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Capítulo 4: Fundamentos e trajetória metodológica da pesquisa

2- O estudo piloto

O estudo-piloto foi construído com a finalidade de verificar se a opção metodológica, especificamente o trabalho com grupo focal, seria adequada para responder à pergunta: “Quais as representações sociais que os professores do ensino

superior, formadores da docência, têm sobre o poder profissional dos professores?”,

Esse estudo mostrou que o grupo focal seria um recurso válido para a investigação, considerando atentamente as suas etapas, ou seja, o planejamento, o desenvolvimento e a avaliação.

A construção do estudo-piloto previu, desde o seu planejamento, a articulação entre todas as partes que o constituiu. Inicialmente, cuidou-se da elaboração do roteiro ou agenda da pesquisadora (anexo 3), também moderadora, que demandou significativa imersão teórica para que os tópicos, constitutivos dessa agenda, fossem bem fundamentados. Além dos tópicos, que se reportavam aos objetivos da pesquisa, foram utilizados: minicartazes com figuras de variados profissionais em atividade, que incitavam o exame das relações entre as suas tarefas; painéis que foram preenchidos com conclusões dos participantes sobre as questões provocadoras; escrita de pareceres

individuais, que em seguida eram socializados no grupo e desenhos que evidenciavam formas de pensar e agir, como também realçavam traços das representações sociais construídas.

O local de realização do trabalho foi definido considerando o fácil acesso dos professores participantes, assim como o horário, que foi conciliador das disponibilidades daqueles profissionais. Por ter sido escolhido um dia de sábado no espaço de uma instituição de ensino, o grupo ficou livre de interrupções, barulho, ou quaisquer fatores que comprometessem a gravação em áudio ou que pudessem perturbar a realização do trabalho, que durou cerca de duas horas.

A escolha dos professores que integraram o estudo-piloto baseou-se nos critérios: de pertencerem a IES pública ou privada; de representarem cursos de licenciatura em diversas áreas de conhecimento e de exercerem suas atividades em cursos de formação de professores no ensino superior, mas naqueles cursos que formassem professores para trabalharem na educação básica e não em cursos técnicos, como é o caso dos cursos de licenciatura em Enfermagem e Nutrição.

Quanto ao desenvolvimento, o trabalho teve início às 9h20min, ou seja, vinte minutos além do horário estabelecido para o início das atividades, devido ao atraso de duas professoras. Mas era importante a presença de todos que formavam um grupo de seis professores, número considerado adequado para esse tipo de estudo. Após as explicações básicas sobre a participação dos professores nesta técnica de levantamento de informações, a moderadora passou a problematizar as questões que compunham a sua agenda.

Nos primeiros momentos do trabalho, a fim de entrosar os professores entre si e com o objeto de discussão, foram expostos mini-cartazes de diversos profissionais em atividade e, solicitado que os professores presentes: “separassem, ou não, os

profissionais, que segundo eles gozavam de mais ou menos reconhecimento social,

justificando o porquê”. Iniciar com a questão do reconhecimento social facilitou o

processo de discussão que caminhou na direção da questão central, ou seja, da representação social do poder profissional docente. Assim, com ilustrações, questionamentos e com a participação habilidosa de alguns professores a discussão sobre as questões postas levou à integração dos professores, ali presentes, e em momentos mais avançados do trabalho, os depoimentos alcançaram uma expressiva riqueza de informações.

Após o trabalho com o grupo focal passou-se para a etapa da transcrição da gravação e de uma análise, ainda, não aprofundada das informações obtidas.

A avaliação desse estudo-piloto indicou, não somente a validade do trabalho com o grupo focal no desenvolvimento da investigação sobre representações sociais, como apontou ajustes, indispensáveis, ao alcance dos objetivos da pesquisa como: • A realização da entrevista semiestruturada ser anterior ao trabalho com o grupo

focal, pois caso algum entrevistado viesse a tomar parte do grupo focal, ele exporia seus pensamentos, isento de influências dos colegas presentes. Na sequência, o grupo focal poderia revelar contradições, retificações, complementações e ratificações dos depoimentos individuais. E, iniciando o processo de pesquisa pela entrevista individual, a pesquisadora poderia apreender determinadas questões que seriam maximizadas no trabalho com os grupos focais.

• Um equilíbrio entre os gêneros, na seleção dos participantes, pois dos seis sujeitos do estudo-piloto apenas um professor integrou o grupo focal.

• A necessidade de formação de mais de um grupo focal, a fim de apreender dos professores de ‘gerações pedagógicas’ diferentes, suas representações sociais sobre o poder da profissão docente.

• A importância do grupo de professores, formadores de professores, ser multidisciplinar.

• A consideração do equilíbrio entre o número de professores de instituições públicas e privadas.

• A confirmação da participação de um professor-observador, ou como alguns denominam professor-relator, cuja função é de não interferir no trabalho com o grupo focal, mas fazer a anotação cursiva dos discursos e dos atos desenrolados no grupo. Há professores-relatores que preferem digitar suas observações, porém neste trabalho de pesquisa a opção foi pela discrição que a anotação cursiva possibilita.

• A reorganização da agenda (tópicos de discussão) em função do tempo que a expressão das representações sociais dos docentes requer, pois algumas questões tomaram muito tempo em detrimento de outras. Além disso, foi possível perceber os tópicos que estimularam a discussão do grupo e os tópicos que geraram pouco interesse dos participantes.

• O uso de dois gravadores, pois mesmo não havendo problema com a gravação no estudo-piloto, mais de um instrumento asseguraria o registro das falas. Os equipamentos seriam testados, antes do início dos trabalhos, a fim de garantir falas audíveis, material suficiente e confiável para os exames posteriores.

Poder-se-ia dizer que esse estudo-piloto assumiu a forma de um estudo exploratório, e como tal não se descuidou dos requerimentos relacionados aos trabalhos de pesquisa, inclusive, remessa à literatura específica, elaboração criteriosa da agenda do moderador, adequação do ambiente, instrumentos auxiliares (gravador,

cartazes, fotos, etc.), disposição física dos participantes de forma que todos pudessem ser envolvidos, enfim tudo elaborado com o necessário rigor.

Os resultados obtidos com esse estudo, também, contribuíram para a decisão da pesquisadora de examinar fontes documentais como: editais públicos para a admissão de professores para os cursos de licenciatura; acompanhamento dos diversos meios de comunicação e informação dos anúncios dos processos de admissão aos cursos de licenciatura; levantamento de índices de concorrência aos cursos de licenciatura, dentre outros.

Além dos ajustes, referidos acima, a avaliação dos participantes não só foi positiva, como estimuladora do aprofundamento da questão por eles discutida. Por ter propiciado aos participantes momentos de desenvolvimento de conhecimento sobre o objeto social posto em discussão ‘poder profissional docente’, o estudo piloto fez aflorar os aspectos comunicacionais e afetivos observados no interesse pelas trocas de compreensão, de representação, assim como no desejo de ampliarem a discussão do tema em outros momentos e em outros espaços.