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Capítulo 4: Fundamentos e trajetória metodológica da pesquisa

3- Os sujeitos da pesquisa

Normalmente, a literatura que trata da profissão docente esbarra nas questões de renda, condições de trabalho e formação dos profissionais. Sem desconsiderar essas informações, o estudo sobre aspectos das profissões, e no caso específico desse trabalho – As Representações Sociais dos Professores, formadores da docência, sobre

o poder da sua profissão – exigem outros elementos, como: as diferenças individuais,

de formação e prática, existentes no conjunto dos professores; as distintas circunstâncias nas quais a prática profissional é desenvolvida; as concepções dos

professores sobre a formação da docência, em nível de graduação; e as formas de organização e controle da formação e do exercício docentes. Questões, como estas, que buscam significados subjetivos, cuja complexidade não se revela por meio de instrumentos fechados, inflexíveis, reclamam à natureza qualitativa da pesquisa.

Embora se compreenda a importância do pesquisador para a construção de uma pesquisa científica, pois é ele quem levanta o problema a ser estudado, escolhe os sujeitos e os espaços para a realização da pesquisa e dirige a investigação, não se pode deixar de considerar os sujeitos pesquisados, no caso, os professores, como presenças fundamentais do processo de investigação.

Os professores formadores de professores, no ensino superior, possuem representações, construídas socialmente, sobre o objeto social poder profissional docente, que se edificaram, especialmente, no processo do seu desenvolvimento acadêmico, e nos espaços informais como na família (onde são comunicadas as práticas escolares e acadêmicas), nas trocas de experiências (com colegas de profissão) sobre o ato de ensinar e o ato de aprender. Ao representarem, os professores ativam o pensamento que os liga ao objeto, e essa relação entre sujeito e objeto destaca-se como fundamental no processo de formação das representações sociais, pois como é possível perceber nas palavras de Jodelet (2001, p.23),

Conteúdo concreto do ato de pensamento, a representação mental traz a marca do sujeito e de sua atividade. Este último aspecto remete às características de construção, criatividade e autonomia da representação, que comportam uma parte de reconstrução, de interpretação do objeto e de expressão do sujeito.

As representações apreendidas, entendidas como formas de conhecimento, estão ancoradas na esfera cognitiva, todavia, como o conhecimento na Teoria das

Representações Sociais (TRS) não é somente uma produção individual, mas uma produção social, precisa ser reportado às condições sociais que o geraram. Embora o ponto de partida da TRS tenha sido a cognição, como explicam Guareschi e Jovchelovitch (1995, p. 20),

O caráter simbólico e imaginativo desses saberes traz à tona a dimensão dos afetos, porque quando sujeitos sociais empenham-se em entender e dar sentido ao mundo, eles também o fazem com emoção, com sentimento e com paixão. A construção da significação simbólica é, simultaneamente, um ato de conhecimento e um ato afetivo.

Dessa forma, as concepções e as práticas dos sujeitos da pesquisa são o resultado dos processos formadores da docência desenvolvidos nas instituições formadoras de ensino superior, mas esse resultado carrega consigo, também, as marcas das instâncias informais.

Considerando o aspecto histórico inerente às representações sociais construídas pelos professores a respeito do poder profissional da docência, os sujeitos da pesquisa integraram o que Weber, S. (1996, p. 36) chamou de ‘gerações pedagógicas’, ou seja, os professores que “vivenciaram diferentemente discussões sobre a educação formal e sobre o ensino e os movimentos em prol ou contra medidas relativas à educação”. Todavia, fazer parte de determinado processo histórico da educação superior, requer dos docentes formadores acompanhamento das mudanças de parâmetros, que como continua a autora, permite “distinguir ênfases, perspectivas e propostas”, mas conclui afirmando, que “isso não impede a interlocução cooperativa entre distintas ‘gerações pedagógicas’”.

Duas gerações pedagógicas foram estabelecidas para localização dos professores desta pesquisa e cada uma delas situa o início e grande parte da vida profissional dos docentes:

- A primeira geração pedagógica integrou professores do ensino superior, que iniciaram seus trabalhos nos cursos de formação de professores, regidos pela Lei n.º 5.540/68, que reformou a estrutura do ensino superior e, por isso, foi denominada lei da reforma universitária e pela Lei n.º 5692/71, que reformou o ensino primário e médio denominando-os, respectivamente, de primeiro e segundo graus11.

- A segunda geração pedagógica reuniu professores do ensino superior, que ingressaram nos cursos de licenciatura na vigência da atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, n. º 9394/96.

Participaram desta pesquisa, 21 (vinte e um) professores entrevistados e 16 (dezesseis) professores nos grupos focais. Os primeiros professores foram contatados pela pesquisadora, mas os professores seguintes eram indicados por alguns docentes, sujeitos da pesquisa, ou por outros pesquisadores.

Os sujeitos da pesquisa compuseram uma amostra, criteriosa, de professores do ensino superior, formadores da docência (Tabela 1), nas áreas: das Ciências Humanas e Sociais, das Ciências Exatas e da Natureza e das Ciências da Saúde. Na área das Ciências Humanas e Sociais participaram professores dos cursos de licenciatura em Letras, História, Filosofia, Psicologia, Pedagogia, Geografia e Ciências Sociais. Na área das Ciências Exatas e da Natureza foram envolvidos professores dos cursos de

11 “Os dispositivos da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 4.024/61) relativos ao ensino

primário, médio e superior foram revogados e substituídos pelo disposto nessas duas leis” ( SAVIAVI, 1997, p. 21).

licenciatura em Matemática, Física e Química. E os cursos de licenciatura em Educação Física e Ciências Biológicas compuseram a área das Ciências da Saúde. Dessa forma os professores constituíram um grupo multidisciplinar e de ambos os sexos. É oportuno ressaltar que, devido ao grande número de cursos de licenciatura, foram eleitos aqueles que são exigidos na formação profissional dos professores da educação básica, ou seja, aqueles professores que exercem suas atividades na educação infantil, no ensino fundamental e no ensino médio.

O critério da multidisciplinaridade se justifica pelo fato de os cursos de licenciatura possuírem objetos de conhecimento próprios e serem detentores de uma característica destacável, que é o de haver certa comunhão na abordagem dos conteúdos das suas disciplinas, além disso, é importante considerar que é da natureza da educação requerer saberes das diversas áreas do conhecimento. Portanto, a formação de uma equipe multidisciplinar possibilitou depreender as representações sociais dos professores sobre o poder profissional da docência, de forma diversa, e não restringir essas representações a um grupo homogêneo na sua formação e na sua prática.

A composição dos sujeitos da pesquisa incluiu, ainda, professores que possuem diversas formações profissionais e professores que desempenham o seu trabalho em várias áreas de ensino. Como previsto nos objetivos, foi possível obter as representações sociais dos professores de diferentes gerações pedagógicas, sobre o poder da profissão de professor, e por essa razão foi feita a opção por mais de um grupo focal.

TABELA 1

Categorização dos sujeitos da pesquisa por área de conhecimento onde atuam. N.° Professor (a) Área de ensino onde atua Curso de licenciatura onde

atua

01 2FPPR Ciências Humanas Pedagogia, Letras e Psicologia

02 2MGPR Ciências Humanas Geografia

03 2FPPR Ciências Humanas Pedagogia

04 2FCBP Ciências Humanas / Ciências da Saúde

Ciências Biológicas e Curso Normal Superior

05 2FQP Ciências Exatas e da Natureza

Química

06 1FCAP Ciências Exatas e da Natureza / Ciências Humanas

Pedagogia e Ciências Agrárias

07 1MCBP Ciências Exatas e da Natureza./ Ciências da Saúde

Física e Ciências Biológicas

08 1FLP Ciências Humanas Letras

09 1FFP Ciências Exatas e da Natureza

Física

10 1MHP Ciências Humanas História

11 2FHPR Ciências Humanas História, Filosofia, Letras 12 1MEFP Ciências da Saúde Educação Física

13 1MEFPR Ciências da Saúde Educação Física

14 1FLPR Ciências Humanas Letras

15 1MFP Ciências Humanas Filosofia

16 2FCBPR Ciências da Saúde Ciências Biológicas 17 1FPR Ciências Humanas Filosofia

18 2FMP Ciências Exatas e da Natureza Matemática 19 2MMPR Ciências Exatas e da Natureza Matemática

20 1MCSP Ciências Humanas Ciências Sociais

TABELA 1 (continuação)

Categorização dos sujeitos da pesquisa por área de conhecimento onde atuam.

Professores

Ciências Humanas C. Exatas e da Natureza Ciências da Saúde 21 11 52.4% 5 23.8% 5 23.8%

De acordo com a matriz curricular do Ensino Médio, tem-se: Ciências Humanas (Língua Portuguesa, Língua estrangeira, Arte, Filosofia, Sociologia, História e Geografia); Ciências da Saúde (Biologia e Educação Física) e Ciências Exatas e da Natureza (Química, Física e Matemática).

O agendamento das entrevistas individuais e do trabalho com os grupos focais não foi muito simples, devido aos inúmeros compromissos dos professores, mas depois de acertados dias e horários todos se mostraram interessados em participar do processo da pesquisa. Esse interesse foi revelado pelos professores que se assumiam como interlocutores dispostos a dar informações e relatar experiências e, mesmo, a sugerir que o tema fosse debatido com alguns grupos de professores formadores e licenciandos. Alguns entrevistados verbalizaram ser o momento da entrevista um espaço propício para falarem e serem ouvidos sobre uma questão importante que não se referia, como de costume, à formação do licenciando, mas à formação, à prática, às concepções dos professores formadores da docência e às suas condições de trabalho. No desenvolvimento de um dos grupos focais, por exemplo, os participantes agradeceram o convite para tomarem parte naquela atividade, considerando a proposta como uma expressão de deferência a eles.

4 – Os espaços profissionais onde os sujeitos da pesquisa desempenham suas