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3.3 DELIMITAÇÃO E DESIGN DA PESQUISA

3.3.4 Procedimentos de Tratamento e Análise dos Dados

Para tratamento e análise dos dados, este trabalho se baseia na pesquisa etnometodológica realizada por Bispo e Godoy (2012). Os autores afirmam que a análise dos dados deve centrar-se sobre as práticas oriundas de um conjunto de atividades cotidianas e o pesquisador deve procurar ter segurança de que compartilha da linguagem dos participantes, ou seja, que compreende os pressupostos e os significados que os participantes apresentam em seus diálogos para então conseguir interpretar, analisar e categorizar os fenômenos que se apresentaram no campo de pesquisa (BISPO; GODOY, 2012). No entanto observa- se que a etnometodologia não especifica uma regra para a análise e categorização, e isso tem suscitado críticas à abordagem, pelo não fornecimento de uma regra clara.

Tendo em vista que neste trabalho a análise dos dados recai sobre as entrevistas e documentos oriundos da pesquisa documental, então se fez necessário recorrer aos trabalhos de Rodrigues e Braga (2014), que tratam sobre uma abordagem etnometodológica do discurso, a fim de buscar regras pertinentes à análise dos dados. Observa-se que a abordagem etnometodológica do discurso não corresponde à abordagem metodológica da Análise do Discurso.

A abordagem etnometodológica do discurso, fundamenta-se no pressuposto do método fenomenológico proposto por Husserl, que busca por entre parênteses as preconcepções do pesquisador e privilegia o estudo do sentido que atores e agentes sociais. A análise do discurso, por sua vez, fundamenta-se em trabalhos como de Michel Foucault, que partem de uma atitude suspeita sobre o discurso com o objetivo de denunciar as mais diversas manifestações ideológicas de imposições (RODRIGUES; BRAGA, 2014).

Este trabalho compreende que uma análise do discurso sob a abordagem da etnometodologia tem o mérito de procurar o sentido que os atores e agentes

interpretam das suas práticas e, por isso, entente que o discurso deve ser mantido na íntegra, enquanto que na abordagem da análise do discurso, deve-se tomar uma postura crítica e buscar por significados nas entrelinhas dos discursos. Esse entendimento é importante para este trabalho pois não se trata de uma abordagem crítica e sim interpretativa que tratará e analisará conteúdo de discursos.

Considerando que a etnometodologia fundamenta-se no pressuposto do método fenomenológico, este trabalho também recorre aos trabalhos de Sandberg (2000; 2005), que embora adote a corrente fenomenológica e não a etnometodológica, trata da competência individual e apresenta regras importantes para justificar o conhecimento desenvolvido no paradigma interpretativista como um todo.

No que diz respeito ao caminho percorrido por este trabalho no tratamento e análise dos dados, relata-se que as entrevistas foram transcritas e depois ouvidas com a intenção de interpretar aquilo que os entrevistados entendem por suas atividades cotidianas, competência, evasão e retenção de alunos e demais elementos que estão descritos na definição de categorias iniciais deste trabalho. Na medida em que este trabalho foi observando categorias em comum entre os diálogos dos entrevistados, então os discursos foram sendo agrupados.

Nesse processo foi possível verificar que algumas vezes os diálogos falavam sobre um determinado conceito, mas a pratica que relacionavam a tal conceito eram divergentes entre si. Esse tipo de análise ao qual este trabalho chegou pode parecer que se aproxima da abordagem da análise do discurso, no entanto essa suspeita não se confirma pois objetivo da análise continua sendo o de verificar a interpretação que o sujeito faz em relação à sua prática e não o de denunciar práticas ideológicas, portanto não ultrapassa os limites da abordagem etnometodológica.

Uma vez que todos os elementos que compõe a abordagem metodológica adotada por este trabalho foram descritos, cabe, a seguir, apresentar a interpretação e reflexão que se faz a respeito das competências dos tutores online na retenção de alunos.

4 ANÁLISE DOS RESULTADOS

Este capítulo busca atingir os três últimos objetivos específicos deste trabalho. Para tanto, toma como ponto de partida as entrevistas. A primeira entrevista foi realizada com a Diretora Pedagógica. O objetivo inicial da entrevista foi abordar o problema da evasão, para compreender o entendimento que o Núcleo de Educação a Distância (NEAD), da UniCesumar, Instituição de Ensino Superior (IES), tem a respeito do problema da evasão. A IES preocupa-se com a questão problemática da evasão devido a diversos motivos, conforme esclarece a entrevistada:

É preocupante em vários aspectos, porque assim, o quanto é difícil a pessoa dar esse primeiro sinal e dizer assim: “Ah! Eu quero estudar”. Primeiro passo é muito difícil, o vir, o matricular, o pagar a primeira mensalidade, e aí depois ele desiste. Então o quanto essa pessoa, enquanto ser humano perde, em termos de conhecimento, de formação, de poder de transformação, a sociedade perde com isso, então o ser humano de forma individual perde, a sociedade perde porque ela teria um profissional mais qualificado, que teria condições de produzir mais e melhor dentro do mercado de trabalho, a instituição perde, porque perde um elevado número de aluno, consequentemente perde renda com isso, então assim, são vários os aspectos que a gente vê na questão da evasão. Não só realmente a evasão por perder o aluno e consequentemente perder receita com isso, mas são vários os aspectos globais que isso envolve, essa perda, vamos dizer assim, do aluno quando ele evade. (ENTREVISTA 1).

Os motivos de preocupação com relação à problemática que envolve a evasão de alunos, ressaltados na entrevista concedida a este trabalho, corroboram a afirmação de Santos et al. (2008), de que o problema da evasão em cursos de graduação é multifacetário e atinge diversos atores, dentre eles o aluno, a IES e a própria sociedade.

Dessa maneira, foi perguntado sobre as ações realizadas pelo NEAD relacionadas à retenção de alunos e sobre o papel da área pedagógica e do Tutor online nesse processo, e se era possível entrevistar outros atores da área pedagógica, como os Tutores online. A Diretora Pedagógica informou que o NEAD estava implantando a Diretoria de Relacionamento com o Aluno (DRA), que possui um departamento voltado especificamente para a área de Retenção de Alunos

(Head de Retenção), e argumentou que o Tutor online, ligado à área pedagógica, é apenas um dos diversos atores envolvidos na retenção de alunos, conforme segue:

Então a gente tem dentro do EAD hoje uma diretoria de relacionamento com o aluno e essa diretoria ela é responsável por toda parte de retenção e evasão. Então no EAD hoje a gente compreende que a evasão do aluno não se dá somente por aspectos pedagógicos, dentro daquilo que a gente já veio mapeando, de pesquisas, de conversas com aluno, né, então, enfim esse processo todo. Bem, o mediador ele passa a ser um dos atores envolvidos neste processo.

Observa-se que os gestores da IES têm consciência de que o problema da evasão não ocorre somente por aspectos pedagógicos e que o Tutor online é apenas um dos muitos atores envolvidos nesse processo, o que corrobora os estudos de Simpson (2013). Preocupada com a evasão de alunos, os gestores da IES implantaram uma Diretoria de Relacionamento com o Aluno (DRA), que possui uma célula voltada especificamente à retenção de alunos.

Então hoje a gente tem toda uma equipe trabalhando nesse processo de retenção de aluno, de compreender o porquê o aluno evade né, quais são os aspectos que levam ele a evadir, qual é o perfil que se tem desse aluno. Então é assim, nos últimos 6, 7 meses, a gente tem investido fortemente nesta equipe de retenção, tá? Então de repente a gente pode marcar também pra conversar com a [...] diretora da área de relacionamento que é responsável pela retenção (ENTREVISTA 1).

Então é assim, a gente pode liberar pra você conversar com o tutor, mas eu vou te dizer que muito além do trabalho do tutor, a gente quer fazer um atendimento que a gente tá chamando de primeiro nível com esse aluno (ENTREVISTA 1).

No entanto, a área pedagógica ressaltou apenas o papel da DRA no processo de retenção de alunos, obscurecendo o papel da área pedagógica. Dessa maneira, houve a necessidade de se compreender como se dava o processo de retenção na IES, e a entrevistada explicou:

Então quando ele [aluno] levanta a mão e diz assim: olha eu vou cancelar, né, a gente vem fazendo um trabalho todo em cima disso. Pra você ter uma ideia essa equipe, essa célula de retenção que a gente tá trabalhando eles estão conseguindo, em torno de 36%, reverter, a gente tá achando ótimo, reverter a evasão desse aluno pra não desistência. A gente ainda não tá trabalhando com uma

prevenção [...] preventiva, vamos dizer assim: a gente tá mais trabalhando com uma reativa, que é depois que ele indica que ele quer cancelar ou que ele vai cancelar. Então a ideia é também tá trabalhando, e aí a gente começa a desenvolver isso aos poucos, é pra detectar qual é o perfil deste aluno (ENTREVISTA 1).

Além dessa explicação, a Diretora Pedagógica comentou que a IES estava participando de um grupo de pesquisa, que adota o estudo de Simpson (2006), sob o qual se busca predizer perfis de alunos mais propensos a evadir do curso, conforme relacionado no referencial, por este trabalho.

A gente tá participando de um grupo de pesquisa na ABED – Associação Brasileira de Educação a Distância – onde a gente tá estudando né, uma dissertação de doutorado [...] do Simpson. A ABED tá propondo fazer algumas, fazer um estudo pra definir que perfil é esse aluno que tem possibilidade de evadir. Então a gente também tá dentro desse grupo de pesquisa, tamo estudando, tamo trabalhando pra trabalhar essa questão da evasão e da permanência também. Uma outra coisa que a gente tá tentando buscar é qual é o perfil do meu aluno de sucesso, quer dizer o que o meu aluno de sucesso tem, que acaba, que eu posso potencializar naquele meu aluno que tem característica pra desistência, né pra tentar cruzar um pouco dessas informações. Então não trabalhar só com o fracasso da desistência, mas com o sucesso que faz com que esse aluno permaneça (ENTREVISTA 1).

Após essa explicação, foi possível compreender que a retenção de alunos referida pela Diretora Pedagógica, aquela que é realizada pela DRA, diz respeito a uma ação específica centrada no aluno. Essa ação é descrita na entrevista como uma ação que ocorre sob duas formas: a) ação reativa: voltada para reverter situações de desistência do aluno; b) ação preventiva: que está em fase de desenvolvimento na IES e que tem por objetivo detectar antecipadamente o perfil de aluno que pode vir a desistir, para que a IES possa trabalhar em ações preventivas, a fim de evitar que o aluno cancele sua matrícula.

Este trabalho compreende o mérito das ações de retenção reativas e preditivas que estão sendo adotadas pela IES, pois o problema da evasão é multifacetário e requer ação de todos os envolvidos e, no contexto prático da IES, pode também requerer adoção de abordagens diversas a fim de se buscar diminuir a evasão, conforme relata Andrews (2013) e Thomas (2012).

No entanto, cabe ressaltar que este trabalho adota a perspectiva da gestão, sob a visão baseada nos recursos (RBV), e visa analisar as competências do sujeito relacionadas à retenção de alunos. Além disso, este trabalho assume pressupostos que rejeitam a perspectiva positivista de que os fenômenos devem ser analisados sob padrões objetivos e rígidos de significação e, por isso esta pesquisa não busca efetuar uma análise da retenção sob parâmetros que possam detectar antecipadamente o perfil daquele aluno que pode vir a evadir do curso.

Assim como ocorre com a competência, de não consistir de duas entidades separadas em que se analisa separadamente as tarefas e a capacidade do trabalhador para realizá-las (SANDBERG, 2005), também ocorre com a retenção de alunos, pois trata-se de um processo que pode acontecer a partir da prática profissional exercida pelo sujeito durante seu atendimento ao aluno que está matriculado na IES.

Dessa maneira, buscou-se a compreensão da percepção que o sujeito tem das imposições existentes, em seu ambiente interno e externo, que possibilita ao sujeito julgar se pode ou não ativar a operacionalização de seus saberes (LE BOTERF, 2003), para dar seguimento à retenção de alunos. Por isso, o centro deste estudo não recai sobre o aluno, mas sim sobre os atores que direcionam seu trabalho ao aluno.

Com isso, surgiu a necessidade de se entrevistar o responsável pela DRA, a fim de compreender melhor sua atuação na retenção de alunos, e, também, para poder identificar a atuação do Tutor online e outros atores envolvidos nesse sentido.