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O desenvolvimento Psicológico segundo Loevinger

CAPÍTULO I – ENQUADRAMENTO TEÓRICO

3. SUPERVISÃO – DE UMA ESTRATÉGIA DE FORMAÇÃO A UMA ESTRATÉGIA DE

3.3 A influência do Clima de Supervisão no ensino e aprendizagem da Matemática

3.5.2. O desenvolvimento Psicológico segundo Loevinger

A indivisibilidade do desenvolvimento do indivíduo remete-nos também para a apreciação do desenvolvimento psicológico do indivíduo. A psicologia constitui uma fonte de recurso sem a qual era extremamente difícil compreender o desenvolvimento do ser humano quer na sua individualidade quer enquanto ser colectivo, isto é, sem se conhecer o percurso de desenvolvimento que cada sujeito experimenta, não se consegui-

ria tomar determinadas decisões nem compreender certos comportamentos e atitudes do indivíduo quer enquanto pessoal quer enquanto ser social.

Segundo nos afirma Simões (1996:76), a perspectiva de Loevinger relativa ao desenvolvimento do ego, “incide sobre o modo como compreendemos o nosso próprio “self” e a relação com os outros”. A importância atribuída ao conhecimento sobre os outros ganha ênfase quando nos situamos no campo da educação uma vez que o conhe- cimento acerca do outro é um dos aspectos relevantes na formação do educador / pro- fessor. Desta forma o futuro professor deve “reflectir sobre as concepções que os indi- víduos têm sobre outrem e sobre os motivos da sua acção, uma vez considerarem que uma inadequada concepção da realidade impedirá, inevitavelmente, uma correcta toma- da de decisões, o que [por sua vez] pode comprometer a condução eficaz do processo de ensino-aprendizagem” (Simões, 1996:160).

O desenvolvimento psicológico, tal como qualquer outro aspecto do desenvolvimen- to humano, processa-se por estádios, isto é, decorre sempre de um estádio inferior para outro que lhe é superior e verifica-se sempre que o indivíduo atinge maturidade sufi- ciente para ultrapassar determinadas “barreiras”, sejam elas físicas, psicológicas, sociais ou cognitivas.

No âmbito educacional o desenvolvimento psicológico apresenta-se como um factor relevante na medida em que se trata de uma profissão de carácter social, assente nas relações interpessoais e como tal só um indivíduo psicologicamente saudável e estável pode garantir um desenvolvimento eficaz no outro.

Para uma melhor especificação de cada um destes estádios nos quais se firma a teo- ria de desenvolvimento do ego, na perspectiva de Loevinger, procedemos a uma siste- matização procurando fazer uma síntese das características de cada estádio e dos níveis intermédios.

Estádio pré-social – Este estádio corresponde ao primeiro estádio experimentado pela criança enquanto ser humano inserido no mundo. É, assim, o estádio em que se circunscreve a criança recém-nascida, completamente egocêntrica sem percepção do exterior. Nesta fase da vida, a criança não vai além da satisfação das necessidades físi- cas e começa a estabelecer alguma relação entre estas e quem lhas satisfaz. Deste modo começa a estabelecer uma ligação com a mãe ou com quem a substitui.

Estádio simbiótico – Neste estádio, a criança começa a perceber que ela e a mãe formam uma unidade distinta do mundo exterior. Começa então a estabelecer-se, ainda

que de forma rudimentar, uma relação entre esta unidade, mãe e bebé, e o mundo exte- rior.

Estádio impulsivo – Este estádio caracteriza-se pelo aparecimento da consciência do mundo exterior. Considerando o tipo de cognição simplista que lhe está associado, a criança recorre ao uso de estereótipos e as suas preocupações residem nas sensações corporais e regem-se pela impulsividade. Desta forma se percebe que as concepções que tem sobre o mundo são concretas e egocêntricas. Neste estádio as acções são vistas como boas ou más se são ou não seguidas de qualquer punição, isto é, o comportamento é controlado por recompensas e / ou punições imediatas. As relações interpessoais estão dependentes da exploração e apresentam um teor de agressividade enfatizada pela necessidade do outro como forma de controlo. O adulto é encarado como um factor con- trolador desejado ou indesejado, conforme satisfaz, ou não, os seus desejos ou impulsos.

Estádio autoprotector – A criança, ao atingir este estádio, começa a revelar, ainda que de forma ténue, algum autocontrolo e capacidade para controlar os impulsos. Apre- senta capacidade para antecipar as recompensas e punições e começa a compreender e aceitar regras em função das vantagens e benefícios imediatos que advêm do seu cum- primento. Nesta fase começa a evitar ser apanhado em falta, ou seja, começa a revelar o princípio da orientação. As relações são encaradas como sendo exploratórias, caracteri- zadas por uma dependência forte e explícita, conducente a uma atitude defensiva face ao outro, onde a criança pondera entre o seu interesse e a acção impulsiva. As relações com o outro são assim de manipulação.

Estádio conformista-autoprotector – Trata-se de um estádio intermédio em que o sujeito apresenta algumas particularidades como sejam mostrar obediência e conformi- dade com as normas. O sujeito evidencia estereótipos, normalmente, ligados aos papéis sexuais. Nesta fase o indivíduo atribui grande importância à sua aparência física e con- sidera as emoções como marcadamente necessidades fisiológicas.

Estádio conformista – Neste estádio, a criança não só começa a interiorizar as regras, como compreende que faz parte de um grupo. Procura ser simpática e bem acei- te, conformando-se com a regra e cumprindo-a sem questionar porque a sua infracção provoca ainda um sentimento de culpabilidade. São notórias as preocupações com a aparência, a aceitabilidade, o estatuto e a reputação. Começa a tornar-se evidente a capacidade de aceitar o ponto de vista do outro como sendo diferente do seu, embora dentro do grupo restrito. O pensamento expressa-se por estereótipos e clichés, generali-

zações e regras. As emoções são descritas com superficialidade embora exista o desejo acérrimo de ser aceite, aprovado, desejado e amado.

Estádio consciente-conformista – Este estádio também referido por Loevinger como nível consciente-conformista, é também ele, um estádio transitório, ou seja, um estádio de mudança entre o anterior e o imediatamente seguinte. Neste estádio o indivíduo reve- la-se ainda basicamente conformista mas reconhece as diferenças individuais e começa a discordar de certos estereótipos, a distanciar-se dos padrões conformistas e desta for- ma permite-se formar padrões internos individualizados.

Estádio consciente – O estádio consciente, emerge da compreensão dos padrões comportamentais e dos traços particulares que caracterizam cada pessoa. As opções norteiam-se mais pelos padrões morais internos que pelas normas do grupo. O facto de não cumprir na íntegra essas normas traz, ainda, sentimentos de culpa. As relações apre- sentam-se repletas de significado, são profundas e complexas. O sujeito individualiza- se, ou seja, vive em função da sua própria realização, do cumprimento do dever e das metas estabelecidas por si mesmo e para si mesmo. O indivíduo perspectiva os proble- mas a longo prazo e insere-os num contexto social mais alargado. Toma consciência de que ele, como os outros, tem sentimentos cognitivamente diferentes e vê a interacção social como algo emocionalmente motivador, recíproco e duradouro.

Estádio individualista – Este estádio é, também, um estádio intermédio e por conse- guinte também pode surgir com a designação de nível individualista. Este nível caracte- riza-se por aprofundar as aquisições do estádio consciente que se pauta pelas preocupa- ções com a independência emocional, com o reconhecimento de que cada pessoa é úni- ca, com o respeito pela individualidade do outro, com a tolerância pela diversidade implícita florescendo assim a dimensão de reciprocidade nas relações interpessoais.

Estádio autónomo – Caracteriza-se, este estádio, pela existência da consciência dos conflitos internos e das responsabilidades contraditórias que, associadas à análise da eventual capacidade para lidar com a situação, se têm de adoptar. Predominam as preo- cupações ligadas com aspectos de realização pessoal, do respeito próprio e da tolerância pelos pontos de vista do outro mesmo que divergentes, ou até contraditórias com as do próprio. Quanto às relações interpessoais, embora seja reconhecida uma certa interde- pendência do outro, prevalece a individualidade pessoal e a busca da realização em con- formidade com as potencialidades individuais.

Estádio integrado – Na sequência do anterior, este estádio é acrescido de um senti- mento de integração plena intrínseco à autonomia, à integridade e à tolerância face aos conflitos. Viabiliza-se a conciliação entre os conflitos internos e externos, já que se con- sidera tal facto inevitável. Existe a consciência da própria identidade o que enfatiza a individualidade nas relações interpessoais.

Deste modo a teoria de Loevinger (1976) preconiza o desenvolvimento do ego como um processo dinâmico e transformador que progride no sentido da diferenciação e da complexidade e se desenrola através de uma sequencia lógica de estádios que se assu- mem como “pontos de fixação potenciais em relação aos quais este pode, num dado momento, ser associado em termos provisórios ou mais ou menos definitivos, os quais permitem, além disso, descrever tipos de crianças ou de adultos” (Simões e Ralha- Simões, 1999:27).

Refira-se ainda que o ego é, na perspectiva de Loevinger (1976), algo que se reveste de indivisibilidade, que age simultaneamente no estilo pessoal, nas preocupações cons- cientes bem como no funcionamento cognitivo.

Com base neste princípio unificador é também importante conhecer as manifesta- ções típicas associadas a cada um destes estádios de desenvolvimento, garantindo que não se criam situações de conflito nem se dificulta o estabelecer de relações entre as partes. Desta forma a tarefa do professor torna-se mais coerente e eficaz pois permite a adopção de metodologias e estratégias facilitadoras quer da construção pessoal, quer da construção de conhecimento, isto é, permite o estabelecer de relações interpessoais que viabilizam o desenvolvimento do sujeito.

Por outro lado, o grau de maturidade e competência revelado por cada individuo varia consoante o estádio de desenvolvimento de ego que apresenta, bem como com o grau de desenvolvimento moral, cognitivo e psicológico.

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