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O Contexto Espacial e Educacional

A Educação deve se atentar para formação de um ser com saberes gerais, pois esse passa a ser não mais apenas um habitante de um local e sim do mundo como um todo. Desse modo, Morin (2006, p. 33) afirma: “O dever principal da educação é de armar cada um para o combate vital para a lucidez”. Tornar-se lúcido é, portanto, tornar-se um cidadão, profissional e trabalhador dono de seus conhecimentos e ideias, capaz de estabelecer opiniões próprias sobre qualquer dificuldade vivenciada pela humanidade.

A complexidade de se obter e de se ministrar conhecimentos é uma realidade humana. A Educação encontra aí outra empreitada importantíssima, proporcionar um conhecimento viável a todos e dotar esses de habilidades para que possam gerir os seus conhecimentos de mundo. Levando em consideração tal colocação, Morin (2006, p.35) afirma que:

O conhecimento do mundo é necessidade ao mesmo tempo intelectual e vital. É o problema universal de todo cidadão do novo milênio: como ter acesso às informações sobre o mundo e como ter a possibilidade de articulá-las e organizá- las? Como perceber e conceber o Contexto, o Global (a relação todo/partes), o Multidimensional, o Complexo? Para articular e organizar os conhecimentos e assim reconhecer e conhecer os problemas do mundo é necessário a reforma do pensamento. Entretanto, esta reforma é paradigmática e, não, programática: é a questão fundamental da educação, já que se refere à nossa aptidão para organizar o conhecimento.

O ato de educar é o responsável por aperfeiçoar intelectualmente os seres, tornando- os capazes de interferir no mundo de acordo com a contextualização de seus conhecimentos adquiridos, sejam de caráter informal ou formal. Dentro dessa conjuntura estes seres são segundo Freire (1996, p. 57): “capazes de intervir no mundo, de comparar, de ajuizar, de decidir, de escolher, capazes de grandes ações, de dignificantes testemunhos, mas capazes também de impensáveis exemplos de baixeza e de indignidade”.

A realização da formação desse cidadão participativo na sociedade precisa ocorrer de uma forma natural, porém, conseguida via educação. Por conseguinte, Morin (2006, p. 39) diz: “A educação deve favorecer a aptidão da mente em formular e resolver problemas essenciais e de forma correta, estimular o uso total da inteligência geral”. O ser humano, ao não ser capaz de organizar seus conhecimentos, de contextualizá-los e globalizá-los, torna-se intelectualmente atrofiado impedido de aprender.

A contextualização e a globalização dos conhecimentos fornecidos por uma educação de qualidade, com ética, respeito e de forma democrática implica no surgimento de novos cidadãos capazes de ter ciência da complexidade humana. A própria Educação deve estar preparada para esclarecer a necessidade humana de que é preciso nos entender primeiro para posteriormente agirmos em coletivo na procura de um bem comum para todos. A prática educativa voltada para discussão dessa complexidade humana e social condiciona os cidadãos a refletir sobre os seus próprios problemas ou da sociedade de acordo com o tempo e o espaço em que estão contidos os tais anseios sociais. As pessoas contemporâneas devem estar preparadas para enfrentar a complexidade humana e a diversidade global, uma vez que, se pretenda tomar decisões coletivas para o bem estar da população. A educação de cada um torna-se a sua base de formação mental e intelectual, assim como também, a social e cidadã. Dessa forma, embasando o que foi afirmado, Morin (2006, p.61) diz:

Por isso, a educação deveria mostrar e ilustrar o Destino multifacetado do humano: o destino da espécie humana, o destino individual, o destino social, o destino histórico, todos entrelaçados e inseparáveis. Assim, uma das vocações essenciais da educação do futuro serão o exame e o estudo da complexidade humana. Conduziria a tomada de conhecimento, por conseguinte, de consciência, da condição comum a todos os humanos e da muito rica e necessária diversidade de indivíduos, dos povos, das culturas, sobre o nosso enraizamento como cidadão da terra.

Cada indivíduo precisa doravante, dentro desse novo contexto de educação, aprender tudo que é fundamental para sua convivência em harmonia no âmbito coletivo. Necessitamos urgentemente aprender a viver, a nos comunicar e a compartilharmos uns com os outros. O desafio de quem ensina algo é solucionar o problema da compreensão e ainda fazer com que essa supere o progresso da incompreensão. O ato de ensinar requer algumas exigências para que esses preceitos possam ocorrer de forma qualitativa, pois ensinar não se resume em apenas transferir conhecimentos e sim, capacitar pessoas para que possam produzir ou construir seus próprios saberes.

O exercício de ensinar exige a presença de dois sujeitos: a docência e a discência. Ao se praticar um ensinamento esse ato remete a outro, o de aprender, sendo assim, uma experiência fantástica que ocorre entre indivíduos e que resulta em um fruto extraordinário, que é a formação de um cidadão. Em relação à experiência de ensinar e aprender Freire (1996, p.26) afirma:

Quando vivemos a autenticidade exigida pela prática de ensinar-aprender participamos de uma experiência total, diretiva, política, ideológica, gnosiológica, pedagógica, estética e ética, em que a boniteza deve achar-se de mãos dadas com a decência e com a seriedade.

O ofício de lecionar possui algumas exigências, tais como: o educador tem por obrigação na execução de seu dever aumentar a percepção crítica do seu aluno e aguçar a sua curiosidade por conhecimentos; pesquisar constantemente em busca de novos conhecimentos e ter o intuito de conhecer o desconhecido, proporcionando o anúncio de grandes inovações; o respeito tanto do professor como o da instituição educacional aos saberes prévios dos alunos, não o discriminando por não saber, saber pouco ou errado, devido a um motivo externo da vida pessoal do aluno e ao invés de ser desrespeitoso com esse tipo de aluno o educador pode e deve usar essa realidade sociocultural do educando como um implemento associativo em sua disciplina; é preciso ser crítico ao ensinar e não ser ingênuo com o conteúdo que está sendo trabalhado com os alunos e ainda curioso em buscar diversas fontes sobre o determinado tema que lhe vai dar subsídio para formar seu pensamento crítico.

Ter ética é fundamental para promoção de um ensino de resultados qualitativos, logo, o educador deve ser consciente do seu caráter formador e tudo aquilo que estiver sendo ministrado ao aluno não pode de forma alguma estar distante da formação moral e cidadã desse indivíduo; ensinar exige ainda coerência do educador no que diz respeito ao que ele apresenta como conteúdo e como ele se comporta em relação ao que diz, ou seja, deve existir sempre uma coesão em relação ao que diz ao seu aluno e o seu comportamento evitando contradições; ensinar é aceitar o risco e não ter medo do novo ou da inovação, encarando esses como uma via de otimização da educação e não os vendo como uma barreira, em que o educador deve ser contrário a qualquer tipo de discriminação, pois, o ato de educar deve ocorrer da forma mais democrática possível e sem distinção de valores estando ao alcance de todos de uma forma geral e universal sem haver divisões, por motivos econômicos, de classes sociais, raça e qualquer outra; ensinar exige do educador que ele se policie, ou seja, é preciso que se faça autoavaliação de forma crítica em relação a sua prática de ensino de uma forma constante, sendo que, essa reflexão é o suporte do educador para que esse entenda como melhor adaptar-se a sua importante tarefa de formar cidadãos; portanto, para ensinar é fundamental assumir com responsabilidade a identidade de educador formador de pensamentos intelectuais, morais e cívicos, de acordo com Paulo Freire.

Ao se educar um indivíduo, o profissional responsável por essa ação deve ter a consciência de que sua imagem, seu pensamento, seus dizeres e seus gestos servirão de base social para uma grande quantidade de pessoas que veem na figura do educador um exemplo a ser copiado, por conseguinte, esse fato merece de cada educador ou qualquer outro profissional em educação, uma reflexão bastante séria da magnitude do seu papel enquanto instrumento socializador nas instituições educacionais.

O educador por ser o profissional responsável pela formação educativa da comunidade discente tem que possuir uma formação ética bem fundamentada para que possa tornar seu exercício cada vez mais de qualidade, consequentemente, este deve estar ciente de que o seu real papel não é apenas o de transferir conteúdos e sim de abrir portas e romper fronteiras norteando seus educandos a formular suas próprias ideias. Sendo assim, esses profissionais devem saber que, segundo Freire (1996, p. 52) “saber ensinar não é transmitir conhecimento, mas criar as possibilidades para sua própria produção ou a sua construção”. Não se pode imaginar um professor sem que esse não leve a sério sua formação como tal, que não esteja atento à necessidade de estudar, de se reciclar constantemente e sem que apresente esforço algum para exercer com excelência a sua tarefa como um educador em sala de aula. A educação do futuro espera do professor tais atitudes para que se possa almejar vencer as barreiras sócio-educativas da sociedade.

O espaço ao qual deve legitimamente ocorrer esses ensinamentos educativos é preciso ser o mais respeitoso e democrático possível. Logo, é importante que se tenha um ambiente equilibrado para que se possa realizar uma prática pedagógica de boa qualidade, de forma séria, harmônica e ética. Assim, Freire (1996, p.103) afirma: “O clima de respeito que nasce de relações justas, sérias, humildes, generosas, em que a autoridade docente e as liberdades dos alunos se assumem eticamente, autentica o caráter dos alunos do espaço pedagógico”.

A educação é colocada assim como uma maneira primordial de intervir no mundo de forma bastante política, que condiciona os indivíduos a reivindicarem os diversos direitos de uma sociedade, tais como: os direitos básicos a própria educação, saúde e o bem estar social de todos, dentre outros. A educação proporciona uma estrutura que faz com que as pessoas produzam conhecimentos específicos que nutrem uma necessidade humana de formação mental. Essa provoca uma rede de inter-relações dentro de uma sociedade que é norteada por intermédio das práticas políticas. Sendo assim, é impossível não interligar educação e política. Corroborando com a ideia, Freire (1996, p.125) afirma: “para que a educação não fosse uma forma política de intervir no mundo era indispensável que o mundo não fosse humano”.