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Capítulo IV As perspectivas futuras do tempo de trabalho a nível internacional e

1. A Organização Internacional do Trabalho

Em 2005, a Comissão das Questões Jurídicas e das Normas Internacionais do Trabalho submeteu ao Conselho de Administração um documento com vista à elaboração de uma estratégia relativa às futuras acções da OIT em matéria de tempo de trabalho, no qual proponha a realização de uma reunião de peritos tripartida para discutir a regulamentação do tempo de trabalho nas suas múltiplas vertentes258. Em Novembro de 2010, na 309.ª Sessão do Conselho de Administração foi decidida a realização da reunião, que teve lugar nos dias 17 a 21 de Outubro de 2011. Para o efeito, foi elaborado um relatório para discussão, intitulado “Working time in the twenty-first century”259

, que importa analisar atendendo à relevância da informação que contém para o nosso tema, designadamente a evolução do tempo de trabalho nas últimas décadas.

Segundo o relatório, um número muito significativo de países reduziu o período normal de trabalho de 48 para 40 horas semanais, nas últimas décadas. Em 2009, o período normal de trabalho semanal, por região, era de 40 horas em 41% dos países. No entanto, 44% dos países excediam as 40 horas semanais e mais de metade desses países estabeleciam o limite das 48 horas. Em África, 40% dos países tinham o limite de 40 horas, mas em mais de metade dos países o período normal de trabalho situava-se entre 42 e 48 horas. Na América Latina e Caribe, 48% dos países estabeleceram o limite das 48 horas; em 36% desses países o limite situava-se entre 42 e 45 horas por semana. Na Ásia e no Pacífico cerca de 46% dos países recorriam ao limite de 48 horas por semana e 31% aplicavam o limite de 40 horas. A maior parte dos países que estabeleciam o limite de 40 horas semanais pertencia à Europa Central e de Leste.

258 GB.294/LILS/7/1. Disponível em http://www.ilo.org [Consult. em 30 Abr. 2012].

259 Working time in the twenty-first century: Discussion report for the Tripartite Meeting of Experts on

Working-time Arrangements 2011, 17–21 October 2011/International Labour Office, Geneva, ILO, 2011. Disponível em http://www.ilo.org.

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Gráfico IV.2. - Weekly hours limits by region, 2009260

Na maior parte dos países desenvolvidos e dos países da UE o limite máximo semanal, incluindo o trabalho suplementar, era de aproximadamente 48 horas por semana, enquanto que em 31% dos países da Ásia e do Pacífico não existiam regras legais que estabelecessem qualquer limite ou tinham limites excepcionalmente elevados de 60 ou mais horas semanais (31%).

Gráfico IV.3. - Maximum weekly hours limits by region, 2009261

Comparou-se também a média semanal nos países desenvolvidos e em desenvolvimento e, também, nos países em transição, desde 2000 até à actualidade. Os dados mostram-nos que

260 Vide p. 13. 261

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a média semanal de horas reduziu lentamente na maioria dos países desenvolvidos durante o período analisado, excepto na Austrália e França. No entanto, a média semanal de horas é ainda relativamente elevado na República da Coreia (45,1 horas) e em Singapura (46,6 horas). Em alguns países em desenvolvimento e em transição verifica-se uma ligeira redução. Na Argentina a média semanal de horas aumentou após a crise económica de 2002-2003.

Gráfico IV.4. - Average weekly hours, 2000 to present262

No relatório analisou-se o tempo de trabalho anual não relacionado com o tempo de trabalho semanal de trabalho, que reflecte as diferenças no número de horas de trabalho que decorrem das férias anuais remuneradas e feriados. Comparando as horas semanais de trabalho na UE - especialmente em Países da Europa Ocidental, como Alemanha, França e Países Baixos - e no Canadá e nos Estados Unidos é possível constatar que o número de horas semanais trabalhadas na Europa era ligeiramente inferior ao do Canadá e dos EUA. No entanto, comparando as diferenças entre o número anual de horas trabalhadas na Europa Ocidental, no Canadá e nos Estados Unidos, podemos ver que o número de horas que os americanos trabalham é superior (cerca de 300 horas por ano) à dos trabalhadores de muitos países da Europa Ocidental. De acordo com o relatório, esta divergência decorre

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essencialmente do período de férias anuais remuneradas a que trabalhadores europeus têm direito, um mínimo de 4 semanas por ano, nos termos da Directiva n.º 2003/88/CE, de 4 de Novembro, relativa a determinados aspectos da organização do tempo de trabalho, embora em alguns casos cinco ou seis semanas, em comparação com duas ou três semanas no Canadá e nos EUA.

Com base nestes dados, o relatório concluiu que se trabalha mais horas por ano nos países em desenvolvimento e em transição do que nos países desenvolvidos.

Gráfico IV.5. - Annual hours worked per person, most recent year263

Tendo em conta a informação contida no documento foram definidas questões para serem discutidas na reunião de peritos264, cujas conclusões265, a apresentar ao Conselho de

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Vide p. 27.

264 As questões discutidas foram as seguintes: (a) What are the most important recent trends and developments

with regard to hours of work? What are their implications for working-time policies, both for the protection of workers and the promotion of sustainable enterprises? What are the effects of hours of work on different groups of workers, including female workers, young workers and older workers, and on different types of enterprises (i.e. different sectors or industry groups)? What are the implications of these effects for working-time policies? (b) ILO Conventions and Recommendations on hours of work, in particular Conventions n.ºs 1 and 30, provide a broad overall framework for regulating working time at the international level. To what extent are these standards still relevant to modern working-time arrangements? What about the other international labour standards relating to working time discussed in Part II of this report? What is needed to ensure that the relevant provisions of existing Conventions are properly implemented?

(c) What are the most important recent developments regarding work schedules? What are the implications of these developments for working-time policies, both for the protection of workers and the promotion of

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Administração, se traduziram, designadamente no reconhecimento da importância do tempo de trabalho, da sua regulamentação e da organização e gestão para os trabalhadores e para a sua saúde e bem-estar, incluindo a oportunidade para equilibrar o tempo de trabalho e não- trabalho; para a produtividade e competitividade das empresas; para uma resposta eficaz às crises económica e do mercado de trabalho.

Neste contexto, reconheceu-se, também, que as normas existentes da OIT relativas à duração do trabalho diário e semanal, ao descanso semanal, às férias anuais remuneradas, ao tempo parcial e ao trabalho nocturno permanecem relevantes no século XXI, devendo ser promovidas com vista a facilitar o trabalho digno.

O Conselho de Administração, na 313.ª reunião, que decorreu entre 15 e 30 de Março de 2012, tomou nota das referidas conclusões e autorizou a sua publicação e decidiu pedir ao Director-Geral que, aquando da preparação de futuras propostas de acções do Secretariado da Organização do Trabalho, tivesse presente os desejos expressados nas conclusões no sentido de dar seguimento a medidas por parte da OIT266.

sustainable enterprises? What are the effects of various types of work schedules, in particular those involving flexible or variable hours, on different groups of workers, different types of enterprises (i.e. different sectors or industry groups), and communities and societies as a whole?

(d) Taking into account the Global Jobs Pact and the information provided in this report on working time crisis- response measures, in particular work-sharing, what are the implications of the crisis experience for future ILO work in the area of working time?

(e) What are the main policy issues that would need to be addressed in developing any future ILO guidance on advancing decent work for female and male workers in the area of working time?

(f) What future action should the ILO take to address the major issues regarding working time in the twenty-first century? What concrete proposals should be submitted to the Governing Body with regard to the follow-up to this Meeting? Vide p. 68.

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Conclusions of the Tripartite Meeting of Experts on Working-time Arrangements, 17-21 October 2011. Disponível em http://www.ilo.org.

266 Vide -

- , de 20 de Março de 2012. Document GB.313/POL/1, paragraph 18, as amended.

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