• Nenhum resultado encontrado

O Empreendedorismo a estrutura e dinamização dos Mercados

CAPÍTULO II. REVISÃO TEÓRICA

2.2. POLÍTICAS ATIVAS DE EMPREENDEDORISMO

2.2.4. O Empreendedorismo a estrutura e dinamização dos Mercados

A forma de encarar o empreendedorismo mudou muito depois da II guerra mundial, após se verificar a necessidade de preservar as pequenas empresas por razões sociais. Até ao início dos anos 60, por razões de eficiência económica, grande parte dos mercados apresentavam uma estrutura oligopolista. As empresas aplicavam os mais puros princípios económicos e de gestão, o que implicava a maior rentabilidade possível dos meios de produção e das matérias-primas, uma vez que conseguiam influenciar os mercados, controlando a oferta de várias formas como pelo apoio legislativo, detenção das matérias- primas e/ou dos meios de produção e economias de escala (Audretsch, 2002).

Contudo, a implicação social e política era grande e a situação foi revertida, pois os oligopólios deixaram de ser apoiados e o papel do empreendedorismo mudou drasticamente nas economias a partir dos anos 50, existindo uma implicação muito positiva a partir dos anos 70 (Loveman & Sengenberger, 1991).

Muitas questões surgiram sobre o percutor desta reviravolta. Audretsch e Thruik (2001) são da opinião que a explicação para o desenvolvimento e reemergência do empreendedorismo na Europa e América do Norte se deve à globalização, que mudou a vantagem comparativa na relação baseada no conhecimento e atividade económica, por um lado devido às grandes empresas que perderam competitividade nos seus países de origem devido aos elevados custos de produção e, por outro lado, devido às PME’s empreendedoras que adquirem elevada importância e valor devido a uma economia baseada no conhecimento. Perante este cenário, as grandes empresas, cuja produção se situa nos chamados países desenvolvidos, foram obrigadas a reduzir custos, reduzindo a força laboral, aumentando a tecnologia e deslocalizando a produção para países onde os custos fiscais e laborais fossem menores.

Esta fuga das grandes empresas para países onde os custos são menores, abriu espaço no mercado, permitindo às pequenas e médias empresas europeias adquirirem maior relevância e importância na economia devido ao crescimento, potenciado pela criação, inovação e desenvolvimento de conhecimento. Esta redefinição das capacidades das empresas vai dar origem a uma maior divisão dos mercados, permitindo uma maior definição dos serviços e produtos colocados nesses mercados, criando uma estrutura que relaciona várias variáveis empresariais como qualidade, preço, inovação, tecnologia e

conhecimento. Esta estruturação do mercado implica aumento da competitividade entre as empresas na escolha e definição da sua posição nos melhores mercados (Audretsch, 2002). O empreendedorismo fomenta a inovação, a entrada, sobrevivência e crescimento das empresas nos mercados, dinamizando regiões e economias. Por outro lado, desequilibrando, equilibra os mercados, pois sempre que existem lucros anormais em determinado mercado aumenta a ambição dos empreendedores para concorrerem a esses mercados, ganhando quota, crescendo pela oferta de formas diferentes de satisfazerem as mesmas oportunidades. E é claro que nestas questões existe sempre a necessidade de se ponderar outros fatores na concorrência, como o peso das economias de escala, que podem ser decisivos para as empresas empreendedoras permanecerem no mercado. Contudo, para recursos semelhantes, o fator empreendedorismo é desequilibrador para os mercados, principalmente se se basearem no modelo “VRIO” aconselhado por Peng (2009): “terem Valor; serem Raros; serem Inimitáveis; estarem enraizados na Organização”, o que origina sinais de credibilidade através da especialização, reputação, alianças, entre outros.

Para verificar como o empreendedorismo afeta as empresas e os mercados, vários autores têm feito abordagens multidisciplinares entre o empreendedorismo e outras disciplinas, como é o caso do marketing. O marketing não é uma função da empresa, mas uma visão da empresa, como unidade económica que fornece bens e serviços. É essa a perspetiva de marketing da empresa e tudo o que se faz nesse sentido é marketing (Drucker, 1952). Gartner & William (1994) apresenta a relação entre empreendedorismo e marketing, argumentando que o comportamento empreendedor pode potencialmente influenciar o pensamento e a prática do marketing, pois lida diretamente com um conceito chave do marketing: trazer inovação com sucesso ao mercado.

Nesta perspetiva, não há dúvida que a teoria empreendedora pode beneficiar usando conceitos de marketing, por exemplo, os mencionados a respeito de técnicas e pesquisas de marketing para recolher, analisar, e interpretar dados relevantes sobre as necessidades dos consumidores e organizações, no seu comportamento de compra.

As capacidades empreendedoras existentes na organização, sejam elas por influência do empreendedor ou com base no conhecimento partilhado, que no fundo é a cultura da própria empresa, são de extrema importância para que as empresas que estão no mercado possam evoluir. Por outro lado, a capacidade de se relacionar com vários mercados permite

uma “ginástica” empresarial, que é necessária quando os negócios correm mal e é necessário mudar para outro ramo paralelo, complementar, ou onde a empresa possua conhecimentos, para recuperar de situações de crise ou falta de negócios nos mercados atuais.

São inúmeras as vantagens a nível de mercados decorrentes da implementação de uma cultura empreendedora nas empresas, com a globalização, que pode ser entendida como um fenómeno pendular, com altos e baixos, que corresponde à integração mais estreita dos países e dos agentes económicos (Peng, 2009).

A globalização implica geralmente um relacionamento com empresas oriundas de mercados estrangeiros, seja através do contato resultante da internacionalização (entrada da empresa em um mercado estrangeiro) ou da entrada de empresas estrangeiras no mercado nacional. Em qualquer dos casos, passa a existir uma alteração da relação e a necessidade de novos conhecimentos.

O conhecimento é um ativo intangível tácito que lida com mecanismos de governança, que são adequados para assessorar e internacionalizar esse mesmo conhecimento (Kogut & Zander, 1993). Já Granovetter (1985) considera que as ações das empresas e os resultados devem-se à forma padrão das relações mantidas com outras empresas. Tanto a forma como é utlizada a rede social, como as ações baseadas no conhecimento, levam a crer que é devido às diferenças inerentes às capacidades empreendedoras que o potencial de uma empresa para descobrir e explorar as capacidades competitivas através das redes externas pode variar. Logo, é importante entender como o conhecimento pode ser criado, não só através da exploração e aumento da atual base de conhecimento organizacional, como através de ações empreendedoras no acesso e integração dos recursos estratégicos.

É por meio de um processo de escolha e mudança que novas rotinas são desenvolvidas e as velhas são descartadas. A adaptação dos processos das empresas para acomodar o conhecimento dos mercados é impulsionada pela capacidade de aprendizagem das empresas (Meyer, Wrigth & Pruthi, 2009). Cohen & Levinthal (1990) argumentam que a capacidade de absorção leva ao desenvolvimento de novas capacidades. Assim, a orientação na aprendizagem da empresa pode ser considerada como um facilitador de conhecimento externo. Contudo, o uso das redes não são uma garantia de sucesso, quer

para os mercados internos quer para os mercados externos, existindo várias barreiras que limitam a sua utilização.

O conhecimento sem os mecanismos adequados para a sua organização, dificultam a transferência para a produção e é inútil para as empresas (Grant, 1996). Logo têm de existir atualizações constantes de conhecimento para que este possa ser replicado em qualquer altura. Szulanski (1996) refere que aspetos da comunicação e a natureza das relações interpessoais têm sido indicados como influenciadores do conhecimento efetivo.

Os fatores que facilitam e inibem os empresários de capitalizar o conhecimento devem também ser analisados. Sarkar, Echambadi, & Harrison (2001) veem as crenças e valores da gestão de topo como fundamentais na criação de uma cultura organizacional que promova o conhecimento e a partilha.

As políticas empreendedoras públicas externas e as políticas internas foram e são fundamentais para desenvolver o empreendedorismo nas pequenas e médias empresas que, devido à sua capacidade e agilidade, conseguem de forma rápida e objetiva implementar essas políticas na sua organização e opor-se a uma estrutura de mercado oligopolista, entrando nos mercados, inovando, criando novas estruturas de mercado, com características mais concorrenciais, mais próximas da utopia dos “mercados em concorrência perfeita” que necessitam de apostas e investimentos mais fortes e contínuos em inovação e empreendedorismo devido à elevada concorrência existente.

CAPÍTULO III.

Documentos relacionados