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Capítulo 2 Metodologia da Pesquisa

2.3 O contexto da pesquisa

Na seção 2.2.1 mencionei que um caso é um sistema delimitado. Esse sistema inclui contextos relevantes ao estudo. O contexto ocupa um papel muito importante para este estudo não apenas pelo caráter holístico da pesquisa qualitativa, mas também pelo pressuposto de que crenças, ação e contexto se relacionam de maneira complexa (BORG, 2003; BARCELOS, 2006; GIMENEZ, 1994; RICHARDSON, 1996). Johnson, D. (1992), ressalta que a atenção ao contexto é crucial para investigações etnográficas, uma vez que amplia a habilidade do pesquisador em criticamente avaliar e interpretar sua pesquisa.

O estudo, que ocorreu no segundo semestre do ano letivo de 2006, foi realizada na 'IPES Y' em Brasília (DF). O ambiente natural onde a informante foi observada, foi a sala de aula da disciplina MPELE. Na época, essa IPES contava com cerca de dois mil alunos, a maioria dos quais cursava Letras. O curso de graduação em Letras era de dupla habilitação (Português/Inglês ou Português/Espanhol e as respectivas literaturas) e afirmava ter como

objetivo66 (Anexo A) a “formação de profissionais para atuar como professor, pesquisador, crítico literário, revisor de texto, intérprete, tradutor e assessor cultural”. Nota se um discurso bastante promissor por parte da 'IPES Y', ao declarar que o curso de Letras proporciona ao aluno:

A reflexão analítica e crítica sobre a linguagem como fenômeno, histórico, social, psicológico, político, ideológico e cultural;

Visão crítica das perspectivas teóricas adotadas nas investigações lingüísticas e literárias;

Percepção de diferentes contextos interculturais; Utilização de recursos da informática;

Preparação profissional atualizada de acordo com a dinâmica do mercado de trabalho;

Domínio dos conteúdos essenciais para a formação do profissional que atue como Licenciado em Língua Estrangeira;

Visão crítica das perspectivas teóricas adotadas nos estudos sobre Linguagem, compreendendo os fatos sociais em constante mutação;

O desenvolvimento de habilidades para uso da linguagem como um fenômeno histórico, ideológico essencial ao universo da comunicação, cognição e interação social. (veja anexo A)

Para alcançar esses objetivos, a 'IPES Y' desenhou um curso de Letras com duração de três anos (seis semestres) e carga horária total de dois mil e oitocentas (2.800) horas, vinte por cento (20%) da qual em modalidade virtual. Contava, ainda, com disciplinas bimestrais inclusive a disciplina MPELE, com quarenta horas de aula presencial e vinte horas a distância, perfazendo sessenta (60) horas.

No que tange à distribuição de disciplinas, apresento na Tabela 01 o resumo comparativo da matriz curricular (Anexo B) na qual consta que o curso de Letras em Português/Inglês em que a informante atua possui as seguintes características:

1) Primazia das disciplinas relacionadas à língua portuguesa e suas respectivas literaturas.

2) Ausência da disciplina Lingüística Aplicada.

3) Minoria da carga horária das disciplinas relacionadas à teoria e prática de ensino de línguas.

Disciplinas relacionadas à C/H % Língua Portuguesa e suas respectivas literaturas 840 30% Língua Inglesa e suas respectivas literaturas 560 20% Método e Prática de Ensino e Língua Portuguesa 80 3% Método e Prática de Ensino e Língua Portuguesa 80 3% Tronco Comum (ex. psicologia, filosofia da educação) 560 20%

Lingüística 80 3%

Estágio Supervisionado 400 14%

Pesquisa (Metodologia científica, TCC) 200 7%

TOTAL 2800 100%

Tabela 1: Resumo analítico da matriz curricular da IPES "Y".

Em termos de espaço físico, a IPES possui instalações modernas, com salas amplas e climatizadas, muitas das quais são equipadas com computador, data show e acesso ao internet. Além das salas informatizadas, a IPES Y possui oito laboratórios de última geração. Da mesma maneira das salas de aula, a biblioteca é também informatizada, entretanto, possui um acervo ainda limitado, especialmente no que diz respeito à bibliografia na área de ensino e aprendizagem de LE e da LA.

No que diz respeito aos gestores da instituição, é interessante notar que tanto o proprietário quanto os diretores da IPES Y, inclusive, o diretor acadêmico, são todos especialistas da área da tecnologia de informação.

Quanto à política pedagógica em relação ao curso de Letras, apesar de que não foi possível adquirir uma cópia impressa do projeto pedagógico do curso de Letras uma vez que, segundo a então Coordenadora, o mesmo estava passando por várias revisões, observa-se, por meio das conversas informais com professores e alunos, algumas características que parecem indicar o perfil do curso de Letras da instituição: a primeira, a heterogeneidade nos níveis de proficiência na língua-alvo por parte alunos do curso parece indicar uma seleção menos rigorosa; a segunda, o uso da língua materna nas disciplinas de LE e matérias afins como literatura e MPELE parece indicar uma ausência de política que encoraje a utilização da língua-alvo como meio de instrução e a terceira, o calendário acadêmico da IPES Y indica a carência de atividades acadêmicas tais como colóquios, palestras, mostras culturais bem como cursos de extensão. Isto parece indicar uma lacuna no que se refere a oportunidades para

formação complementar que promova, como ressaltam as DCN, “uma articulação constante entre ensino, pesquisa e extensão" (CNE/CES No. 492/2001 p. 29).

Em termos dos alunos do curso, a professora formadora participante desta pesquisa que denomino de Ana (pseudônimo) ensinava a turma de MPELE do período noturno, composta de doze alunos (oito mulheres e quatro homens) no quarto semestre do curso de Letras. Os alunos tinham entre vinte (20) e quarenta (40) anos de idade e a maioria trabalhava durante o período matutino. Vários dos alunos dessa turma eram alunos de Ana na disciplina de língua inglesa no terceiro semestre e pude observar que havia uma boa relação entre a professora e seus alunos.

A sondagem de turma que Ana realizou no primeiro dia de aula revelou uma turma heterogênea no que diz respeito à proficiência em língua inglesa. Os alunos que tinham dificuldade em língua inglesa, especialmente na parte de produção oral e escrita, esperavam superar essa dificuldade através do curso de Letras. Devido à limitação na língua inglesa, a maioria dos alunos esperava que a aula fosse conduzida em língua portuguesa. Ao perguntar seus alunos o que esperavam do curso, os mesmos declararam que esperavam aprender técnicas de ensino de inglês na disciplina. No entanto, ao verificar quantos alunos planejavam se tornar professores, poucos alunos expressavam desejo em trabalhar como professores. Apenas uma aluna possuía experiência como professora de inglês em uma escola de línguas para crianças. Essas mesmas informações foram verificadas com a narração da experiência de aprendizagem e questionário aplicado aos alunos (Apêndice A) com intuito de obter uma visão informada sobre a turma em que a informante estava inserida. Cumpre salientar que as narrativas e questionários que os alunos responderam não fazem parte dos instrumentos da coleta de dados, uma vez que o foco do estudo é apenas a professora formadora e não seus alunos.