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O conceito de tecnologia e as tecnologias da inteligência

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A tecnologia, o conhecimento e a personalização

2.1 O conceito de tecnologia e as tecnologias da inteligência

Avalia-se que a história da tecnologia seja tão antiga quanto a história da nossa própria existência ditada pela necessidade de sobrevivência, necessidade essa que proporcionou o desenvolvimento de ferramentas para utilização no dia a dia. Consideramos que as necessidades humanas é que impulsionaram o desenvolvimento tecnológico, e não o contrário, daí que a técnica tem potencial para se apresentar como um dos maiores patrimônios da espécie. (V. PINTO; 2005).

As novidades tecnológicas costumam ser, em primeiro lugar, empregadas na engenharia, na medicina, nas indústrias etc. Logo, o uso doméstico acaba sendo o último a se beneficiar da alta tecnologia, e, se o uso doméstico é o último, o mesmo acontece com a educação, que busca agora adaptar as TDIC às suas demandas.

A maioria dos equipamentos, assim como os dispositivos móveis e a própria internet, não foram criados pensando em favorecer o processo de ensino e aprendizagem. Foram criados para outros propósitos e, por fim, chegaram à escola, que faz uma “adaptação" do uso. Segundo Valente (2013), a tecnologia na educação deveria

possibilitar ao aluno aprender, de acordo com o seu interesse, o desenvolvimento de competências necessárias para a economia moderna ou mesmo a implantação de inovações ou transformações de processo ensino e aprendizagem A implantação dessas tecnologias foi ficando cada vez mais viável com a disseminação dos computadores pessoais, no início dos anos 1980.[...] Desde então, o que mudou? (VALENTE, 2013, p. 35)

Em primeiro lugar, antes de tentar responder a essa questão trazida por Valente (2013), torna-se necessária uma breve retomada à obra O conceito de tecnologia, do filósofo brasileiro Álvaro Viera Pinto.

A obra, organizada em dois volumes, é resultado de 1.410 páginas datilografadas antes de 1974, que foram descobertas ao acaso anos depois e publicadas somente em 2005, após a sua morte. Os volumes abordam questões da filosofia, da técnica e do subdesenvolvimento, bem como temáticas como a informática e a cibernética, além de discussões sobre a razão

técnica e as máquinas, apresentando ainda uma visão crítica sobre temas levantados nas décadas de 1960 e 1970.

A discussão do conceito de tecnologia descrita na obra de Vieira Pinto (2005), segundo Bandeira (2010, p. 1), promove uma reflexão de grande valia para qualquer participante da sociedade, ampliando o entendimento do potencial humano e suas contradições.

Em relação ao conceito de uma "era tecnológica", haja vista que vivemos num mundo que está cada vez mais conectado, Vieira Pinto (2005) chama atenção para o falso encantamento que mascara uma questão ideológica de manipulação das massas, fazendo-as "crer que têm a felicidade de viver nos melhores tempos jamais desfrutados pela humanidade”. (VIEIRA PINTO, 2005, p. 41, v. I). Nessa linha, percebe-se que, se temos evoluído com os avanços tecnológicos, é fato que temos também problemas gerados por esse benefício, pois

sua importância na compreensão dos problemas da realidade atual agiganta- se, em razão justamente do largo e indiscriminado emprego, que a torna ao mesmo tempo uma noção essencial e confusa. (VIEIRA PINTO, 2005, p. 219, v. I)

Segundo Vieira Pinto (2005), de uma forma geral, o termo “tecnologia” tornou-se senso comum, respaldado pelo linguajar popular e, nesse contexto, ela é entendida como sinônimo de técnica ou de know-how. A tecnologia, enquanto ciência, não se desenvolve de forma isolada e neutra, por não se encontrar livre de influências e de conceituações que atendam a este ou aquele interesse, que pode ser social, político ou econômico.

Espera-se que, a cada avanço tecnológico, novos horizontes se abram para o processo de ensino e aprendizagem. Contudo, cada vez mais, apesar das tecnologias revelarem seu enorme potencial, é importante considerar que o "avião não foi feito para voar, mas para o homem voar” (VIEIRA PINTO, 2005, p. 80, v. I), lembrando-se, com isso, de quem deve estar no comando, definindo o plano de voo, por saber aonde se pretende chegar.

A rendição da cultura à tecnologia foi objeto de análise e crítica de Neil Postman (1994). O autor abordou questões relacionadas à tecnologia versus pessoas. Levando em consideração as inúmeras vantagens do avanço tecnológico, alertou que seria

um erro supor que qualquer inovação tecnológica tenha um efeito unilateral apenas. Toda tecnologia tanto é um fardo como uma bênção; não uma coisa ou outra, mas sim isto e aquilo (POSTMAN, 1994, p. 14).

sociedade ao “tecnopólio” – ou seja, soberana passou a ser a tecnologia, e serva, a sociedade humana. O tecnopólio, para Postman (1994), tornou-se um estado de cultura, ditando o ritmo de vida às sociedades humanas, e, por meio dele, o homem encontra seu sentido de vida na tecnologia. Sendo assim, na visão do autor, a sociedade corre o grave risco de se desorientar diante da explosão tecnológica, pois

o meio em que floresce o tecnopólio é um meio em que foi cortado o elo entre a informação e o propósito humano, isto é, a informação aparece de forma indiscriminada, dirigida a ninguém em particular, em enorme volume e em altas velocidades, e desligada da teoria, sentido ou propósito. (POSTMAN, 1994, p. 78)

Para a pesquisadora deste estudo, o conceito de tecnologia é compreendido como um desdobramento da ciência que envolve instrumentos, métodos e técnicas que visam à resolução de problemas culturais, sociais e também educacionais.

Com o avanço da tecnologia, a educação poderá revisitar-se e analisar recursos tecnológicos e metodológicos que poderão ajudar a escola a resolver problemas relevantes. Entretanto, é importante considerar que as tecnologias não substituirão o professor, não apresentarão soluções transformadoras e não assumirão o comando, pois os processos desencadeados com o seu uso é e permanecerá sendo responsabilidade humana.

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