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2 APORTE TEÓRICO

2.3 O ensino de língua portuguesa através de gêneros textuais

Todos nós, professores pesquisadores, ao adotarmos o gênero histórica e socialmente, e/ou culturalmente, na sala de aula, devemos estar conscientes, que esse procedimento, focado nas condições de sua aquisição e funcionamento pode interferir na natureza do gênero produzido. Esse processo deve ser visto como ações significativas, recorrentes, concretas, ―relativamente estáveis‖ do ponto de vista estilístico e composicional. Como preconiza Bakhtin (2011), tanto serve como instrumento comunicativo com finalidades específicas, como forma de ação social.

Desse modo, na produção dos alunos, os gêneros narrativos foram selecionados, planejados e projetados de acordo com a capacidade de uso da linguagem dos nossos alunos. A partir desse embasamento, os autores que foram referência utilizam uma linguagem simples, sem rebuscamentos, o que possibilitou uma escrita formal, mas com características bem peculiares de cada aluno.

Paviani (2011) confirma que:

Tem-se, então, a partir da teoria do interacionismo sóciodiscursivo uma proposta de ensino que espera do professor que saiba fazer previsões, antecipações, isto é, que enxergue o contexto do aluno e, dessa forma, permita-lhe criar a partir das situações enunciativas, nas sequências didáticas, novos cenários para a aprendizagem, além de possibilitar, por meio de produções de linguagem entendidas como atividades humanas, formas de agir por meio de ações de linguagem. (PAVIANI 2011, p.65) Neste sentido, a utilização dos gêneros textuais em nossa pesquisa torna-se relevante devido as possibilidades de aprendizagem mediadas pelas sequências didáticas, como também pelas ações de linguagem empregadas pelos alunos em suas diversas produções.

Trabalhar com os gêneros requer diferenciá-los dos tipos textuais. Enquanto os gêneros textuais são numerosos ou incontáveis, os tipos podem ser classificados em: narrativos, argumentativos, expositivos, descritivos e injuntivos. Essa classificação se dá a partir da estrutura linguística com que os textos são compostos, no entanto, os tipos também são de grande magnitude, haja vista os gêneros serem constituídos de alguma tipologia textual. Marcuschi (2005) exemplifica esse conceito utilizando a carta pessoal que possui todos os tipos textuais. Ela descreve, narra, faz exposições, faz injunções, e assim por diante.

Para Bronckart (2006, p. 143) os gêneros textuais ―[...] são produtos de configurações de escolhas entre esses possíveis, que se encontram por um determinado período ‗cristalizados‘ ou estabilizados pelo uso‖. Nascem a partir de uma necessidade da

sociedade, do coletivo. São acumulados historicamente, porém seu surgimento se dá em algum outro gênero textual que já existe e, assim, se adaptam conforme as necessidades.

Vale salientar que o número de gêneros textuais é tão amplo tornando impraticável a sua classificação ou contagem. Por vezes, um mesmo texto, com a mesma estrutura, dependendo do suporte em que se apresenta, pode ser classificado ao mesmo tempo em dois gêneros distintos. A variável depende de sua função social. Para Marcuschi (2006), são incontornáveis, pois tudo o que é escrito é feito a partir de um gênero.

Dolz e Schneuwly (2004, p. 52) metaforizam um texto do próprio Schneuwly (1994) no qual reafirmam a ideia de ―[...] gênero como (mega-) instrumento para agir em situações de linguagem‖. Para o aluno, a interação de forma satisfatória em diversas situações de comunicação é importante, porque durante toda a sua vida os gêneros serão uma constante no cotidiano.

A consistência desse ensinamento jaz na análise da interação verbal concretizada: pelo aluno, ao interagir com o mundo, apreendendo e produzindo conhecimento sobre ele; pela aptidão de representar coerentemente o que o rodeia, derivada das ―práticas linguageiras‖ respectivamente de ação e de discurso, dotado de intencionalidade.

Para Cristóvão & Nascimento (2005), quando analisamos os gêneros, primeiro, devemos analisar as ações da linguagem, melhor dizendo, sua relação com o mundo circundante e com a intertextualidade, para só depois analisar a arquitetura interna dos textos e a função dos elementos da língua.

A produção de um texto no espaço escolar, na abordagem sócio interacionista, não pode ser somente um trabalho de assimilação do código linguístico e das normas que gerem a ortografia e a gramática da língua oficial. Essa ação de linguagemdeve ser assumida pelo aluno, de forma intencional, utilizando os diversos gêneros que fazem parte da cultura letrada para atingir os objetivos propostos (mesmo que simulados didaticamente). Então, mesmo Bakhtin (1992) afirmando que nossos enunciados estão carregados de palavras dos outros, em graus variáveis, tanto no que diz respeito à sua assimilação, como ao seu emprego, seja este consciente ou não, nosso aluno pode desenvolver capacidades de linguagem e assumir seu papel de agente nas práticas sociais.

Dessa maneira, a ação da linguagem confirma-se como um evento linguístico, ocasionado por um pretexto e uma intenção atribuída àquele que assume uma responsabilidade, por ser dotado de competências linguísticas.

Na acepção de Marcuschi (2006, p. 22-23) são os ―[...] textos materializados que encontramos em nossa vida diária e que apresentam características sócio-comunicativas

definidas por conteúdos, propriedades funcionais, estilos e composição característica‖ e mostram de que maneira a língua se apresenta nas interações, determinando-a ou sendo determinada por ela. Para o estudioso, não há interação humana sem os gêneros textuais. Eles são a materialização da interação entre os sujeitos que, por intermédio do uso da língua, elaboram formas mais ou menos estáveis de discursos.

Isto posto, confirmamos que os gêneros textuais estão em toda atividade comunicativa e mediam todo intuito comunicativo, melhor dizendo, todos nós interatuamos através dos diversos gêneros textuais que circulam pelos domínios discursivos.

Com base nos pressupostos teóricos e proposta dos PCN, a opção de fundamentar o ensino de Língua Portuguesa nos diversos gêneros textuais tem determinado uma atividade de pesquisa pertinente que tem contribuído com a produção de conhecimentos relevantes para a escola.

Nesses termos de ensino de língua materna, muito se tem frisado da necessidade de colocar o aluno em contato com práticas sociais efetivas. Nas últimas décadas, as críticas se multiplicaram quanto ao trabalho com exercícios repetitivos (como é o caso das análises sintáticas) nos quais o sujeito da linguagem é extinto. A publicação dos PCN (BRASIL, 1998) veio consolidar a orientação do ensino com gêneros, pois esse documento traz o gênero textual (ou discursivo) como noção central.

Assim sendo, essa prática discursiva deve ser sistematizada, porque é, sobretudo, no ambiente escolar que o aluno desenvolve capacidades de linguagem (SCHNEUWLY; DOLZ, 2004). Neste sentido, o papel da escola é fundamental, uma vez que é ela a principal agência de letramento (KLEIMAN, 2006).

Para o ensino de gêneros textuais, Dolz e Schneuwly (2004, p. 51) defendem a utilização de sequências didáticas, ―[...] comunicar-se oralmente ou por escrito pode e deve ser ensinado sistematicamente‖. Eles designam de sequência didática uma ―[...] sequência de módulos de ensino, organizados conjuntamente para melhorar uma determinada prática de linguagem‖. Desse modo, a sequência didática contribui para o aluno dominar melhor determinado gênero textual, tanto para identificá-lo e compreendê-lo, como também para produzi-lo quando necessário.

Assim, os gêneros textuais, enquanto diferentes formas de linguagem que circulam socialmente devem ser efetivadas neste espaço: ―Quando dominamos um gênero textual, não dominamos uma forma linguística e sim uma forma de realizar linguisticamente objetivos específicos em situações sociais particulares‖ (MARCUSCHI, 2005, p. 29).

Na perspectiva de Dolz e Schneuwly (2004, p. 97), quando interagimos discursivamente, adaptamo-nos à situação de comunicação: ―Os textos escritos ou orais que produzimos diferenciam-se uns dos outros e isso porque são produzidos em condições diferentes‖. Assim sendo, se os gêneros textuais são determinados pela interatuação, ao mesmo tempo em que a linguagem humana se consolida na interação, então o estudo dos gêneros textuais parece basilar ao ensino de língua materna na escola.

A utilização em sala de aula de tipos de textos diferentes, além de contribuir para o aumento do conhecimento intertextual do aluno, pode mostrar claramente que os textos são usados para propósitos diferentes na sociedade. [...] ao agirem no discurso por meio da linguagem, as pessoas fazem escolhas de organização textuais na dependência de seus propósitos comunicativos no mundo. (PCN, 1998 p. 45).

Sendo a linguagem decisiva como mediadora para a construção social da pessoa e de sua capacidade de agir nas práticas sociais, também regula nosso agir e intervir no mundo. Assim, entendemos que o papel do ensino de língua materna, na escola pública, possibilita ao aluno a ampliação da visão de mundo e o desempenho dos discursos que circulam socialmente, além de beneficiar a compreensão das relações entre as diferentes práticas sociais.

Além disso, o ensino-aprendizagem realizado em dois eixos: o das práticas de uso e o das práticas de reflexão quanto à língua e à linguagem, proposto pelos pesquisadores, encontra ressonância nos PCN que propõem ao professor e alunos as práticas de ensino- aprendizagem mediante projetos e módulos didáticos, que orientam o docente a valorizar as atividades significativas.

Logo, para o desenvolvimento do trabalho com o gênero textual, os procedimentos aconselháveis são bom emprego de sequências didáticas, que propiciam um desenvolvimento efetivo com a língua.

A seguinte seção compreende o desenvolvimento da prática escrita e leitora dos gêneros textuais diversificados.

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