5. ANÁLISE DOS DADOS
5.2 O discurso dos Empregados
Embora em alguns indivíduos houvesse a percepção de que as ações de
responsabilidade social promovidas beneficiava um grupo discriminado pela sociedade,
todos os entrevistados entendem que o discurso filantrópico e as ações sociais da
empresa mascaram seus reais objetivos mercadológicos e financeiros. No fragmento
de discurso (01), por exemplo, ficou patente o uso instrumental da RSC:
(01) “a empresa apoia o trabalho voluntário, mas somente o faz porque ela ganha muito
mais do que oferece” (Analista, Masculino).
A seleção lexical “mas só faz isso” revela o porquê de se praticar as ações
sócias. Neste fragmento de discurso, as ações de RSC se posicionam como atividades
intermediárias a um objetivo final. Em outras palavras, se não houvesse ganho em
praticar tais ações, não haveria razão em promovê-las. Desta maneira, percebe-se que
a CONSULT apoia o trabalho voluntário em consequência a uma resposta estratégica
O uso instrumental da RSC se fez presente de igual maneira nos fragmentos de
discursos (2) e (3), porém, este se revelou como um mero discurso de marketing
(KOTLER; ARMSTRONG, 2003), representados pelas seleções lexicais “oportunidade
de marketing” extraída do fragmento de discurso (2) e “propaganda e imagem” retirado
do fragmento de discurso (3).
(02) “a empresa apoia de certa forma, mas é óbvio que é uma oportunidade de
marketing. Ela [empresa] não ajuda dessa forma por simplesmente gostar, e sim para
usar como campanha e promoção de imagem” (Consultor, Feminino).
(03) “para a empresa é excelente, ela só tem a ganhar com a propaganda e imagem”
(Consultor, Masculino).
Estes dois fragmentos de discursos apresentam visões semelhantes; ambos
reconhecem o uso instrumental da RSC. No entanto, o que os difere é a opinião
divergente quanto à aprovação dessa instrumentalização. No fragmento de discurso (2)
o entrevistado utiliza de palavras depreciativas (“mas é óbvio que é uma oportunidade”)
para clarificar sua opinião contrária frente ao uso RSC, ao passo que no fragmento de
discurso (3), as palavras utilizadas conotam apoio e conformidade com as mesmas
ações (“para a empresa é excelente”). De igual maneira a este último fragmento de
entrevistados como motivo de crítica ou desqualificação da empresa. Ao longo das
entrevistas foi afirmado que:
(04) “estas são as regras do jogo. Há uma guerra lá fora e a empresa tem que usar as
armas que possui. As empresas estão aí para dar lucro e não para serem boazinhas”.
(Analista, Masculino)
Este fragmento de discurso evidencia que há uma naturalização da
racionalidade instrumental (“as regras do jogo”); portanto, plena consciência de que o
único objetivo da organização é de cunho mercadológico. Fez-se presente ainda, um
alinhamento com o pensamento neoliberal de Friedman (1962), notadamente na
seleção lexical “as empresas estão aí para dar lucro”, assim como o desvencilhamento
das mesmas de qualquer ideal altruísta (“ser boazinhas”).
Efetivamente, os entrevistados revelaram já terem introjetado à lógica de
produção capitalista, não apenas pela naturalização da racionalidade instrumental, mas
também, pelo uso sistemático de metáforas belicistas (“guerra”, “armas”) para justificar
as ações das organizações, por mais dúbias que sejam.
Entretanto, ao contrário do desejado na concepção do discurso de RSC como
instrumento de legitimidade organizacional (SARAIVA; IRIGARAY, 2009), alguns
empregados mostraram consciência da separação entre pessoa física e jurídica; assim
imagem corporativa, explicitado pelo vocábulo “funcionário”. Esta realidade foi
evidenciada no seguinte fragmento de discurso:
(05) “(...) para a empresa é muito cômodo essa situação. O funcionário vai lá vestindo a
camisa com o nome da empresa, segura o balão com o logo, ajuda, faz, acontece e no
final quem sai bem na foto é a empresa, pois era o nome dela que estava estampado
na minha camisa, não o meu”. (Analista, Feminino)
O fragmento de discurso (05) remete ao uso da RSC como forma de obtenção
de boa reputação no mercado (GODFREY, 2004). Na realidade, o próprio fato do
funcionário reclamar da falta de reconhecimento do seu esforço já torna esse
fragmento por si só demasiadamente interessante. Como poderia este exigir mérito por
uma ação que é feita de forma filantrópica, ou seja, sem a esperança de lhe ser
atribuído nada em troca?
Já o fragmento (06), como previsto por Carr (1968) alerta para outro fato um
pouco mais delicado, a falta de ética nos negócios.
(06) “(...) a empresa promove este tipo de programa e sequer cede o preço da hora do
funcionário, porque quem paga é o cliente”. (Analista, Masculino)
As consultorias, em sua grande maioria, trabalham com o sistema de alocação
das horas de seus empregados. Cada trabalhador ao final de um período estipulado
pela companhia deve justificar onde permaneceu durante o horário de trabalho e o
responsável por cada conta citada será cobrado pelo pagamento da mesma. Por
exemplo, se em um dia de trabalho de oito horas, quatro foram gastos no projeto em
que está sendo prestado o serviço e as demais horas em um treinamento pela
empresa, o empregado deverá justificar onde ficou alocado, ou seja, será preciso
atestar a quantidade de horas em que ele, de fato, passou no cliente, no treinamento,
ou em qualquer outro lugar. Com isso, será emitida uma fatura cobrando os respectivos
donos das contas, que, no caso do projeto, será pago pelo cliente em que o recurso
estava alocado e, no caso do treinamento, a conta será paga pela equipe de RH
correspondente da companhia. No entanto, o fragmento (06) nos diz que apesar de o
empregado estar em horário de trabalho, ele estaria atuando em programas
voluntários. Portanto, o correto seria aferir as horas desprendidas em uma conta a qual
fosse paga pela própria CONSULT. Contudo, o fragmento analisado revela que o
funcionário informa que passou aquele período no cliente, realizando suas atividades
diárias, quando na verdade estava em outro lugar. O inquietante desse processo
organizacional interno exigido pela CONSULT, é que este não se assemelha em nada
aos propósitos do voluntário, pelo menos, no que diz respeito à vontade do cliente, já
que nas prestações de contas o mesmo paga de forma involuntária, ou pior, “às
escondidas” por tarefas que podem não ser de seu interesse.
A mesma denúncia sobre a terceirização dos custos das ações sociais é
custos são os próprios empregados que, com seus recursos, contribuem com as
doações que são feitas em nome da empresa, já que, como afirmado por Jensen e
Meckling (1976), os gastos feitos com ações distantes do core da firma devem ser
evitados.
(07) “é mais voluntário por parte do funcionário do que pela empresa... Para os projetos
de voluntário, quem doa é o funcionário, quem gasta é o funcionário, e a empresa não
tem praticamente nenhum gasto, ou seja, é um ótimo negócio”. (Gerente, Feminino)
Assim como no fragmento anterior, foi explicitada uma revolta quanto aos
responsáveis pelos gastos realizados nas ações sociais desenvolvidas pela CONSULT.
Percebe-se que há um inconformismo quanto à divisão daqueles que deveriam
contribuir monetariamente com a criação das atividades de RSC. Além do mais, a
expressão “é um ótimo negócio” revela a percepção do empregado no oportunismo que
o trabalho voluntário pode proporcionar de forma única para a empresa, uma vez que
suas atividades seriam custeadas pelos empregados ao mesmo tempo em que estes
dedicariam seu tempo de descanso em realizá-las.
Mas, se o sistema Capitalista se baseia na venda da força e do tempo de
trabalho, por que estes indivíduos aceitam participar desta pantomima? Por que estes
empregados aceitam empenhar seus próprios recursos financeiros e seu tempo livre
No limite, as participações dos empregados em ações sociais são interpretadas
como medida de desempenho, sinônimo de engajamento, comprometimento e
dedicação por parte dos empregados como proposto por Bhattacharya, Sen e
Korschun (2008) e exemplificado nos fragmentos de discursos (08) e (09).
(08) “(..) acho que a empresa incentiva essas ações sociais com o objetivo do
funcionário se sentir engajado, pois hoje em dia há uma preferência das pessoas na
hora de procurar emprego à buscarem por empresas socialmente responsáveis”.
(Consultor, Masculino)
A seleção lexical “com o objetivo do funcionário se sentir engajado” indicada as
reais intenções da empresa em incentivar seu empregado a participar de seus
programas de trabalho voluntário. Na verdade, há uma tentativa de construção de um
sentimento de união entre empresa e empregado, em que se espera que essa parceria
renda frutos, que neste caso, seria atrair e reter os melhores profissionais do mercado.
(09) no meu ponto de vista, o principal motivo do apoio às causas sociais é para criar
uma satisfação no trabalho, o que consequentemente melhora o desempenho.
Ao fragmento de discurso (09), foi atribuída a variável “satisfação no trabalho”
que, assim como Meyer et al (1989) relataram, é diretamente refletido no desempenho
individual do empregado, transformando as práticas voluntárias em uma estratégia de
obtenção de comprometimento e dedicação. O desempenho que se espera do
empregado em relação à sua participação nos trabalhos voluntários foi novamente
citada, porém, desta vez, o fragmento de discurso (10) mostrara o que de fato é
priorizado.
(10) “como gerente até apoio a participação do funcionário, mas desde que não
comprometa com os entregáveis do dia”. (Gerente, Masculino)
A seleção lexical “desde que não comprometa os entregáveis do dia” evidencia a
listagem de prioridades da companhia. Em primeiro lugar, sempre virá à produtividade
esperada de cada empregado. Afinal, como afirmado por Friedman (1962, 1970) e
Jensen (1988), o objetivo principal de total empresa é gerar lucro para o acionista, que
no caso do ramo das consultorias, é representado pelo valor agregado dos produtos
gerados aos seus clientes. Em segundo lugar (se sobrar tempo), o trabalhador poderá
filiar-se aos programas de RSC da companhia. Essa preocupação com o tempo
disponível em filiar-se aos programas, ou seja, querer participar dos mesmos sem se
esquecer de que suas obrigações não serão postergadas se fez presente no próximo
(11) “a iniciativa é bem legal, mas não é tão simples assim. Por exemplo, se eu me
ausentar por um período aqui no trabalho, ninguém vai perdoar essa minha falta nas
minhas atividades diárias, ou seja, eu vou ajudar alguém, mas em contra partida vou
ter que virar a noite se for preciso para finalizar as minhas tarefas. Nesse caso, quem
me ajuda”? (Analista, Feminino)
Esta afirmação desvela a realidade do discurso social da empresa, em que este
é posto em segundo plano quando a participação em programas sociais pode vir a
ameaçar a produtividade do trabalhador. Não quer dizer que ajudar os outros não seja
uma preocupação da companhia, mas a produtividade, e consequentemente, o lucro
gerado a partir desta, sempre será o foco principal (FRIEDMAN, 1962, 1970; JENSEN,
1988). A mesma relação entre lucro produzido, mesmo que de forma indireta pelas
ações voluntárias, foi compartilhada por outros entrevistados, como mostrado nos
fragmentos (12) e (13).
(12) “É claro que a ações de responsabilidade também trazem benefícios como, por
exemplo, o desconto em imposto de renda [da empresa]”. (Gerente, Feminino)
(13) “essas atividades são boas para os dois lados. Ao mesmo tempo em que ajuda
alguém, ajuda a empresa a evitar possíveis multas. Todo mundo ganha assim.”
As visões destes fragmentos remetem a dois pontos interessantes. Os discursos
analisados deixam claro, a boa vontade em se ajudar o próximo. Em seguida, o tom é
mudado e passa a ser considerado o retorno financeiro oriundo da atividade social,
mesmo que este apareça com o fato de não se gastar em impostos e penalizações
monetárias (BELKAOUI, 1976; BRAGSON; MARLIN, 1972; FREEDMAN; STAGLIANO,
1991; SHANE; SPICER, 1983), o que acarretaria em um retorno ao acionista.
Curiosamente, assim como a CONSULT, os entrevistados também revelaram
fazer uso instrumental das práticas de RSC, o que ficou patente nos fragmentos de
discurso (14) e (15).
(14) “(...) quem pratica trabalhos voluntários fica bem visto na avaliação anual, mas não
sei se tem privilégios. Acho que a imagem de bonzinho ajuda muito”. (Consultor,
Feminino)
De fato, a imagem social da CONSULT também é utilizada de igual forma por
seus funcionários, já que “a imagem de bonzinho ajuda muito” (seleção lexical extraída
do fragmento de discurso (14)). Mais do que isso, a entonação utilizada por este
interlocutor, denunciou que o vocábulo “bonzinho” foi utilizado de forma irônica e
pejorativa. Verifica-se, assim, a valorização da aparência (simulacro) sobre a essência.
almejando ser reconhecido no processo de avaliação anual. Desta forma, em suas
crenças, o “sacrifício” em ajudar o próximo seria recompensado em formato de
reconhecimento e agrados financeiros, derivados de maiores notas em sua avaliação
de desempenho. Pode-se conclui que “ser bonzinho” garante um status de melhor
empregado frente aqueles que não ajudam o próximo, pelo menos aos olhos da sua
própria organização.
Da mesma maneira, o fragmento de discurso (15) revela o uso instrumental da
RSC.
(15) “acho que as pessoas fazem para fazer um filme (...) eu não me incluo nessa lista”.
(Consultor, Feminino)
A seleção lexical “fazer um filme” demonstra toda a utilização da bandeira social
para camuflar os interesses, quais quer que estes sejam. Todavia, o autor deste
fragmento de discurso mostra a consciência da relação negativa entre participar de
ações sociais voluntariamente (de fato) e com interesses próprios. Esta relação foi
percebida na adversidade do discurso, em que o entrevistado afirma desconfiar das
intenções de seus colegas, caracterizando-os de maneira negativa, ao mesmo tempo
em que se exclui desse grupo, classificando suas intenções como positivas.
Desta maneira, por terem plena consciência que as práticas de RSC da
próximo sem esperar nada em troca”, os empregados optam por participar desta
pantomima, sendo capazes até mesmo de corromperem seus valores e crenças
(SENETT, 1999), participando, na visão deles, deste simulacro, conforme demonstrado
no fragmento de discurso a seguir.
(16) “eu pratico porque quero ajudar quem precisa, mas os outros não fazem de forma
100% voluntária (...) de alguma forma vai trazer benefício à eles”. (Analista, Masculino)
Mas a consciência de serem coadjuvantes e, algumas vezes, protagonistas
dessas atividades pseudo-filantrópicas não significa que estes indivíduos o façam,
totalmente, de forma voluntária, conforme evidenciado pela seleção lexical “não fazem
de forma 100% voluntária”, do fragmento de discurso (16).
De fato, a participação nas ações sociais é uma forma de retificar essas
competências como mostrado no fragmento de discurso (17).
(17) “para o funcionário não é de todo ruim. A participação em trabalhos voluntários é
muito bem visto por outras empresas, inclusive por instituições de ensino no exterior.
O autor do fragmento de discurso (17) revela ter incorporado o discurso oficial do
mercado a tal ponto que acaba por (co)fundir seus interesses próprios com o da
empresa. Assim, ele contribui em alcançar os interesses da empresa, sejam eles quais
forem ao mesmo tempo em que persegue os seus próprios.
Da mesma maneira, há aqueles que veem na RSC a chance de redenção, como
explicitado no discurso (18).
(18) “eu faço porque quero contribuir de alguma forma pra sociedade, ficar com a
consciência tranquila que não estou só gastando, mas também fazendo a minha parte.
De forma geral acho que as pessoas da empresa fazem pelo mesmo motivo”.
(Consultor, Feminino)
O fragmento (18) vai diretamente de encontro à terceira categoria proposta por
Carroll (1979), referente às obrigações morais. Nesse sentido, o indivíduo se junta aos
preceitos sociais por um determinado intervalo de tempo, esperando reparar um erro
que tenha feito, ou seja, como se atuar de forma responsável pudesse ser um
excludente de culpabilidade por outros atos não tão morais assim. O mesmo
sentimento de culpa foi explicitado no discurso (19), no entanto, este entrevistado
demostrou pouco apoio com as ações de RSC promovidos pela sua empresa. Este
autor acredita que suas obrigações cívicas são o limite de ajuda que se deve fazer,
conforme a seleção lexical “eu já pago impostos” extraída do próximo fragmento de
(19) “me sinto ate mal em falar isso, mas sou contra atividades desse tipo. Eu já pago
impostos, que é a maior ajuda que um cidadão poderia dar. Se alguém tem que ajudar
aqui, esse alguém é o governo”. (Analista, Feminino)
Assim como o fragmento de discurso (19), o próximo remete ao Estado à
principal atribuição de regular e coordenar essas atividades, conforme previsto por
Henderson (2005). Todavia, este fragmento de discurso afirma que as ações
voluntárias promovidas pela empresa, são na verdade, um grande show, demonstrado
pela seleção lexical “circo”.
(20) “as empresas deveriam fazer somente o que está previsto em lei, e nada mais, se
não, vira zona. Imagina se tivesse uma lei que determinasse exatamente o que cada
empresa deveria fazer, de acordo com suas atividades fins e malefícios causados, daí
cada uma iria fazer o que precisava e ninguém poderia fazer todo esse circo em cima
das atividades social que fez, porque todas elas foram imposições”. (Consultor,
Masculino)
O autor do fragmento de discurso (20) demonstrou ainda, de forma demasiada,
sua insatisfação com o poder público em regulamentar e fiscalizar as ações sociais as
tivesse uma lei”. Nesse sentido, caberia ao órgão competente classificar as empresas
de acordo com a sua natureza, e a partir disso, gerar uma listagem de possíveis ações
de RSC a serem realizadas. Assim, cada empresa se ateria as possibilidades
enumeradas, cabendo a elas somente a estratégia de fazê-la da maneira mais
eficiente, o que acarretaria na diminuição da imagem promovida em torno da RSC.
Tomando por exemplo o pagamento de impostos; não há qualquer propaganda
enaltecendo determinada empresa por pagar todos os seus impostos, pois estes são
inerentes à vontade da firma. De igual maneira, um maior controle do poder público
frente às ações de RSC resultaria em um nivelamento de oportunidades do uso da
imagem social.
Contudo, não podemos ignorar os pontos positivos resultantes das ações sociais
promovidas pela CONSULT. Mesmo com todo esse “jogo” político-financeiro que está
pesquisa identificou, na opinião dos empregados, não é de direito negar que alguém
em algum momento será ajudado. No entanto, estas ações poderiam ter sido melhores
aproveitadas caso fossem mais bem formuladas, como argumentado por Porter e
Kramer (2006) e Bhattacharya, Sen e Korschun (2008) e observado nos discursos (21)
e (22).
(21) ”a empresa apoia a prática, mas da maneira errada. Não tem nenhum programa
significativo e estruturado, por isso não traz ganho pra sociedade”. (Gerente,
(22) “até acho que querem (a empresa) ajudar, só não sabem como fazer.” (Consultor,
Feminino)
De fato, por mais nobre que seja a ação e mesmo que esta traga em seu cerce
uma ajuda humanitária, a visão transmitida por elas elucidará uma medida estratégica
que visa unicamente a aliança da empresa com algum dos stakeholders envolvidos,
sejam estes internos, ou externos (AGUILERA et al, 2007; DAVIS, 1973; WADDOCK,
2004; WOOD, 1991a,b; WOOD; JONES, 1995), conforme retratado pela expressão
lexical “fazer uma média” extraída do discurso (23).
(23) “infelizmente, não vejo outro motivo da empresa querer promover essas atividades
sociais sem ser para fazer uma média com a sociedade, clientes, funcionários ou
qualquer coisa do tipo”. (Consultor, Masculino)
Contudo, por mais sombrio que as intenções dos discursos analisados possa
parecer, alguns empregados demonstraram consciência de que é preciso fazer com
que as ações socais continuem. Neste sentido o autor do fragmento de discurso (24)
reconhece que há interesses pessoais e empresariais em torno da RSC, mas ele os
subjuga em detrimento à causa fim, conforme a seleção lexical, “para quem está sendo
(24) “para quem está sendo ajudado, tanto faz o motivo. O importante é que algo está
sendo feito, mesmo que pouco.” (Analista, Feminino)
Este discurso mostra a preocupação do empregado com a causa fim proposta
nas atividades filantrópicas, ao mesmo tempo em que traz a tona seu reconhecimento
com as intenções interesseiras de seus praticantes. Essa dicotomia se fez presente em
diversas entrevistas, culminando na avaliação dúbia que o entrevistado fazia
constantemente de seus pares, como mostrado claramente pelo fragmento de discurso
a seguir.
(25) “não posso falar pelos outros. Eu participo dessas atividades porque gosto. Na
verdade, eu já fazia isso antes de entrar pra empresa. Prefiro acreditar que os demais