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2 APORTE TEÓRICO

2.5 Sequência didática

As reflexões em volta das sequências didáticas no campo educacional apontam para a realização de práticas pedagógicas proveitosas que vão ao encontro das necessidades das

novas gerações de estudantes. É inquestionável a relevância da linguagem nas interações diárias, quaisquer que sejam suas finalidades e, nessa perspectiva, cabe destacar a contribuição desse instrumento de ensino nos processos comunicativos e de aprendizagem que ocorrem no domínio escolar.

A sequência didática é uma ferramenta por meio da qual o docente desenvolve atividades variadas e sequenciadas através de oficinas e em momentos distintos. Na execução dos módulos, o professor observa a dificuldade apresentada pelos alunos em um determinado conteúdo e pode ter a oportunidade de revisá-lo enquanto efetiva seu trabalho com base nos gêneros textuais.

Objetiva-se que, com a elaboração da SD, antigos paradigmas sejam quebrados, entre eles o de que o professor somente "repassa" um conhecimento específico aos seus alunos, ignorando outros tipos de instrução.

Todavia, através da utilização da SD, o docente conseguirá perceber que é possível ensinar qualquer conteúdo e tema, pois, antes de lecioná-lo, poderá estudá-lo profundamente e, posteriormente, se preparar melhor.

Segundo Kobashigawa et al. (2008, p. 212), sequência didática é "o conjunto de atividades, estratégias e intervenções planejadas etapa por etapa pelo docente para que o entendimento do conteúdo ou tema proposto seja alcançado pelos discentes".

De certa forma, a sequência didática é um plano de aula mais abrangente porque consegue abordar várias estratégias de ensino e aprendizagem e por ser um seguimento de vários dias. Destacamos também, apresentar algumas etapas que lembram o plano de aula. Porém, o professor, na SD, poderá discutir um tema e um gênero específico durante um período determinado (dias ou semanas), com o objetivo de aprofundá-lo e possibilitando que o discente consiga tirar todas as suas dúvidas sobre os mesmos.

A sequência didática pode ser flexível e é formada por: tema, objetivo, justificativa, conteúdo, ano de escolaridade, tempo estimado para aula, número de aulas e materiais necessários, desenvolvimento e avaliação.

Para que o docente consiga obter êxito ao elaborar uma sequenciação, um bom planejamento é necessário e também, uma definição clara dos objetivos a serem alcançados. Para desenvolvê-la eficazmente é imprescindível que haja antes uma discussão coletiva, uma motivação, obtenção de referenciais bibliográficos e escolhas de estratégias dinâmicas que garantam a aprendizagem.

Contudo, vale ressaltar que esse recurso é apenas uma sugestão de ação pedagógica, portanto, é imprescindível que o professor, em todo momento, intervenha para que haja uma melhoria no processo de ensino/aprendizagem.

Cabe destacar também, que a SD não tem apenas um único conceito e que dependendo da área de atuação ou campo de estudo, pode assumir a sua característica da flexibilidade. No trabalho com os gêneros textuais, diversos são os autores que evidenciam a importância da sequência didática no trabalho com gêneros orais e escritos e também na escrita enquanto processo.

Dolz e Schneuwly (2004, p. 52) ao evidenciarem a importância da SD no ensino dos gêneros textuais propõem que se deve englobar "aspectos relevantes na construção da escrita como processo", e ainda estabelecem que o professor não pode desenvolver um trabalho enfadonho ao redor do texto e sim um conjunto de atividades que tenham como objetivo evidenciar o texto como uma unidade de ensino e os gêneros textuais como objeto de ensino, daí o papel do planejamento e da utilização das atividades sequenciadas como ferramenta que auxilie o docente na construção do conhecimento.

Outro conceito de sequência didática que podemos utilizar é o de Dolz e Schneuwly (2004, p. 97), que dizem:

Uma sequência didática é um conjunto de atividades escolares organizadas, de maneira sistemática, em torno de um gênero oral ou escrito. (...) Quando nos comunicamos, adaptamo-nos à situação de comunicação. (...) Os textos escritos ou orais que produzimos diferenciam-se uns dos outros e isso porque são produzidos em condições diferentes. (DOLZ e SCHNEUWLY, 2004, p. 97)

Dessa forma, podemos observar a produção de textos como um reflexo da formação dos discentes, e que essa tarefa é de grande importância e responsabilidade, o que exige do professor motivação e persistência. Para que o docente consiga lograr êxito nessa tarefa, precisa estar instrumentalizado acerca dos elementos que são necessários para a formação do seu alunado, fazendo-o consciente da aplicação dos recursos que delimitam o processo, já que não podemos escrever da mesma forma que falamos. Assim, devemos adotar uma sequência norteadora da nossa prática docente, ou seja, adotar uma sequência didática.

A sequência didática tem como função principal ajudar na facilitação do entendimento dos gêneros textuais, visto que os professores não conseguem abrangê-los em sua totalidade. Dessa maneira, os docentes são levados a abordar de maneira reduzida os chamados tipos textuais: dissertação, narração, descrição, etc. Por isso, há uma enorme dificuldade em ensinar para os alunos o conceito e a utilização dos gêneros textuais.

Assim sendo, a sua utilização é importante, pois, ajuda o docente a organizar, de maneira coerente e adequada, a utilização da língua em sua abrangência.

Evidenciemos agora o esquema da sequência didática apresentado por Dolz; Noverraz e Schneuwly (2004, p.98):

ESQUEMA DA SEQUÊNCIA DIDÁTICA

Na apresentação da situação, o professor deve explicar ao aluno todas as informações referentes à atividade solicitada. Deve-se atentar ao destinatário, de modo que não reduza a produção textual como dirigida somente ao professor. Assim, o docente precisa simular uma situação real de uso em que este gênero circulará e fazer com que os alunos se posicionem como agentes produtores em um contexto concreto.

Portanto, no momento da apresentação inicial, o professor tem que ser claro quanto ao destinatário do texto, a organização geral do gênero a ser trabalhado, o suporte onde irá circular a produção, o conteúdo e finalidade objetivados.

Após essa explicação, na qual o aluno ficará ciente de onde está inserido e para quê, o professor deve pedir uma produção inicial, que não trará em si o trabalho finalizado e nem servirá como forma de avaliar o aluno. Trata-se, de um importante material que o professor terá acesso para entender o que não ficou claro na apresentação inicial e para saber as dificuldades apresentadas na produção do aluno.

No tocante à relevância dessa primeira produção, Dolz e Schneuwly (2004, p. 87), nos dizem que

A produção inicial tem um papel central como reguladora da sequência didática, tanto para os alunos quanto para o professor. Para os alunos, a realização de um texto oral ou escrito concretiza os elementos dados na apresentação da situação e esclarece, portanto, quanto ao gênero abordado na sequência didática. Ao mesmo tempo, isso lhes permite descobrir o que já sabem fazer e conscientizar-se dos problemas que eles mesmos, ou outros alunos, encontram.

Para esses autores, após a primeira produção, o professor ao ter acesso a este material do aluno, organizará os módulos da sequência didática, que são as atividades sistematizadas, às necessidades evidenciadas na produção. Durante cada módulo, o professor poderá utilizar exercícios específicos, direcionados aos problemas detectados.

No que tange a essa diversidade de atividades, Dolz e Schneuwly (2004, p. 89) reiteram que

Além da alternância, bem conhecida, de um trabalho com toda a turma, em grupos ou individual, o princípio essencial de elaboração de um módulo que trate de um problema de produção textual é o de variar os modos de trabalho. Para fazê-lo, existe um arsenal bastante diversificado de atividades e de exercícios que relacionam intimamente leitura e escrita, oral e escrita, e que enriquecem consideravelmente o trabalho em sala de aula.

Vale salientar que as atividades são decompostas ao longo dos módulos de forma a abordarem separadamente os conteúdos mobilizados, objetivando melhorar uma determinada capacidade, indispensável para o domínio da atividade sugerida e para que no final do processo os alunos tenham atingido os objetivos propostos.

E na última etapa o professor deve solicitar a produção final, que tem a vantagem de levar os alunos a colocarem em prática, de maneira global, os conhecimentos e procedimentos aprendidos, em função dos objetivos indicados inicialmente. Após produção e revisão devemos mostrar o texto pronto para circulação. Para comprovar a eficácia dessa sequência e da atividade final, Dolz e Schneuwly (2004, p. 90) dizem ainda que

A sequência é finalizada com uma produção final que dá ao aluno a possibilidade de pôr em prática as noções e instrumentos elaborados separadamente nos módulos. Essa produção permite, também, ao professor realizar uma avaliação somativa.

Desse modo, devemos enfatizar que esse processo é regido por um elemento intencional muito bem demarcado: o ensino dos gêneros textuais. Quando o aluno é instigado a utilizá-los, devemos ter em mente que ele já tem interiorizados os aspectos gerais de sua produção.

A partir disso, podemos inferir que a sequência didática é um processo de essencial importância para o ensino/aprendizagem da Língua Portuguesa, pois, permite que haja uma interação entre três elementos: o professor – o aluno – o texto.

Esta interação torna possível uma mudança de práxis docente, porque permite ao docente rever as estratégias de ensino dos gêneros textuais e perceber as dificuldades dos discentes nas diversas etapas do ensino/aprendizagem do texto como processo. E também um novo olhar do aluno sobre seu papel no mundo, porque ele passa a compreender a função social dos gêneros textuais.

Assim, podemos evidenciar que a utilização da sequência didática é muito importante para ajudar-nos a planejar as aulas e revisar os conteúdos em que sentimos dificuldades e como forma de verificar os avanços e problemas que os alunos têm durante todas as etapas das aulas. Além disso, a sequência didática ainda abrange a linguagem como atividade interativa e comunicativa e também evidencia o letramento, compreendido como as práticas sociais de utilização da escrita ou da fala.

O próximo capítulo aborda a metodologia usada na pesquisa, o cenário, a seleção e análise dos dados que compõem o corpus e também descrevemos como as sequências didáticas foram desenvolvidas durante todo o período do estudo.

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