• Nenhum resultado encontrado

O conceito de violência sexual intrafamiliar e seus elementos constitutivos

3 Análise do corpus: as produções científicas em Psicologia sobre

3.1 O conceito de violência sexual intrafamiliar e seus elementos constitutivos

A partir da discussão realizada sobre Violência Sexual intrafamiliar na sessão anterior, faremos a análise dos artigos selecionados para o presente trabalho. Trata-se de 49 trabalhos, todos publicados em periódicos de Psicologia, que discutem a violência sexual intrafamiliar. Os conceitos serão analisados a partir de seus elementos constitutivos, ou seja, as características desta modalidade de violência, as relações de poder presentes, o espaço onde se desenvolvem, os vínculos entre as vítimas e os autores da violência, a violação de direitos humanos e legais desencadeados neste contexto de violência, bem como as possíveis consequências que a violência sexual traz às vítimas, sejam essas, danos físicos e/ou emocionais.

Os trabalhos científicos – artigos – serão expostos em ordem cronológica; essa escolha permite-nos compreender o desenvolvimento dos estudos sobre a temática em foco, bem como se houve transformação nos conceitos e se novos elementos foram agregados a partir das pesquisas realizadas. Em cada artigo será feita, antes da análise do conceito, uma breve exposição com os objetivos e ano de publicação.

O primeiro trabalho recuperado teve como objetivo “Utilizar-se do saber psicanalítico para promover a saúde psíquica de sujeitos que precocemente tiveram que lidar com a dor de terem sido violentados em seus corpos e suas emoções” (Azevedo, 2001 para 1.)

Esse trabalho, de orientação psicanalítica claramente explicitada no texto, traz como definição de violência sexual:

O abuso sexual é uma situação em que a criança ou o adolescente é usado para a gratificação sexual de um adulto ou até mesmo de um adolescente mais velho, baseado em relação de poder que pode incluir desde carícias, manipulação da genitália, mama ou ânus, exploração sexual, voyerismo, pornografia e exibicionismo até o ato sexual com ou sem penetração, com ou sem violência. Por vezes, esta prática inclui elementos de sadismo como flagelação, torturas e surras e exploração sexual visando fins econômicos (Azevedo, 2001)

É importante salientar que esta definição traz elementos que comparecem em outros trabalhos, mas não sinaliza os autores com quem estabelece diálogo para delinear o conceito com o qual trabalha, muito embora fiquem evidentes muitos destes elementos em diversos autores que discutem a temática com publicações anteriores, tais como Faleiros (1993) e Guerra (1994). O conceito trabalhado pela autora traz pontos relevantes, dos quais destacamos a relação de poder existente nas situações de Violência Sexual Intrafamiliar contra Crianças e Adolescentes, bem como a caracterização e descrição das práticas deste tipo de violência. Essa caracterização não comparece em todos os conceitos e não há consenso, entre os autores, sobre as atividades ou ações que poderiam ser definidas como violência sexual.

O texto contempla a violência intrafamiliar, discute a noção de incesto ampliada, na qual figuram como incestogênicas as relações com padrastos e com outras pessoas com as quais a criança ou adolescente tenham vínculo de afinidade ou responsabilidade. Outro ponto que merece especial atenção na definição trazida pelo artigo 01 diz respeito ao termo “exploração sexual” presente em sua definição e utilizada como uma manifestação de abuso sexual, o que difere da construção conceitual que adotamos, tendo em vista que compreendemos a exploração sexual como uma modalidade de violência que envolve o pagamento ou a troca pecuniária conforme salienta Faleiros (2000).

Um outro aspecto importante são os danos ou consequências, sobretudo para o psiquismo da vítima de violência sexual, que são apresentados no estudo num momento posterior à discussão dos conceitos, não obstante o trabalho cita apenas que “uma experiência sexual precoce não apenas produz efeitos devastadores no psiquismo infantil como abala também toda a família da criança” (Azevedo, 2001 para. 13) não trazendo maiores detalhes sobres os tipos de consequências.

O trabalho permanece transitando entre os conceitos de abuso e exploração sexual sem diferenciá-los completamente ou trazer um posicionamento que situe o leitor sobre o lugar de onde está falando. Encontramos ainda, no texto em questão, a expressão “exploração sexual visando fins econômicos” não estando claro se a autora estaria trabalhando com mais de uma concepção para o termo exploração sexual.

O segundo artigo foi publicado em dezembro de 2001 e tem como objetivo compreender os impactos do abuso sexual para o desenvolvimento da criança. Enfatiza, portanto, um dos aspectos eleitos para a analise do corpus da pesquisa, conforme explicitado na discussão teórica qual seja as consequências do abuso sexual para o desenvolvimento da criança.

O artigo tem como proposta realizar uma revisão de literatura com ênfase para as consequências da violência sexual contra crianças e adolescentes para o desenvolvimento de crianças, destacando os danos físicos, emocionais, sexuais e sociais.

Na construção do conceito de violência, observa-se que o trabalho não contempla a literatura nacional sobre o tema. No entanto, os autores chamam a atenção para a necessidade de uma contextualização cultural da discussão do conceito de violência, pois afirmam, citando Fredman (1990): “outra questão a ser considerada é a relatividade cultural (...) a percepção do que seja um comportamento abusivo é definido pela sociedade e varia tanto no espaço geográfico quanto na dimensão temporal (...)”. (Amazarray & Koller, 2001 para. 18) Ou seja, embora o estudo aponte para a necessidade de estudar a violência considerando as variações culturais, o trabalho apoia-se em conceitos de autores norte americanos e na legislação dos Estados Unidos, não trazendo para o diálogo a discussão de importantes teóricos brasileiros, conforme será exposto a seguir.

Na seção seguinte, intitulada “Definições e categorias de abuso sexual” (Amazarray & Koller, 2001 para. 10) as autoras discutem amplamente os diversos conceitos de violência sexual. A partir do conceito de Christoffeel, Scheldt, Krauss McLoughlin e Paulson (1992) o abuso sexual é categorizado como uma forma de

maus tratos contra crianças e adolescentes que é praticado mais comumente por familiares ou responsáveis. Nessa atividade, em acordo com o conceito de Watson (1994), destaca-se a presença de três diferenciais: de poder, pois o adulto exerce poder sobre a criança, de conhecimento, existentes geralmente entre adultos e crianças e, por fim, a diferença de gratificação, uma vez que neste tipo de relação o objetivo é a gratificação do adulto e não da criança.

O conceito exposto pelo trabalho coloca em evidência pontos importantes desse tipo de violência, tais como a relação de poder do adulto em relação à criança ou adolescente, imposta, sobretudo, pela diferença nos estágios de desenvolvimento existentes entre esses sujeitos. O conceito pressupõe também uma intencionalidade, tendo em vista que visa a gratificação sexual do adulto, desprezando as consequências que o ato possa acarretar para a criança ou adolescente.

Prossegue ampliando um pouco o conceito, recorrendo a Blanchard (1996) que afirma ser abuso sexual uma prática que: “também envolve abuso físico e emocional” (Amazarray & Koller, 2001 para. 13). Sobre este aspecto cabe uma reflexão, pois nem sempre a violência sexual será traduzida num abuso físico; existem modalidades de violência sexual nas quais não há o contato físico, mas a exposição da criança ou adolescente a material inapropriado; igualmente, práticas de exibicionismo e voyerismo também são consideradas violência sexual. Na sequência do artigo as autoras fazem uma pequena menção às características da violência sexual intrafamiliar, dizendo a partir de uma citação de Kristensen (1996) que o abuso sexual pode também se manifestar sob “Interações verbais”, ( Amazarray & Koller, 2001 para. 17)) contudo não discutem outras formas de violência sexual sem contato físico.

O artigo em questão dá continuidade à sua discussão do conceito de violência trazendo dados bastante pertinentes, uma vez que aborda outra definição na qual considera que o “envolvimento de crianças ou adolescentes em atividades sexuais que não compreendem totalmente e com as quais não estão aptos a concordar” (Amazarray & Koller, 2001 para. 14), acrescentando, a partir de Glaser (1991), o aspecto da posição de poder do adulto que impõe à criança tais comportamentos, e que esta imposição por parte do adulto transgride normas sociais e culturais. Sobre a violação de regras sociais e culturais é importante enfatizar que, em nosso contexto cultural, não apenas normas sociais e culturais são infringidas, uma vez que a violência sexual constitui também uma violação de direitos legais, descritos em diversos documentos tais como o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8069/90, Brasil, 1990) e o Código Penal Brasileiro (Lei 2848/40 com alteração através da lei 12015/09).

Um outro aspecto diz respeito às diferenças de idade entre o agressor e a vítima, trazendo, a partir do conceito de Finkelhor e Hotaling (1984), os critérios para fixar uma faixa etária para as vítimas e a diferença em anos que deve separar as idades entre vítimas e agressores. Citando a American Psiychiatric Association (1994), fixam uma diferença de idade de cinco anos entre agressor e vítima.

O trabalho discute também, além da diferença etária entre agressor e vítima, os “elementos de coerção” utilizados pelos agressores. Entretanto as autoras, concordando com Friedman (1990) defendem a ideia de que esta diferença de idade não seria o principal fator para definir esse tipo de violência; outros fatores deveriam ser considerados, tais como o uso da força e a relação de

poder existente e a capacidade do sujeito em consentir o comportamento do adulto.

Outro aspecto eleito pelas autoras para discussão refere-se aos graus ou níveis de abuso sexual, enfatizando que a literatura tende a não fazer uma divisão dos níveis deste tipo de violência, que deve ser descrito a partir dos níveis de “penetração, insulto, força ou até mesmo contato físico” (Amazarray & Koller, 2001 para. 17), conforme descrevem a partir de Knuston (1995), uma vez que o trabalho coloca em relevo o nível de abuso sexual como tendo implicações diretas nas conclusões sobre as consequências desse tipo de violência.

Sobre este fator enfatizado pelo estudo cabe uma reflexão, uma vez que para a Psicologia Sócio-histórica é fundamental a compreensão da relação entre a criança, o adolescente e seu meio, que não se constitui apenas como um espaço físico ou geográfico, mas pelas pessoas com as quais estes sujeitos se relacionam, as normas sociais e culturais que atravessam este contexto.

Deste modo, a relação que a criança estabelece com seu meio pode ser compreendida pelo conceito de vivência, que, para a Psicologia Sócio Histórica, é definido como a unidade entre as circunstancias objetivas oferecidas por este meio a esta criança ou adolescente e os recursos internos de que estes sujeitos dispõem para interagir com este meio, ou seja, os elementos de sua personalidade. Vygotski constrói o conceito de vivência para definir as relações entre a criança e o meio social e cultural, definindo-a como:

(...) uma unidade na qual por um lado de modo indivisível, o meio, aquilo que se vivencia está representado fora da pessoa – e por outro lado, está representado como eu vivencio isso, ou seja, todas as particularidades da personalidade e todas as particularidades do meio são apresentadas na

vivência. (...) Desta forma na vivência, nós sempre lidamos com a união indivisível das particularidades da personalidade e das particularidades da situação representada na vivência (Vygotski, 1935/2010 citado por Mello, 2010 p. 729)

Deste modo, se buscarmos compreender as repercussões da violência sexual intrafamiliar apoiados na psicologia sócio histórica, considerando para tanto o conceito de vivência, devemos analisar que embora a intensidade da violência deva ser considerada, não podemos definir um único fator como determinante para as consequências da violência sexual intrafamiliar, uma vez que, fatores como: o tipo de relação entre vítima e agressor, o vínculo existente entre eles, a duração da violência e o tipo de ameaça feita pelo agressor, constituem fatores que merecem especial atenção para esse entendimento. Contudo, tais fatores devem ser combinados também à compreensão da forma como a criança ou adolescente lidam com a violência e quais recursos internos possuem para lidar com a situação vivenciada.

O trabalho contempla também as definições de violência sexual descrevendo o que denominam “categorias” (Amazarray & Koller, 2001 para. 20), utilizando, para tanto, referencial norte americano, adotando Kaplan e Sadock (1990) e Watson (1994) para o qual há uma clara distinção entre “abuso sexual” e “estupro”. Para esses autores, o “abuso sexual” é necessariamente intrafamiliar, ou seja, praticado por alguém que tenha vínculo de cuidado em relação à criança, ao passo que o “estupro” seria cometido por alguém que não tenha qualquer vínculo com a criança. Salienta que em nossa cultura, o que os norte americanos definem como abuso sexual poderia ser entendido como incesto. Sobre esta abordagem conceitual é importante deixar claro que, para nossa cultura, o

estupro não seria uma categoria, mas uma modalidade de violência sexual, que pode estar presente na violência sexual intrafamiliar. Assim, o estupro, pode ser descrito como uma forma de violência sexual com contato físico.

Outra categoria elencada pelo estudo é o “abuso sexual sistêmico”, (Amazarray & Koller, 2001 para. 23) definido por Watson (1994), no qual a violência sofrida pela criança tem vários autores, dentro da própria família. Neste caso, mais de um familiar é agressor e os adultos não agressores omitem-se em oferecer a proteção necessária à criança ou adolescente.

É importante salientar que na maior parte dos casos de violência sexual intrafamiliar, há esta falha na função da família em proteger a criança que fica exposta a este tipo de violência, bem como uma confusão de papéis, pois, o agressor é normalmente, aquele que deveria exercer a função protetora.

As definições das categorias de abuso sexual são concluídas descrevendo a pedofilia como outra categoria de abuso sexual, definindo-a de acordo com a American Psychiatric Association (1994) como um distúrbio sexual, que inclui impulsos e fantasias sexuais que envolvem interações sexuais com crianças. Por fim citam o que definem como “outras situações de abuso sexual na infância e adolescência” (Amazarray e Koller, 2001 para. 26) que são a pornografia e a prostituição infantil, de acordo com Kaplan e Sadock (1990). No trabalho não é explicitado se essas outras situações de violência sexual são intrafamiliares ou extrafamiliares, apresentando certa ambiguidade conceitual, uma vez que entendemos a “pornografia” e a “prostituição infantil” como situações de Exploração Sexual, ou seja, uma modalidade de violência com características bem definidas e que tem como critério principal a presença de uma troca pecuniária. Também não fica claro no artigo que tipo de diferenciação as autoras

fazem entre violência sexual intrafamiliar e extrafamiliar. Embora tragam uma sessão específica no trabalho para discutir a violência sexual intrafamiliar, não há uma definição clara sobre que tipo de vínculo está sendo considerado, se apenas as ligações de parentesco e consanguinidade ou se está ampliando para as relações de afinidade e responsabilidade.

Conforme exposto, o trabalho faz uma ampla discussão acerca da violência sexual contra crianças e adolescentes, dialogando com diversos estudos internacionais, enfatizando as relações de poder, discutindo as características deste tipo de violência, bem como expondo suas consequências para o desenvolvimento dos sujeitos.

Artigo 03

O terceiro artigo encontrado em nossas buscas foi publicado em julho de 2002 e teve como objetivo trazer um relato de experiência que “examina as experiências de supervisão e atendimento de famílias que foram encaminhadas após denúncia ou suspeita de abuso sexual infantil cometido por parentes próximos” (Araújo, 2002 p.3). Salienta que a proposta de intervenção constitui-se a partir do enfoque psicossocial, compreendendo o atendimento conjunto da família e aborda o assunto colocando em relevo as questões de gênero.

O trabalho realiza uma discussão conceitual definindo o “abuso sexual infantil” como uma violência pautada pelas relações de poder e coerção, pois conforme coloca citando Gabel, (1997) o “abuso sexual” ocorre numa relação em que o “forte” ou agressor exerce poder sobre o “fraco” ou a vítima, há a presença

da traição da confiança e a violação do direito que o outro tem ao seu próprio corpo.

Acrescenta que esta modalidade de violência envolve “duas desigualdades básicas: de gênero e de geração”, uma vez que as pesquisas demonstram que na violência sexual intrafamiliar existe uma predominância do sexo feminino, conforme afirmam citando Azevedo & Guerra (1988), Cohen (1993) Saffioti (1997) O artigo caracteriza a violência sexual como uma relação na qual pode ou não estar presente o contato físico e cita as modalidades de exibicionismo e voyerismo, importante observação na construção do conceito de violência, pois conforme sinalizamos em nossa discussão conceitual, a violência sexual pode ocorrer sem o contato físico.

Esta discussão realizada no trabalho traz elementos extremamente importantes para a compreensão da violência sexual intrafamiliar contra crianças e adolescentes, uma vez que cita as relações de poder e coerção que estão atravessando esse tipo de violência, e que nem sempre se manifestam sob a forma da força física.

Discorre também sobre as desigualdades de gênero e geração presentes nas situações de violência sexual intrafamiliar contra crianças e adolescentes. No entanto, a autora não define claramente essas categorias. Apesar de não estar explicitado no texto essas categorias, a esse respeito, entendemos que a diferença de geração refere-se à diferença de idade e estágio de desenvolvimento entre o agressor e a vítima, presentes nos casos de violência sexual intrafamiliar contra crianças e adolescentes.

Sobre as diferenças de gênero, percebemos que o trabalho faz referência aos resultados de pesquisas que apontam para um número significativamente

maior de vítimas do sexo feminino. Contudo, é importante considerar que as estatísticas a respeito apontam, também, a existência de sua prática em crianças e adolescentes do sexo masculino, conforme pontuam pesquisas realizadas em 2011. Dentre as crianças e adolescentes vítimas de violência sexual, 83,2% são do sexo feminino e 16,8% são do sexo masculino (Waiselfisz, 2011)8 Portanto, a

maioria dos casos de violência sexual contra crianças e adolescentes têm como vítimas meninas, contudo, os citados estudos também trazem um percentual de vítimas do sexo masculino, dado que deve ser considerado.

Deste modo, embora as discussões sobre as relações de gênero sejam necessárias e pertinentes o conceito de violência sexual intrafamiliar necessita ter um caráter mais abrangente, que possa incluir as mais variadas manifestações.

Cabe ainda uma reflexão sobre a concepção que os autores do trabalho têm sobre o que é considerado “intrafamiliar”. Não fica claro se estão sendo considerados os vínculos de consanguinidade ou se o trabalho está adotando uma visão mais ampliada de incesto, na qual figuram também os laços de afinidade e responsabilidade.

No seu curso, o artigo faz alusão às consequências psicológicas da violência sexual e insere o “abuso sexual” como um problema legal, tendo em vista que demanda a proteção da criança e a responsabilização do agressor. Nesse ponto, são colocados, em evidência, aspectos de grande relevância para a conceituação e compreensão da violência sexual intrafamiliar, uma vez que ressaltam a violência como violação de direitos legais, conforme previsto na nossa legislação.

8

Pesquisa realizada pelo sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz e divulgada pela Faculdade Latino-americana de

Ciências Sociais – Flacso - e o Centro Brasileiro de Estudos Latino-americanos - Cebela de autoria do sociólogo em comemoração dos 22 anos do estatuto da criança e do Adolescente completados em 2012.

Artigo 04

O quarto artigo elencado para análise foi publicado em julho de 2002 e tem por objetivo “descrever o perfil das famílias envolvidas nas denúncias feitas ao SOS criança nos anos entre 1995 e 2000” (Weber, Viezzer, Brandemburg & Zocche, 2002 p.163).

Este artigo traz uma particularidade, qual seja: embora faça uma explanação sobre os maus tratos no curso da história, não traz uma discussão conceitual detalhada sobre o fenômeno que pretende abordar. Considera que os “maus tratos” podem traduzir-se em “negligência”, “abuso físico, emocional ou sexual”. O trabalho detém-se na descrição da negligência e do abuso físico, mas não contempla uma definição de abuso sexual, contudo, este conceito seria de suma importância, uma vez que a análise dos dados realizada pelos autores aponta para a incidência também desta modalidade de violência, conforme demonstrado na discussão dos resultados da pesquisa.

Artigo 05

O quinto artigo mapeado pela busca foi publicado em julho de 2004. O trabalho teve como objetivo “abordar os efeitos das experiências traumáticas na constituição do psiquismo” (Albornoz & Nunes, 2004 p.211), através do referencial teórico psicanalítico, explicitado no texto.

O trabalho define a violência sexual a partir dos conceitos de Farinatti e colaboradores (1993) e Furniss (1993), entendendo que o “abuso sexual” envolve atividades sexuais nas quais o contato físico pode ou não estar presente,

considerando que o indivíduo ou a vítima não tenha ainda maturidade ou capacidade para compreender tais interações. Ressalta que este tipo de violência ocorre mais frequentemente no meio intrafamiliar, concordando com Acosta, Aduriz & Albarracín (1998) e Pires (1999).

O conceito apresentado pelo trabalho traz contribuições relevantes, visto que considera as atividades sexuais ainda que sem contato físico, bem como as diferenças existentes entre agressores e vítimas. No concernente à violência sexual, contempla também as consequências psicológicas e emocionais da violência contra crianças e adolescentes. Contudo, não comparece a definição da

Documentos relacionados