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68 CHEREM, Mônica Teresa Costa Sousa. Direito Internacional Humanitário. 1. ed. v. 6. Curitiba: Juruá,

2003, p. 32.

69 MELLO, Celso Duvivier de Albuquerque. Direitos Humanos e Conflitos Armados. Rio de Janeiro: Renovar,

1997, p. 138.

70 BORGES, Leonardo Estrela. O Direito Internacional Humanitário: A proteção do indivíduo em tempo de

guerra. Belo Horizonte: Del Rey, 2006, p. 29.

O DIH, assim como os Direitos Humanos, é reconhecido como uma vertente de proteção a pessoa humana. Três são as teses firmadas pela doutrina a respeito da convergência ou não dessas vertentes.

A tese integracionista é defendida por A. H. Robertson e representa um extremo da interpretação, porque defende a fusão entre o DIH e os Direitos Humanos, entendendo que estes são a base para aquele, ainda que os Direitos Humanos sejam mais recentes.72 Apesar da

similaridade entres os propósitos desses ramos, percebe-se que essa tese não se sustenta, principalmente se considerada a influência do Direito da Guerra na construção do DIH. A origem de cada ramo prejudica essa interpretação.

Além das origens distintas, Swinarski aponta também a diferença em seus âmbitos de aplicação:

A respeito do âmbito pessoal de aplicação deve-se destacar que os destinatários dos direitos da normativa humanitária continuam sendo fundamentalmente os Estados, embora sejam as pessoas humanas os beneficiários desta normativa, As situações nas quais a pessoa humana pode fazer valer diretamente os seus direitos são muito excepcionais. No dos Direitos Humanos, acontece o contrário: os indivíduos dispõem dos direitos próprios e sua titularidade lhes confere a qualidade de sujeitos do direito de hierarquia comparável à de Estados.73

O internacionalista ainda lembra que, enquanto o propósito dos Direitos Humanos é “garantir ao indivíduo a possibilidade de se desenvolver como pessoa, lograr seus objetivos sociais, tanto políticos quanto econômicos, culturais ou pessoais”, o DIH visa a proteger o ser humano “contra ameaças do conflito armado ou outras situações de violência com o objetivo de salvaguardar sua integridade pessoal e, na medida do possível, sua situação social”.74

A segunda tese apresentada pelos doutrinadores é a tese separatista, extremo oposto da tese integracionista, que argumenta pela total incompatibilidade entre essas esferas, em razão da distinção entre seus objetos e suas naturezas, o que defende Meyrowitz. A possibilidade de aplicação simultânea desses direitos, por si só, já enfraquece essa interpretação.

A tese complementarista, por sua vez, mostra-se como o equilíbrio entre as duas outras e é hoje a mais adotada pelos doutrinadores. Ao considerar que a finalidade do DIH e

72 MELLO, Celso Duvivier de Albuquerque. Direitos Humanos e Conflitos Armados. Rio de Janeiro: Renovar,

1997, p. 139-140

73 SWINARSKI, Christophe. A Norma e a Guerra: palestras sobre direito internacional humanitário. Porto

Alegre: Sergio Antonio Fabris, 1991, p. 87.

dos Direitos Humanos é proteger a pessoa humana e ao reconhecer que sua aplicação é diferenciada, conclui-se por uma relação de continuidade entre o DIH e os Direitos Humanos.75

Swinarski filia-se a esta corrente e sustenta:

É conveniente não esquecer que a origem, o desenvolvimento e as instituições do Direito Internacional Humanitário são bem diferentes dos dos Direitos Humanos, inclusive quando existe uma relação de complementariedade entre estes dois ramos do direito, e uma superposição de seus respectivos âmbitos de aplicação; não se deve, portanto, perder de vista a diferença da natureza destas duas normativas [...] Esta complementariedade e superposição do âmbito de aplicação também têm, sem dúvida, repercussões diretas no debate sobre os fundamentos respectivos destes dois ramos do direito internacional público contemporâneo.76

Para o autor, a tese complementarista traduz as verdadeiras pautas de inter- relações do DIH com o direito dos Direitos Humanos. 77 É necessário analisar essa inter-

relação.

O Direito Internacional dos Direitos Humanos é definido por Mello como o “conjunto de normas que estabelece os direitos que os seres humanos possuem para o desenvolvimento de sua personalidade e estabelece mecanismos de proteção a tais direitos.” 78

A internacionalização dessas normas alcançou seu ápice em 1948, com a edição da Declaração Universal dos Direitos do Homem pela ONU.79

A II Conferência Mundial de Direitos Humanos de Viena em 1993 contribuiu para a convergência dos três ramos da proteção da pessoa humana.80No evento, que reuniu um

número expressivo de organizações não-governamentais e representantes de 171 Estados, o CICV manifestou-se acerca da observância dos direitos humanos em período de conflitos armados – destaca-se aqui a mobilização contra a tortura e os desaparecimentos forçado – e concluiu que o respeito a eles constitui fator primordial na prevenção de guerras e conflitos.

75 MELLO, Celso Duvivier de Albuquerque. Direitos Humanos e Conflitos Armados. Rio de Janeiro: Renovar,

1997, p. 139-140

76 SWINARSKI, Christophe. A Norma e a Guerra: palestras sobre direito internacional humanitário. Porto

Alegre: Sergio Antonio Fabris, 1991, p. 20-21.

77 Ibidem, p. 87. 78 MELLO, op. cit., p. 6.

79 BORGES, Leonardo Estrela. O Direito Internacional Humanitário: A proteção do indivíduo em tempo de

guerra. Belo Horizonte: Del Rey, 2006, p. 35.

80 CHEREM, Mônica Teresa Costa Sousa. Direito Internacional Humanitário. 1. ed. v. 6. Curitiba: Juruá,

A primeira similaridade a se destacar é a característica de imperatividade que tanto as normas de DIH quanto as de Direitos Humanos ostentam. Alguns princípios também são comuns aos dois ramos.

O princípio da inviolabilidade dá conta de que cada indivíduo possui o direito de ter sua integridade física e moral respeitada, o que deve ser garantido não só em situação de conflito, mas permanentemente. O princípio da não-discriminação também pode ser facilmente reconhecido tanto nos Direitos Humanos quanto no DIH: ele prevê que não pode haver diferenciação quando da aplicação dessas normas em razão de raça, sexo, cor, idade, nacionalidade ou religião.81

Swinarski sustenta que as normas inderrogáveis dos Direitos Humanos são aplicáveis ao mesmo tempo e nas mesmas situações em que surtam efeitos as normas humanitárias:

A persistência, mesmo em situações de violência bélica, dos efeitos dos Direitos Humanos, mantém a vigência dos mesmos nas mesmas situações em que já há de se aplicar o DIH. Essa situação permite que os Direitos Humanos – pelo menos o seu núcleo inderrogável – convenham em surtir os efeitos junto às garantias fundamentais da pessoa referendadas nas Convenções de Genebra”82

E complementa: “O que são, efetivamente, os conflitos armados e as outras situações de violência, senão situações que originam as inobservâncias ou as violações dos Direitos Humanos?” 83

Uma aplicação simultânea de ambos, portanto, só fortalece a proteção à pessoa humana almejada.

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