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2.2 O processo ensino/aprendizagem de línguas na criança:

2.2.3 A aprendizagem da criança segundo a psicologia

2.2.3.1 O desenvolvimento da linguagem nas crianças

A linguagem das crianças tem uma qualidade inventiva. Este aspecto criativo é um dos traços mais marcantes da sua linguagem. Mas igualmente notável é a velocidade segundo a qual a linguagem se desenvolve. Aos 6 ou 8 meses as crianças produzem sons de balbucio. Bem poucos meses depois, é possível ouvir as primeiras palavras; e com 18 ou 24 meses a criança começa a juntar duas palavras nas suas primeiras sentenças. Com 3 ou 4 anos a criança está construindo sentenças bem elaboradas. Com 5 ou 6 anos, a linguagem da

criança é notavelmente complexa. Há um desenvolvimento contínuo do uso e compreensão da linguagem e seu vocabulário continua a crescer rapidamente. Suas sentenças tornam-se mais variadas quanto à estrutura e mais complexas durante os anos seguintes. (Brown, 1973)

Grandes realizações no desenvolvimento da linguagem ocorrem entre 1 e 5 anos de idade, quando a criança evolui de palavras isoladas para perguntas complexas, negativas e imperativas. As mudanças posteriores são mais no sentido de refinamento das capacidades básicas do que na aquisição de capacidades totalmente novas. Mas um tema de igual importância e que só tardiamente chamou a atenção dos psicólogos e lingüistas interessados no desenvolvimento da linguagem é o desenvolvimento da semântica, ou o significado das palavras.

Crianças com cerca de quatro anos de idade tendem a ‘supergeneralizar’ palavras (Clark, 1975). A maioria das ‘supergeneralizações’ se baseia na forma dos objetos ou em seu movimento, som ou textura – aspectos perceptivos dos objetos. O processo de desenvolvimento semântico nas crianças parece ser um processo menos regular e mais individual do que o desenvolvimento sintático. Bee (1984) afirma que o significado que as crianças ligam às suas primeiras palavras é diferente do significado usado pelos adultos e que o desenvolvimento de uma semântica adulta é um processo longo e aparentemente gradual.

Muitas pessoas acreditam que as crianças devem aprender através da imitação.25 Obviamente, a imitação tem algum papel. Uma criança que cresce numa família que fala português, aprende português e não inglês, chinês ou grego. A criança geralmente também aprende a falar com o mesmo sotaque diferente e há ainda diferenças regionais mais sutis, e a criança as aprende claramente através da imitação.

Contudo, é importante observar que as imitações das crianças não são aleatórias como as de um papagaio. Elas não imitam tudo que escutam. Geralmente repetem aquilo que ainda não solidificaram no seu sistema de linguagem. A imitação é seletiva e baseada no aprendizado ocorrente daquilo que elas começaram a entender. Todavia, ‘imitação’ e ‘prática’ nem sempre conseguem explicar as diversas formas de construção de linguagem que são produzidas. Por exemplo, a criança cria sentenças que são muito diferentes das que um adulto construiria. Além disso, mesmo quando as crianças imitam as sentenças faladas pelos adultos, reduzem-nas ou convertem-nas conforme suas próprias regras e compreensão. As crianças conseguem perceber alguns padrões na língua e generalizam tais padrões em novos contextos. Elas criam novas formas e palavras até descobrirem como as formas são utilizadas pelos

25

A ‘imitação’ é uma definição da teoria behaviorista sobre aquisição de língua. O behaviorismo é uma teoria da psicologia da educação que teve grande influência nas décadas de 40 e 50, principalmente nos Estados Unidos. Behavioristas tradicionais acreditavam que o aprendizado de uma língua era resultado da imitação, da prática, do reforço positivo e da formação do

adultos. As novas orações são geralmente compreensíveis e muitas vezes corretas. (Lightbown & Spada, 1999).

A imitação, portanto, desempenha algum papel no desenvolvimento da linguagem, mas não pode ser o processo central, não importa quanto o senso comum diga o contrário. Então devemos pensar quais são as alternativas possíveis. A idéia seguinte é que a linguagem deve ser ensinada à criança de forma direta, principalmente pelos pais. Isso nos leva às várias teorias do reforçamento no campo do desenvolvimento da linguagem.

B. F. Skinner (1957) realizou a tentativa principal de aplicar os princípios gerais da teoria do reforço ao desenvolvimento da linguagem em seu livro de 1957, o Comportamento Verbal. Num determinado ponto, ele diz, por exemplo,

Uma criança adquire o comportamento verbal quando as vocalizações relativamente amorfas, sendo seletivamente reforçadas, assumem gradativamente formas que produzem conseqüências apropriadas, em uma determinada comunidade verbal. (Skinner, 1957, p.31)

Nesta sentença, e através de todo o livro, Skinner diz claramente que os adultos ‘modelam’ os primeiros sons da criança em palavras e então, as palavras em sentenças, ao reforçarem seletivamente aquelas que são compreensíveis ou “corretas”. Além disso, o pressuposto é que a criança usará qualquer “comportamento verbal” que a leve ao que deseja. Esta segunda parte da teoria veio a ser chamada ‘hipótese da pressão para comunicação’, pelos estudiosos do desenvolvimento da linguagem. Talvez, de acordo com esse ponto de vista, é a pressão para comunicar-se claramente – em última instância chegar ao reforço de conseguir o que deseja – que impulsiona a criança em direção a uma pronúncia melhor e mais clara e a sentenças mais longas e mais complexas.

Porém, em síntese, nem a imitação, nem as teorias de reforçamento são adequadas para explicar o que realmente acontece entre pais e crianças e nem explica realmente as próprias realizações lingüísticas das crianças uma vez que a criança junta coisas que ela jamais ouviu. Além disso, não explicam o fato de que praticamente todas as crianças passam aparentemente pelos mesmos estágios em sua formação de sentenças.

Uma outra teoria, a Inatista, é que a habilidade da criança adquirir a linguagem está inserida em sua bagagem hereditária e amadurece durante o primeiro ano de vida. Alguns lingüistas argumentam que o que é impresso é uma certa habilidade de buscar ou notar regras transformacionais (falaremos sobre a Teoria Inatista no item 2.2.4 desta pesquisa).

Finalmente, podemos finalizar dizendo que nenhuma das teorias citadas anteriormente já é uma teoria completa de desenvolvimento da linguagem. Nenhuma explica

tudo sobre como a linguagem e o significado das palavras se desenvolvem. No entanto, há um consenso de que o desenvolvimento da linguagem requer tanto uma prontidão biológica quanto um nível adequado de insumo lingüístico.