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O DIÁLOGO ENTRE C IÊNCIA E A RTE NO CONTEXTO EDUCATIVO

educacional da temática

3.1. A NOVA VISÃO DO CAMPO EDUCATIVO : EDUCAÇÃO E INTERDISCIPLINARIDADE

3.1.1. O DIÁLOGO ENTRE C IÊNCIA E A RTE NO CONTEXTO EDUCATIVO

Neste ambiente intelectual de abertura disciplinar torna-se cada vez mais difícil delinear linhas de diferenciação entre Ciência e Arte, pois o universo de cada disciplina assenta numa pluralidade de conhecimentos. A compartimentação disciplinar apenas facilitará o processo de percepção e interpretação da realidade, não podendo ser entendida como um compartimento estanque e rígido que não coloca em diálogo as diferentes esferas. A interdisciplinaridade de saberes torna imperativo, em termos educacionais, realizar as aprendizagens de forma não segmentada e os diferentes domínios de conhecimento permitem que se faça uma abordagem relacional, tomando por recurso para a actividade educativa ferramentas de diversas áreas de saber. É neste sentido integrador que se propõe um diálogo Ciência e Arte, onde através da articulação de conhecimentos específicos da Ciência e da Arte se promove um contributo para a aprendizagem global. A partilha de elementos comuns no interior das actividades

científicas e artísticas, como por exemplo a linguagem, a simbologia ou o conhecimento, levam ao reconhecimento de uma cada vez maior abertura e conivência.

O acelerado desenvolvimento da Ciência não diz respeito apenas a aspectos políticos, económicos ou culturais, repercutindo-se inevitavelmente na educação. A realidade social é tão mutável que as instituições educacionais só sobrevivem acompanhando essa mudança. O impulso da nova era global impõe uma transformação estrutural na organização destas instituições, de forma a conseguirem responder com sucesso aos desafios que lhe são colocados. Assim, é imperativa uma profunda renovação na educação, uma formação pensada de forma integral e holística do ser.

A educação através da divisão disciplinar fracciona os problemas não permitindo uma compreensão global do mesmo. Estes conhecimentos educativos, ao serem instigadores de profundas mudanças sociais e culturais, são ao mesmo tempo eles próprios conhecimentos condicionados por tais mudanças. O progresso da Ciência/Tecnologia (Tecnociência), ao “invadir” a sociedade, torna-se parte integrante dela, ou seja, “incorpora a ciência não apenas como valor mas como forma de organização da própria sociedade” (Martins, 2002, p.38).

O desenvolvimento científico e tecnológico, ao reflectir-se na sociedade, vai influenciá-la, fazendo emergir mudanças no comportamento nos cidadãos, criando novos hábitos de vida e contribuindo para uma nova visão da realidade e da educação. Estas alterações acentuam por consequência uma mudança dos padrões culturais. Partindo do aforismo “Ciência como parte da Cultura” (Martins, 2002, p.2), podemos ampliar esta ideia e assumir que a Ciência faz parte integrante da Cultura da nossa sociedade. Ao integrarmos a Ciência na Cultura, o conceito de pessoa culta foi redimensionado. Neste contexto de definição do campo educativo, o conceito de literacia científica ajustou-se às características da sociedade, passando a ser considerado alfabetizado o individuo capaz de responder com sucesso às exigências da sociedade, em sobreposição à clássica definição de pessoa capaz de ler, escrever e contar. “Aquilo que é julgado suficiente para definir uma pessoa como alfabetizada depende da época e do contexto em que a pessoa vive” (Martins, 2002, p.8). Actualmente vivemos numa época que evolui sob o impacto da Ciência e da Tecnologia, um mundo em transformação que afecta quase tudo o que fazemos e cujos efeitos se fazem sentir em todas as partes do globo. São campos que se intersectam e que se encontram intimamente relacionados uma vez que a própria tecnologia “fornece, cada vez mais, os instrumentos de observação de que a actividade científica necessita” (Pereira, 2002, p.28).

É dentro desta época que se evidencia a importância da aquisição de um conhecimento global tendo em vista a que os indivíduos sejam capazes de intervir socialmente de uma forma consciente e activa respondendo aos desafios que a sociedade lhe coloca. É importante que os alunos, em particular os mais jovens, aprendam a exercer o seu dever de cidadania, não assistindo apenas mas sobretudo conhecendo, envolvendo-se e fundamentando as suas opiniões. Hoje, aquilo que se pretende ser o objectivo da escola é a compreensão das problemáticas actuais que surgem na sociedade e esta compreensão deve ser sustentada por uma abordagem relacional de saberes, onde a questão crucial é a partilha entre si esbatendo fronteiras de conhecimento para que a participação seja possível e plena. Sendo certo que a Ciência é útil porque é ela que responde aos problemas, esta utilidade torna-se ainda mais importante quando se concretiza numa cidadania participativa.

A realidade do quotidiano das crianças emerge numa multiplicidade de exigências oriundas do meio exterior. Actualmente as crianças estão envolvidas por manifestações culturais de todo o tipo. A promoção de uma relação de abertura entre Ciência e Arte apresenta-se como uma mais valia no processo educativo imprimindo alterações profundas no comportamento das crianças. Esta interacção contribuirá a longo prazo para realizar mudanças a nível comportamental e de atitudes, formando cidadãos mais activos e conscientes da importância do seu exercício de cidadania.

A Ciência e a Arte ao assumirem-se como áreas ligadas ao “saber” não abarcam apenas o campo dos conhecimentos mas, igualmente, um campo de atitudes e de valores. Neste contexto educativo a atitude do professor deve convergir no sentido de promover e de permitir à criança uma abordagem com diferentes esferas de saber (Ciência e Arte) que, ao articularem-se, atribuem valor acrescentado ao processo de ensino. Trata-se de fornecer às crianças referenciais que as ajudem a tomar consciência e a modelar a sua própria estratégia de representação e comunicação do que as envolve. Para tal os professores deverão assumir um posicionamento interdisciplinar, uma questão nem sempre fácil de conseguir, em boa parte devido ao sistema de formação que temos.

Nesta perspectiva, a educação surge como uma ferramenta permitindo um desenvolvimento pessoal mais autêntico e completo do indivíduo, alcançando uma literacia a todos os níveis, distanciando-se assim da instrução. A educação constitui-se como um processo permanente de enriquecimento, cabendo-lhe a missão de fornecer aos alunos os meios para compreender o mundo e, igualmente, conhecerem-se a si próprios. Para estar apto a fazer uso destes meios, o indivíduo deve ter acesso a uma educação básica de qualidade que o estimule a responder às rápidas alterações

provocadas pelo progresso científico e tecnológico. Deverá igualmente ser orientado para a promoção de uma aprendizagem ao longo da vida, que “proporciona a aquisição de competências, saberes e valores necessários para a participação plena da sociedade” (Martins, 2002, p.31).

É necessário que a criança detenha uma cultura geral suficientemente vasta para conseguir mais facilmente responder a problemas específicos, permitindo-lhe estar à altura de agir com cada vez maior capacidade de autonomia e responsabilidade. “O aumento de saberes sob os diversos aspectos, leva a compreender melhor o ambiente, favorece o despertar da curiosidade intelectual, estimula o sentido crítico e permite compreender o real, mediante a aquisição de autonomia na capacidade de discernir” (Delors, 1996, p.79).

A Ciência e a Arte, enquanto elementos estruturantes da cultura devem satisfazer as necessidades da criança, divertindo-a e transmitindo valores e conceitos enriquecedores de uma aprendizagem global e de um universo simbólico onde, texto, imagem, forma ou conteúdo privilegiam a sua leitura.

As crianças estabelecem com estas mensagens científicas e artísticas relações que vão muito além dos actos de participação física activa, como o manusear de objectos; estabelecem sim um processo que implica a percepção e compreensão da mensagem comunicativa que comporta uma intencionalidade. Trata-se do conceito de comunicar e educar como um acto de transmitir significados, mensagens e conhecimentos. A educação científica e artística constitui um acto complexo, no qual são solicitadas as potencialidades imaginativas, sensíveis e interpretativas da criança. A ideia segundo o qual “o que é simples é bom” e aquilo que “não é simples não é para crianças” é algo a ser contestado e alterado. Ao argumento (em abstracto) segundo o qual as crianças não vão compreender determinados conteúdos, deve explorar-se a ideia de que não se trata somente de compreender mas sim de percepcionar e sentir. Por outras palavras trata-se muitas vezes de conhecer através dos conteúdos. Será assim mais fácil a criança construir autonomamente as suas próprias representações da realidade, compreendendo-a e agindo sobre ela.

Partindo de uma visão interdisciplinar, o professor, enquanto agente formador e mediador do conhecimento, deverá articular saberes dispersos no sentido de ajudar os alunos nas suas aprendizagens. Na medida das suas possibilidades, o professor deve assumir o seu papel na função pedagógica da formação artística e científica das crianças. Esta atitude pedagógica, que não é fácil, requer do professor um conhecimento básico dos recursos e ferramentas da Arte e da Ciência. Esta posição pedagógica visa cumprir

um papel social de primeiro plano e que deve fazer parte integrante no complexo sistema que é a educação e formação nas sociedades modernas.