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O desempenho da Indústria Brasileira de Máquinas Ferramentas nos anos 90

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2. REVISÃO LITERÁRIA

2.1. Resgate histórico do setor Máquinas Ferramentas no Brasil

2.1.5. O desempenho da Indústria Brasileira de Máquinas Ferramentas nos anos 90

Durante os anos 90, o valor da produção do setor máquinas ferramentas continuou em declínio até 1992, seguindo a tendência iniciada em 1989. A partir de 1993 retomou o crescimento que atingiu auge em 1995, como resultado do crescimento econômico do país no ano anterior. A retração das atividades econômicas no segundo semestre de 1995 foi traduzida em uma forte queda no valor das máquinas ferramentas produzidas em 1996-1997, o valor da produção foi 23,5% inferior ao verificado em 1995. Cabe salientar que neste último ano, pico da década de novent a, o valor da produção foi ainda 8% inferior ao verificado no triênio 1986- 1988. A média do valor produzido no período de 1990-1997 foi dois terços do valor médio do mesmo triênio. (tabela 5).

TABELA 5 - Produção, exportação, importação e consumo aparente de MF no Brasil 1986 – 1987 (US$ milhões correntes)

ANO PRODUÇÃO EXPORTAÇÃO X/P(%) IMPORTAÇÃO I/C(%) CONSUMO

1986 552 26 4,76 56 9,58 582 1987 523 24 4,68 114 18,57 612 1988 547 40 7,32 146 22,35 653 1989 461 31 6,64 168 28,05 598 1990 431 37 8,67 208 34,55 602 1991 350 68 19,55 227 44,64 509 1992 286 65 22,79 168 43,24 390 1993 437 75 17,15 161 30,76 523 1994 467 62 13,32 228 36,02 633 1995 668 117 17,47 424 43,44 975 1996 522 119 22,81 426 51,36 829 1997 543 104 19,14 484 52,42 923

Fonte: Base em dados da ABIMAQ, CACEX e do DECEX

É provável que parte do declínio do valor da produção de máquinas ferramentas possa ser atribuída a uma redução nos preços. Embora não se disponha de estatísticas a esse respeito de entrevistas com fabricantes, consumidores ou agentes financiadores existe uma percepção unânime sobre o tema: os preços da indústria brasileira de máquinas ferramentas caíram substancialmente na década de noventa.

Os dados da empresa Romi apresentados por Abrantes (1998), mostram que o valor faturado por máquina caiu substancialmente para tornos, a CNC entre 1990 e 1997, isto é, em US$ constantes o valor faturado no último ano foi 56,7% do valor do início do período. Considerando que nos últimos anos a Romi introduziu modelos mais complexos, a queda na relação preço/desempenho é ainda mais marcada.

Provavelmente o declínio dos preços é o resultado de três fenômenos combinados e articulados, a saber: o baixo crescimento da demanda interna fruto da evolução macroeconômica, a pressão das importações e os esforços de reorganização da produção.

O primeiro fator já foi brevemente discutido acima. As importações de máquinas ferramentas no período serão analisadas em detalhe a seguir. Quanto ao último fenômeno, as informações de natureza qualitativa derivadas de entrevistas feitas para trabalhos anteriores , sugerem que as empresas produtoras de máquinas ferramentas introduziram modificações de processo destinadas a reduzir custos, por exemplo, programas de qualidad e e produtividade, racionalização de procedimentos, melhores controles e mudanças organizacionais como redução de custos dos níveis administrativos e a centralização das atividades de projeto.

Algumas firmas estabeleceram processo just-in-time e células de produção, aumentando ligeiramente a compra de peças e componentes.

Essas transformações de processo tenderam a serem introduzidas de forma mais radical nas firmas líderes do setor, muitas das quais contam com certificados ISO da série 9000. Entre as líderes, as subsidiárias estão ligadas a suas matrizes por via eletrônica, inclusive para o desenvolvimento de projetos de máquinas, enquanto a firma líder nacional, a qual produz máquinas seriadas concentra sua produção em um número menor de linhas conseguindo economizar recursos, pois fabrica suas máquinas em escala internacional.

Segundo os dados de Abrantes (1998), a empresa Romi teria faturado no triênio 1995-1997 cerca de 1300 tornos por ano a CNC , o que representa mais do duplo da escala mínima internacional.

Estes dados qualitativos são corroborados pelos índices divulgados pela ABIMAQ: o número de empregados caiu radicalmente muito mais que a produção, entre 1989 e 1993, não se recuperou quando a produção aumentou, nem mesmo quando as horas trabalhadas na produção foram incrementadas (Tabela 6).

TABELA 6 - Indústria de máquinas ferramentas brasileira: Indicadores conjunturais. 1990 – 1997

(Números índices, base 100 = média de 1990).

ANO EMPREGO HORAS TRABALHADAS SALÁRIOS REAIS PRODUÇÃO INDUSTRIAL VENDAS REAIS 1990 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 1991 78,40 85,850 80,70 87,90 92,90 1992 62,20 67,80 74,30 71,90 95,50 1993 57,80 73,90 71,20 79,60 121,30 1994 60,30 112,70 75 116 135,40 1995 69,00 137,20 91,70 141,80 150,10 1996 64,60 119,00 84,70 126,50 178,50 1997 59,70 112,30 78,50 121,90 179,40 Fonte: ABIMAQ

Por sua vez, o índice de salários também diminuiu ao longo do tempo. Isto é, o aumento de produtividade redundou em uma redução dos custos. É bom destacar que o custo do fator trabalho representa um componente significativo no custo das máquinas ferramentas: em 1996, para uma amostra de 25 empresas estudadas pela ABIMAQ este custo representava cerca de 15% de suas vendas.

É importante salientar que a redução do valor produzido e dos preços observados na década dos anos noventa ocorreu simultaneamente com o aumento de complexidade e do valor unitário dos bens fabricados pelas indústrias do setor.

Conforme as estimativas da ABIMAQ, a participação das máquinas a CN cresceu no período de 1990-1994, seja em termos de número total de máquinas, ou seja, em matéria do valor da produção. Dados fornecidos pelas empresas indicam que a complexidade dos tornos CNC vendidos no país ou exportados cresceu substancialmente ao longo da década, especialmente nos últimos anos.

Segundo Chudnovsky & Elber (1997 p.593-594), afirmam que embora os dados mencionados sugiram que um aumento generalizado de produtividade foi produzido pela indústria brasileira de máquinas ferramentas durante a década dos anos 90, a informação qualitativa sugere que esse aumento ocorreu de forma mais marcada entre as empresas líderes do setor, aumentando a heterogeneidade da indústria.

Em síntese, as evidências disponíveis mostram que, apesar de que a década de 90 foi um período difícil para a indústria de máquinas ferramentas, houve uma reação desta indústria no sentido de reduzir custos, aumentar a produtividade e ampliar a complexidade dos produtos oferecidos. Esta reação positiva, contudo, tendeu a se concentrar nas firmas líderes do setor, a maioria das subsidiárias de firmas estrangeiras e a grande empresa nacional produtora de tornos e centros de usinagem. Conforme o analisado, estas foram às primeiras firmas no Brasil que ingressaram no paradigma eletrônico durante a crise no início dos anos oitenta, beneficiando-se assim de economias de aprendizado sob condições relativamente favoráveis perante a proteção contra as importações.

As empresas que entraram tardiamente neste paradigma, seguindo uma estratégia “caudatária”, enfrentaram grandes dificuldades. Ao longo da atual década várias fecharam e outras estão operando como prestadoras de serviços de outras empresas. Seu fracasso provavelmente seja o resultado de uma combinação de fatores, dentre os quais se destacam os seguintes: a excessiva diversificação de sua linha de produção, baixas escalas para a produção de bens seriados e um aprendizado limitado. Apesar de ter introduzido inovações de processos organizacionais visando a redução de custos, estas mudanças foram insuficientes para compensar a alta relação preço/desempenho das máquinas que eram fabricadas e que enfrentavam a competição local e estrangeira importada.

O terceiro grupo de empresas fabricantes de máquinas ferramentas que compõe a indústria brasileira são as empresas pequenas e médias que fabricam equipamentos convencionais.

Segundo Vermulm (1993 p.23), esse mercado tem apresentado baixo dinamismo em termos internacionais e tende, cada vez mais, a ceder espaço para as máquinas de coma ndo numérico. Nesse mercado a concorrência se estabelece em função dos preços das máquinas e é muito competitivo. A diversificação dos produtos e a verticalização das empresas brasileiras, constituem em fatores que limitam a competitividade nacional. Contudo, é justamente nesse segmento que o Brasil dispõe de maior capacidade produtiva e tradição de produção. Apesar das condições não muito favoráveis, algumas empresas nacionais conseguem exportar esse tipo de equipamento, porém nunca representando mais do que 15 ou 20% do faturamento.

Dada a experiência negativa do início dos anos 80 de exportação concentrada nos países da América Latina, atualmente as empresas procuram diversificar seus mercados externos em direção aos Estados Unidos e Europa, embora o mercado latino-americano ainda seja significativo para o setor. Muitas empresas somente conseguem exportar na medida em que o mercado interno tenha condições de sustentar suas margens de rentabilidade, uma vez que a rentabilidade no mercado externo seja inferior. Dessa forma, a retração do mercado interno limita as estratégias nos mercados externos.

Vermulm (1993 p.25), afirma que, a estrutura empresarial desse segmento é um outro problema. Existe um grande número de empresas no setor, principalmente as pequenas e médias, em desacordo com o tamanho do mercado interno. Além disso, as empresas nacionais ainda mantêm estruturas familiares no comando. A pulverização da produção e a estrutura familiar são duas características estruturais do setor que inibem um processo de centralização da produção necessária para a obtenção de economia de escala e de escopo.

A permanecer essa estrutura e a crise do mercado interno, bem como o fim das restrições às importações, é muito viável que as empresas nacionais percam espaço para as estrangeiras podendo então levar algumas empresas à falência.

Temos também o setor de máquinas especiais sob encomenda, abastecido por empresas estrangeiras. Neste segmento o principal fator de concorrência é a tecnologia. Este é

o segmento mais protegido das importações na medida em que a proximidade física dos clientes é importante na interação para o desenvolvimento do projeto.

Geralmente as empresas que produzem máquinas especiais contam com tecnologias desenvolvidas por suas matrizes. E em alguns casos, o projeto básico tem origem na matriz e o detalhamento é feito na subsidiária estabelecida no Brasil.

De qualquer maneira, conta-se com tecnologia pertencente ao grupo empresarial estrangeiro. De forma análoga, no que diz respeito à participação das filiais estrangeiras no mercado externo (conta-se com o apoio comercial das matrizes). As empresas estrangeiras que atuam no segmento de máquinas especiais são aquelas que apresentam maior índice de exportação em relação a seu faturamento.

Como o mercado brasileiro encontra-se muito deprimido, essas empresas têm exportado mais de 40% do seu faturamento, segundo Vermulm (1993 p.24), e em alguns casos exportando como sub contratante de suas matrizes.

No segmento de máquinas a comando numérico que internacionalmente vem apresentando maiores taxas de crescimento, a concorrência se estabelece em termos de preço e tecnologia. É justamente neste segmento que as importações tendem a representar maior ameaça às empresas nacionais. Os problemas decorrentes das dificuldades na cadeia produtiva da baixa escala de produção limitada, a capacitação no desenvolvimento de produtos e do reduzido nível de automação do processo de produção são fatores que deprimem a competitividade das empresas nacionais. Por outro lado, a sua tradição e conhecimento do mercado interno são fatores positivos na concorrência com as importações.

Algumas empresas estrangeiras nesse segmento tendem a especializar sua linha de produtos geralmente concentrando a produção de máquinas menos sofisticadas em relação àquelas produzidas por suas matrizes. Ao mesmo tempo, tendem aproveitar as oportunidades abertas pela redução das restrições às importações, ao importar máquinas mais sofisticadas de suas matrizes e importar componentes, sobretudo os comandos numéricos. Portanto, nesse

segmento a tendência é de especialização, desnacionalização e desverticalização das empresas estrangeiras.

Algumas empresas nacionais, principalmente as grandes, tendem a seguir a mesma estratégia das estrangeiras. Porém, existem algumas diferenças. Em primeiro lugar, o fato de que não contam com o apoio técnico e comercial de suas matrizes. Mesmo assim, as empresas nacionais procuram aumentar seu percentual de faturamento vinculado às exportações, mas não há possibilidade delas importarem máquinas mais sofisticadas, a não ser das empresas menores que abandonam parcialmente a sua própria produção. Em segundo lugar, o esforço tecnológico das empresas nacionais é muito superior ao das estrangeiras, na medida em que não dispõem de conhecimento técnico gerado por outra unidade do grupo empresarial. De outra parte, como é limitada a capacitação nacional no desenvolvimento de projetos, as empresas nacionais geralmente são obrigadas a recorrer a licenciamento quando se trata do lançamento de produtos mais sofisticados.

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