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No capítulo dos Direitos Sociais, a Constituição Federal traz no artigo 7º, inciso XXXI, a “proibição de qualquer discriminação no tocante a salário e critérios de admissão do trabalhador com deficiência”. Tal preceito é incisivo quanto ao direito de igualdade de trabalho, sendo esse uma extensão do princípio maior da igualdade, presente no artigo 5º. Para interpretar o inciso XXXI deve-se ir além do tocante ao salário e critérios admissionais explícitos no texto constitucional, necessita-se levar em conta o quanto esse grupo social é discriminado, pois se realmente todos fossem iguais perante a lei, como preceitua o artigo 5º, tal dispositivo não necessitaria ser reescrito especificamente tratando do trabalho da pessoa com deficiência. Deve-se levar em conta também o local de trabalho, as

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condições de salubridade, horário, jornada, enfim, todos os aspectos que circundam a relação de trabalho.

Já o relatório das Normas sobre Igualdade de Oportunidades para Pessoas com Deficiência, elaborado pelas Nações Unidas, em Lisboa, no ano de 1995, em seu capítulo 7, Item 2, traz o seguinte texto referente ao assunto Emprego:

Os Estados devem apoiar activamente a integração das pessoas com deficiência no mercado normal de trabalho. Este apoio dinâmico pode realizar-se através de diversas medidas, tais como: a formação profissional, esquemas de quotas de emprego, reserva de emprego ou em áreas específicas, empréstimos ou subsídios à instalação de pequenas empresas, contratos de exclusividade ou direitos prioritários de produção, benefícios fiscais, preferência contratual e outras formas de apoio técnico ou financeiro às empresas que contratem trabalhadores com deficiência. Os Estados devem ainda incentivar os empregadores para que tomem as medidas adequadas à adaptação de postos de trabalho e eliminação de barreiras arquitectónicas facilitadoras do emprego de pessoas com deficiência

Estes são meios de o Estado buscar efetivar a inserção da pessoa com deficiência no mercado de trabalho. Tratam-se de sugestões para implementação de políticas públicas visando efetivar a dignidade da pessoa humana.

Ainda o mesmo relatório traz como objetivo de tais indicações:

O objectivo sempre em vista é o de permitir às pessoas com deficiência obterem um emprego no mercado normal de trabalho. No caso de pessoas com deficiência cujas necessidades não encontram resposta no mercado normal de trabalho, deve considerar-se como uma alternativa o emprego em pequenas unidades de emprego protegido ou apoiado. É importante que a qualidade destes programas seja avaliada para se determinar a sua relevância em termos de oportunidades oferecidas às pessoas com deficiência para obtenção de emprego no mercado de trabalho.

Nota-se uma preocupação das organizações em buscar inserir a pessoa com deficiência no mercado de trabalho. Sabendo ser de fundamental importância que isso ocorra se tenta alternativas legislativas visando uma igualdade de condições com os demais, pretendendo atingir o seu papel de cidadão. Nos últimos anos há inúmeros documentos e convenções que passam a tratar do tema.

Segundo informações do 1º Relatório nacional da República Federativa do Brasil sobre o cumprimento das disposições da Convenção sobre os Direitos das

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Pessoas com Deficiência, apresentado pelo Brasil em 2010 para cumprir o acordado no parágrafo 1º do artigo 35 da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, o qual o Brasil é parte, informou, em seu item 13, que:

Nos últimos anos, o Brasil tornou-se reconhecido mundialmente pela mudança de paradigma nas questões relativas às pessoas com deficiência, a partir do marco legal introduzido com a Constituição Federal e as leis infraconstitucionais, que ensejaram a ascensão da promoção e garantia dos direitos individuais e coletivos para efetivação da sua inclusão social, no âmbito maior dos direitos humanos. Para além das mudanças legislativas, o Estado brasileiro passou a desenvolver ações que permitem transformar o modelo assistencialista, tradicionalmente limitante, em condições que possibilitem às pessoas com deficiência exercerem a posição de protagonistas de sua emancipação e cidadania, contribuindo, assim, para o desenvolvimento do país.

Como já mencionado, em 2015 foi publicada a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência, também conhecido como o Estatuto da Pessoa com Deficiência, a lei 13.146/15, salienta-se a ocorrência do vacatio legis de 180 dias, passando então a vigorar em janeiro de 2016. A referida lei, em seus 127 artigos traz um panorama geral de garantias e promoções de igualdade de exercícios e liberdades fundamentais, com o objetivo de garantir a sua inclusão social e a sua cidadania. Divide-se em dois livros, o primeiro deles, Livro I, traz a parte geral distribuídos em quatro títulos, o segundo, Livro II, trata da parte especial distribuídos, igualmente, em outros quatro títulos, ambos subdivididos em capítulos. Neste tópico trataremos de observar em específico o contido na Seção II, do capítulo VI, do título II, do livro I, denominado “Da Inclusão da Pessoa com Deficiência no Trabalho”. O mesmo compreende os artigos 37 e 38.

O artigo 37 traz a seguinte redação:

Art. 37. Constitui modo de inclusão da pessoa com deficiência no trabalho a colocação competitiva, em igualdade de oportunidades com as demais pessoas, nos termos da legislação trabalhista e previdenciária, na qual devem ser atendidas as regras de acessibilidade, o fornecimento de recursos de tecnologia assistiva e a adaptação razoável no ambiente de trabalho.

Vê-se estampado no caput deste artigo a garantia de igualdade de oportunidades que a pessoa com deficiência deve ter na colocação no mundo do trabalho. A referida lei utiliza a expressão de forma genérica “pessoas portadoras de

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deficiência”, entende-se, portanto, que se trata de todos os tipos de deficiência, as empresas podem contratar pessoas com qualquer tipo, grau, nível de deficiência, desde que habilitados para o trabalho, ou ainda, reabilitados.

Apesar de a legislação utilizar o termo habilitados e isso dar a entender de que tais trabalhadores devam ser profissionais nas áreas a atuar, porém, o olhar que se deve ter nesse sentido é da capacidade do trabalhador em assumir as atividades atinentes à vaga, bastando verificar as potencialidades e habilidades do candidato.

Pensando nos limitantes que tal grupo de pessoas venha a enfrentar, a legislação vai além e, no parágrafo único do mesmo artigo, ilustra diretrizes a serem observadas, quais sejam:

Parágrafo único. A colocação competitiva da pessoa com deficiência pode ocorrer por meio de trabalho com apoio, observadas as seguintes diretrizes: I - prioridade no atendimento à pessoa com deficiência com maior dificuldade de inserção no campo de trabalho;

II - provisão de suportes individualizados que atendam a necessidades específicas da pessoa com deficiência, inclusive a disponibilização de recursos de tecnologia assistiva, de agente facilitador e de apoio no ambiente de trabalho;

III - respeito ao perfil vocacional e ao interesse da pessoa com deficiência apoiada;

IV - oferta de aconselhamento e de apoio aos empregadores, com vistas à definição de estratégias de inclusão e de superação de barreiras, inclusive atitudinais;

V - realização de avaliações periódicas;

VI - articulação intersetorial das políticas públicas;

VII - possibilidade de participação de organizações da sociedade civil.

Em que pese nosso modelo atual de trabalho existente, as organizações impõem um perfil de trabalhador que seja polivalente, desempenhando as mais inúmeras funções, tal paradigma deve ser relativizado quando se trata da contratação de pessoa com deficiência.

Art. 38. A entidade contratada para a realização de processo seletivo público ou privado para cargo, função ou emprego está obrigada à observância do disposto nesta Lei e em outras normas de acessibilidade vigentes.

O referido estatuto alterou a CLT em seu artigo 428, onde passa a ter a seguinte redação:

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Art. 428:

6º Para os fins do contrato de aprendizagem, a comprovação da escolaridade de aprendiz com deficiência deve considerar, sobretudo, as habilidades e competências relacionadas com a profissionalização.

8º Para o aprendiz com deficiência com 18 (dezoito) anos ou mais, a validade do contrato de aprendizagem pressupõe anotação na CTPS e matrícula e frequência em programa de aprendizagem desenvolvido sob orientação de entidade qualificada em formação técnico-profissional metódica.”

São algumas prerrogativas afirmativas de defesa da pessoa com deficiência, torna mais flexível o contrato de trabalho, vê-se isso como uma maneira de facilitar a formação técnico-profissional e assim proporcionar o ingresso ou reingresso no mercado de trabalho deste.

2.3 Critérios específicos da relação: remuneração, insalubridade, terceirização

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