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PARTE II – CONCEPTUALIZAÇÃO DO PROJETO PSICOTERAPEUTICO ‘DA

2.3. Etapa Diagnóstico

2.4.1. O enfermeiro gestor de caso

A gestão de caso é um método bastante usado nos Estados Unidos da América, mas que tem vindo a ser generalizado para outros países, inclusive Portugal.

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Em Portugal, a metodologia de gestão de casos, na disciplina de Enfermagem, encontra materialização nas Competências do Enfermeiro Especialista em Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiátrica, com a premissa de promover ao indivíduo o acesso aos recursos necessários, bem como as escolhas mais ajustadas à suas necessidades de cuidados de saúde (Ordem dos Enfermeiros, 2018).

Este processo de intervenção, carateriza-se como uma tecnologia para microgestão de intervenções clínicas, integradas, como respostas, nos sistemas de saúde. É caraterizado por uma sequência de pontos, integrados num processo interativo, que permite uma resposta adequada a cada indivíduo. É também caraterizada por ter um custo acessível em comparação com outras formas de intervenção, nomeadamente o recurso a internamentos sucessivos (Casarin, Villa, Gonzales, Freitas, Caliri, Sassaki & Monroe, 2002)

O processo de gestão de caso pode ser também definido como um processo que, por articulação de várias áreas técnicas, permite o diagnóstico, planeamento, coordenação de serviços, encaminhamento, monitorização e avaliação, com objetivo de dar resposta ao conjunto de necessidades dos indivíduos, baseada numa intervenção individual. Considera-se que o fator comunicação surge como o motor mobilizador dos vários recursos disponíveis, permitindo a resposta mais adequada a cada caso (Commission for Case Management Certification, 2004).

É de frisar que o processo de gestão de caso adequa os processos de intervenção de acordo com as necessidades e expetativas de cada pessoa alvo de cuidados.

Este processo pretende também providenciar respostas num limite de tempo estabelecido como adequado, em que o gestor de caso, deve proceder à avaliação contínua do processo de cuidar, coordenando a equipa multidisciplinar, providenciando o encaminhamento mais adequado, quando necessário (Rice, 2004).

O gestor de caso tem como principais objetivos, no âmbito deste procedimento, liderar o processo de cuidar, mobilizando e trabalhando com os prestadores de cuidados e eventuais recursos. Para a prestação de cuidados de forma adequada, tendo em conta os

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recursos financeiros e temporais, surge como preocupação o fazer uso correto desses mesmos recursos.

O gestor de caso é também o elo de comunicação formal entre a pessoa alvo de cuidados e a equipa multidisciplinar, reajustando as necessidades existentes de ambas as partes, agindo de forma a identificar e oferecer as melhores respostas. Por outro lado, cabe ao gestor de caso, promover a literacia do indivíduo, não só a respeito do processo de gestão de caso, mas também sobre os planos de intervenção traçados, promovendo o conhecimento sobre os processos de saúde e doença, nos quais os planos de intervenção incidem (Stanhope & Lancaster, 2011).

É de salientar que também é da responsabilidade do gestor de caso preparar outros profissionais para executarem o processo de gestão de caso, bem como o desenvolvimento e colaboração em estudos de investigação no âmbito deste procedimento (Stanhope & Lancaster, 2011).

Salienta-se que o enfermeiro tem as competências necessárias para o desenvolvimento do processo de gestão de caso, uma vez que o processo formativo da disciplina de Enfermagem oferece conhecimentos adequados. Identifica-se também, que existe um paralelismo complementar entre as várias fases do processo de enfermagem de saúde mental e as fases do processo de gestão de caso (Stanhope & Lancaster, 2011; Rice, 2004).

Recordando, as fases do processo de enfermagem de saúde mental são Apreciação, Diagnóstico, Identificação dos resultados, Planeamento, Implementação e Avaliação (Townsend, 2014)

Por sua vez, as etapas correspondentes ao processo de gestão de caso são as seguintes: - Procura ou admissão de caso (é um processo de rastreio, em que através de redes na comunidade, procura referências ou identifica, por análise, necessidades cujo os programas por que está responsável permitem dar respostas. Normalmente, as situações

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são analisadas em equipa multidisciplinares, com a presença do utente e/ou família (Stanhope & Lancaster, 2011)).

- Identificação de problemas (com base na identificação feita através do rastreio e admissão do caso, identifica os problemas e necessidades, com apoio da equipa multidisciplinar (Stanhope & Lancaster, 2011)).

- Priorização de problemas (desenvolve planos de cuidados e as conexões necessárias, de forma a dar respostas ao utente, sendo que também este é convocado no processo de decisão (Stanhope & Lancaster, 2011)).

- Defesa dos interesses do utente (coordena, negoceia e avalia o decorrer do processo de cuidados e que ganhos o utente está a demonstrar (Stanhope & Lancaster, 2011)).

- Reavaliação (comparação entre os objetivos traçados e os resultados obtidos; é tida em conta a satisfação do utente e dos prestadores de cuidados envolvidos no processo (Stanhope & Lancaster, 2011)).

Na tabela 1, são identificadas as relações entre o Processo de Enfermagem de Saúde Mental (Townsend, 2014) e o Processo de Gestão de Caso (Stanhope & Lancaster, 2011):

Tabela 1

Relação entre o Processo de Enfermagem e o Processo de Gestão de Caso. Processo de Enfermagem de

Saúde Mental

Processo de Gestão de Caso Etapas

Apreciação Procura ou admissão de caso Diagnóstico Identificação de problemas Identificação de Resultados e

Planeamento Priorização de problemas Implementação Defesa dos interesses do utente Avaliação Reavaliação

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É de salientar que a eficiência verificada no âmbito do processo de gestão de caso, permite o comprometimento com casos cada vez mais complexos. Este processo mantém como objetivos principais a redução de (re)internamentos e institucionalizações, promovendo cuidados de qualidade no contexto de domicílio, fomentando assim a inclusão social. Por outro lado, é também possível a escolha de respostas mais adequadas, rentabilizando os recursos disponíveis. Desta forma, é possível reduzir os custos associados aos tratamentos e intervenções, tanto no momento do decorrer do processo, como num acompanhamento que se traduzirá numa manutenção mais efetiva do estado de saúde e estabilidade (Stanhope & Lancaster, 2011).

Rice (2004), identifica o processo de gestão de caso, a nível dos cuidados domiciliários, como uma mais valia no acompanhamento aos indivíduos, principalmente no pós-alta, salientando a importância do papel da equipa multidisciplinar.

As reuniões multidisciplinares, coordenadas pelo gestor de caso, permitem a discussão dos casos em acompanhamento, analisando a progressão, bem como a descrição ou ajuste dos objetivos traçados. Desta forma, o plano de cuidados a executar deve ser traçado com todos os profissionais que compõem a equipa multidisciplinar, envolvendo a pessoa alvo de cuidados, bem como a sua família ou eventual cuidador, se necessário (Rice, 2004).

Salienta-se a importância da identificação ou criação de instrumentos que possam avaliar o sucesso das intervenções do gestor de caso. Por outro lado, a criação de indicadores específicos, neste caso, no âmbito da Enfermagem, que permitam uma relação entre a evolução dos processos de saúde do indivíduo e as práticas de Enfermagem para esta definidas, é uma mais valia para a sustentação e solidificação da importância da disciplina de Enfermagem nos processos de cura, reabilitação e promoção da saúde no indivíduo, família e comunidade.

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2.4.2. Teoria explicativa da relação enfermeiro-doente - modelo de relação de