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O campo empírico de pesquisa foi composto por duas turmas de 1º ano do Ensino Fundamental de uma escola da Rede Municipal de Pelotas, especialmente suas crianças e a professora (neste caso, eu). A escola, onde atuei entre 2014 e 2015 (tempo da coleta de dados) como professora da educação básica, tem como prática de gestão abrir o espaço escolar para atividades de pesquisa. É uma escola de porte grande, que atende alunos oriundos de diferentes realidades e bairros da cidade, pois o critério de ingresso é o sorteio de vagas para seu ano letivo.

O projeto Obeduc-Pacto/Capes, do qual participo como bolsista de educação básica, realizou atividades de coleta de dados de escrita em três escolas da rede Municipal de Pelotas e em três escolas da rede Municipal de Porto Alegre. Além dessa atividade, em cada uma das escolas-parceiras, os bolsistas do programa Observatório da Educação, da Capes, realizaram projetos de ensino de intervenção pedagógica, visando à inovação e à melhoria das práticas docentes. É desse contexto que esta pesquisa decorre.

Em relação aos acordos, cabe explicar que, em 2013, realizamos (minha orientadora de pesquisa e eu) uma reunião com a equipe diretiva da escola e explicamos o objetivo do projeto Obeduc-Pacto/Capes, além de apresentarmos os objetivos do projeto de ensino e da intervenção pedagógica que pretendia executar. O projeto também foi enviado e aprovado pela Secretaria Municipal de Educação e Desporto (SMED), que autorizou as atividades de coleta de escrita das crianças e a realização dos projetos, conduzidos pelas bolsistas de educação básica, professoras da rede municipal de ensino.

No início dos anos letivos de 2014 e de 2015, realizei reunião com os pais e apresentei o projeto de pesquisa, tanto no que se referia à participação das crianças nas atividades de coleta de escrita, feitas no âmbito do projeto Obeduc-Pacto/Capes, como as atividades que se relacionavam ao meu projeto de ensino e intervenção pedagógica. Os pais, por sua vez, foram convidados a autorizar ou não a participação e o uso dos materiais para fins investigativos, mediante a assinatura de Termo de Consentimento.

Após o ingresso no mestrado, novamente chamei os pais, apresentei a intenção de pesquisa e pedi sua autorização (Apêndice 1) para uso dos dados de seus filhos, agora vinculando-os ao projeto de pesquisa do mestrado. Além da autorização assinada pelos responsáveis, em 2015, também expliquei às crianças o que era uma pesquisa e disse-lhes que eu estava realizando uma em que eles participavam. Expliquei que meu objetivo era o de descrever e analisar como o trabalho em grupo auxiliava no processo de aprendizagem da leitura e da escrita. Questionei quem gostaria de participar e as crianças foram convidadas a assinar autorizações (Apêndice 2) concordando com suas participações. Expliquei que eu usaria o material e as imagens somente daquelas que quisessem, não filmando ou selecionando materiais de quem não autorizasse. As crianças ficaram surpresas e demonstraram muito interesse em participar e entender o que era exatamente uma pesquisa, fazendo questionamentos como: O que é uma pesquisa? O que faz um pesquisador? Quem iria ver os trabalhos, as fotografias e as filmagens deles? Perguntaram, ainda, sobre como era a “escola” onde eu estudava, dentre outras questões.

Tanto em 2014 como em 2015, cada uma das turmas de 1º ano era formada, em média, por 20 crianças. O trabalho realizado com esses dois grupos foi documentado por meio de registros escritos e filmagens, constituindo evidências narrativas para descrever e analisar como o trabalho colaborativo pode facilitar o processo de aprendizagem da linguagem escrita, identificando quais atividades de escrita favorecem a colaboração e quais posturas da professora podem servir de modelo de interação entre as crianças.

Os dados produzidos foram organizados em dois grandes eixos: (1) documentação pedagógica e (2) dados de investigação sobre trabalho colaborativo. Separei os dados nesses dois grandes eixos por entender que a pesquisa de professores (MIZUKAMI, 2003) precisa separar o método usado para o desenvolvimento da prática pedagógica, ou seja, os dados que descrevem a prática

pedagógica implementada, do método de investigação da prática pedagógica realizada. Este último é constituído pelos instrumentos de coleta, pelos dados coletados e pelo método de análise a ser utilizado, algo que se assemelha ao método realizado em qualquer tipo de pesquisa empírica.

O primeiro eixo, formado pela documentação pedagógica, reúne o material que produzi, como professora, para as crianças ou com elas, tendo como objetivo organizar e desenvolver o trabalho de ensino. Nörnberg (2016, p. 8) explica que a documentação pedagógica reúne o

conjunto de materiais que são produzidos tanto pela professora como pelas crianças, constituindo assim a materialidade da prática pedagógica. Professoras em geral, organizam, preparam, elaboram um volume expressivo de materiais de diferentes tipos: plano de aula, relatório de atividades, diário de classe/aula, correspondência eletrônica, depoimento escrito, resposta a um questionário, observação de uma aula, pareceres de avaliação, fotolivros, portfólio, vídeos, etc. Registros de diferentes tipos que constituem a documentação pedagógica da professora.

No eixo da documentação pedagógica, agrupei diferentes materiais, como planejamentos de aula, tabelas com perfil da turma e também as produções das crianças. Os planejamentos descrevem atividades criadas ou adaptadas da literatura da área, visando à apropriação do SEA, que foram desenvolvidas e propostas às crianças, em especial em situações de trabalho colaborativo.

Já o segundo eixo agrupa os dados gerados com o objetivo de descrever e analisar como o trabalho colaborativo e a heterogeneidade auxiliam na organização da prática pedagógica e favorecem as situações de ensino, contribuindo, assim, para a aprendizagem do SEA pelas crianças de 1º ano.

Como instrumento de pesquisa, realizei observações (MINAYO, 1993) das interações entre as crianças, na sala de aula, e usei como instrumento de registro um diário de campo em que escrevi sobre as situações em que percebia haver maiores níveis de colaboração. O processo de registro de dados em diário de campo foi realizado de duas formas:

A) Em sala de aula, fazia pequenas anotações, listando as atividades que eram propostas às crianças e o tipo de interação entre as crianças que eu percebia tendo um nível maior colaboração. Por vezes, realizava anotações no próprio caderno de planejamento, especialmente de ideias ou fatos decorrentes das observações em sala de aula.

Nesse segundo eixo, também fiz uso de outro instrumento de coleta: a filmagem de atividades realizadas em sala de aula foi um instrumento de coleta de dados que muito contribuiu para o processo de descrição e análise dos dados. Esse processo ocorreu de maneiras diferentes em cada ano. Em 2014, elegi filmar as atividades relacionadas à sequência didática “Pinga Pingo Pingado”. Foram produzidos cinco vídeos. Para produzir as imagens, posicionei a câmera em tripé, capturando a cena da aula como um todo. Ao ver o material filmado, é possível observar que, em vários vídeos, a câmera capturou situações para além daquelas que tinham como foco atividades em grupo, mostrando uma visão geral da aula.

Já em 2015, foram gravados 11 vídeos que registraram diferentes situações didáticas. O objetivo da filmagem foi o de registrar momentos em que a colaboração ocorria em níveis elevados. Nesse ano, assumi alguns critérios diferentes em relação ao posicionamento da câmera, ou seja, em alguns momentos, a filmadora foi posta sobre a minha mesa, capturando a sala de aula como um todo. Fiz isso especialmente em momentos de atividades coletivas. Em outras situações, sobretudo quando as crianças estavam organizadas em pequenos grupos, desloquei a filmadora, levando- a comigo até os grupos, filmando o que estava acontecendo.

Fiz essa alteração na forma de capturar as cenas porque, ao analisar os vídeos de 2014, percebi que era difícil identificar as interações que ocorriam nos pequenos grupos, pois a captura do áudio tinha ficado prejudicada. A câmera posicionada em um local fixo, o tempo todo, não permitia a produção de um áudio de boa qualidade, das falas das crianças, ocorridas enquanto realizavam as atividades em pequenos grupos. A posição fixa era boa apenas para as atividades realizadas com todo o grupo, como aquelas em roda ou de apresentação de trabalhos.

Na sequência, no Quadro 4, apresento os dados produzidos ao longo de 2014 e 2015, selecionados para a pesquisa. Percebo que uma visão dos materiais coletados ajuda a entender melhor a metodologia de pesquisa. Como expliquei anteriormente, organizo os dados separando-os nos dois eixos: (1) documentação pedagógica e (2) dados de investigação sobre trabalho colaborativo.

Quadro 4 - Conjunto de dados produzidos

2014 2015

Primeiro eixo Documentação pedagógica

• Diário de planejamento das atividades desenvolvidas.

• Diário de planejamento das atividades desenvolvidas.

• Testes trimestrais com produções de escritas das crianças.

• Testes bimestrais com produções de escritas das crianças.

• Planejamento de uma sequência didática

Pinga, Pingo, Pingado.

• Planejamento de duas sequências didáticas:

A aranha: meus medos e reflexões do nh; Hora de pensar: os diferentes sons do S.

• Quadro com perfil da turma segundo os níveis de hipótese da escrita.

• Quadro com perfil da turma segundo os níveis de hipótese da escrita.

• Fotos de vários momentos vivenciados com a turma.

• Fotos de vários momentos vivenciados com a turma.

Segundo eixo

Dados de investigação sobre trabalho colaborativo

• Testes trimestrais com produções de escritas das crianças. A partir dos testes, elaboro o quadro com o perfil da turma, segundo os níveis de hipótese da escrita.

Através desse quadro, penso nos

agrupamentos.

• Testes bimestrais com produções de escritas das crianças. Com base nos resultados dos testes, elaboro o quadro com o perfil da turma, segundo os níveis de hipótese da escrita.

Através desse quadro, penso nos

agrupamentos. • Cinco vídeos que registram momentos da

sequência didática Pinga, Pingo, Pingado.

• Onze vídeos que registram momentos de duas sequências didáticas. Dez vídeos da sequência didática A aranha: meus medos e

reflexões do nh. Um vídeo da sequência

didática Hora de pensar: os diferentes sons do

S.

• Diário de campo da pesquisa, que

descreve as atividades pedagógicas

realizadas e as percepções sobre aquelas em que houve maiores níveis de colaboração, bem como registra diálogos em que ocorria o conflito cognitivo.

• Diário de campo da pesquisa, que descreve as atividades pedagógicas realizadas e as percepções sobre aquelas em que houve maiores níveis de colaboração, bem como registra diálogos em que ocorria o conflito cognitivo.

Fonte: Elaborado pela autora (2018).