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CAPÍTULO II. REVISÃO TEÓRICA

2.1. FATORES EXPLICATIVOS DO SUCESSO EMPREENDEDOR

2.1.2. Outros fatores explicativos do sucesso empreendedor

São inúmeras as correlações entre variáveis que podem determinar o sucesso de empreendimentos e dos próprios empreendedores. O relacionamento das várias características empreendedoras, que existem em diferentes proporções dentro dos empreendedores, com as características existentes no meio, dificulta muito o trabalho dos investigadores que procuram explicar o sucesso do empreendedorismo. Possivelmente, talvez o fato de ser difícil delimitar estas fronteiras, devido à sua constante evolução e inovação, seja a sua principal caraterística diferenciadora de outras disciplinas. No entanto, os vários estudos feitos nos últimos anos têm apontado para diferentes formas de estar na vida e nos negócios que permitem situações de sucesso aos empreendedores.

A possibilidade de ganhos elevados pode atrair as pessoas para atividades não dependentes, provavelmente porque ganhos elevados se traduzem no horizonte das pessoas como possibilidades de sucesso. No entanto, De Wit (1993) não encontrou relevância significativa entre os ganhos elevados e a atração para uma atividade por conta própria, provavelmente porque a esses ganhos elevados está inerente determinada quantidade de risco que não compensa os ganhos. Johansson (2000) tem opinião diferente, entendendo que os ganhos elevados podem atrair pessoas para atividades não dependentes e alerta que os trabalhadores mais mal pagos são os mais propensos a mudar, pois é para estes que este tipo de mudança permite atingir patamares de sucesso que são praticamente inatingíveis no atual trabalho. Já Parker (2003) encontrou resultados mistos, o que poderá querer dizer que as pessoas são diferentes e que, mediante as suas capacidades, percebem de forma diferente o risco e a probabilidade de sucesso.

As relações entre o meio e os empreendedores podem determinar o sucesso, contudo, segundo Oberschachtsiek (2008), as características das empresas e a educação, por si só, não são a principal componente de longevidade empresarial, apontando em primeiro lugar a solidez financeira e o volume de capital inicial como fator determinante no sucesso, porque no início é importante aprender e conhecer o negócio, sendo necessários meios para aguentar as rentabilidades negativas iniciais. Para além de um volume de capitais próprios

compatíveis com o negócio, destaca também a experiência em negócios e as capacidades específicas dos empreendedores como fator explicativo do sucesso. Carson (2003) concorda, afirmando que são as habilidades que fazem os bons empresários, não necessariamente a aquisição de educação.

Por outro lado a educação funciona como um filtro, onde os mais bem formados são mais bem informados e mais eficientes nas avaliações, existindo muitas oportunidades nas indústrias baseadas no conhecimento (Keeble, Walker & Robson, 1993). Haapaner & Tervo (2009) concordam, afirmando que a educação é um fator importante no sucesso. Quanto ao género (Haapaner & Tervo, 2009), aceitam que quanto ao sucesso existem diferenças no género, apontando uma maior tendência para o sucesso nos homens. Já Marshall (1999) acha insignificante o efeito sobre a taxa de sucesso que diferencia os homens das mulheres.

Os empreendedores que possuem pais ou familiares diretos que possuem negócios têm uma maior probabilidade de serem bem-sucedidos (Haapaner & Tervo, 2009; Millan, Congregado & Román, 2010). O argumento mais usado para explicar esta afirmação baseia-se no fato de existir uma aprendizagem constante ao longo dos tempos, a que acresce a possibilidade do mercado de trabalho dos pais ou familiares poder ser fator de proximidade, permitindo a transferência intergeracional de capital humano e habilidades empresariais. Já Van Pragg (2003) possui posição contrária, uma vez que nos seus estudos não encontrou nenhuma relação entre proximidade familiar nos negócios e sucesso.

A experiência profissional permite ao indivíduo, ao longo do tempo que trabalha na função enquanto empregado por conta de outrem, ganhar experiência, aprender com os erros, conhecer o mercado, as suas dificuldades e benefícios. Parker (2009) percebe que há uma relação positiva entre a experiência e a sobrevivência da empresa a longo prazo. Contudo, ser empresário com sucesso não depende só da experiência da função ou do conhecimento do meio, pois existem outras variáveis, que não se transmitem e são fundamentais para o sucesso. Possivelmente esta é uma das causas pela qual Tokila (2009) não encontrou nenhuma relação entre a experiência e o sucesso dos empreendedores. Por outro lado, a experiência pode ser diferenciadora quando comparamos a probabilidade de sucesso entre empresários mais velhos e mais novos. Aparentemente, os empresários mais velhos e mais experientes têm maiores possibilidades de sucesso, porque tiveram mais tempo para

construir melhores redes, identificarem melhores oportunidades, serem mais avessos ao risco não controlado. Esta relação positiva entre mais experiência e maior sucesso é defendida por Taylor (2004) e Hapaner & Tervo (2009). Evidências econométricas apontam que a tendência para as pessoas se tornarem empresárias aparece a meio da carreira profissional (30 anos para homens e 35 para mulheres), possivelmente porque é uma altura em que a perceção do negócio e o rácio risco/benefício é mais equilibrado. A possibilidade de sucesso aumenta com a idade porque, em primeiro lugar, o sucesso requer tempo para ser estabelecido e as pessoas melhoram as suas competências empresariais juntamente com a experiência (Taylor, 1999; Haapaner & Tervo, 2009). Também experiências anteriores como empresários têm resultados positivos sobre a probabilidade de voltarem a trabalhar por sua conta (Taylor, 1999). Os indivíduos que tiveram experiências anteriores como empresários têm menor probabilidade de falhar, pois já aprenderam com os erros (Taylor, 1999). Contudo, Van Praag (2003) não observa relação positiva entre experiência empresarial e sucesso.

Degen (1989) afirma que empreendedor de sucesso é aquele que não se cansa de observar negócios na constante procura de novas oportunidades. Efetivamente para se ter sucesso nos negócios é necessário ter visão. Nos dias de hoje a globalização impõe um conjunto tão heterogéneo de mercados e formas de os trabalhar que é praticamente impossível determinar vantagens e desvantagens em determinado negócio ou mercado. A título de exemplo, as empresas de construção que apostaram no mercado nacional, morreram ou mudaram de ramo, pois o mercado está estagnado. Por outro lado, a construção noutras latitudes é um negócio de sucesso, e as empresas nacionais que se deslocalizaram e acompanharam esse filão continuam a faturar, a ter sucesso devido à visão do empreendedor e a ser uma referência devido a ganhos com experiências passadas que potenciam os seus produtos.

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