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O estudo “Emprego, Contratação Colectiva de Trabalho e Protecção da Mobilidade

Capítulo III – A evolução do tempo de trabalho

4. O estudo “Emprego, Contratação Colectiva de Trabalho e Protecção da Mobilidade

Em 2010, a então Ministra do Trabalho e da Solidariedade Social, Helena André, solicitou a elaboração de um estudo com o objectivo de contribuir para a preparação de um dos compromissos constantes do Programa do XVIII Governo Constitucional, a celebração de um “Pacto para o Emprego”.

Em Maio desse ano, o Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social enviou às confederações sindicais e de empregadores com assento na CPCS, um estudo intitulado “Emprego, Contratação Colectiva de Trabalho e Protecção da Mobilidade Profissional em Portugal”178

, para apreciação, tendo estas apresentado os seus pareceres, os quais foram enviados aos autores do estudo para que, se possível, fossem tidos em conta.

Depois de os autores elaborarem nova versão do estudo, com alterações ou notas na sequência dos pareceres elaborados pelos parceiros sociais, este foi publicado com o objectivo de poder vir a gerar um acordo tripartido.

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No capítulo II do estudo - contratação colectiva de trabalho – podemos ver se e de que forma as convenções colectivas regulam a matéria da organização do tempo de trabalho.

O estudo analisou uma amostra de 72 convenções colectivas - 41 contratos colectivos de trabalho, incluindo uma decisão arbitral, nove acordos colectivos de trabalho e 22 acordos de empresa - respeitantes a determinados sectores de actividade179.

A análise das referidas convenções colectivas incidiu sobre 14 temas180, entre os quais os limites, duração e organização do tempo de trabalho181.

De acordo com o estudo, em 71 convenções colectivas estabelecia-se limites diários e/ou semanais do tempo de trabalho; em 36 convenções colectivas o limite diário das 8 horas era fixado em conjunto com o limite semanal de 40 horas; em 30 convenções colectivas determinava-se, em alguns casos para grupos especiais de trabalhadores, durações semanais inferiores ao máximo legal; existia uma convenção colectiva com durações máximas do período normal de trabalho semanal superiores às 40 horas legalmente estabelecidas pela lei em vigor.

A adaptabilidade do tempo de trabalho era regulada em 46 convenções colectivas; 26 não o faziam e uma permitia a aplicação da adaptabilidade individual mediante acordo escrito do trabalhador. Cinco convenções colectivas regulam compensações pela prática de horários de trabalho com adaptabilidade182.

O banco de horas era regulado apenas em três convenções colectivas183.

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Agricultura, produção animal, caça, floresta e pesca; indústrias extractivas; indústrias transformadoras; construção; comércio por grosso e a retalho; reparação de veículos automóveis e motociclos; transportes e armazenagem; alojamento, restauração e similares; actividades de informação e comunicação; actividades financeiras e de seguros; actividades administrativas e dos serviços de apoio; educação e actividades de saúde humana e apoio social.

180 Relacionados com a adaptabilidade (interna ou externa) das relações laborais ou com os direitos sindicais:

formação profissional; limites, duração e organização do tempo de trabalho; polivalência funcional; teletrabalho; trabalho em comissão de serviço; contrato de trabalho a termo; transferência de local de trabalho; deslocações temporárias; cedência ocasional de trabalhador; encerramento e diminuição temporários da actividade por facto respeitante ao empregador; protecção social complementar; cessação de contrato de trabalho; representantes sindicais e greve.

181 Limites diário e semanal do período normal de trabalho; horários de trabalho com adaptabilidade; banco de

horas; horário concentrado; isenção de horário de trabalho; trabalho a tempo parcial; trabalho nocturno; trabalho por turnos; trabalho suplementar.

182 Contratos colectivos da ANIVEC/APIV (vestuário e confecção) / FESETE/SINDEQ: As horas de

trabalho efectuadas para além de 8 diárias e 40 semanais são compensadas com reduções em igual número de horas acrescidas de 10 % de tempo, ou pelo pagamento da importância correspondente a 10 % da retribuição de base por cada uma daquelas horas. Contratos colectivos da ATP (têxtil e vestuário) / SINDEQ/FESETE: Em horários de 2 ou 3 turnos, acréscimo de 15% da retribuição base por cada hora de serviço, ou acréscimo de 15% no período de descanso compensatório; em horário normal, acréscimo de 10% da retribuição base por cada hora de serviço, ou acréscimo de 10% do período de descanso compensatório. Acordo de empresa REFER /

Sindicato Nacional dos Trabalhadores do Sector Ferroviário: Subsídio correspondente a 17,75 % da

retribuição indiciária. Vide p. 59.

183 Contrato colectivo da metalurgia e metalomecânica / SINDEL: O período normal de trabalho pode ser

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O horário concentrado era regulado apenas em quatro convenções colectivas184.

A isenção de horário de trabalho era regulada em 47 convenções colectivas; 21 não o faziam e quatro remetiam o regime para a lei.

Em relação ao trabalho a tempo parcial, o estudo aponta que este era definido de diferente forma nas convenções colectivas analisadas; em quatro convenções colectivas o trabalho a tempo parcial era definido como aquele em que o período normal de trabalho semanal é inferior, em qualquer percentagem, ao praticado a tempo completo numa situação comparável; em 17 correspondia a um período normal de trabalho semanal igual ou inferior a 75 % do praticado a tempo completo numa situação comparável; em cinco como o que correspondia a um período normal de trabalho semanal igual ou inferior percentagens que se

em dia de acréscimo do tempo de trabalho de 4 horas diárias, o trabalhador tem direito a um período de 30 minutos para refeição considerado tempo de trabalho, a subsídio de refeição ou ao fornecimento da refeição; o empregador deve comunicar ao trabalhador a necessidade de trabalho em acréscimo com 5 dias de antecedência, salvo situações de manifesta necessidade da empresa. A compensação do trabalho prestado em acréscimo será efectuada por redução equivalente do tempo de trabalho, devendo o empregador avisar o trabalhador do tempo de redução com 3 dias de antecedência. O banco de horas pode ser utilizado por iniciativa do trabalhador, mediante autorização do empregador, devendo o trabalhador solicitá‐lo com um aviso prévio de 5 dias, salvo situações de manifesta necessidade; a organização do banco de horas deve ter em conta a localização da empresa, nomeadamente a existência de transportes públicos. Contrato colectivo da construção /

SETACCOP: O banco de horas pode ser instituído por acordo entre o empregador e o trabalhador; o

empregador deve comunicar a necessidade de prestação de trabalho em acréscimo com antecedência mínima de 5 dias, salvo se outra for acordada ou em caso de força maior; o período normal de trabalho pode ser aumentado até 2 horas diárias e 50 horas semanais, tendo o acréscimo por limite 180 horas por ano; a compensação do trabalho prestado em acréscimo é feita mediante redução equivalente do tempo de trabalho, no mesmo ano, devendo o empregador avisar o trabalhador com 5 dias de antecedência, salvo caso de força maior devidamente justificado; a redução do tempo de trabalho para compensar o trabalho prestado em acréscimo pode ser requerida pelo trabalhador, com antecedência mínima de cinco dias; o empregador só pode recusar o pedido por motivo de força maior. Acordo de empresa do Serviço de Transportes Colectivos do Porto /STTAMP: Inclui os seguintes tempos de trabalho: a crédito do trabalhador, a diferença, quando positiva, entre o tempo de trabalho efectivamente prestado num dia e a média diária calculada em função do período normal de trabalho semanal, contando como crédito o tempo de percurso que não ultrapasse 30 minutos o horário de trabalho do dia quando os trabalhadores do movimento garantam mais uma viagem até ao término e o tempo de deslocação entre duas etapas; a crédito da empresa, a diferença, quando negativa, entre o tempo de trabalho efectivamente prestado num dia e a média diária calculada em função do período normal de trabalho semanal. Os créditos de tempo são compensados até à concorrência do respectivo valor, em períodos de referência de três meses, calculados em 31 de Março, 30 de Junho, 30 de Setembro e 31 de Dezembro de cada ano. O saldo favorável ao trabalhador nas datas referidas é pago como trabalho suplementar ou, com o acordo do trabalhador e se não houver inconveniente para o serviço, convertido em dias completos de descanso, a usufruir no trimestre seguinte ao período de referência a que respeitem. As horas não compensadas que o trabalhador tiver prestado a menos em cada um dos períodos referidos consideram‐se perdidas a seu favor. Não serão consideradas no banco de horas as faltas ao serviço a qualquer título e independentemente da sua duração. Vide p. 60 e 61.

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Contrato colectivo das indústrias eléctricas e electrónicas / FETESE: o tempo de trabalho pode ser distribuído por menos de 5 dias seguidos; o período normal de trabalho diário pode ser aumentado até 12 horas; a duração média semanal não deve ultrapassar 40 horas em períodos de referência de 12 meses; o tempo de descanso é pré-estabelecido e alongado; depende do acordo de dois terços dos trabalhadores abrangidos e só pode ser aplicado a maiores de 18 anos; Acordo de Empresa da Lusa / Sindicato dos Jornalistas: horário em regime de semana comprimida é aquele em que a distribuição do período normal de trabalho se faz por quatro dias ou quatro dias e meio em cada semana de calendário; carece de acordo escrito. Acordos de Empresa da

Rádio e Televisão de Portugal / SMAV / STT: horário de semana comprimida, que permite a distribuição do

período normal de trabalho semanal por quatro dias ou quatro dias e meio em cada semana de calendário, desde que haja a concordância escrita do trabalhador. Vide p. 61-62.

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situam acima de 75% do praticado a tempo completo numa situação comparável. Algumas convenções regulavam situações preferenciais de trabalho a tempo parcial185.

De acordo com o estudo, o trabalho nocturno era definido de diferentes formas no conjunto das convenções colectivas analisadas. Muitas convenções colectivas definiam o trabalho nocturno da forma mais ampla possível; o prestado entre as 20 horas de um dia e as sete horas do dia seguinte. Outras convenções definiam-no, embora com menor duração, mas ainda em termos mais amplos do que o regime legal supletivo. Em algumas convenções colectivas o trabalho nocturno era definido em termos iguais ao regime legal supletivo; o prestado entre as 22 horas de um dia e as sete horas do dia seguinte. Também se identificou convenções colectivas que definiam o trabalho nocturno em termos mais restritos que o regime legal supletivo. Em menor número, outras convenções definiam o trabalho nocturno para além dos limites máximos da lei. O estudo identificou ainda algumas convenções que consideravam nocturno o trabalho prestado em prolongamento de um período de trabalho nocturno.

Relativamente ao trabalho por turnos, o estudo refere que algumas convenções colectivas não o regulavam, outras regulavam, incluindo a repetição do regime legal, sem prever ou quantificar compensações especiais por esse regime de organização do tempo de trabalho.

Quanto ao trabalho suplementar, é apontado no estudo que quase todas as convenções colectivas o regulavam no que respeita a pagamento, a limites do número de horas e, em menor medida, a condições de admissibilidade da sua prestação.

A síntese conclusiva da análise do conteúdo das convenções colectivas foi no sentido de que no curto espaço de tempo entre a publicação do LVRL e a data do estudo, a contratação colectiva de trabalho produziu um conjunto de alterações, embora tenha sido considerado prematuro fazer juízos globais quanto ao alcance das reformas da legislação laboral de 2003 e, sobretudo, de 2009. No entanto, de acordo com o estudo foi possível concluir que a adaptabilidade do tempo de trabalho era um tema com presença frequente; que os limites e

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Contrato colectivo da ANIVEC/APIV (vestuário e confecção) /FESETE/SINDEQ:

trabalhadores‐estudantes, trabalhadores com capacidade de trabalho reduzida ou com responsabilidades familiares. Acordo de empresa da TAP‐Air Portugal/SNPVAC: trabalhadores com filhos a cargo que sejam crianças portadoras de deficiência ou doença crónica, ou menores de 12 anos, ou tenham outros familiares a cargo. Acordo de empresa dos CTT/SNTCT: trabalhadores com filhos de idade inferior a 12 anos, ou que tenham a seu cargo familiares que necessitem de assistência que não possa ser prestada por outrem, ou sejam trabalhadores‐estudantes ou durante a gravidez; Acordo de empresa da PT Comunicações/SINDETELCO: trabalhadores com filhos de idade inferior a 12 anos, ou que tenham a cargo familiares incapacitados, sejam trabalhadores estudantes ou tenham capacidade de trabalho reduzida. Vide p. 63.

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duração do tempo de trabalho era um dos temas com presença muito frequente e que os temas com presença escassa mas inovadora incluíam o banco de horas e o horário concentrado.

No capítulo III comparou-se a duração e organização do tempo de trabalho em Portugal com os restantes países europeus, que apontou para que a duração média semanal do tempo de trabalho colectivamente contratada (38,2 horas) era em 2008 ligeiramente superior à média da UE15 (37,9 horas) e inferior quer à média da UE27 (38,6 horas), quer, sobretudo, à média dos doze novos Estados membros (39,5 horas).

De acordo com o estudo, em Portugal a presença de formas flexíveis de organização do tempo de trabalho tinha uma incidência menor do que na generalidade dos países europeus, embora as formas flexíveis de organização do tempo de trabalho se tenham desenvolvido em entre o meio e o fim da década finda.

No que respeita ao trabalho suplementar, o estudo indicou que Portugal está entre os países em que a compensação do trabalho suplementar é feita predominantemente em dinheiro, ao contrário do que acontece na Alemanha, a Bélgica, os Países Baixos, a Dinamarca, a Áustria e a Suécia, onde a adaptabilidade negociada do tempo de trabalho tem maior incidência.

Gráfico III.1. - Formas de compensação do trabalho suplementar, 2009186

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