ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E DE EMPRESAS EBAPE CURSO DE MESTRADO EM GESTÃO EMPRESARIAL
Responsabilidade Social Corporativa: o que há de filantrópico no
trabalho voluntário?
Conrado Farah Montenegro Caulliraux Pithon
trabalho voluntário?
Dissertação apresentada à Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Gestão Empresarial.
Professor Orientador: Hélio Arthur Reis Irigaray
Pithon, Conrado Farah Montenegro Caulliraux
Responsabilidade social corporativa: o que há de filantrópico no trabalho voluntário? / Conrado Farah Montenegro Caulliraux Pithon. – 2012.
112 f.
Dissertação (mestrado) - Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas, Centro de Formação Acadêmica e Pesquisa.
Orientador: Hélio Arthur Reis Irigaray. Inclui bibliografia.
1. Responsabilidade social da empresa. 2. Voluntários. 3. Voluntarismo. I. Irigaray, Hélio Arthur. II. Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas. Centro de Formação Acadêmica e Pesquisa. III. Título.
trabalho voluntário?
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO APRESENTADA POR: CONRADO FARAH MONTEGRO CAULLIRAUX PITHON
Aprovada em 27/11/2012.
Hélio Arthur Reis Irigaray
Fundação Getúlio Vargas – EBAPE / FGV
Mônica de Maria Santos Fornitani Pinhanez Fundação Getúlio Vargas – EBAPE / FGV
Andrea Leite Rodrigues
A meus pais, Barbara Christina Farah Montenegro Pithon e Antônio José Caulliraux Pithon, que sempre investiram e acreditaram em mim.
Ao professor-orientador Hélio Arthur Reis Irigaray pelo apoio, compreensão e dedicação em me orientar. Aos meus pais, que me apoiaram durante todo o curso, e, principalmente, pelo financiamento do mesmo. Aos meus colegas de classe, que sempre estiveram dispostos a ajudar em todas as dificuldades encontradas durante esses dois anos de curso.
O crescente investimento das empresas na área de Responsabilidade Social Corporativa (RSC) vem provocando diversos questionamentos, tanto no meio acadêmico quanto no empresarial, sobre a necessidade e os reais motivos que levam as organizações a incentivarem e divulgarem ações de cunho social promovidas na comunidade onde estão inseridas. O objetivo deste estudo é confrontar o discurso adotado sobre a prática de RSC em uma empresa de consultoria multinacional, especializada no ramo de gestão empresarial e escritório na cidade do Rio de Janeiro, Brasil, com as diferentes perspectivas de seus trabalhadores sobre os motivos que a faz realizar tais atividades, bem como a razão pela qual o seu quadro de empregados decide filiar-se a elas. Na construção da base teórica, foram utilizadas as visões das diferentes correntes existentes sobre o tema de RSC. Para averiguar as possíveis inconsistências entre o discurso e a prática, foi realizada uma pesquisa de campo baseada em documentos oficiais e entrevistas com empregados de ambos os sexos e diferentes cargos desta companhia. Os resultados sugerem divergências entre os discursos dos empregados mostrando que estes questionam os propósitos da empresa, bem como das intenções filantrópicas dos demais colegas de trabalho.
Palavras Chaves: Trabalho Voluntário, Responsabilidade Social Corporativa, Discurso
The increasing business investment in the area of Corporate Social Responsibility (CSR) has provoked many questions, both in the academy and in the business field, on the need and the real reasons that lead organizations to encourage and disseminate social actions promoted in the community where are inserted. The objective of this study is to confront the discourse adopted on the practice of CSR in a multinational consulting company specializing in business management, with a business office in the city of Rio de Janeiro, Brazil, with the different perspectives of their employees about the reasons that they undertake such activities, as well as why its workforce decides to join them. In the construction of the theoretical basis, were used the existing streams of different visions on the topic of CSR. To investigate the possible inconsistencies between discourse and practice, was conducted a field research based on official documents and interviews with employees of both sexes and different positions in that company. The results suggest differences between the discourses within the employees, showing that they question the purpose of the company, as well as the philanthropic intentions of other coworkers.
ABS Australian Bureau of Statistics
CEA Cidade Escola Aprendiz
CSI Corporate Social Integration
CSO Corporate Social Opportunity
CSV Creating Shared Value
EC European Commission
ECT Economia de Custos de Transação
GRI Global Reporting Initiative
HBV Harvard Business Review
IS Independent Sector
ISE Índice de Sustentabilidade Empresarial
ICC Instituto de Competências e Cidadania
ONG Organização Não Governamental
ONU Organizações das Nações Unidas
RSC Responsabilidade Social Corporativa
Figura 1 – Comparação percentual entre os entrevistados que considera importante, ou muito importante, a prática de ações sócias, com aqueles que nunca praticaram este
tipo de atividade, sendo esta, promovida por uma instituição. ... 27
Figura 2 – Relação percentual da população de determinado país que realizou trabalhos voluntários. ... 29
Gráfico 1 – Categorização dos Respondentes quanto ao cargo ocupado ... 38
Gráfico 2 – Distribuição dos respondentes quanto ao gênero ... 39
Gráfico 3 – Número total de empregados (em milhares)... 46
Gráfico 4 – Receita Anual (em bilhão de dólares) ... 46
Tabela 1 – Ranking Brasil Serviços em TI ... 47
1. INTRODUÇÃO ... 12
2. REFERENCIAL TEÓRICO ... 19
2.1 As múltiplas visões de RSC ... 19
2.2 Os discursos de RSC e a questão da legitimidade ... 26
3. PERCURSO METODOLÓGICO ... 32
3.1 Tipo de pesquisa ... 32
3.2 Entrada no campo ... 34
3.2.1 Seleção da Empresa ... 34
3.2.2 Seleção dos sujeitos ... 35
3.3 Coleta de Dados ... 35
3.4 Tratamento dos Dados... 40
3.5 Limitações do Método ... 41
4. A CONSULT ... 44
4.1 A Empresa ... 44
4.2 A CONSULT no Brasil... 46
4.2.1 Sustentabilidade Corporativa ... 48
5. ANÁLISE DOS DADOS ... 55
5.1 O discurso da Empresa... 55
5.2 O discurso dos Empregados ... 57
6. DISCUSSÃO ... 76
7. CONCLUSÃO ... 88
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 92
ANEXOS ... 103
ANEXO I ... 104
ANEXO II ... 107
1. INTRODUÇÃO
A Responsabilidade Social Corporativa (RSC), seja sob uma perspectiva teórica
ou gerencial, tem se reservado não somente a discutir os posicionamentos
epistemológicos ou metodológicos de suas teorias, mas também os desdobramentos
em situações específicas nas organizações. A busca das empresas por otimização de
lucros e uma melhora constante em seus indicadores de desempenhos no mercado
não é um fenômeno recente. Na verdade ela remonta a sistematização da
Administração (TAYLOR, 1911), sendo reforçada posteriormente com os primeiros
estudos em Estratégia – Matriz SWOT (ANDREWS, 1980), Economia de Custos de
Transação1 (COASE, 1988), Resource-Based View2 (WERNERFELT, 1984), Curva de
Aprendizado (GHEMAWAT, 2002; WILLIANSON, 1991; RUMELT et al 1991), dentre
outros. No campo da RSC não ocorreu de forma diferente, de modo que suas
atividades fins passaram a ser analisadas de acordo com indicadores econômicos e
mercadológicos, o que culminou em inúmeros estudos relacionando o desempenho
financeiro das empresas com as suas ações de responsabilidade social (SIEGEL;
MCWILLIAMS, 2001; PAVIE, 2008). Por meio de uma meta-análise com base em 112
estudos empíricos elaborados entre 1998-2007, Pavie (2008) concluiu que há uma
correlação positiva entre essas duas varáveis, ou seja, as ações de responsabilidade
1
Economia dos Custos de Transação (ECT) são os custos, em dinheiro ou tempo, gastos na realização de negócios (COASE, 1988).
social promovidas pela firma acarretam em uma melhora em seus desempenhos
financeiros.
De fato, a RSC tem sido retratada como uma estratégia que pode contribuir para
o desempenho financeiro das empresas (FRIEDMAN, 1962; 1970; JENSEN, 1988;
2001), um instrumento corporativo para sanar problemas sociais (ABRAMS, 1951),
uma resposta estratégica a pressões institucionais sofridas pelas empresas
(VENTURA, 2004), um mero discurso de marketing (KOTLER; ARMSTRONG, 2003),
ou ainda, uma atividade pós-lucro (KANG, 1995).
As primeiras práticas de Responsabilidade Social surgiram, a partir do século
XX, na forma de filantropismo (TENORIO, 2004). Por volta da década de 50, um artigo
publicado na Harvard Business Review (HBV), pelo então presidente da Exxon, Frank
Abrams, tinha como função convocar os líderes empresarias a atuarem de forma
responsável, com o intuito de sanar os problemas sociais da época (ABRAMS, 1951).
Pouco mais de uma década depois, a visão neoclássica do economista Milton
Friedman (1962) adota um discurso voltado à geração de lucro, afirmando que o
investimento em práticas de responsabilidade social somente se faz válido quando está
ligado diretamente ao negócio principal da empresa. Da mesma forma, Branco e
Rodrigues (2007) afirmam que as companhias valem-se da prática de RSC,
principalmente, para colher algum tipo de benefício. Já para Carroll (1979) as ações de
RSC realizadas pelas empresas podem ser classificadas em quatro categorias:
econômica, legal, ética e filantrópica ou voluntária. Este último tipo de ações é o objeto
Segundo a Organizações das Nações Unidas (ONU), é caracterizado como
voluntário o “jovem ou o adulto que, devido a seu interesse pessoal e ao seu espírito
cívico, dedica parte do seu tempo, sem remuneração alguma, a diversas formas de
atividades, organizadas ou não, de bem estar social, ou outros campos” (ONU, 2012).
Portanto, a priori, das quatro categorias apresentados por Carroll (1979), apenas a
última, aparentemente, resulta em uma ação de intenção verdadeiramente nobre, pois
a primeira é originária da vontade de se obter benefícios financeiros, a segunda, de
uma obrigação imposta por um órgão superior e a terceira da consciência de que
algum reparo precisa ser feita dado um dano causado.
De fato, a crescente notoriedade que a RSC vem ganhando fez com que novos
termos surgissem com o objetivo de categorizar as ações sociais promovidas pelas
organizações como o Corporate Social Opportunity3 (GRAYSON; HODGES, 2002), o Triple Bottom Line4 (ELKINGTON, 2004), o Creating Shared Value5 (PORTER;
KRAMER, 2011) e o Corporate Social Integration6 (PORTER; KRAMER, 2006; 2011),
bem como a criação de um “ranking social” das mesmas, como o Índice de
3
Corporate Social Opportunity (CSO) é o estágio seguinte à RSC. A CSO pode ainda possuir três dimensões: inovação para o desenvolvimento ou melhoria de produtos e serviços; atendimento a mercados carentes ou criação de novos; e organização de um novo modelo de negócios (GRAYSON; HODGES, 2002).
4
O conceito de Triple Bottom Line (TBL) surgiu diante da necessidade da firma mensurar seu desempenho além dos resultados financeiros (lucro versus prejuízo), passando a incluir também as frentes social e ambiental (ELKINGTON, 2004).
5 Creating Shared Value (CSV) pode ser entendido como as políticas e práticas que aumentam a
competitividade da empresa ao mesmo tempo em que proporcionam melhores condições econômicas e sociais para aquelas comunidades onde é atuante (PORTER; KRAMER, 2011).
6
Sustentabilidade Empresarial7 (ISE) a nível nacional e o Global Reporting Initiative8 (GRI) a nível mundial.
Apesar de a discussão ter avançado e novas concepções serem discutidas
(BANERJEE, 2011), invariavelmente, no mundo as organizações, a RSC continua a ser
definida como uma contribuição voluntária das empresas para a sociedade e o meio
ambiente (EUROPEAN COMMISSION, 2001:5). Neste contexto, as companhias
utilizam do discurso a favor da prática de ações sociais para se engajarem a essas
novas demanda do mercado. Estes trabalhos sociais consistem, em sua grande
maioria, em ações comunitárias, como limpeza de praias e logradores públicos, visita a
asilos e creches, as quais são realizadas voluntariamente pelos próprios empregados
da empresa (IRIGARAY; PITHON, 2012). Mas, o que há de filantrópico no trabalho
voluntário? Este é o problema de investigação deste estudo.
Para respondê-lo, foi desenvolvido um estudo de caso numa empresa
multinacional do ramo de consultoria, aqui referida pelo nome fictício de CONSULT, na
qual a RSC é um tema recorrente em suas comunicações internas e externas. É
importante salientar que apesar do conceito de trabalho voluntário aparecer na
literatura estudada como sinônimo de filantropismo (CARROLL, 1979; FRIEDMAN,
1962, 1970), não é, de fato, do intuito do pesquisador em categorizar o primeiro, mas
identificar, à luz da RSC, os fatores que levam à sua realização.
7
O Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) tem como função principal informar aos investidores, através da atribuição de notas, o quão socialmente responsável a empresa é (BOVESPA, 2012). Disponível em: www.bovespa.com.br. Acesso em 05/01/2012.
8
Global Reporting Initiative (GRI) é um relatório de sustentabilidade, com reconhecimento global, que tem por objetivo padronizar a forma de divulgação das informações contida no balanço social das
Inicialmente, foi conduzida uma pesquisa documental, objetivando analisar as
políticas e práticas de RSC da empresa em questão. Posteriormente, foram
entrevistados empregados do escritório do Rio de Janeiro, no sentido de apreender
suas percepções dos ideais propostos pela empresa e os impactos destas práticas
voluntárias em suas vidas, mais especificamente, em sua trajetória profissional. Os
dados coletados foram submetidos à análise do discurso, pois entender a linguagem
dos actantes é entender suas ações sociais (WODAK, 1997). Este agir social se
caracteriza pelo fato de que toda ação é a) teleológica, na medida em que os atores
sociais põem em ação estratégias eficazes, racionais, a fim de chegar a um consenso;
b) regulada, no sentido de que movimentos acionais dependem de normas que são
estabelecidas pelo grupo de que esses atores fazem parte; c) intersubjetiva, na medida
em que os atores sociais colocam-se em cena, oferecendo ao outro, uma imagem de
si, para produzir um efeito sobre ele.
Os objetivos deste estudo são: a) verificar se as percepções dos empregados
estão atreladas com os discursos propostos pela empresa; b) confrontar o discurso dos
empregados em relação a algumas teorias abordadas no campo da RSC; c) verificar se
há uma conformidade de pensamentos dos empregados a respeito do trabalho
voluntário e de quem os pratica; e d) quem seriam os verdadeiros beneficiados com as
práticas de RSC.
O estudo em questão se contrapõe ao tom positivista que vem permeando a
maioria dos trabalhos acadêmicos sobre RSC (BANERJEE, 2011), os quais têm focado
suas análises nas empresas e suas respectivas estratégias (HUSTED; ALLEN, 2006).
diretriz na formulação dos programas sociais oferecidos pela empresa, uma vez que a
má utilização da bandeira social pode contribuir para uma percepção adversa à
planejada pela companhia.
Em paralelo, este trabalho se faz relevante por preencher possíveis lacunas
sobre como os empregados enxergam os demais pares de trabalho que praticam
ações semelhantes às suas. Ademais, após mais de 40 anos de pesquisa, ainda há
poucos trabalhos empíricos sobre o tema (ALONSO-ALMEIDA et al, 2012). Neste
sentido, a relevância neste vértice do trabalho jaz no fato de ele contribuir com uma
pesquisa empírica, na qual se desloca o eixo de análise para os empregados, cujas
vozes têm sido sistematicamente silenciadas, negadas ou ignoradas pelas
organizações na elaboração de suas políticas e práticas de RSC (VICKERS, 2005).
Todavia, um estudo sobre RSC descortina uma multiplicidade de possibilidades
de enfoques e temas de pesquisa. Neste trabalho, foi limitado, especificamente, a
pesquisar as recorrentes práticas de prestação de trabalhos sociais promovidos de
forma voluntária à sociedade, adotadas por algumas organizações, neste caso, a
CONSULT. Desta forma, há ainda uma limitação espaço-temporal, pois a coleta de
dados limitou-se aos empregados lotados no escritório do Rio de Janeiro e a mesma foi
realizada entre os meses de dezembro de 2011 a agosto de 2012.
No que tange à agenda de futuras pesquisas, espera-se que elas possam
avançar nesta discussão, abordando outras realidades organizacionais, tanto na esfera
pública quanto na privada, bem como empregados de perfis demográficos e
Além desta introdução, este trabalho está estruturado em sete seções. A
segunda seção, o marco teórico, serve de contextualização e base de análise para o
objeto de estudo. A terceira seção trata do método de investigação. Em seguida, será
apresentada a empresa analisada. Na quinta seção, serão apresentados os resultados
obtidos na pesquisa e, em sequência, a discussão e contribuição do autor. Por fim, a
2. REFERENCIAL TEÓRICO
Esta seção apresenta a revisão da literatura sobre o tema, tendo sido dividido
em dois tópicos. O primeiro apresenta as múltiplas visões de RSC e como estas
interferem no campo estratégico-institucional das organizações. O segundo
contextualiza a relação do discurso das empresas acerca da utilização da RSC como
forma de legitimar suas iniciativas mesmo que estas não sejam percebidas por seus
empregados da maneira planejada.
2.1 As múltiplas visões de RSC
No campo da Responsabilidade Social Corporativa, as discussões originais
ainda no final do século XIX, trazem a tona o papel das organizações como entidades
socialmente responsáveis, guardando similaridades com as premissas do socialismo
utópico de Saint Simon, Fourier e Blanc. Após múltiplas citações referentes aos
impactos sociais e ambientais que as atividades industriais estariam causando, bem
como se os CEOs deveriam agir de forma a minimizar sua interferência no bom
andamento do meio em que a empresa atua (BANERJEE, 2007), começaram a surgir
defensores e opositores das práticas de cunho social desenvolvida pelas empresas.
A visão neoclássica proposta por Friedman (1962) traz como argumento central
a geração de lucro. Neste contexto, o investimento em práticas de responsabilidade
empresa (FRIEDMAN, 1962). Desta forma, estes devem sempre obedecer a critérios
que proporcionem algum tipo de retorno à firma e consequentemente ao acionista
(JENSEN, 1988). Quando há um gasto em uma atividade que não está atrelada ao
objetivo principal da empresa, este pode diminuir o valor esperado pelo acionista o que
iria contra os princípios fundamentas da visão neoclássica. Portanto, para alguns
autores, se faz necessário ter bem definido qual é o objetivo de cada atividade social
realizada, para que não haja conflitos de interesses, pois o foco em múltiplos objetivos,
como, por exemplo, em atividades com ênfase na responsabilidade social, ao mesmo
tempo em que se busca o lucro, criaria dificuldades na forma de gestão e na tomada de
decisão (JENSEN, 2001; COELHO et al, 2003; STERNBERG, 1997; SUNDARAM;
INKPEN, 2004).
Friedman (1962,1970) questionou em diversos trabalhos a responsabilidade
econômica e social nos negócios, já que em sua opinião a responsabilidade é atribuída
às pessoas e não às empresas. A ideia central destas obras é separar a
responsabilidade de cada indivíduo; assim, o indivíduo tem toda a liberdade de gastar o
seu dinheiro naquilo em que achar correto (ações de caridade, doações para igreja, a
comunidade em que vive), entretanto, não lhe é direito gastar um dinheiro que não lhe
pertence, neste caso, o dinheiro dos sócios. Desta maneira, ao investir em práticas de
responsabilidade social, o gestor estaria indo contra os interesses dos acionistas da
empresa, pois seus lucros estariam sendo reduzidos, em detrimento de causas com as
quais eles nem sempre compartilham (FRIEDMAN, 1962, 1970). Uma vez que o
desprendimento em causas sociais seria contra o interesse da firma, estas deveriam
realização de ações sociais justificadas apenas pela caridade e o altruísmo, ou seja,
sem qualquer vínculo aos objetivos da empresa, não possuem relevância estratégica, e
por consequência, devem ser desconsideradas (LANTOS, 2001).
Porter e Kramer (2006) se alinham a Friedman (1962) e Jensen (1988) ao
advogarem que as atividades de cunho social devem sempre estar ligadas à estratégia
da firma. Para estes autores, se os gestores usassem a mesma estratégia para a
escolha de qual atividade social deve ser realizada como fazem com as demais
operações da companhia, a responsabilidade social seria uma eficiente fonte de
oportunidade, inovação e geração de vantagem competitiva. Na opinião destes autores
a empresa deveria evitar ações de curto prazo ou imediatistas como a filantropia, por
exemplo, pois estas teriam pouco valor para a sociedade e nenhum benefício para os
negócios. Ao invés disso, deveriam ser priorizadas as ações de longo prazo, pois estas
sim gerariam lucro. (PORTER; KRAMER, 2006).
Por outro lado, a visão de que os acionistas e, consequentemente, seus
interesses, deveria ser o único grupo a ser priorizado, não é compartilhada por
unanimidade. Alguns acreditam que a empresa tem um dever para com a sociedade na
qual estão inseridas (SWANSON, 1995). A visão do stakeholder, na qual se baseia a
Teoria do Stakeholder, leva em consideração a importância dos múltiplos grupos
envolvidos nas ações da empresa. Assim, não somente os acionistas são colocados
como sendo os atores exclusivos capazes de reter as atenções da organização, como
determina a visão neoclássica, mas também os demais agentes passam a ter seus
2007). Para tal, se faz necessário definir quais seriam esses demais grupos de
envolvidos nas diretrizes da organização.
Post et al (2002) definem de maneira genérica os stakeholders como aqueles
que são capazes de contribuir direta ou indiretamente com a geração ou a perda de
riqueza dentro de uma organização. Já para Freeman (1998), stakeholders são os
grupos de indivíduos que se beneficiam ou se prejudicam, ou ainda aqueles que
tenham seus direitos violados ou respeitados pelas decisões da empresa. Nesta
abordagem, alguns autores consideraram também como possíveis agentes a
sociedade, o governo, os clientes, os fornecedores, o público interno, o meio ambiente
e todos os grupos que podem estar ligados direta ou indiretamente ao cotidiano de uma
empresa (BHATTACHARYYA et al, 2008; SCOTT, 2007; HESLIN; OCHOA, 2008;
PETERS, 1997). Contudo, é válido ressaltar que há correntes divergentes quanto à
inclusão do meio ambiente no grupo de stakeholders. Para alguns autores, o meio
ambiente não deve ser considerado como um agente dentro deste grupo, uma vez que
este não tem voz ou opinião própria, não sendo, portanto, capaz de reivindicar os seus
direitos (PHILLIPS; REICHART, 2000; BRANCO; RODRIGUES, 2007). Já para outros
autores, uma comunidade afetada por uma companhia de exploração de minério, ou
consumidores de alimentos de origem animal, podem ter como interesse a preservação
do meio ambiente e a possibilidade de uma melhor utilização dos recursos naturais
pelas gerações futuras. Desta forma, por meio dos anseios dos stakeholders atuais, se
faz necessário considerar o meio ambiente como um grupo envolvido (JACOB, 1997).
Mesmo após a definição da Teoria do Stakeholder e os agentes que a
(BRANCO; RODRIGUES, 2007). Banerjee (2007) identifica as três principais
abordagens capazes de elucidar tal questionamento. O primeiro tem como
determinante a Visão do Acionista, a qual avalia esta teoria como uma ameaça aos
princípios do negócio e, desta maneira, os sócios são considerados o grupo de
envolvidos principais. O segundo, o qual predomina o ponto de vista do stakeholder,
entende que a empresa deve atuar de forma socialmente responsável balanceando as
necessidades dos diferentes grupos de envolvidos. Esta abordagem tem como
incumbência criar uma equação equilibrada entre os interesses de todos os envolvidos
nas atividades organizacionais. Com isso, não haveria um grupo privilegiado, mas
todos ganhariam de maneira semelhante. Por fim, o terceiro, que tem como base a
Perspectiva Gerencial, tem como objetivo o gerenciamento eficiente dos principais
grupos envolvidos. Nesse sentido, após serem identificados quais são os atores
diretamente afetado pelas ações da companhia, seriam formulados programas
específicos voltados para o controle e desenvolvimento de suas atividades e relações
organizacionais.
A rigor, na maioria dos estudos prevalece o uso instrumental das políticas e
práticas de RSC como “bandeira social” voltada para o público externo. Assim, elas
podem apresentar como função: a) diferenciar determinado produto no mercado
tornando-se para a firma uma poderosa ferramenta de marketing (MCWILLIAMS;
SIEGEL, 2001, WADDOCK; GRAVES, 1997); b) evitar que a empresa seja multada por
um dano causado (BELKAOUI, 1976; BRAGSON; MARLIN, 1972; FREEDMAN;
STAGLIANO, 1991; SHANE; SPICER, 1983); ou ainda, c) evitar a exposição a riscos
último, Pelsmacker et al (2005) enfatizam como uma interferência negativa do uso de
atividades não responsáveis consegue difamar a reputação de uma marca, acarretando
em perdas financeiras. Estes autores sugerem tal comparação tomando como exemplo
o caso da Nike, 1990, que utilizou de trabalho escravo para a confecção de seus
produtos, manchando seu nome no mercado e, posteriormente, sofrendo boicotes dos
consumidores, totalizando um prejuízo de milhões de dólares a esta gigantesca
fornecedora de materiais esportivos (PELSMACKER et al, 2005).
Já para alguns autores mais radicais, esse tipo de comportamento, ou seja, a
falta de honestidade e a utilização de meios não éticos nas práticas corporativas, é
esperado e até mesmo aceito, na busca pela maximização do lucro (CARR, 1968).
Para este autor, as omissões dos fatos, os exageros e até mesmo as mudanças nos
discursos são justificados pelo fato de que os homens de negócios teriam padrões
morais menores dentre os grupos da sociedade em que vivem. Ele compara essa
desonestidade a um jogo de pôquer em que é permitido o uso do blefe para tirar
vantagem do oponente. Friedman (1998) concorda com a obtenção de lucro como
único propósito da empresa, todavia, é contra a falta de honestidade. Para ele, os
gestores devem sim buscar o máximo de lucro possível para o acionista, mas sempre
agindo dentro dos trâmites legais. De fato, há uma relação direta entre a
regulamentação e a preocupação com o viés social. A rigor, as corporações estão mais
suscetíveis a agir de forma socialmente responsáveis quanto mais se defrontarem com
fortes regulamentações do Estado, autorregulamentações e monitoramento de
Organizações Não Governamentais (ONGs) e outras organizações independentes
quando começam os direitos e deveres do Estado, da sociedade e das empresas, uma
vez que as práticas de responsabilidade social devem estar atreladas aos parâmetros
legais impostos pelo Estado (HENDERSON, 2005). Todavia, segundo este autor, o
excesso de legislação pode atrapalhar o desempenho das empresas num primeiro
momento, levando à diminuição das atividades referentes ao negócio principal da firma.
Levit (1958) vai além, afirmando que as organizações não devem desprender esforços
em questões sociais, uma vez que estas são de responsabilidade do Estado.
Carroll (1979), por sua vez, classificou em quatro categorias os motivos pelos
quais as ações de RSC realizadas pelas empresas são formuladas: econômica, legal,
ética e voluntária. Desta forma, as organizações: a) devem produzir bens e/ou serviços
que atendam aos anseios sociais dos consumidores, ao mesmo tempo em que
produzam benefícios financeiros para si; b) devem promover suas atividades fins, mas
sempre obedecendo às leis e legislações em vigor; c) devem atender as expectativas
dos consumidores por meio de condutas não especificadas por leis, como costumes
normas e valores sociais e, finalmente, d) devem desenvolver trabalhos voluntários ou
aqueles que não tragam nenhum retorno, ou benefício esperado pela firma. Neste
último aspecto Carroll se diferencia de Friedman (1962, 1970) e Jensen (1988);
todavia, não descarta a possibilidade do uso instrumental da RSC.
Esta visão utilitarista também se faz presente no trabalho de Bhattacharya, Sen
e Korschun (2008); contudo, é ressaltada a importância das políticas e práticas de
RSC, notadamente das ações sociais, para o público interno. A rigor, estes autores
sugerem que “há uma relação direta entre RSC e a eficácia no recrutamento e retenção
engajadas nessas atividades. Desta maneira, as ações sociais promovem a motivação,
o comprometimento e a integração do quadro de empregados (BHATTACHARYA,
SEM; KORSCHUM, 2008). Somado a isso, a falta desta identificação com a companhia
pode levar a um aumento do turnover, o que gera custos para a empresa (MEYER et
al, 1989). Efetivamente, as ações voluntárias promovidas pelas empresas são vistas
como instrumento de intensificação e melhoria das relações da mesma com a
sociedade e seu quadro de trabalhadores (AGUILERA et al, 2007; DAVIS, 1973;
WADDOCK, 2004; WOOD, 1991a,b; WOOD; JONES, 1995).
Consequentemente, podemos inferir que os discursos empresariais estão
inseridos na persecução da legitimidade social da organização.
2.2 Os discursos de RSC e a questão da legitimidade
Os discursos das organizações visam disseminar uma visão coerente e unívoca
do que a organização e suas ações são e, mais do que uma questão de retórica ou
comunicação, como eles retificam as estratégias empresariais (SARAIVA et al, 2004).
Trata-se, pois, de um verdadeiro processo de engenharia organizacional, que
alinha a organização ao que de mais moderno existe no mercado (SARAIVA;
IRIGARAY, 2009), cujo único objetivo é a adesão dos empregados a um projeto
organizacional que os antecede e que sucumbe sem seu apoio, embora pretenda deles
Korschun (2008) revela a importância das políticas e práticas de RSC para a tessitura
organizacional.
A importância da identificação do empregado com a instituição, bem como o
aumento do nível de comprometimento com a mesma é um processo que vem sendo
observado e incorporado sistemicamente nos dos últimos anos. O Instituto de
Pesquisas do Jornal Folha de São Paulo (DATAFOLHA, 2004), realizou no mês de
setembro daquele ano, uma pesquisa com 2.830 brasileiros em 127 municípios sobre a
prática de ações de responsabilidade social. Alguns dos resultados da pesquisa
mostram a importância da empresa em se legitimar frente aos seus empregados e a
oportunidade mercadológica que esta pode gerar, o que fica evidente na Figura 1.
Figura 1 – Comparação percentual entre os entrevistados que considera importante, ou muito importante, a prática de ações sócias, com aqueles que nunca praticaram este tipo de atividade, sendo esta, promovida por uma instituição.
Fonte: Elaborado pelo autor.
83% 73% 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%
Consideram importante, ou muito importante, a prática
de ações socias (2004)
Nunca participaram de ações sociais promovidos por
Conforme a ilustração gráfica, os participantes do estudo, de forma majoritária
(83%), entendem a importância da prática de ações sociais, ao passo que 73% dos
entrevistados nunca participaram de serviços sociais promovidos por instituições. Deste
modo, se torna evidente a oportunidade real de incorporar os valores da empresa aos
empregados por meio do devido estímulo, promovendo assim, um primeiro contato dele
com causas sociais.
A mesma oportunidade da criação de uma identidade entre o empregado e a
companhia pôde ser observada em diversos países (conforme sugerido na Figura 2,
abaixo). Segundo o Independent Sector9 (IS), no ano de 1998, 56% da população americana realizou trabalhos voluntários, totalizando uma média de 3,5 horas de
dedicação por pessoa (IS, 2004). Na Europa, no ano de 1994, 38% da população
holandesa aderiu à prática de ações sociais (ROY; ZIEMEK, 2000), ao passo que na
Austrália, segundo o The Australian Bureau of Statistics10 (ABS), em 200011, esse número chegou a 32% da população (ABS, 2004) e no Canadá, no ano de 1997, 34%
da população se engajou em práticas de responsabilidade corporativa (HALL et al,
2000). Desta forma, perceber as novas tendências e anseios da população por
buscarem empresas comprometidas com as deficiências sociais das comunidades, se
torna uma relevante estratégia de obtenção de legitimidade e reconhecimento
organizacional.
9 Independent Sector (IS) é uma coalizão de fundações e organizações sem fins lucrativos com cede localizada em Washington, DC, EUA. Fundada em 1980 a IS trabalha, em grande parte, em questões de políticas federais que afetam o setor sem fins lucrativos e filantrópicos.
10
The Australian Bureau of Statistics (ABS) é uma agencia nacional de estatística, fundada em 1905 e responsável por coletar estimativas de organizações australianas de Pesquisa & Desenvolvimento e Recursos Humanos.
11
Figura 2 – Relação percentual da população de determinado país que realizou trabalhos voluntários.
Fonte: Elaborado pelo autor.
A rigor, ao disseminar discursos de boas ações sociais, as organizações
pretendem, na realidade, construir uma nova realidade, em que supera os limites
estritos do cotidiano capitalista, e se converter em um bom cidadão, responsável e
merecedor do afeto de seus stakeholders, principalmente, os internos.
Mas será que é válido para este stakeholder interno se tornar um componente
dessa engrenagem capitalista? Para Coelho (2002), o interesse próprio encontrado na
participação dos programas sociais desenvolvidos pela firma se torna um poderoso
aliado na formação da tessitura organizacional moderna, em que empresa-empregado
se ajuda mutuamente na construção da legitimidade e interesse de um grupo sobre as
ações do outro. Esta motivação pode estar ligada, por exemplo, às questões 56%
38%
34% 32%
0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%
motivacionais e de desenvolvimento de habilidades valorizadas pelo mercado de
trabalho, uma vez que o empregado que atua em ações sociais pode aumentar as
chances de se qualificar e se reposicionar, de forma elevada, na busca por emprego
(COELHO, 2002). Da mesma maneira, Cohen (1964) afirma que a participação em
atividades ligadas à filantropia proporciona o desenvolvimento intelectual e emocional
obtido pelo treinamento e das novas experiências a que este indivíduo se submete.
Azevedo (2007) destaca ainda que uma ação quando respaldada na RSC se torna um
relevante caminho para se conhecer pessoas novas (network), ao mesmo tempo em
que propicia, de forma acelerada, uma promoção profissional. Evidentemente, os
motivos pelos quais existe um engajamento acentuado de empresas em causas
sociais, são referenciados de forma mais eloquente dado o interesse de legitimar a
organização perante a comunidade onde esta está localizada (CAMARGOS, 2008).
Não obstante, a partir das nuances enraizadas na legitimidade gerada, são construídos
valores com a empresa que vão além das expectativas presentes nas relações
contratuais estabelecidas nas determinações trabalhistas. Nesse sentido, os
empregados são acostumados a vivenciar características empresariais como a
assiduidade, pontualidade, responsabilidade, pró-atividade, paciência e submissão à
hierarquia (DOMENEGHETTI, 2002). Destas, a autora destaca o desprendimento para
tolerar aborrecimentos, uma vez que em trabalhos em equipe são frequentes as
discordâncias e divergências de opiniões. Desta maneira, o empregado desenvolve
autocontrole e perseverança, no sentido de não se desestimular facilmente. Outra
que, nesse contexto, é representada pela maior disponibilidade de horas para trabalhar
e assumindo uma maior quantidade de responsabilidades (DOMENEGHETTI, 2002).
Nos mesmos preceitos, o Instituto Ethos12 (2012), enfatiza a importância do
trabalho social para o aumento da relação de legitimidade entre o empregado e a
empresa, uma vez que os programas de voluntariado empresarial auxiliam no
desenvolvimento de habilidades pessoais, ao mesmo passo que promovem a lealdade
e a satisfação do empregado no ambiente corporativo (Instituto Ethos, 2012).
No caso dos empregados, ser amada por eles significa receber deles dedicação,
comprometimento na busca do reconhecimento profissional, fazendo mais do que o
prescrito, ao passo que à organização, caberia o acolhimento e observação do esforço
extra e a promessa de retorno. Há de se ressaltar que, apesar de estes discursos
estimularem o envolvimento afetivo por parte dos empregados, eles se constroem com
base na impessoalidade da relação entre pessoa jurídica e pessoa física. O mais
dedicado dos empregados pode se tornar “descartável” se não apresentar os
resultados esperados pela organização que se propõe a por ele ser amada (SARAIVA;
IRIGARAY, 2009).
Então, dentro desta arena organizacional, como os empregados percebem as
iniciativas de RSC das empresas e quais são os impactos profissionais decorrentes
destas iniciativas? No sentido de responder a estas perguntas investigativas, foi
elaborada uma pesquisa, cuja estratégia metodológica é apresentada a seguir.
12 Instituto Ethos é uma organização sem fins lucrativos que auxilia as empresas a gerir seus negócios
3. PERCURSO METODOLÓGICO
Nesta seção será apresentado o tipo de pesquisa abordado na formulação deste
estudo, a escolha do universo e a amostra dos respondentes, a forma pela qual se deu
a coleta dos dados, bem como o método utilizado no tratamento dos mesmos. Ao final
desta seção, serão informadas algumas das limitações presentes no método.
3.1 Tipo de pesquisa
Segundo Richardson (1999), a metodologia é caracterizada pelas regras e
preceitos utilizados por determinado método, que por sua vez, seria a maneira pela
qual um objetivo fim é alcançado. Para realização deste trabalho, valeu-se da
oportunidade do pesquisador em trabalhar na empresa estudada. Desta maneira, esta
pesquisa se consistiu em um estudo auto etnográfico (ALVESSON, 2003), tornando
possível a inserção do pesquisador no ambiente e no dia-a-dia do grupo investigado,
sendo obtido como resultado uma gama de informações visuais, comportamentais e
sociais dos indivíduos que compuseram a pesquisa. Mesmo se tratando de um estudo
auto etnográfico, se faz válido ressaltar que não houve um posicionamento
exclusivamente como mero observador do fenômeno analisado, ou foi advogado – nem
acreditado que tal seja possível – neutralidade e autonomia; entretanto, foi mantido
distanciamento em relação ao objeto estudado (bracketing), seguindo a orientação de
com o subjetivismo dos objetos de pesquisa (indivíduos, grupos, sistemas
socioculturais). Da mesma maneira, exigiu-se sensibilidade do pesquisador para captar
o observável e para reconhecer os momentos mais adequados para dialogar de forma
que o entrevistado não se sinta induzido a responder o que os bons costumes
demandam, mas sim o que era de fato a intenção de resposta. Portanto, o método
utilizado permitiu uma compreensão mais ampla da atuação dos indivíduos no
ambiente organizacional, fornecendo uma noção da realidade formal e informal dos
sujeitos nos diversos níveis da organização (MASCARENHAS, 2002). Além do mais, o
convívio direto com os trabalhadores entrevistados permitiu identificar aspectos do
relacionamento entre os integrantes da CONSULT, bem como os valores
compartilhados do grupo como um todo, os quais, muitas vezes, são despercebidos
pelos gestores da companhia. Desta forma, devido à imersão do pesquisador no grupo,
foi possível identificar com mais facilidade as percepções dos empregados quanto os
programas de RSC promovidos pela empresa.
Quanto aos meios para realizar esta pesquisa, valeu-se de investigação
bibliográfica, pois a mesma está baseada em um estudo desenvolvido de forma
sistematizada com base no material que circunda o campo da RSC, tanto no que diz
respeito à teoria que sustenta o trabalho, quanto ao campo que foca o estudo. De igual
maneira, foi utilizada uma investigação documental, já que para melhor compreender
aspectos históricos e simbólicos, bem como esclarecer os mecanismos que envolvem o
acesso aos incentivos culturais, se faz necessário a busca de dados em documentos;
notadamente o material de comunicação externa (site) e interna (intranet, documentos
captar os discursos e percepções dos sujeitos que compõem o campo a respeito do
tema, uma vez que os estudos de caso valem-se de vários recursos para a obtenção
de dados (BERG, 1998).
3.2 Entrada no campo
Esta pesquisa foi realizada com os empregados de uma empresa multinacional
do ramo da consultoria, com escritório sediado na cidade do Rio de Janeiro, e que tem
como objetivo assessorar seus clientes nas mais diversas áreas do ramo da gestão
empresarial. Com o intuito de não expor as divergências entre o discurso e a prática
das políticas internas de RSC e como estas afetam as relações de trabalho de seus
empregados, bem como minimizar qualquer tipo de represália que os respondentes
possam sofrer, foi dado, a esta empresa, o nome fantasia de CONSULT.
3.2.1 Seleção da Empresa
No que tange à seleção da empresa, esta foi escolhida, primeiramente, em
função da facilidade de acesso aos seus documentos e empregados, uma vez que o
pesquisador faz parte do quadro de trabalhadores da mesma; por possuir um discurso
que incentiva as ações de RSC de forma exaustiva (de fato, as ações sociais e sua
tratar de uma consultoria na área de gestão empresarial, o background dos
empregados é bastante diversificado, o que possibilita uma maior quantidade de
diferentes respostas e percepções, enriquecendo, assim, o estudo.
3.2.2 Seleção dos sujeitos
Tendo em vista que na abordagem qualitativa a representatividade expressa no
discurso dos entrevistados é mais importante que a quantidade de entrevistas feitas
(GASKELL, 2002), neste estudo, optou-se por uma amostra não probabilística por
tipicidade, sendo selecionado um subgrupo representativo da população (GIL, 1987).
Desta forma, foram entrevistados 31 empregados, de ambos os sexos, diferentes
faixas etárias e que ocupavam cargos de analista, consultor e gerente. Este subgrupo,
não foi previamente fixado, porém, sua premissa de composição se valeu de pelo
menos um representante de cada nível hierárquico da empresa. Esta premissa foi
concebida pelo fato de o pesquisador querer averiguar se havia discrepância entre os
discursos dos empregados de acordo com o cargo ocupado. A quantidade da seleção
dos entrevistados foi interrompida na medida em que as respostas começaram a ser
exaustivas.
Para a fase de coleta dos dados teve-se em mente as considerações de
Goldenberg (2000) e Rubin e Rubin (1995). Em atenção às prescrições de Goldenberg
(2000), optou-se por um roteiro compatível com a entrevista semi-estruturada. Por
conta das considerações de Rubin e Rubin buscou-se identificar, para os propósitos
desta pesquisa, quais eram as funções-chave na organização em foco a fim de se
obter conteúdo relevante. Segundo esses autores, os sujeitos selecionados devem: (a)
conhecer a arena cultural, situação ou experiência a ser estudada; (b) ter vontade de
falar e (c) ter diferentes perspectivas. Observou-se, ainda, a necessidade apontada por
Eisenhardt (1989) de que a pergunta da pesquisa deve ser orientadora dos critérios de
seleção. Desta forma, visando apreender a percepção dos empregados, além de se
valer das percepções do pesquisador que trabalha na CONSULT, foram realizadas
entrevistas previamente agendadas, ocorridas entre o período de dezembro de 2011 a
agosto de 2012 e tiveram duração média de 35 a 45 minutos cada. Como alguns dos
selecionados a participar da pesquisa não tinham conhecimento suficiente das ações
dos programas de responsabilidade social promovidas pela companhia, suas respostas
foram invalidadas, e, portanto, desconsideradas nas análises feitas pelo pesquisador.
Para uma melhor acomodação do pesquisador e do entrevistado, foram
solicitadas salas de reuniões privativas, proporcionando um ambiente onde os
participantes da pesquisa pudessem emitir suas opiniões sem o receio de que os
demais empregados pudessem ouvir suas respostas, ao mesmo tempo em que
prevenia a formação de possíveis tendências nos discursos de acordo com as
pesquisador-entrevistado ocorresse de forma informal, e, consequentemente, mais ativa aos olhos
das reais percepções quanto à pergunta do estudo.
O roteiro da entrevista foi dividido em três blocos. O primeiro se ocupou com os
dados categóricos do respondente (sexo, idade, cargo, formação acadêmica e tempo
de empresa). Esta etapa tinha um objetivo posterior à coleta, comparando as respostas
obtidas entre os gêneros, posição hierárquica e conhecimento acadêmico prévio. O
segundo bloco tratou do conhecimento do entrevistado a respeito das políticas e
práticas de RSC da organização em questão. O objetivo principal desta etapa foi
avaliar a consistência da entrevista, validando-a, ou não, de acordo com o
conhecimento prévio demonstrado e, caso este não fosse comprovado, sua entrevista
seria computada, mas suas respostas descartadas. Finalmente, o terceiro e último
bloco se ocupou do engajamento e percepção do empregado nas ações sociais
desenvolvidas pela organização, ou seja, mesmo tendo opiniões contraditórias sobre
os supostos interesses de quem formula e pratica as políticas de RSC, esta parte da
entrevista visou aferir de que forma estas pressões institucionais eram observadas
pelos empregados da CONSULT. Mais ainda, como ele qualificava suas próprias
opiniões sobre a sua participação nos programas de trabalho voluntário, caso assim o
fizesse.
A pesquisa de campo com os empregados revelou que suas percepções sobre
as políticas e práticas de RSC, existentes na CONSULT, não variam em função de
sexo, formação, idade ou cargo. O Gráfico 1 mostra a relação da quantidade de
no gráfico o número absoluto de entrevistas realizadas, incluindo aquelas que não
foram validadas, conforme descrito no capítulo referente à metodologia de pesquisa.
Gráfico 1 – Categorização dos Respondentes quanto ao cargo ocupado.
Fonte: Elaborado pelo autor.
No total foram entrevistados 4 gerentes, 12 consultores e 9 analistas e, apesar
das diversas opiniões aferidas, não houve qualquer tendência correlacionada a um
fator específico, o que demonstra que o tempo de carreira, ou a responsabilidade que o
entrevistado possui, não causa interferência em suas convicções, e mais ainda sobre
as percepções dos propósitos da empresa ou de seus pares de trabalho. Da mesma
maneira, as respostas não sofreram nenhum viés prévio devido à formação do
entrevistado, o que demonstra que a informação acadêmica construída ao logo de sua
trajetória profissional, não fez com que preceitos capitalistas ou filantrópicos fossem
enraizados em seus discursos. Por fim, foi possível constatar que o gênero em nada 31 25 12 9 4 0 5 10 15 20 25 30 35 40 Total de Entrevistas Entrevistas Aproveitadas
orientou uma conformidade na pesquisa. Foram entrevistadas 11 pessoas do sexo
masculino e 14 do feminino, conforme demonstrado no Gráfico 2. Desta forma, o
preconceito de que mulheres tendem a ter uma visão voltada para o social, ou então,
que homens pensam de forma mais racional e econômica, foi, no caso da RSC,
desmistificado.
Gráfico 2 – Distribuição dos respondentes quanto ao gênero.
Fonte: Elaborado pelo autor.
Em relação ao material documental, para a coleta de dados valeu-se da
oportunidade do pesquisador em trabalhar na empresa em questão. Assim, foram
incorporadas ao material de análise as informações provenientes das redes de
comunicação interna, como e-mails, folders, totens, panfletos e informativos fixados no
quadro de mural da companhia. É importante salientar que tais materiais não
corresponderam à informações de natureza confidencial, cuja divulgação representaria
uma ameaça aos planos estratégicos da companhia, mas à propagandas que
incentivavam os funcionários a participarem das ações sociais propostas pela empresa. 14
11
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20
Quanto às diretrizes das políticas estratégicas dos programas de RSC, estas foram
obtidas por meio de documentos públicos, divulgados no site da CONSULT.
3.4 Tratamento dos Dados
As entrevistas e as anotações de campo (observações) foram transcritas e,
assim como os textos dos documentos da CONSULT, foram submetidos à análise do
discurso, cuja intenção é de não só apreender a mensagem, como também explorar o
seu sentido, seus significados: o que se fala e como se fala, o que está explícito e o
que está implícito, a linguagem empregada no discurso e as dimensões enfatizadas
(PUTNAM; FAIRHURST, 2001; VERGARA 2004). Neste estudo, foi considerado o
posicionamento e a paratopia como instrumentos de análise. O posicionamento e a
categoria-base da análise do discurso designam apenas o fato de que, por meio de
emprego de tal palavra, registro de língua ou construção do discurso, um locutor indica
como ele se situa num espaço conflituoso, usando muitas vezes um tom didático ou
vocabulário técnico (CHARAUDEAU, 1999). Já a paratopia é a difícil negociação entre
lugar e não-lugar, a localização parasitária que vive da própria impossibilidade de se
estabilizar, ou seja, a relação paradoxal de inclusão / exclusão no espaço social que
implica o estatuto de locutor de um texto (MAINGUENAU, 1993).
A escolha deste método de análise do discurso possibilita que o pesquisador
seja capaz de não somente emitir opiniões, mas também de interpretar as falas, os
método se faz possível posicionar as pessoas de diversas formas como sujeitos
sociais, bem como considerar qualquer discurso como exemplo de prática social
(FLAIRCLOUGH, 1994), o que, dado o contexto deste trabalho, torna um diferenciador
na analise dos dados.
Considerando que os dados obtidos nas entrevistas estão diretamente ligados
as transformações no campo organizacional das variações presentes no discurso da
RSC, a abordagem da análise do discurso, proposta por Flairclough (1994) se faz mais
indicada ao propor a consideração do uso da linguagem como forma de prática social e
não como atividade puramente individual ou um reflexo de variáveis situacionais.
Dessa forma, o discurso deve ser visto com um modo de ação que interfere
diretamente nas ações que os indivíduos praticam em seus hábitos diários.
3.5 Limitações do Método
Por fim, também é válido apresentar as limitações impostas pela metodologia de
pesquisa selecionada, o que não significa que esta deva ser desconsiderada ou que
tenha sua credibilidade reduzida.
Por se tratar de um estudo autoetnográfico, a primeira limitação se fez presente
no esforço em que o pesquisador precisou empregar para minimizar os riscos da
omissão ou da revelação de dados distorcidos por parte do grupo investigado, uma vez
dificuldade por parte dos entrevistados em conseguirem separar de forma concisa a
figura do empregado-pesquisador como pessoas diferentes.
Outra limitação diz respeito à generalização científica dos resultados
encontrados (YIN, 1994). Este possível limitador remete à questão da
representatividade, pois questiona até que ponto aquele indivíduo, organização ou
grupo representa, de fato, o conjunto de casos que compõe uma sociedade. Yin (2005)
também aponta o risco de não se chegar a conclusões apuradas acerca de parcerias
interorganizacionais caso o objeto de estudo seja somente uma organização. Desta
forma, as opiniões emitidas pelos entrevistados podem não ser compartilhadas por
grupos de empregados de empresas de outros ramos, região geográfica ou natureza
(público/privada).
Quanto ao tratamento de dados, a análise do discurso pode acarretar em
subjetividade nas interpretações do pesquisador durante as anotações na fase de
entrevistas. Esta subjetividade pode vir a dar oportunidade de ocorrências de vieses de
interpretações por parte do pesquisador (SOUZA, 2004; COOPER; SCHINDLER,
2003).
No entanto, foi na fase de coleta de dados em que foram encontradas as
maiores dificuldades. Como as entrevistas ocorreram no ambiente de trabalho, se fez
necessário requerer salas de reunião privativas, em que o entrevistado pudesse expor
seu ponto de vista de forma a não se sentir constrangido, ou a não ser conduzido a
repetir uma resposta por ter ouvido outro colega anteriormente. O limitador,
horários das salas de reuniões com as agendas dos empregados entrevistados,
principalmente aqueles que ocupavam cargos executivos.
Neste capítulo foi apresentado o percurso metodológico deste estudo. A seguir,
serão demonstrado as análises feitas a partir dos discursos coletados nas fases de
4. A CONSULT
Este capítulo tem por objetivo apresentar a empresa que serviu como base de
estudo para a conclusão desta pesquisa. Os dados aqui transcritos foram retirados do
website da companhia e seus balanços sociais anuais, sendo, portanto, de naturezas
públicas e livres para consulta. Mesmo assim, é válido ressaltar que as
divulgações destas informações não representam qualquer risco às estratégias da
CONSULT.
4.1 A Empresa
A CONSULT é uma sólida organização global, líder mundial em serviços de
gestão e tecnologia. Está presente em mais de 120 países, conta com mais de 246 mil
trabalhadores e obteve mais de 21.60 bilhões de dólares em faturamento no ano fiscal
que se encerrou em 2010. A empresa possui um modelo de atuação baseado na
construção de uma ampla rede de negócios com clientes e parceiros, sendo
aprimorada a habilidade na prestação de serviços de consultoria e de outsourcing, por
meio de alianças e de empresas afiliadas, em diferentes áreas de especialização.
Em nível mundial, a CONSULT possui um conjunto de parcerias com os maiores
fabricantes de hardware e software da indústria de Tecnologia de Informação. São
alianças estratégicas com os maiores fornecedores de tecnologia do mercado como:
Vitria, Avanade, TIBCO Software, entre outras. Esta política de alianças globais permite
acesso às mais avançadas ferramentas do mercado, durante o processo de
desenvolvimento de sistemas.
Devida a sua estrutura e capital intelectual, a CONSULT busca inovações que
encurtem o tempo necessário para que seus clientes alcancem seus objetivos e metas
mais ousadas. O crescimento acelerado da firma está baseado na busca de uma
relação de parceria de longo prazo com seus clientes.
Um dos maiores ativos da companhia é o capital intelectual desenvolvido pelos
seus profissionais. Para preservar este ativo, é investido fortemente em pesquisa e
treinamento, dando ênfase à inovação e ao gerenciamento do conhecimento. Abaixo,
algumas informações importantes sobre este tema.
• Integração: Todos os escritórios da CONSULT estão conectados via intranet e
utilizam as mesmas políticas e níveis de processo.
• Conhecimento: A empresa possui um sistema próprio de intercâmbio de
informações fornece a melhor solução e o acesso às melhores práticas para nossos
clientes, no menor prazo.
A CONSULT vem se consolidando como umas das maiores empresas de
consultoria no mundo, chegando a ter, em 2011, um quadro de 236 mil empregados ao
redor do mundo, atingindo uma receita no mesmo ano de 25,5 bilhões de dólares,
Gráfico 3 – Número total de empregados (em milhares)
Fonte: Balanço anual da companhia.
Gráfico 4 – Receita Anual (em bilhão de dólares)
Fonte: Balanço anual da companhia.
4.2 A CONSULT no Brasil
No Brasil, a CONSULT possui quase oito mil empregados, espalhados pelos
seus escritórios localizados nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Belo
Horizonte, Paraná entre outros. Em Alphaville/Barueri-SP, ela conta com uma fábrica
de software, além de um Centro de Serviços Compartilhados em Curitiba.
75 75 75 83 100
123 140
170 186 177
204 236 0 50 100 150 200 250
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011
9,8 11,4 11,6 11,8
13,7 15,5 16,6
19,7 23,4 21,6 21,6
25,5 0 5 10 15 20 25 30 35
Entre seus clientes, então presentes 34 das 40 maiores empresas, públicas e
privadas, do Brasil (em receita anual), com destaque para as instituições financeiras e
segurados, sendo o primeiro grupo composto por oitos dos dez maiores bancos e para
o segundo, estão presentes seis das dez maiores seguradoras.
O mercado brasileiro reconhece a CONSULT como uma das principais
empresas em Estratégia, Processos, Tecnologia e Desempenho Humano. Em
tecnologia, por exemplo, a CONSULT se firmou em 2011 a líder do mercado neste
segmento, conforme demonstrado na Tabela 1.
Tabela 1 – Ranking Brasil Serviços em TI.
Colocação da
CONSULT
Market Share
Maiores prestadores
em serviços de TI
Consultoria de TI 1 21,1%
Integração de Sistemas 1 11,1%
Gerenciamento de Aplicativos 1 37,1%
Desenvolvimentos de Aplicativos
Customizados 2 6,0%
Maiores prestadores
de serviços em TI nos
segmentos verticais
Óleo / Gás / Mineração 1 29,7%
Utilidades (água, luz, gás e saneamento) 1 11,1%
Telecom 1 10,5%
A empresa adota um discurso de constante aperfeiçoamento de seus
trabalhadores. De fato, nos últimos anos, a CONSULT foi reconhecida por diversos
prêmios, tais como:
• SAP Award of Excellence 2011 - Capacitação / Certificação de Consultores
• SAP Award of Excellence 2011 - Joint Partner Revenue
• Empresas Mais Admiradas no Brasil 2011 (CartaCapital)
• Prêmio SAP 2011
• Prêmio Oracle 2011
• Parceria do Ano na Microsoft no Brasil em 2011
• XII Prêmio Excelência em Serviços ao Cliente em 2011 (Grupo Padrão Editorial)
• As Melhores Empresas para se Começar a Carreira (Guia Você SA, 2011);
dentre outros.
4.2.1 Sustentabilidade Corporativa
Com uma estratégia de responsabilidade social corporativa, a CONSULT, por
meio de seus programas sociais mobiliza colaboradores, seus familiares, clientes e
fornecedores em torno do objetivo de tornar a empresa alinhada aos conceitos do
Em paralelo, a empresa afirma que seus “colaboradores são treinados e
avaliados de acordo com a cultura de sustentabilidade corporativa”. A empresa
estimula, ainda, fortemente a diversidade e impulsiona o voluntariado corporativo,
incentivando seus funcionários a promover ações e adotar posturas que busquem o
desenvolvimento sustentável.
Uma das práticas mais incentivadas dentro da empresa é o trabalho voluntário.
A CONSULT classifica como trabalho voluntário “a disponibilização de tempo,
criatividade e talento em prol de uma determinada causa, sem pagamento financeiro de
qualquer espécie”. Como incentivo a este trabalho voluntário, são desenvolvidos
diversos tipos de programas em diferentes comunidades, a grande maioria são
realizados aos finais de semana e após o expediente de trabalho.
Pensando em uma maior aderência de seus empregados, a CONSULT
desenvolveu um programa especial que pode ser realizado durante o expediente de
trabalho. Este programa tem a duração de uma semana e ocorre uma vez ao ano nas
cidades onde a empresa atua. Desta maneira, o trabalhador realizaria as atividades
sociais propostas ao invés de estar trabalhando.
“Em um momento do ano reservado para a realização de ações voluntárias de
qualquer natureza, culturais, ambientais, educacionais, de infraestrutura, doações e arrecadações, escolhidas e elaboradas pelo grupo de voluntários. As ações acontecem simultaneamente em qualquer um dos dez dias em seis estados onde a empresa opera. O engajamento voluntário das lideranças, funcionários, familiares, fornecedores, amigos e clientes, transforma a vida de milhares de pessoas e instituições. Em 2009 foram mobilizados quase seis mil funcionários, 126 instituições beneficiadas e quase 30 mil pessoas, entre crianças, jovens, idosos, pessoas com deficiência, mulheres, população de rua e animais”.
Ao final do ano de 2010, a empresa divulgou alguns dos resultados alcançados
em seus programas de voluntariado:
• 872 horas em três projetos em parcerias com ONGs.
• 47 executivos foram voluntários.
• Programa desenvolvido durante o expediente de trabalho: 4.952 voluntários,
104 projetos, 105 instituições apoiadas e 21.554 beneficiados.
• Meio Ambiente: 43% de aumento na coleta de resíduos recicláveis em SP; 5%
redução de consumo de energia em SP; 4% redução de consumo de energia no RJ e
10% redução de consumo de água em SP. 58 pessoas assistiram as palestras e
oficinas oferecidas durante a semana do meio ambiente.
• Eventos Sustentáveis: 28.41% dos 359 eventos internos foram realizados com
práticas sustentáveis.
• Pessoas com Deficiência: 45 deficientes capacitados, 3 contratados. No total,
são 116 deficientes no quadro funcional atualmente. Treinamento de Diversidade
lançado no sistema de e-learning e obrigatório para todos os novos funcionários.
• Diversidade: 194 funcionários participaram das palestras e mesas redondas e
1200 pessoas participaram da ginástica laboral e mímicas nos escritórios.
• Reconhecimentos: Prêmio Cidadania do Anuário Telecom, na categoria Meio