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Diante do grande número de variáveis que podem ser encontradas na teoria de redes sociais e especificamente na análise de redes, foi necessário delimitar algumas categorias de análise para a compreensão do relacionamento entre os atores da pesquisa, conforme foi abordado no referencial teórico e aglutinado no QUADRO 1.

QUADRO 1 Dimensões de análise da pesquisa empírica

Categorias Descrição Embasamento teórico

Intraorganizacional e interorganizacional

Relacionamento entre os atores de uma mesma organização e relacionamento de atores entre organizações.

(Depuy e Gilly, 1995), (Marques, 1999), (Marques, 2006), (Marques, 2007).

Centralidade (liderança) e densidade (grau de conectividade da rede)

Aspectos estruturais da rede, quantidade de ligações e posicionamento dos atores da rede.

(Mizruchi, 2006), (Quandit & Souza, 2005), (Varanda, 2007), (Steiner, 2006).

Natureza dos laços

Laços fortes e fracos, força e conteúdo das articulações entre os atores.

(Granovetter , 1973), (Granovetter , 1983), (Granovetter et al., 2000), (Marteleto & Silva, 2004), (Mizruchi, 2006), (Cross & Parker, 2004)

Essa determinação que se faz não tem o intuito de engessar esses termos, nem de simplificar as complexidades inerentes em cada situação em que eles possam ocorrer, muito menos de abdicar das subjetividades que compõem os conteúdos culturais e as práticas sociais inerentes à teia social e à sua dinamicidade. A finalidade aqui foi envolver algumas das possibilidades que possam existir no contexto dos CTs, tentando empreender uma compreensão por meio de algumas inferências que se julgam importantes. Sabe-se da existência de uma limitação sobre a somente quantificação de cada um dos tipos de relacionamentos por circuito pesquisado e a não qualificação de cada um desses, sendo esta uma questão chave da análise de redes sociais, como foi dito anteriormente no referencial teórico. Portanto, buscou-se uma noção quantificável e qualificável de cada tipo de relacionamento que existe entre os atores sociais dos circuitos pesquisados.

Para a abordagem quantitativa da pesquisa, utilizou-se o programa EXCEL e o PAJEK para o tratamento dos dados obtidos nas questões estruturadas do questionário. O Excel é uma ferramenta informática que permite realizar cálculos estatísticos, ou seja, permite uma aplicação estatística, transformando os dados em informações que proporcionam análises complexas e elaboradas. Ele pode adaptar as informações no formato de gráficos, o que torna os dados obtidos com a pesquisa visivelmente mais didáticos de serem apresentados.

Outro programa utilizado foi o PAJEK, que possibilita a construção das matrizes sociométricas e sua análise posterior por meio dos diversos algoritmos apropriados, além da visualização final das redes sociais constituídas. Ele permite criar e editar gráficos de todos os tamanhos e conta com alguns algoritmos e heurísticas implementadas para facilitar a descoberta de informações. Fornece, ainda, um sociograma, que é um tipo de gráfico utilizado para representar as redes sociais, no qual os pontos/nós equivalem a atores, e os segmentos de linhas correspondem aos laços. Portanto, alguns dados foram tratados neste programa, que forneceu um sociograma, possibilitando a visualização de uma rede de relacionamento entre os atores dos circuitos.

Para a análise sociométrica foram utilizados os cálculos de conectividade máxima da rede (CMR) e o grau de conectividade da rede (CR), a fim de medirem a densidade da rede. A conectividade máxima da rede (CMR) representa o número máximo de ligações da estrutura da rede. Esse valor pode ser obtido por meio da combinação dois a dois de todas as ligações verificadas entre os atores da rede (Veloso, 2009), conforme pode ser verificado com a fórmula abaixo:

CMR = C N

2 = __ N!___

2!(N – 2)! em que

N - população total da rede

Já o grau de conectividade da rede (CR) determina a proporção entre as ligações existentes e o número máximo de ligações que podem existir na rede. O valor obtido tem que ser sempre entre 0 e 1, sendo que 1 representa o número máximo de ligações (Veloso, 2009). A seguinte fórmula é utilizada para o cálculo deste índice:

CR = Σni

C N 2

em que:

ni - número de ligações N - população total da rede

Para a abordagem qualitativa da pesquisa, utilizou-se a análise de conteúdo que, segundo Bardin (1977, p. 42), é “um conjunto de técnicas de análise das comunicações, visando obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção destas mensagens”. Ela obtém dados por meio da observação e análise do conteúdo ou mensagem de texto escrito, como, por exemplo, relatórios, contratos, cartas, questões abertas em surveys e outros semelhantes, afirma Hair Júnior et al. (2005). Adotou-se essa técnica de análise para as questões abertas do survey utilizado na primeira etapa e nas entrevistas semiestruturadas aplicadas na segunda etapa.

Laville & Dionne (1999) afirmam que essa análise não consiste em um método rígido. Deve-se procurar a organização dos depoimentos de forma a dar maior significação aos seus conteúdos para que não sejam perdidos detalhes, bem como a qualidade e a riqueza da subjetividade dos entrevistados, isto é, o seu modo de interpretar a realidade. Vergara (2005) sistematiza esse tipo de análise em três etapas:

• pré-análise - seleção do material e a definição dos procedimentos a serem seguidos;

• exploração do material – implementação dos procedimentos definidos na pré-análise; tratamento de dados e

• interpretação – geração de inferências e dos resultados da investigação, onde as suposições serão ou não confirmadas.

Diante desse tipo de análise, adotou-se a técnica de análise temática que visa descobrir os núcleos de sentido que compõem a comunicação e a frequência de aparição que podem inferir significados para o objetivo selecionado (Bardin, 1977). Essa é a técnica de análise de conteúdo mais antiga e a mais utilizada, segundo este mesmo autor.

Para as respostas abertas do questionário misto, foram extraídos alguns termos utilizados e que se aplicam com alguns determinantes da teoria exposta nesse estudo. Subdividiram-se em três aspectos: administrativos, políticos e articulativos. Os administrativos se referem à própria administração dos circuitos no que diz respeito ao planejamento estratégico, organização interna, qualificação de mão-de-obra, competitividade, divulgação, inventário turístico, organização de roteiros e elaboração de projetos. Os aspectos políticos se referem à influência do poder público (municipal, estadual e federal) com os circuitos, como apoio financeiro, conselhos de turismo, descontinuidade e dependência política, políticas públicas em geral, apoio e envolvimento governamental e sobreposição de ações. Sobre os aspectos articulativos foram considerados a integração, articulação, união, mobilização, conscientização, participação, sensibilização, comunicação, interesse, envolvimento e informação. Apesar de terem sido divididos em três grupos, a fim de ter um lógico e adequado tratamento dos dados, esses determinantes estão intimamente relacionados e somente tratados em conjunto, como uma única esfera multifacetada, permitem inferências sobre a gestão dos circuitos e o relacionamento entre os atores dos circuitos.

Também foi utilizada a análise documental, no propósito de ser descritiva e teve o papel de contextualizar a política estadual de turismo, especificamente a política dos CTs e complementar os dados obtidos por meio das entrevistas. Nesse sentido, Godoy (1995) afirma que a análise documental pode ser utilizada como técnica complementar, validando e aprofundando dados obtidos por meio de entrevistas, questionário e observação. Dessa maneira é que se empreendeu a pesquisa empírica deste estudo.

5 A POLÍTICA PÚBLICA DE TURISMO DO ESTADO DE MINAS GERAIS: A ARTICULAÇÃO DE ATORES SOCIAIS

Este capítulo tem a função de contextualizar os Circuitos Turísticos (CTs) dentro da Política Estadual de Turismo de Minas Gerais e está dividido em tópicos que seguem os objetivos específicos da pesquisa empírica. Inicialmente, é abordada a lógica governamental em adotar a política dos circuitos mineiros, envolvendo aspectos da formação e implementação, condizentes com as ideias de descentralização e regionalização da atividade turística no estado. Também focaliza nos procedimentos burocráticos criados pelo estado, tais como suas normas, princípios e diretrizes, consubstanciados pelos decretos e resoluções que permitiram o reconhecimento, a criação e a implementação dos circuitos mineiros. Dessa maneira buscam-se nos dados a identificação dos CTs de Minas Gerais e os atores chave para as articulações. A seguir consideram-se as características da estrutura e do funcionamento das articulações entre os atores envolvidos com os CTs. Finalmente, pondera-se sobre seus limites e suas possibilidades, permeando os aspectos relacionais que envolvem os atores dos circuitos.