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Retrocedamos aos primórdios da história de nosso país: a colonização. A existência hoje, de uma variedade de práticas educativas, pode ser explicada pela diversidade étnico-racial presente no Brasil desde sua colonização, bem como a existência de uma diversidade dos agentes que promoviam a educação, como por exemplo, a atuação das ordens religiosas como franciscanos e jesuítas, a atuação do bispado na criação de conventos e seminários, a atuação da coroa portuguesa na criação de escolas de artilharia, marinha, a atuação das confrarias e irmandades no que se refere às associações da sociedade civil.

Quando pensamos no período colonial brasileiro, principalmente no que concerne à educação, os jesuítas parecem estar em lugar de destaque tanto na catequização e aldeamento de índios, como na construção de colégios para a formação dos filhos dos colonizadores, da elite brasileira (esses colégios ofereciam alfabetização, aprendizagem de ofícios e uma cultura humanística). A instalação dos primeiros jesuítas nos povoados espalhados pelo país significou a introdução de uma cultura letrada (sinal de distinção) em um ambiente em que predominava a oralidade.

Logo após a chegada dos jesuítas, em 1549, era fundada em Salvador a primeira escola de ler e escrever do Brasil. No final desse mesmo ano era fundado em São Vicente um seminário escola, o primeiro curso secundário realizado em nosso território. Instalados nas principais vilas da colônia, os colégios foram viabilizados porque em troca da tarefa de educar os meninos brancos, a Coroa portuguesa ofereceria, para o sustento da ação missionária nessas instituições, o recurso da redízima, uma taxa que era arrecadada sobre 10% das dízimas que recolhia. Nesse

sentido, os colégios deveriam receber alunos a título de atividade missionária, estando aberto a todos, porém, Hilsdorf (2003) nos alerta que, na prática, os jesuítas ficavam apenas com os alunos brancos, recusando os demais, como mestiços, mamelucos e índios, com a justificativa de que seu propósito era formar os padres da Companhia.

Segundo Piletti (1988) quando os jesuítas foram expulsos, além de escolas de ler e escrever, que funcionavam em quase todas as aldeias e povoações, eram mantidos dezessete estabelecimentos de ensino secundário nos pontos mais importantes do país.

As primeiras iniciativas de institucionalização da escola pública no Brasil ocorrem no contexto colonial, no final do século XVIII, sob autoridade da Monarquia Portuguesa e em sintonia com o iluminismo. A atuação do Marques de Pombal por meio de um conjunto de medidas em diversos âmbitos, dentre eles a educação, com vistas à modernização portuguesa, viria a culminar no conflito entre jesuítas e a Coroa portuguesa, que resultaria na expulsão dos jesuítas em 1759, dando início a uma secularização da cultura portuguesa.

Tal acontecimento promove uma reorganização da Educação no Império e o Estado passou a assumir a educação (é certo que em alguns aspectos). Por meio da Reforma Pombalina, foram criadas mais de vinte medidas tratando da educação tanto para Portugal como para todos os seus domínios. Dentre elas, destacamos a instituição das Aulas Régias que implicaram na descontinuidade e na dispersão do ensino secundário. As aulas régias (ou aulas avulsas) de latim, grego, retórica e filosofia, segundo Souza (2008), funcionaram no Brasil em número reduzido e espalhadas por várias cidades do país até meados do século XIX. Eram cursos isolados e dispersos, sem nenhuma normatização escolar, com vistas a preparar os alunos para o ingresso nos cursos superiores. Cada uma delas constituía uma unidade de ensino, com um único professor, instalada para determinada disciplina, sendo, portanto, autônoma e isolada, sem articulações ou pertencimento a qualquer escola.

O Estado assumia, naquele momento a responsabilidade pelo pagamento do serviço do professor que passava a ser um funcionário público, uma vez que só poderia dar aula o professor nomeado por um concurso público. Queremos aqui destacar que as primeiras regulamentações quanto a instrução pública brasileira começaram pelo professor e não pelo espaço ou instituição, o que evidência a importância deste como aquele que ensina, como mestre.

A dispersão em que se encontrava o ensino secundário em nada foi alterada com a vinda da família real à colônia brasileira em 1808. Dom João limitou-se a criar cursos especiais (a

maioria de nível superior) a fim de atender as novas necessidades criadas no serviço público pela transferência da corte portuguesa, bem como forjar uma cultura mais desenvolvida.

A Independência do Brasil em 1822 inaugurava o Estado Nacional Brasileiro. A promoção da educação pública passou a ser fundamental para a criação/manutenção do Estado, fundamental para a criação do Brasil como Nação independente, com cultura própria, enfim, forjar o brasileiro. Na política imperial a instrução primária visava cumprir um papel civilizador e a instrução secundária tinha em vista a formação da elite ilustre e ilustrada brasileira.

A Constituição de 1824 limitou-se a dizer que a instrução primária deveria ser gratuita a todos os cidadãos. Já o Ato Adicional de 1834 estabeleceu uma divisão de responsabilidades quanto à manutenção e oferecimento de uma educação pública. Ao poder central caberia a responsabilidade de criar e legislar sobre qualquer tipo de estabelecimento de ensino, de qualquer nível e qualquer província; às províncias, caberiam a responsabilidade de criar e legislar sobre qualquer tipo de estabelecimento de ensino, de qualquer nível dentro do seu território.

Na execução prática das medidas propostas pode-se destacar uma dualidade de competências uma vez que, a atuação do poder central limitou-se em geral ao ensino superior e ao ensino primário e secundário do município da Corte e, a atuação das províncias limitaram-se a promover muito precariamente, o ensino primário e secundário.

Decorrente à política excludente do Estado, as províncias começaram a criar os liceus provinciais (ajuntamento, em um mesmo estabelecimento, das aulas que funcionavam dispersas com a intenção de oferecer aos alunos as disciplinas exigidas nos exames preparatórios para o ingresso no ensino superior) destinados aos filhos das classes privilegiadas como uma via de acesso às profissões liberais.

Em 1837 o estabelecimento de ensino secundário mantido pelo poder central – Colégio Pedro II – dava direito a ingresso em qualquer curso superior sem necessidade de novos exames. O Colégio Pedro II, organizado de forma seriada, servia como referência para os demais estabelecimentos secundários do país e se configurava numa primeira tentativa do poder central de organizar esse nível de ensino.

Sem equiparação dos seus estabelecimentos ao Colégio Pedro II, as províncias abandonaram seus liceus e ginásios, desobrigando-se do ensino secundário, e por conseqüência, esse nível de ensino acabou sendo oferecido pelos particulares na forma de cursos avulsos das disciplinas preparatórias aos exames de ingresso.

Piletti (1988) demonstra que, com o Ato Adicional de 1834 criaram-se dois sistemas paralelos de ensino secundário: um Sistema Regular oferecido pelo Colégio Pedro II e, eventualmente pelos liceus provinciais e por poucos estabelecimentos particulares; e, um Sistema Irregular constituído pelos cursos preparatórios e exames parcelados de ingresso ao ensino superior e mantidos pelos estabelecimentos provinciais e particulares.

Os cursos preparatórios e exames parcelados se apresentavam como um caminho mais fácil para o acesso ao ensino superior, desse modo, nesse período pode-se perceber uma predominância desses cursos sobre o ensino regular, haja vista que para o ingresso no nível superior não era exigido o título de bacharel (conclusão do ensino secundário regular) bastava apenas comprovar certa idade e ser aprovado nos exames parcelados. Para aqueles que terminassem o ensino secundário regular não lhes era facultado o direito de ingressar em cursos superiores sem prestarem novos exames (exceto para os formandos do Colégio Pedro II).

Hilsdorf (2003) nos revela que o peso dos cursos parcelados teve tanto impacto que, o próprio Colégio Pedro II acabou por realizar exames finais por disciplina e não por série, e aceitar matrículas avulsas, freqüência livre e exames vagos no lugar dos cursos seriados e regulares. O padrão ideal do ensino secundário no Império era o Pedro II, mas o padrão real foi fornecido pelos cursos preparatórios.

No final do Império o ensino secundário no Brasil encontrava-se em situação de extrema precariedade e desorganização: o sistema de exames parcelados e preparatórios requeridos para o ingresso nos cursos superiores acabaram por restringir os cursos secundários às disciplinas preparatórias exigidas nos exames dos cursos superiores. Para Piletti:

A superação desta dicotomia seria a única forma de atribuir ao ensino secundário um caráter orgânico e formativo, libertando-o de sua marca exclusiva de curso de passagem para o superior, estigma que o impedia de tornar-se em curso com características próprias, inerentes à responsabilidade fundamental de formação do adolescente. (PILETTI, 1988, p.14).