia e liberdade do indivíduo. Assim, desde o início a ideia principal da proteção dos direitos dos homens seria limitar o poder do Estado, o que significaria “liberdade”, surgindo o primado da liberdade com a supremacia dos direitos e a ausência de previsão de qualquer direito, social, econômico e cultural que dependesse da intervenção do Estado.78

Portanto, a evolução histórica dos direitos humanos possui como cume as declarações de direito americana e francesa, pois essas constituíram uma novidade em relação aos direitos humanos e aos direitos fundamentais, pois marcam a passagem das afirmações

77 COMPARATO, Fábio Konder. A afirmação histórica dos direitos humanos. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2013, p. 62.

78 PIOVESAN, Flávia. Direitos Humanos e o Direito Constitucional Internacional. 12. ed. São Paulo: Saraiva, 2011, p. 198.

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filosóficas para um verdadeiro sistema de direitos humanos positivos,79 que visavam à proteção de direitos inatos aos homens, dentre eles o da liberdade religiosa.

2.5 – A positivação dos direitos humanos

Com a ideia de que os homens, em seu estado de natureza, são iguais e livres, surgiram as declarações acima citadas, nascidas sobre o forte alicerce de uma concepção universal dos direitos humanos e, aos poucos, os ideais de liberdade, igualdade e fraternidade, presentes nesses documentos, foram se expandindo para outras regiões do globo terrestre.

Porém, a evolução no campo da positivação dos direitos fundamentais foi um processo lento, que teve seu ápice com a afirmação do Estado de Direito, influenciado diretamente pelo pensamento do filósofo inglês John Locke, que, no século XVIII, foi o precursor no reconhecimento de direitos naturais e inalienáveis do homem.

O resultado das ideias de Locke, com a formação do Estado de Direito, contribuiu para o nascimento das primeiras noções dos direitos humanos,80 da maneira que compreendemos hoje esses direitos. A ideia central neste período era o de que os homens possuíam direitos naturais, como liberdade, propriedade e, em virtude disso, o Estado estava proibido de usurpar tais direitos. Pode-se dizer que este primeiro momento foi marcado pela liberdade do indivíduo em relação ao Estado.

Passado este primeiro período, o nascimento da positivação dos direitos humanos deparou-se com um intenso progresso técnico e científico, o que ocasionou um choque entre “desenvolvimento econômico” e “proteção dos direitos humanos”, ou seja, o fato de existir patrões e empregados – iguais e com certa liberdade econômica – ao invés de gerar “igualdade”, construiu um verdadeiro abismo, pois agora existia uma classe de proletariados pobres diante de uma elite rica.

79 COMPARATO, Fábio Konder. A afirmação histórica dos direitos humanos. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2013, p. 62.

80 SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos direitos fundamentais. 4. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2005, p. 52.

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Surgiram assim diversos conflitos entre “classes”, essas que acabaram inaugurando uma nova fase na positivação dos direitos dos homens, onde o Estado Liberal passa a ser um Estado Social, sendo que agora não cabia mais apenas garantir a liberdade, mas, também, seria o Estado o responsável por realizar a justiça social incluindo as exigências econômicas e sociais dos trabalhadores.

Um passo decisivo tanto na solidificação dos direitos humanos quanto na responsabilização do Estado em realizar a justiça social foram os documentos nascidos neste período. Destacam-se a Constituição Francesa de 1848, a Carta Constitucional Mexicana de 1917 e a Constituição Alemã de Weimar de 1919.

Portanto, pode-se dizer que o processo de positivação dos direitos humanos relacionou-se diretamente com a dimensão social do Estado, principalmente diante da necessidade de satisfazer os direitos econômicos, sem deixar de considerar os “antigos” direitos já conquistados, como liberdade e igualdade. Todo esse processo foi solidificado principalmente a partir do século XX.

2.6 – A internacionalização dos direitos humanos

Considera-se que a internacionalização dos direitos humanos teve início na segunda metade do século XIX, chegando ao ápice com o final da segunda guerra mundial. A construção desse processo teve três pilares: o direito humanitário, a luta contra a escravidão e a regulação dos direitos do trabalhador.

A Convenção de Genebra de 1864, destinada a estabelecer o conjunto das leis e costumes da guerra, no intuito de amenizar tanto as dores dos soldados como proteger as populações civis atingidas em conflitos, foi a primeira legislação contendo o chamado direito humanitário.

Outro documento importante foi o Ato Geral da Conferência de Bruxelas de 1890, que estabeleceu as primeiras regras interestatais de repressão ao tráfico de escravos.

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Posteriormente, os direitos dos trabalhadores passaram a ser objeto de proteção com a criação da Organização Internacional do Trabalho em 1919.

A Organização Internacional do Trabalho, criada após a Primeira Guerra Mundial, com a finalidade de promover padrões internacionais de condições de trabalho e bem-estar, sessenta anos após sua criação já contava com uma centena de convenções internacionais, promulgadas e aderidas pelos Estados, que se comprometiam a assegurar um padrão justo e digno nas condições de trabalho.81

Outro organismo importante para o desenvolvimento dos direitos dos homens foi a Liga ou Sociedade das Nações criada em 1919 após a primeira guerra. Tinha entre os seus objetivos promover a cooperação internacional, alcançar a paz e a segurança internacional, condenar agressões externas contra a integridade territorial e a independência política dos seus membros.82

Enfim, essas instituições ajudaram a romper a noção de soberania nacional absoluta dos Estados, na medida em que admitiram intervenções para a proteção dos direitos humanos. Assim, aos poucos surge a ideia de que o indivíduo não é apenas objeto, mas também sujeito de Direito Internacional. Desta forma, começaram a se consolidar a capacidade processual internacional dos indivíduos, bem como a concepção de que os direitos humanos não mais se limitam ao Estado.83

2.7 – O mundo após a segunda guerra: a Declaração Universal dos Direitos Humanos

O processo de solidificação dos direitos humanos teve grande êxito após a segunda guerra mundial, uma vez que a humanidade estava arrasada com os horrores provocados pela guerra, como holocausto, bomba atômica e outras atrocidades. Havia uma necessidade

81 PIOVESAN, Flávia. Direitos Humanos e o Direito Constitucional Internacional. 12. ed. São Paulo: Saraiva, 2011, p. 171.

82 PIOVESAN, Flávia. Direitos Humanos e o Direito Constitucional Internacional. 12. ed. São Paulo: Saraiva, 2011, p. 172.

83 PIOVESAN, Flávia. Direitos Humanos e o Direito Constitucional Internacional. 12. ed. São Paulo: Saraiva, 2011, p. 174.

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urgente de uma resposta às barbaridades, que deveria ser construída principalmente por meio de políticas internacionais e instrumentos jurídicos capazes de proteger e promover os direitos dos homens.

Neste processo, a criação do Tribunal de Nuremberg (1945/1946) significou um momento histórico de internacionalização dos direitos humanos, pois a este Tribunal Militar Internacional foi dada a competência de julgar crimes cometidos na segunda guerra, atribuindo responsabilidades individuais àqueles que cometeram crime contra a paz, crimes de guerra, crimes contra a humanidade. Assim, a criação desse Tribunal consolidou a ideia da limitação da soberania nacional e reconheceu que os indivíduos possuem direitos inatos que devem ser protegidos pelo Direito internacional.84

Porém, o marco histórico para os direitos humanos, ou seja, da positivação dos direitos do homem, surgiu com a criação da Organização das Nações Unidas (ONU) em 1945 e, consequentemente, com a posterior Declaração dos Direitos Humanos em 1948. A ONU ao ser criada possuía três objetivos centrais: manter a paz e a segurança internacional, fomentar a cooperação internacional nos campos social e econômico e promover os direitos humanos no âmbito universal.

As Nações Unidas (ONU), diferente da Liga das Nações85 – que não passava de um clube de Estados com liberdade de ingresso e retirada com ou sem justificativa –, nasciam com o objetivo claro de agregar necessariamente todas as Nações do globo em vista da defesa da dignidade da pessoa humana86 e dos direitos inerentes aos homens.

Desta maneira, visando à proteção dos direitos inatos da pessoa humana, as Nações Unidas foi se organizando em diversos órgãos, como por exemplo: Assembleia Geral; Conselho de Segurança; Corte Internacional de Justiça; Conselho Econômico e Social; Conselho de Tutela, etc. Além disso, outros órgãos e comissões foram sendo criados, conforme as necessidades da ONU.

84 PIOVESAN, Flávia. Direitos Humanos e o Direito Constitucional Internacional. 12. ed. São Paulo: Saraiva, 2011, p. 182.

85 A Liga das Nações ou Sociedade das Nações, foi idealizada em 1919 pelas nações vencedoras da Primeira Guerra Mundial, com a intenção de assegurar a paz, para isso, visavam à criação de uma organização internacional. Ela após “fracassar” em seus objetivos de manter a paz no mundo, foi dissolvida e estava extinta por volta de 1942. Porém, em 18 de abril de 1946, o organismo passou as responsabilidades à recém-criada Organização das Nações Unidas, a ONU.

86 COMPARATO, Fábio Konder. A afirmação histórica dos direitos humanos. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2013, p. 62.

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Foi nesse contexto que nasceu a Declaração dos Direitos Humanos, adotada em 18 de junho de 1948 e aprovada por 48 Estados, tendo oito abstenções. A Declaração representou a manifestação da única prova através do qual um sistema de valores pode ser considerado humanamente fundado e, portanto, reconhecido.Após a Declaração, foi sendo construída a ideia de que a humanidade partilha alguns valores comuns e, consequentemente surgiu o desafio da universalidade destes valores.87

Além disso, a Declaração, ao conjugar liberdade com igualdade, os direitos por ela contemplados passaram a ser concebidos como uma unidade interdependente e indivisível, ou seja, os direitos humanos não se sobrepõem, mas interagem mutuamente. A Declaração trouxe a noção de que todos os direitos humanos constituem um bloco complexo único, integral e indivisível, no qual os diferentes direitos estão necessariamente inter-relacionados e são interdependes entre si.88

A Declaração Universal dos Direitos Humanos constitui-se em um documento que assinalou um passo importante no caminho para a organização jurídico-política da comunidade mundial, uma vez que reconheceu a dignidade de todos os seres humanos, proclamando ainda como direito fundamental a liberdade, quer seja na busca pela verdade, na realização do bem moral e da justiça, bem como o direito a uma vida digna.89

Este documento representa ainda o resultado de um longo processo histórico que passou por momentos como a Declaração de Independência dos Estados Unidos, com a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, da Revolução Francesa, tudo isso contribuiu para solidificar a ideia da igualdade dos homens, bem como da dignidade da pessoa humana,90 consagrando, assim, os valores fundamentais da liberdade, da igualdade e da fraternidade, e proclamando que todos os seres humanos têm direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.

87 BOBBIO, Norberto. A Era dos Direitos. Trad. Carlos Nelson Coutinho. 21. tiragem. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004. pgs. 26 e 28.

88 PIOVESAN, Flávia. Direitos Humanos e o Direito Constitucional Internacional. 12. ed. São Paulo: Saraiva, 2011, p. 202.

89 JOÃO XXIII, Papa. Carta Encíclica Pacem in Terris. Disponível em: http://goo.gl/nkwT1K. Acesso em 19 de agosto de 2015.

90 COMPARATO, Fábio Konder. A afirmação histórica dos direitos humanos. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2013, p. 240.

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A Declaração foi um marco histórico na consolidação dos direitos humanos, porém, “tecnicamente” ela é uma recomendação, o que gerou certa controversa, pois havia quem sustentasse que ela não teria força vinculante. Esse problema somente foi concluído com o processo de “juridicização” da Declaração, concluído em 1966, com a elaboração de dois distintos tratados internacionais: o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos e o Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais.

Outro problema surgido com a Declaração foi a concepção universal dos direitos humanos. Alguns consideram que essa noção não está dissociada dos sistemas políticos, econômicos, culturais, sociais, morais, presentes em cada cultura, ou seja, é a ideia de que há diversos discursos de direitos fundamentais que a princípio devem ser respeitados. Porém, a Declaração de Viena de 1993, fruto da Declaração Universal dos Direitos Humanos, solucionou tal problema ao afirmar que os direitos humanos são universais, indivisíveis, interdependentes e inter-relacionados.91

Com isso, pode-se afirmar que a Declaração foi um marco histórico. Ela contempla em si vários direitos como: civis, políticos, econômicos, sociais e culturais, dando destaque ao fato de que, pela primeira vez, foi positivada no plano internacional uma proposta ética comum, aplicada a todos sem distinção.92

Enfim, o fato é que ainda que não assuma forma de Tratado internacional, a Declaração possui força jurídica obrigatória e vinculante, tendo em vista que os Estados assumiram o compromisso de assegurar o respeito universal e efetivo aos direitos humanos e,

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