• Nenhum resultado encontrado

Capítulo IV – As Reformas Curriculares no Ensino Básico

1. O Ensino Básico

O ensino básico é, por definição, a base da educação escolar acessível a todos e por todos conseguida; a escolaridade considerada essencial para a formação de cidadãos preparados para a vida activa no país e no mundo, e que “é entendida como a base de toda a escolaridade, como o suporte sobre o qual as restantes escolaridades assentam e a partir das quais se desenvolvem” (Pires, 2000: 133),

Podemos, deste modo, considerar a escolaridade básica como um facto político/social que é explicado por Pires (2000) tendo por base três teorias: o

naturalismo, o funcionalismo e o moralismo, acrescidas de uma outra, designada

pelo autor por teleologia oculta.

O naturalismo traduz-se na acepção da escolaridade básica como característica natural e inata a todas as sociedades. É um fenómeno generalizado em todo o mundo, tanto no mundo desenvolvido como no subdesenvolvido.

No funcionalismo considera-se a educação como um investimento, como fonte de riqueza e desenvolvimento das pessoas e das sociedades. Esta relação entre economia e desenvolvimento exige mão-de-obra qualificada que satisfaça as necessidades de desenvolvimento das organizações, justificando-se, assim, a existência dum ensino básico para todos, construindo-se sobre ele as qualificações posteriores.

O moralismo resulta do movimento de democratização da educação, sendo esta vista como um dever e um direito de todos. Esta teoria vem a traduzir-se numa expansão massiva da educação, decorrente do critério de igualdade de oportunidades.

Em relação à teleologia oculta, esta é o reverso da medalha, ou seja, enquanto as teorias anteriores se baseiam no desenvolvimento e na democratização, esta fundamenta-se no fenómeno da educação de massas, nas suas motivações e no cumprimento efectivo da finalidades da escolaridade básica.

Em Portugal, o ensino básico funde-se com a escolaridade obrigatória e foi sendo sucessivamente alargada a partir da década de 60.

1.1. Ensino básico versus escolaridade obrigatória

Ensino básico e escolaridade obrigatória não são conceitos sinónimos, embora, no nosso país, tenham normalmente a mesma conotação.

O ensino básico, da responsabilidade do estado, é um conceito contemporâneo que tem a sua origem em dois factores sociais, aparentemente divergentes:

 A Revolução Francesa, no final do século XVIII, proclamando os direitos de liberdade, igualdade e fraternidade. Este movimento conduziu à organização “de um ensino fundamental, primário, que apetrechasse todas as crianças com a cultura e conhecimentos essenciais a permitirem-lhe um exercício consciente da nova cidadania” (Pires, 2000: 101)

 A Revolução Industrial, que obrigou a “adquirir e a usar novos saberes de matriz científica e técnica”. Para este novo mundo do trabalho, tornava-se necessário a existência de operários alfabetizados, no que era considerado essencial, de modo a mais facilmente se adaptarem à nova sociedade de produção. “Aqui também o ensino primário foi implantado como instituição socializadora de interesse determinante e de eficácia esperada” (Pires, 2000: 102)

A convergência destes dois factores resulta no ensino fundamental para todos, por isso, tendencialmente universal e que, entre nós, se passa a denominar por ensino básico, a partir dos anos 60.

A ideia de um ensino universal, como refere Pires (2000), só é equacionada em Portugal a partir da «Carta Constitucional» de 1826, que estabelece, no artigo 145º, que a «instrução primária é gratuita».

Para que o ensino básico tenha, de facto, um carácter universal o estado toma várias medidas, a primeira das quais é tornar gratuita a sua frequência. Porém, esta medida cedo se revela não ser suficiente para garantir sua universalidade. O estado decreta, então, a obrigatoriedade escolar como um meio

Por conseguinte, o carácter obrigatório do ensino básico é uma medida legal, de natureza compulsória, criada para atingir o fim pretendido: a sua universalidade e a garantia do respectivo sucesso escolar e educativo.

1.2. Evolução da escolaridade básica/obrigatória, dos anos sessenta aos nossos dias

No princípio, porque, como diz Pires (2000: 105) “a escolaridade obrigatória também teve um princípio, as aprendizagens requeridas limitavam-se ao saber ler, escrever e operar as quatro operações fundamentais e os rudimentos necessários da doutrina e moral cristãs”. Mais tarde, acrescentaram- se algumas noções das ciências aplicadas e sociais.

É, essencialmente, a partir dos anos 60 que se vai sentindo a necessidade de alargar a escolaridade básica e, com ela, a escolaridade obrigatória:

 Em 1960, o Decreto-lei 42994 de 28 de Maio, citado por Cortesão (1982), decreta o alargamento do ensino primário obrigatório de 3 para 4 anos, para crianças do sexo feminino dos 7 aos 12 anos. (para os rapazes esta obrigatoriedade já existia desde 1956);

 Em 1964, o Decreto-lei 45810 de 9 de Junho, citado por Abreu e Roldão (1989), decreta o alargamento da escolaridade básica de 4 para 6 anos – 4 de ensino primário e 2 de ensino primário complementar;

 Em 1967, o Decreto-lei 47480, de Janeiro, citado por Cortesão (1982), cria o ciclo preparatório do ensino secundário (e em 1968 é criado o ciclo preparatório TV);

 Em 1973, a Lei 5/73 de 25 de Julho, pretende alargar a escolaridade obrigatória para 8 anos – 4 de ensino primário e 4 de ensino preparatório. Esta lei, no entanto, nunca chegou a ser regulamentada, pelo que, este alargamento nunca foi concretizado;

 Em 1986, a Lei 46/86 de 14 de Outubro – Lei de Bases do Sistema Educativo – alarga o ensino básico obrigatório para 9 anos,

distribuindo-o por 3 ciclos sequenciais: 1º ciclo, correspondente ao ensino primário, de 4 anos; 2º ciclo de 2 anos; 3º ciclo de 3 anos;  Hoje, as negociações prendem-se com o alargamento da

escolaridade obrigatória para 12 anos, juntando-se, aos 9 anos do ensino básico, os 3 anos do actual ensino secundário.

Este alargamento da escolaridade básica/obrigatória traduziu-se em inúmeras reformas educativas e de reestruturação curricular.

2. Breve histórico das reformas educativas dos anos 60 aos