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3. A SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO

3.3. O Direito de não saber

3.3.3. O direito de não saber do paciente médico

Após expor as razões para sustentação da teoria do direito de não saber, como efeito exemplificativo, recorre-se ao direito de não saber do paciente médico.

A grande questão é a interpretação do Código de Conduta Médica, regras de prerrogativas profissionais não são superiores aos direitos fundamentais do cidadão,

276 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Civil: parte geral, volume 1. – 7ª ed. – São Paulo: Saraiva, 2014.p. 216.

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Idem. Danos à Pessoa Humana: uma leitura civil-constitucional dos danos morais. Rio de janeiro: Renovar, 2003. p. 107.

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então não estão em jogo as suas obrigações278 como profissional, mas sim os direitosindividuais do paciente.

Dentre estas obrigações279 estão as de informar sobre os diagnósticos, tratamentos, riscos, benefícios, etc., ocorre que nesta atuação não pode haver qualquer tipo de discriminação280.

De posse das condutas estipuladas pelo Conselho de Medicina, indaga-se: o que fazer quando a informação a ser prestada ao paciente, lhe gera danos psicológicos aparentemente irreversíveis?

E mais, diante desse quadro, uma vez tendo sido revelado pelo paciente (sóbrio, capaz, seguro) que não deseja ser informado, qual é a postura mais adequada do médico?

A melhor saída seria colocá-lo em desespero, indignação, revolta, angústica, depressão, ou qualquer outro sentimento extremamente ruim para sua recuperação e saúde mental?

O direito de não saber aqui invocado está na ausência de informação por livre manifestação do paciente. Trata-se da autonomia individual, autodeterminação das suas escolhas.

Essa condição afasta a responsabilização (civil, penal e administrativa) do profissional médico, pois o mesmo não se negou a prestar informações, apenas respeitou a decisão do paciente.

O direito, nesse caso, dever de informar deve se conjugar com o direito de ser informado. Todos os exames e consequentemente o tratamento deve ocorrer após o livre consentimento do paciente.

Por isso, o direito de não saber só alcança o indivíduo capaz (capacidade física e mental) de expressar livremente a sua vontade.

Dispensável retornar aos fundamentos da autonomia individual, que insistentemente foi fundamentada na dignidade da pessoa humana, irradiando para os direitos da personalidade e da liberdade.

278 Idem. Código de Ética Médica. Conselho Federal de Medicina. [Consult. 13/04/2016]. Disponível em http://www.portalmedico.org.br/novocodigo/integra_9.asp “Capítulo III - RESPONSABILIDADE PROFISSIONAL. É vedado ao médico: Art. 13. Deixar de esclarecer o paciente sobre as determinantes sociais, ambientais ou profissionais de sua doença”.

279

Idem. “Capítulo IV - DIREITOS HUMANOS. É vedado ao médico: Art. 22. Deixar de obter consentimento do paciente ou de seu representante legal após esclarecê-lo sobre o procedimento a ser realizado, salvo em caso de risco iminente de morte”.

280

Idem. “Capítulo I - PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS. I - A Medicina é uma profissão a serviço da saúde do ser humano e da coletividade e será exercida sem discriminação de nenhuma natureza”.

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Mais uma vez depara-se com um direito que irradia, também, para a proteção do direito à intimidade, pois ao declarar que não quer saber, a pessoa está lutando pela preservação dos seus mais íntimos sentimentos.

A Declaração de Lisboa281 sobre os direitos do paciente elaborada pela Associação Médica Mundial em Assembleia Geral realizada em Lisboa entre setembro e outubro de 1981 e emendada, também em Assembleia Geral realizada em Bali em setembro de 1995, dispõe sobre o direito à autodeterminação informativa do paciente médico, que tomará livremente as suas decisões, munido das informações que o médico dará sobre as consequências das suas decisões.

E declara ainda, que o “paciente adulto, mentalmente capaz tem o direito de consentir ou retirar esse consentimento a qualquer procedimento diagnóstico ou terapêutico”282.

De acordo com a essa declaração, toda e qualquer informação sobre sua própria saúde, é direito do paciente, para que tome livremente suas decisões, pois isso possibilitará o entendimento dos propósitos de qualquer teste ou tratamento, inclusive das implicações dos resultados em caso de aceitação ou recusa283.

O artigo 7.º da mesma declaração acima citada versa sobre o direito de todo paciente ser informado sobre as anotações constantes em qualquer registro médico, além de ser informado integralmente sobre seu estado de saúde, exceto em casos que criariam intenso risco à vida ou saúde do indivíduo. Essas informações devem ser claras e adequadas ao entendimento, independente da cultura ou formação do indivíduo, e serão prestadas de forma não explicita e somente serão dadas aos familiares sob o consentimento do paciente.

A própria associação mundial dos médicos reconhece o direito da autodeterminação, declarando isso expressamente, ficando a cargo do médico apenas informar as consequências da decisão tomada pelo paciente capaz de forma livre.

Contudo, observe que a palavra utilizada sempre é o „direito‟ de ser informado, assim, decorre da mesma natureza jurídica de ser informado, o direito de não ser informado, quando o paciente é capaz e declara isso livremente.

No tocante à informação, coloca-a como um direito do paciente ser informado, ratificando a tese de que cabe ao paciente exercer ou não esse direito.

281 Idem. Declaração de Lisboa sobre os direitos do paciente de 1981 (emenda 1995). [Consutl. 13/04/2016]. Disponível em http://www.dhnet.org.br/direitos/codetica/medica/14lisboa.html

282 Idem. 283 Idem.

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Por fim, os mais variados códigos de ética médica descreve que as informações prestadas ao paciente efetivam a sua autonomia para decidir sobre todos os procedimentos a serem adotados em respeito à dignidade da pessoa humana, por ótica similar, a decisão de não saber é um prestígio a mesma autonomia e dignidade da pessoa humana, pois não há nada mais perigoso para saúde humana do que a vontade de não viver ocasionada por problemas psicológicos.