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3.1 EEBA: presença de uma aura de respeito

3.1.1 Que significados teria essa escola?

O que teria significado estudar na Escola Estadual de 2º Grau “Bento de Abreu”?

Ah, era motivo de satisfação, de conquista pra vida escolar. O EEBA era uma escola ícone, representativa na cidade. (Entrevista - Colaborador 8)32.

Bom, primeiro porque era o melhor colégio que tinha aqui em Araraquara, então era questão de orgulho, a gente falava “estudo no EEBA” se sentia assim, o máximo, eu adorava falar, eu sentia orgulho de falar que eu estudava no EEBA mesmo, era uma excelente escola, excelente escola. (Entrevista - Colaborador 9)

Na época significava sim. Naquela época o EEBA era considerado umas das melhores escolas de Araraquara, do Colegial. Nós tínhamos aqui o Progresso, mas em matéria de nível de ensino o EEBA era melhor, então significava e, a gente via isso nas escolas em relação ao EEBA. Eu me lembro, na época, que foi forte porque no Ginásio eu tive boas notas, então eu acabei indo pra lá. No EEBA o diferencial era esse: quem ia bem no Ginásio ia pro EEBA. (Entrevista - Colaborador 1)

Nossa, era tudo! O nosso foco central era a escola, o IEBA. A gente praticava vôlei, encontrava namoradinho, freqüentava a Biblioteca, e tínhamos até aulas opcionais de religião. (Entrevista - Colaborador 5)

Adentrar no ensino de 2º Grau (antigo ensino colegial) significava uma questão de orgulho, haja vista que o ensino de nível médio estava, de fato, ganhando uma efetiva expansão nesse período, o que nos força a lembrar que até então esse nível de ensino era destinado a poucas

32 Reiteramos que, para preservar o anonimato das falas, classificamos os ex-alunos entrevistados em Colaborador 1,

Colaborador 2 e assim sucessivamente. Para uma leitura mais completa e uma melhor contextualização das falas citadas indicamos a leitura integral das entrevistas que se encontram no APÊNDICE C.

pessoas, em geral à elite intelectual. Como já destacamos a expansão do ensino secundário no Brasil começou pelo seu primeiro ciclo e no momento histórico aqui estudado, podemos ver o início efetivo da expansão do segundo ciclo.

Como vimos, o acesso ao ramo acadêmico do ensino médio não era algo tão comum. Poucos eram aqueles que conseguiam ingressar nesse ramo de ensino e mais do que entrar manter-se efetivamente. Segundo Nadai (1991) essa escola seletiva e de difícil acesso ganhava destaque perante a sociedade em geral uma vez que, idealizada como boa escola pública, símbolo de eficiência e qualidade, mantinha-se como um valor a ser perseguido, porém difícil de ser conquistado. Essa realidade, no entanto passou a se modificar principalmente a partir da década de 1950, quando as camadas populares começaram a ver o ensino secundário como uma forma de ascensão social.

Porém, raros eram os ginásios públicos espalhados pelo território nacional. Nadai (1991) ao estudar as representações de um grupo de professores que estudou ou atuou nas escolas oficiais secundárias, normais e superiores do Estado de São Paulo, dos anos 30 a 70 do século passado sintetiza assim a importância de uma escola pública nesse nível de ensino:

[...] As representações demonstram que a escola, ao lado do cinema, da igreja, do rádio constituíram os aparelhos culturais/simbólicos por excelência das aglomerações urbanas tanto das maiores do interior do Estado, como a da capital. Expressaram também o fato de que a conquista de uma escola pública era um valor a ser perseguido pela sociedade civil que se organizava e lutava por ela, não importando o grau. (NADAI, 1992, p.29)

A Escola Estadual Bento de Abreu foi, por durante muito tempo a única opção para a educação pública ginasial da cidade de Araraquara e região, isso porque somente em 1958 foi instalado na cidade o segundo ginásio estadual, localizado no bairro da Vila Xavier33. Desse modo, adentrar nessa escola parecia ser uma grande conquista social e educacional.

Mais do que isso, a EEBA, como pôde ser visto nas reminiscências dos alunos era considerada uma escola ícone, representativa, uma das melhores escolas da cidade, uma excelente escola. Uma imagem mítica de qualidade parece ainda se manter sobre essa instituição de ensino.

Nesse sentido, para a sociedade araraquarense a EEBA, segundo a memória dos alunos tinha fortes significados:

Ela era considerada uma excelente escola porque ela preparava realmente o aluno pra vida tanto social quanto profissional, eu pelo menos sentia isso, entendeu, e além do mais eu acho que dava até um certo status você falar que estudava no EEBA, sabe, quando a gente falava “oh estudo no EEBA!” o pessoal falava “nossa no EEBA!”, então é... eu acho que era bem por aí. E também eu acho que realmente pela preparação do individuo, sabe, como eu te falei tanto na vida social quanto profissional. (Entrevista - Colaborador 9)

A imagem era aquela referência de formação, de um local aonde você ia com satisfação pra buscar um aprendizado, dar uma referência de um futuro melhor, dar uma formação para um futuro melhor. Integrava a parte da satisfação com a escola pelo lado da boa formação que a escola dava e ela trazia também outros atrativos: você tinha uma estrutura legal pra fazer educação física, tinha vários eventos, bandas marciais... a escola era um atrativo! (Entrevista - Colaborador 8)

Olha, eu acho que o colégio da época era o EEBA, até quem estudava no EEBA achava que tinha um pouco de status porque era uma escola boa, uma escola pública, os professores muito bons, muito bons mesmo, então, eu acho assim que ajudou muito. (Entrevista - Colaborador 2)

Orgulho, privilégio, status parecem manter forte relação com o desejo de estudar nessa instituição. A memória dos alunos no levam a pensar que o fato de permanecer por tanto tempo como a única opção de educação pública de nível médio contribuiu para a formação de uma aura de respeito em torno da instituição, para a construção de uma imagem de escola a ser perseguida, uma escola considerada de excelência, tornando-se padrão de referência e comparativo para com outras instituições de ensino:

[...] Então, mas eu acredito assim que ela era um "pull" vamos dizer assim, era um forte concorrente de todas as escolas do Estado, então era um "top" era uma coisa assim que os próprios alunos se sentiam orgulhosos, entendeu? Eu mesma também me sentia orgulhosa de estudar no EEBA. Era uma concorrência do Pedrão, depois era o outro lá da Vila Xavier, era uma concorrência grande, mas isso só entre os alunos. (Entrevista - Colaborador 6)