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Os estudos do turismo têm se realizado praticamente no mundo todo. São diversas as discussões realizadas no campo acadêmico em relação ao turismo, podendo ser encontradas em várias disciplinas que o tomam com enfoques específicos. Administração, economia, geografia, sociologia, etc., são alguns exemplos dessas disciplinas. Portanto, ao soar de uma problemática sobre sua nomenclatura, ele é tomado por alguns como uma indústria, por outros como fenômeno e outros ainda o consideram como uma atividade. Vai depender da análise em questão. Nesse sentido, Mendonça (2006, p.11) afirma que o turismo possui um caráter multidisciplinar e multissetorial, por isso existe uma dificuldade na elaboração de seu conceito e “de acordo com cada visão, o turismo tem sido tratado como sendo uma indústria, a soma de operações de natureza econômica, um fenômeno social e econômico, dentre outras coisas”.

O fenômeno turismo pode ser definido como a movimentação de pessoas, no aspecto territorial, global e, até mesmo, fora da Terra, como os primeiros turistas a viajarem para fora do planeta em espaçonaves. Observe-se: turistas e não astronautas. A diversidade de setores envolvidos nessa atividade demonstra, além da sua importância econômica, o seu caráter multidisciplinar, atentando para o fato de que o turismo pode ser tratado como um fenômeno social e econômico, como foi tratado nesse estudo.

Casimiro Filho (2002), fazendo uma exposição sob a ótica cronológica, afirma que o fenômeno turismo surgiu na Grécia Antiga, em 776 a.C., por ocasião dos primeiros Jogos Olímpicos, quando foram realizadas as primeiras viagens organizadas, consideradas como uma atividade turística. Cresceu como atividade econômica até a Primeira Guerra Mundial, momento que passou por um período de estagnação. Alguns fatores foram essenciais para o deslocamento mais constante das populações posteriormente a essa época, destacando-se o uso popular dos automóveis.

Mais adiante, com o fim da Segunda Guerra Mundial, houve grande desenvolvimento dos meios de transporte (utilização de avião como meio de transporte de civis) e de comunicação, o que fez com que a atividade turística tomasse novas proporções, principalmente na Europa e na América do Norte, assegura Casimiro Filho (2002). Desde então, a cada ano que passa, essa atividade vem ganhando mais espaço na economia mundial. O turismo como atividade envolve diversos setores da economia, assim como diversos tipos de empresas, notoriamente públicas e privadas, sendo basicamente voltadas para serviços.

De uma outra maneira, a fim de desvendar os primórdios do turismo, Oliveira (2007) afirma que o turismo iniciou quando o homem deixou de ser sedentário e passou a viajar motivado pela necessidade de estabelecer comércio com outros povos. E, segundo esta mesma autora, a origem dessa atividade

ocorreu pela descoberta da sua capacidade de locomoção, que abriu caminhos com os quais ele encontrou novas formas de satisfação, buscadas de maneira incidental ou intencional e que aconteceram a partir do descobrimento de novas culturas, do lazer, do descanso, das situações e dos atrativos ou eventos que viessem a lhe proporcionar emoções. Ou seja, independentemente da forma como se trata o início ou a cronologia desse fenômeno, como exposto nos exemplos acima (Casimiro Filho, 2002; Oliveira, 2007) e ainda com base em outros autores que trabalham especificamente esse tipo de abordagem (que aqui não vem ao caso referenciá-los), parece ser consensual e claramente perceptível que o turismo é uma movimentação de pessoas e que envolve uma multiplicidade de atores que são envolvidos diretamente e indiretamente para que esse fenômeno seja percebido. Diante dessa reflexão, sugere-se que ele pode ser também abordado por meio de suas características sociológicas e/ou econômicas, bem como ambientais, culturais, patrimoniais, etc..

Em uma abordagem sociológica do turismo, Jost Krippendorf (2001) considera uma crítica das características do desenvolvimento social ancorado por uma abordagem estritamente economicista (aumento do consumo, produção em massa, lucros etc.) e procura “refletir sobre a forma que poderiam tomar o lazer e as viagens no âmbito de um futuro digno de ser vivido” (p.33). Ele demonstra uma abordagem sociológica no sentido das necessidades dos indivíduos, em que existem dois pólos: a necessidade de viajar e a necessidade de trabalhar, em que uns vão ao encontro da necessidade dos outros, podendo ser diagnosticados conflitos (tensões e inquietações) entre os atores envolvidos.

Krippendorf (2001, p. 95) atenta para o fato de que “apenas muito recentemente a opinião pública tomou, enfim, consciência de um problema que, na realidade, deveria ter sido estudado antes de qualquer outro: as consequências psicológicas e sociológicas do turismo”. E que, atualmente, começam-se a

discutir os custos e os benefícios do turismo para o meio ambiente e a sociedade, e não mais somente as vantagens e as questões econômicas.

Em outra abordagem voltada para uma busca sobre a teoria econômica do turismo, Lage & Milone (2001) apontam dois aspectos: o microeconômico e o macroeconômico. O primeiro tem como objetivo principal estudar o comportamento de consumidores ou turistas, empresas turísticas e mercados turísticos, seguindo uma lógica do consumo, do máximo de lucro e da produção de bens e serviços. O segundo é o que trata das atividades agregadas, ou seja, investiga o funcionamento da economia, os determinantes estratégicos dos níveis do produto e da renda nacional, do emprego e dos preços.

Em sua definição sobre turismo, Lage & Milone (2001, p. 45) afirmam que essa atividade está necessariamente “gerando a produção de recursos econômicos que poderiam ter aplicações alternativas e que são distribuídos para o consumo de toda a sociedade”. Dentre outras considerações, os autores sugerem alguns aspectos para um planejamento econômico do turismo, apontando fatores para a análise do processo de crescimento e desenvolvimento econômico da atividade, em que são abordados os termos de aumento de emprego e renda, geração de divisas e melhoria da qualidade de vida das populações de regiões mais atrasadas, com políticas mais distributivas, etc..

Tomado como fenômeno social ou econômico, o turismo estimula estudos dos mais variados enfoques acadêmicos. Por exemplo, existem estudos voltados, notadamente, para o aspecto econômico do turismo. Por exemplo, Garrido (2001) expõe os vários fatores que contribuíram para a expansão do turismo como atividade econômica, a partir do final da Segunda Guerra Mundial. Os que se destacam são: a) redução da jornada de trabalho e introdução de férias remuneradas; b) elevação do nível educacional, com a abordagem de conhecimentos que passaram a despertar o interesse por conhecer outros lugares no mundo; c) melhoria nos sistemas de transportes, incluindo a evolução da

aviação comercial e dos acessos rodoviários e ferroviários; d) dispersão do desenvolvimento econômico, crescendo em paralelo o volume de viagens de negócios; e) aumento da renda per capita disponível para viagens, dentre outros. O mesmo autor ainda complementa seu conceito básico de turismo, acrescentando que este setor econômico abrange, além das atividades realizadas no destino turístico, aquelas exercidas pelos diversos fornecedores de produtos e serviços turísticos que se situam nos chamados núcleos emissores (Garrido, 2001).

Já Oliveira (2007, p.6), em seu estudo, toma o turismo como uma área que exige a delimitação de um conceito que permita a descrição desse fenômeno social complexo. Ela assegura que “embora o turismo seja analisado em diversas disciplinas do conhecimento humano, envolvendo discussões sobre os fenômenos sociais, suas múltiplas interpretações dificultam a perfeita conceituação do termo”. Fica evidente, por meio de conceitos de teóricos e de estudos empíricos, essa dualidade entre o caráter econômico e sociológico do fenômeno do turismo.

Esta discussão, por analogia, está ligada à discussão trazida pela sociologia econômica. O turismo, muitas vezes, é tomado como um fato social, se enquadrando em concepções de fenômeno social. Outras vezes, ele é analisado como uma indústria, focando a discussão a respeito dos fatos econômicos dessa atividade, emoldurando uma feição de fenômeno econômico. Diante disso, pode-se inferir que um fato econômico pode ser traçado por um fenômeno social, ou seja, sendo a ação econômica socialmente situada, percebendo-se a interlocução com a teoria de redes sociais para se estudar o fenômeno turismo.

Assim, evidencia-se que a atividade turística é um fenômeno complexo que torna difícil sua definição terminológica. Dessa forma, é possível tratar de um fato econômico como um fato social, considerando existir redes sociais que

permeiam toda a atividade turística. Nessa engrenagem é que se propõe o próximo tópico, considerando uma abordagem sobre as redes e o turismo.