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3. REVISÃO DE LITERATURA E CONTEXTUALIZAÇÃO DO ENSINO

3.1. Os vários tipos / conceitos de currículo nas ciências da educação

3.1.5. O Currículo Nacional do Ensino Básico (reflexões)

O Decreto-Lei nº 6/2001, de 18 de Janeiro, que aprova a mais recente reorganização curricular do Ensino Básico, marca uma significativa alteração no paradigma curricular Português.

Nesta perspectiva, para efeitos do disposto no diploma supracitado que estabelece os princípios orientadores da organização e da gestão curricular do Ensino Básico, assim como da avaliação das aprendizagens e do processo de desenvolvimento do currículo nacional,

“[…] entende-se por currículo nacional o conjunto de aprendizagens e competências a desenvolver pelos alunos ao longo do Ensino Básico, de acordo com os objectivos consagrados na Lei de Bases do Sistema Educativo para este nível de ensino, expresso em orientações aprovadas pelo Ministério da Educação, tomando por referência os

desenhos curriculares anexos ao presente decreto-lei.” (ponto 1, do artigo 2º do Decreto-Lei nº 6/2001, de 18 de Janeiro).

Roldão (1999) tendo em conta a relação escola/sociedade, considera que “Currículo escolar é – em qualquer circunstância – o conjunto de aprendizagens que, por se considerarem socialmente necessárias num dado tempo e contexto, cabe à escola garantir e organizar.” (p. 24).

Na mesma linha de pensamento, segundo Porfírio (1998), o currículo “deverá ser entendido como o conjunto de experiências de aprendizagem (basicamente organizadas pelo professor e que portanto reflectem a sua intervenção no que constitui o currículo) e as actividades que os alunos desenvolvem (e que reflectem a intervenção do aluno no que é o currículo).” (Porfírio, 1998, p. 32). Desta forma, pretende-se atribuir às escolas e aos professores a responsabilidade de adequar o currículo do Ensino Básico ao contexto em questão.

De acordo com o diploma supramencionado, o currículo nacional [documento currículo nacional do Ensino Básico – competências essenciais (ME-DEB, 2001)] expressa-se em orientações aprovadas pelo Ministério da Educação que definem, quer o conjunto de competências consideradas essenciais e estruturantes no âmbito do desenvolvimento do currículo nacional, para cada um dos ciclos do Ensino Básico, quer o perfil de competências terminais deste nível de ensino, quer o tipo de experiências educativas que devem ser proporcionadas a todos os alunos.

“É claro que este processo de transformação na gestão do currículo […] é muitíssimo lento e só acontecerá à medida que a cultura das escolas, dos professores e da administração se forem alterando face à realidade social que se lhes impõe. A existência destes passos legais (articulados com a autonomia de gestão das escolas e agrupamentos, igualmente em processo) nem de longe nem de perto significa que já mudámos o sistema… Isso levará muitos anos e será largamente obra do engenho e capacidade dos actores – desde os professores à administração – que têm de ir ajustando as suas lógicas a uma forma de trabalhar com o currículo de natureza bem diferente, que permita garantir a continuidade da escola como instituição capaz de, com novos formatos organizativos e curriculares, fazer o seu trabalho com maior satisfação e eficácia.” (Roldão, 2005, pp. 10-11). Além disso, todos nós, enquanto comunidade educativa, “estamos condicionados pela nossa própria inexperiência em entender

o que pode ser um currículo de Matemática centrado em competências e não baseado numa acumulação de conhecimentos mais ou menos isolados uns dos outros, de acordo com uma sequência pré-estabelecida e supostamente universal.” (Abrantes, Serrazina e Oliveira, 1999, p. 15).

O desenvolvimento do currículo de Matemática em si mesmo e em articulação com as restantes áreas curriculares deve contribuir para a promoção das competências gerais do Ensino Básico (tabela 3.1).

Tabela 3.1 – Competências gerais que o aluno deverá possuir no final da Educação Básica

(adaptado de ME-DEB, 2001, p. 15)

COMPETÊNCIAS GERAIS

As competências gerais do currículo nacional, a promover gradualmente ao longo da educação básica são concebidas como saberes em uso e são necessárias à qualidade da vida pessoal e social de todos os cidadãos. Assim, à saída da educação básica, o aluno deverá ser capaz de:

(1) Mobilizar saberes culturais, científicos e tecnológicos para compreender a realidade e para

abordar situações e problemas do quotidiano;

(2) Usar adequadamente linguagens das diferentes áreas do saber cultural, científico e tecnológico

para se expressar;

(3) Usar correctamente a língua portuguesa para comunicar de forma adequada e para estruturar

pensamento próprio;

(4) Usar línguas estrangeiras para comunicar adequadamente em situações do quotidiano e para

apropriação de informação;

(5) Adoptar metodologias personalizadas de trabalho e de aprendizagem adequadas a objectivos

visados;

(6) Pesquisar, seleccionar e organizar informação para a transformar em conhecimento mobilizável; (7) Adoptar estratégias adequadas à resolução de problemas e à tomada de decisões;

(8) Realizar actividades de forma autónoma, responsável e criativa; (9) Cooperar com outros em tarefas e projectos comuns;

(10) Relacionar harmoniosamente o corpo com o espaço, numa perspectiva pessoal e interpessoal

promotora da saúde e da qualidade de vida.

O desenvolvimento destas competências pressupõe que todas as áreas curriculares actuem em convergência.

Quanto à competência matemática a promover ao longo da Educação Básica podemos acrescentar que a ênfase deve ser colocada na “utilização da matemática para analisar e

resolver problemas, para raciocinar e comunicar” (o que consequentemente implica auto- confiança e motivação pessoal do aluno para fazê-lo), e não na aquisição de conhecimentos isolados nem no domínio de regras e técnicas de cálculo. Pretende-se promover o desenvolvimento integrado de conhecimentos, de capacidades de resolução de problemas, raciocínio e comunicação e de atitudes favoráveis à actividade matemática. Neste processo de renovação curricular do Ensino Básico destaca-se ainda, pela sua importância, o uso simultâneo de conhecimentos matemáticos e de outros tipos de conhecimentos, ao lidar com várias situações da realidade. Porquanto, a interligação e a articulação de saberes científicos possibilitam aprendizagens significativas (ME-DEB, 2001).

“Ser matematicamente competente envolve hoje, de forma integrada, um conjunto de atitudes, de capacidades e de conhecimentos relativos à matemática.” (ME-DEB, 2001, p. 57) aspectos que podem ser analisados na tabela 3.2.

Tabela 3.2 – Competência Matemática a desenvolver com a Educação Básica (adaptado de

ME-DEB, 2001, p. 57)

COMPETÊNCIA MATEMÁTICA QUE DEVE SER DESENVOLVIDA AO LONGO DA EDUCAÇÃO BÁSICA

• A predisposição para raciocinar matematicamente, isto é, para explorar situações problemáticas, procurar regularidades, fazer e testar conjecturas, formular generalizações, pensar de maneira lógica; • O gosto e a confiança pessoal em realizar actividades intelectuais que envolvem raciocínio matemático e

a concepção de que a validade de uma afirmação está relacionada com a consistência da argumentação lógica, e não com alguma autoridade exterior;

• A aptidão para discutir com outros e comunicar descobertas e ideias matemáticas através do uso de uma linguagem, escrita e oral, não ambígua e adequada à situação;

• A compreensão das noções de conjectura, teorema e demonstração, assim como das consequências do uso de diferentes definições;

• A predisposição para procurar entender a estrutura de um problema e a aptidão para desenvolver processos de resolução, assim como para analisar os erros cometidos e ensaiar estratégias alternativas; • A aptidão para decidir sobre a razoabilidade de um resultado e de usar, consoante os casos, o cálculo

mental, os algoritmos de papel e lápis ou os instrumentos tecnológicos;

• A tendência para procurar ver e apreciar a estrutura abstracta que está presente numa situação, seja ela relativa a problemas do dia-a-dia, à natureza ou à arte, envolva ela elementos numéricos, geométricos ou ambos;

• A tendência para usar a matemática, em combinação com outros saberes, na compreensão de situações da realidade, bem como o sentido crítico relativamente à utilização de procedimentos e resultados matemáticos.