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Na perspectiva da linha de estudos das organizações, Davenport e Prusak (1998) contribuem, descrevendo elementos que compõem o conhecimento na perspectiva da organização. Para os autores o conhecimento é uma informação contextualizada, composta por dados, que é incorporada à experiência, valores e insights do sujeito. Nessa perspectiva o conhecimento serve de base para a tomada de decisão por parte do sujeito frente a uma determinada situação. Sob essa definição, os autores acabam diferenciando três elementos, conforme apresentado no Quadro 01:

Quadro 01 – Dado - Informação - Conhecimento

ELEMENTOS DEFINIÇÃO

DADO Algo objetivo e sem significação contextualizada, composto por números, palavras ou símbolos aleatórios, que podem descrever apenas parte de um evento;

INFORMAÇÃO É uma mensagem composta por dados que deixaram de ser aleatórios e passaram a ser contextualizados, categorizados, calculados, correlacionados ou condensados. A informação se caracteriza como uma mensagem que faz algum sentido em meio a uma comunicação entre um remetente e um destinatário;

CONHECIMENTO É a informação contextualizada e incorporada à uma mistura de experiência, valores e insights do sujeito. O conhecimento serve como base para a tomada de decisão frente a uma determinada situação. Além, disso, observa-se que o conhecimento também pode estar imbricado em documentos, processos e práticas organizacionais.

Fonte: Baseado em Davenport e Prusak (1998).

A respeito do conhecimento na perspectiva das organiza, há inúmeras outras interpretações sobre o conceito (SANTOS; SOUZA, 2010), mas para os objetivos deste trabalho, o conceito de conhecimento abordado na perspectiva das organizações se fundamenta nos trabalhos de Edmund Husserl e aceita o conhecimento intuitivo na prática que foi apresentado na seção anterior. Dessa maneira, entende-se que o conhecimento na perspectiva das organizações é tido como um processo construído a partir das práticas, que associa o conhecer ao fazer (BISPO; GODOY, 2012). O conceito de prática é retirada dos trabalhos de Gherardi (2006, p. 34), que define “uma prática como um modo relativamente estável no

tempo e socialmente reconhecido de ordenar elementos heterogêneos em um conjunto coerente”.

Nesse sentido, este trabalho chega ao entendimento de que o conhecimento é de caráter subjetivo, abrange a experiência vivida, valores e insights do

sujeito, é o resultado de um processo da interpretação que o sujeito faz em relação ao objeto, a partir das práticas vividas, e serve de base para a tomada de decisões do sujeito frente a situações diversas.

Este trabalho também compreende que parte desse conhecimento pode ser codificado. Entende-se por conhecimento codificado aquela parcela do conhecimento que pode ser transmitido (BOISOT, 1987). Compreende-se que o conhecimento codificado pode contribuir para que sejam formulados documentos, processos e práticas organizacionais.

Também entende-se que os itens como documentos, processos e práticas organizacionais, embora sejam constituídos a partir do conhecimento codificado, são elementos que se traduzem por dados ou informações que podem servir para que outros sujeitos, além daqueles que tenham participado de sua constituição ou elaboração, venham a apreende-los. No entanto, entende-se que os dados e informações só poderão ser apreendidos por outros sujeitos e transformados em conhecimento de caráter subjetivo, ou tácito, quando esses dados e informações, gerados por meio do conhecimento codificado, forem incorporados a uma mistura de experiências, valores e insights, forem interpretados e fizerem algum sentido para os sujeitos do conhecimento.

Essa apresentação sobre alguns aspectos relevantes do conceito de conhecimento, bem como a explanação a respeito do entendimento que este trabalho efetua acerca do conceito, é especialmente importante, pois possibilita que se compreenda os limites de atuação de uma gestão que busca atuar sobre o conhecimento que permeia o ambiente organizacional.

Devido à relação dualista sujeito-objeto que é revelado no conceito de conhecimento, uma gestão que busca atuar sobre o conhecimento que permeia o ambiente organizacional também pode ser observada de duas maneiras distintas.

Em uma das perspectivas, a gestão voltada para o conhecimento organizacional direciona sua abordagem para a tecnologia, informação e ferramentas como portais, ambientes virtuais, banco de dados, entre outras. (TZORTZAKI; MIHIOTIS, 2014).

Em outra perspectiva, a gestão voltada para o conhecimento organizacional direciona sua abordagem para os aspectos subjetivos do conhecimento e pode atuar como facilitadora dos processos que possibilitam a construção do conhecimento humano (TZORTZAKI; MIHIOTIS, 2014). Nessa perspectiva, a gestão voltada para o conhecimento organizacional pode atuar promovendo encontros criativos e atividades construtivas de conhecimento.

Dessa maneira, neste trabalho considera-se que uma gestão que busca atuar sobre o conhecimento que permeia o ambiente organizacional, não pode atuar sobre o conhecimento em si, que é de caráter subjetivo, abrange a experiência vivida, valores e insights do sujeito. Mas pode atuar sobre processos que facilitem a construção de novos conhecimentos e a codificação de parte do conhecimento tácito, em itens como documentos, processos e práticas organizacionais. Com esse entendimento, este trabalho enfatiza a perspectiva subjetiva da Gestão do Conhecimento nas organizações (GC).

Foi possível enfatizar a perspectiva subjetiva da GC devido este trabalho ter compreendido a característica subjetiva do conhecimento. Segundo Lee et al. (2006), a ênfase que o pesquisador dá ao conceito de conhecimento definirá a perspectiva da Gestão do Conhecimento a ser desenvolvida nas Organizações, que pode variar entre estratégias voltadas mais para a informação ou estratégias voltadas mais para o sujeito. Tendo em vista o caráter subjetivo do conhecimento, observa-se que a perspectiva que este trabalho adota em relação à GC está mais direcionada às estratégias voltadas às pessoas que compõem o ambiente organizacional e, em segundo plano, às tecnologias.

A seguir, serão apresentados os pressupostos que fundamentam os estudos organizacionais e sua relação com a perspectiva adotada da Gestão do Conhecimento nas Organizações, com o objetivo de apresentar uma breve discussão sobre os fundamentos filosóficos e teóricos da GC e as principais críticas

relacionadas a esses fundamentos. Espera-se com isso contextualizar teoricamente a pesquisa, desvelando especificidades da GC e alguns dos principais elementos subjacentes à abordagem.

2.3 OS ESTUDOS ORGANIZACIONAIS E SUA RELAÇÃO COM A ABORDAGEM