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Esta investigação foi conduzida por mim, uma professora-pesquisadora que, no exercício de suas atividades, pensa teoricamente sobre suas ações e investiga seu fazer docente, qualificando e entendendo as razões que mobilizam o seu trabalho pedagógico. Tal perspectiva ancora-se nos conceitos de “professor reflexivo” (SCHÖN, 2000), “professor-pesquisador” (NÓVOA, 2001) e “professor como intelectual” (GIROUX,1997), pois me vejo como uma professora que é agente de sua formação, porque penso e analiso reflexivamente a prática pedagógica que assumi, buscando entender suas potencialidades e dificuldades, visando meios de modificá-la e qualificá-la. Assim, identifico esta pesquisa como pesquisa de professores (MIZUKAMI, 2003) porque, nessa perspectiva teórico-metodológica, encontro guarida para pensar sobre o meu fazer docente.

Com o passar dos anos, agindo de forma repetida, o fazer pedagógico vira algo tão cotidiano que, muitas vezes, o realizamos sem refletir sobre o porquê fazemos algo deste e não de outro jeito. Simplesmente o realizamos, como um hábito. Para romper com essa estagnação, concordo com Nörnberg (2016) quando afirma que o exercício da reflexão sobre a prática pedagógica está relacionado à construção do conhecimento pedagógico e que essa construção tem relação com a compreensão e, ainda, que se trata de um “saber não mensurável”, pois “todo conhecimento pedagógico é decorrente da atitude investigativa, indagativa e propositiva”; por isso, necessita do “movimento interpretativo” de nossas ações e relações enquanto seres humanos. (NÖRNBERG, 2016, p. 17)

Assim, este estudo se propõe, em certa medida, a fazer uma narrativa pedagógica, especialmente porque apresenta e analisa registros da prática e dos contextos de ensino e aprendizagem por mim produzidos. Com base no olhar e na

reflexão sobre minha prática, entendo que estou produzindo uma narrativa sobre o meu fazer pedagógico.

As narrativas das professoras estão carregadas por aspectos localizados em diferentes campos de interesse e por necessidades específicas que, ao serem lidas por outros professores, em formação, podem encontrar pistas e aspectos para pensar o seu próprio processo de constituir-se docente. Narrativa como expressão da ação humana. Escrever, nessa perspectiva, se apresenta como um momento em que interrompemos, no tempo e no espaço, o fazer, próprio da prática compulsiva que nos captura e, assim, abrimos condições para pensar, sozinhos, no vácuo da suspensão, da solidão e de estar consigo mesmo, o que possibilita condições para meditar, refletir, compreender. (NÖRNBERG, 2016, p.17).

Em certa medida, entendo que a elaboração do projeto de pesquisa e a escrita desta dissertação propiciaram-me a organização de uma narrativa sobre minhas ações. Ao fazer isso, constituí um espaço-tempo de parada da prática compulsiva que tenho como uma professora da Educação Básica, que atua 45 horas em sala de aula. Essa suspensão tem-me possibilitado condições para pensar, analisar e refletir sobre ações feitas, o que permite compreender melhor as atividades realizadas e as relações destas com a minha experiência como ser humano, bem como a relação teórica possível de ser construída a partir destas ações para qualificar o processo de aprendizagem das crianças sobre o SEA. Nesse movimento, acredito que também estou investindo em meu desenvolvimento como profissional.

Ao longo do período de realização do projeto de ensino e inovação pedagógica, do qual esta dissertação se origina, no contexto do projeto Obeduc-Pacto/Capes, fui assumindo certos princípios e procedimentos de pesquisa, do mesmo modo que fui elaborando o processo de realização da investigação, delineando caminhos que me levassem ao encontro das respostas buscadas por meio do objetivo geral e dos objetivos específicos, especialmente considerando o fato de que eu investigava a minha prática pedagógica.

Reconheço que o movimento de investigação realizado se deu através de um processo que visava compreender e analisar minha própria prática pedagógica e, para isso, precisei lançar mão de alguns procedimentos necessários para registrar e entender as ações desenvolvidas. Sendo assim, apresentarei, a seguir, elementos de uma abordagem de pesquisa que me inspirou a construir meu próprio caminho metodológico de investigação. Ressalto que não identifico esta pesquisa como sendo do tipo que apresento logo a seguir, mas destaco que nele encontrei elementos

importantes para construir a metodologia de investigação sobre a prática pedagógica que adoto.

Damiani (2012) entende o conceito de pesquisa-intervenção, ancorada pelas ideias de Freitas e Ramos (2010), como uma ação humana que interfere no objeto de estudo, em seu contexto e em seus participantes, provocando alterações e transformações. Destaca, ainda, que embora Freitas e Ramos não tenham usado a palavra intervenção, é possível concluir que toda a pesquisa que tem por base Vygotsky seria uma intervenção, isso porque provoca alterações nos sujeitos envolvidos e porque é fruto da ação humana. Conforme explica Damiani (2012, p. 3):

[...] denominam-se intervenções as interferências (mudanças, inovações), propositadamente realizadas, por professores/pesquisadores, em suas práticas pedagógicas. Tais interferências são planejadas e implementadas com base em um determinado referencial teórico e objetivam promover avanços, melhorias, nessas práticas, além de pôr à prova tal referencial, contribuindo para o avanço do conhecimento sobre os processos de ensino/aprendizagem neles envolvidos.

Motivada pelo pensamento de Damiani (2012), identifico-me com a ideia que ela traz de que o processo de pesquisa com base em Vygotsky provoca alterações nos sujeitos envolvidos e é fruto da ação humana. Entendo que a pesquisa que me propus a realizar ocorreu em meio a uma ação humana entre sujeitos que interagiram, juntos, em sala de aula, e que, neste processo, tanto eu, professora da turma, como as crianças estivemos em constante processo de alteração e transformação de nós mesmos e das situações em que estivemos envolvidos.

Nesse processo, também entendo como sendo grande o desafio de desenvolver uma investigação realizada por professores porque o investigador, além de realizar o processo de coleta e análise dos dados, está envolvido nele e, por isso, precisa saber distiguir muito bem os dados produzidos para a produção da prática e os dados produzidos para a análise da pesquisa. Em razão disso, procurei ter cuidado e ser sistemática com os registros e reflexões sobre as situações que ocorriam e as interferências que eu realizava em sala de aula. E esse cuidado construí muito inspirada pelos alertas que Damiani (2012) faz ao descrever a pesquisa-intervenção, ressaltando a importância de se separar o que são dados da metodologia da intervenção e o que são dados da avaliação desta intervenção.

Desse modo, identifico-me como um prático que, ao fazer ou realizar uma aula, pesquisa e, enquanto pesquisa, ensina algo (realiza uma intervenção). Nesse

processo, entendo que é na análise de por que faço algo de determinado modo que também vou vislumbrando outras formas possíveis de fazê-lo. Ou seja, vou percebendo e entendendo o meu processo de formação e ação docente, que acontece nessa relação de fazer e refletir sobre as ações para, a seguir, modificá-las, caso necessário. Com certeza, a professora que sou hoje não é a mesma que iniciou a tarefa docente há dez anos. Hoje, cada vez entendo mais que nos constituímos professores no exercício da reflexão sobre a ação e nas relações humanas que vivenciamos, não só na escola e nos espaços de formação, mas em diferentes lugares.