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A regionalização do turismo no Brasil

Conforme mencionado anteriormente, embora as políticas de turismo devam observar as peculiaridades regionais e locais, não se pode deixar de ressaltar a importância de uma política de turismo nacional que conduza o desenvolvimento do setor, conciliando as diversidades existentes com uma engrenagem homogênea, para promover os destinos turísticos nacionais. Nesse sentido, Solha (2004) aponta para o processo de descentralização das discussões

e decisões inerentes às políticas públicas de turismo, o que se dá por meio do estímulo à ampliação da participação dos estados.

Monteiro (2006) afirma que o governo busca na regionalização alternativas para a definição de políticas de turismo, buscando minimizar o contraste entre os limites geopolíticos e o conteúdo sócio-cultural existente. Então, onde se têm grandes extensões territoriais e amplas diversidades sócio- culturais é extremamente difícil uma ação única e totalizante. Segundo Monteiro (1990), a articulação regional, pautada na reunião de interesses representativos dos setores produtivos dos municípios da região, assim como a coordenação institucional entre as diversas instâncias do governo se configuram, portanto, em atividades essenciais para o melhor aproveitamento das potencialidades locais de crescimento.

A mais expressiva ação do Estado para o processo de regionalização se configura no Programa de Regionalização do Turismo – Roteiros do Brasil (PRT), criado pelo governo brasileiro nas direções do Plano Nacional de Turismo 2003-2007. Segundo Monteiro (2006), é o principal instrumento do governo para promover o desenvolvimento turístico sustentável de forma regionalizada no Brasil e se traduz em um modelo de gestão coordenada, integrada e descentralizada de política pública para diversificar, ampliar e estruturar a oferta turística brasileira.

Este mesmo programa trata da formação de redes e, segundo Brasil (2005):

A Rede Nacional de Regionalização do Turismo foi concebida como um instrumento de troca de informações e experiências e de fortalecimento das relações e parcerias entre os diversos atores envolvidos no Programa. É uma estratégia de apoio ao desenvolvimento do turismo que permite e promove a atuação compartilhada dos atores das regiões turísticas no planejamento e na execução das ações (Brasil, 2005, p. 6).

Seu objetivo geral é promover e apoiar a construção de relações e parcerias entre os diversos atores envolvidos com a regionalização do turismo no Brasil, por meio da troca de experiências e informações e de modo a contribuir para o desenvolvimento ordenado da atividade turística no país. Portanto, se trata de um projeto de estímulo e de apoio à execução das parcerias entre os atores envolvidos com o desenvolvimento das regiões turísticas, e que permitirá a atuação compartilhada no planejamento e na execução das ações.

Com efeito, é necessário o reconhecimento do amadurecimento, ainda que incipiente, de alguns referenciais de análise das políticas de turismo no Brasil, uma vez que, segundo Barbosa & Zamot (2004), no passado, as facilidades oferecidas aos turistas eram subsidiadas pelo governo. Atualmente, as transformações são visíveis, principalmente no que tange ao volume de turistas que vão a um destino, pois este não é mais considerado como principal fator de êxito da política turística.

As políticas públicas de turismo no contexto brasileiro denotam uma forma de interação entre seus diversos atores envolvidos, em tese, a fim de garantir a essência da política9, isto se for vista sob a ótica da articulação. Seja

entre os agentes públicos envolvidos nas diversas instâncias (federal, estadual e municipal), seja entre os agentes públicos e os agentes privados (empresas do setor, associações, etc..), ou seja, entre os diversos atores sociais envolvidos diretamente com a política de turismo, a articulação está presente nos princípios da política de turismo. Esta pode ser referenciada como uma política territorial que preza o desenvolvimento, estimulando interações entre os atores sociais envolvidos, chegando bem próximo à teoria de redes sociais.

9 Segundo Sorj (2000), a essência da política é a capacidade de transformar desejos e valores em um projeto solidário de afirmação da vontade coletiva.

Beduschi & Abramovay (2004) afirmam que a política territorial agora atenta para os potenciais que geram riquezas, iniciativas e novas coordenações, sendo dotada de múltiplas instâncias de decisão. Para Delgado et al. (2007), existem duas perspectivas que podem ser seguidas pela abordagem da territorialização do desenvolvimento, a nacional e a local. A primeira seria o caso de se pensar o desenvolvimento nacional sob a ótica territorial, incorporando a noção de território nacional e a concepção de um planejamento nacional. Já a segunda seria de se pensar no desenvolvimento local, ou seja, o local como um território, consequentemente, sendo a unidade de intervenção governamental. Ainda segundo estes autores, para o desenvolvimento territorial, seja em qualquer uma das noções de território utilizadas, devem-se considerar, no âmbito metodológico, três componentes fundamentais:

(1) as dinâmicas econômicas, sociais, políticas e culturais endógenas ao território; (2) a arquitetura institucional predominante – a existência e conformação de agências e arenas estatais e de esferas públicas - e sua influência sobre a forma como as políticas públicas incidem no território; e (3) os processos sociais e os mecanismos institucionais através dos quais o território se relaciona com o “fora do território”, com o “resto do mundo” (Delgado et al., 2007, p. 22).

É preferível e, talvez, atualmente, seja consensual utilizar o termo território em vez de município, pois o primeiro trata-se de uma construção social e não político-administrativa, sendo mais ampla para abranger as complexas dinâmicas sociais, econômicas, políticas e culturais, que envolvem articulações sociais (Delagado et al., 2007). Talvez seja por isso também que a política nacional de turismo migrou seus investimentos do nível municipal, uns anos atrás, para o nível regional. No governo Fernando Henrique Cardoso, uma das mais significativas políticas de turismo era consubstanciada no Plano Nacional de Municipalização do Turismo (PNMT) e, alguns anos mais tarde, no governo

Lula, além das diversas transformações estruturais, como a implantação de um ministério específico para o turismo, sua mais expressiva política para o setor seja representada pelo Programa de Regionalização do Turismo (PRT).

Geralmente, na elaboração, implementação e monitoramento dessas políticas públicas existe uma rede de atores, sejam eles do poder público, da iniciativa privada ou da comunidade, possuindo dinâmicas diversas, a depender do contexto em que estão inseridas, como também diversos conflitos, próprios do processo participativo (Delgado et al., 2007). A atividade turística propriamente já estimula o tipo de formação que propicia uma articulação entre seus atores e não só em âmbito nacional, mas também alguns estados, como Minas Gerais, também praticam uma política de turismo que propicia essa articulação, como é o caso dos Circuitos Turísticos de Minas Gerais. É por isso que se torna necessário expandir os estudos do turismo no sentido de compreender suas políticas públicas, analisadas por meio de uma perspectiva relacional.

4 ASPECTOS METODOLÓGICOS

Neste capítulo apresentam-se os aspectos metodológicos utilizados para alcançar os objetivos da pesquisa, na tentativa de responder ao problema levantado pelo estudo. Ele está estruturado em tópicos e, inicialmente, são apresentados o tipo e a natureza da pesquisa. Em seguida, são delimitados o

locus e as unidades de investigação da pesquisa, seguidos dos métodos e dos

procedimentos operacionais, finalizando com o tratamento dos dados.

Dessa forma, constrói-se uma estratégia metodológica condizente com o referencial teórico apresentado, uma vez que se busca compreender as articulações entre os atores de uma determinada situação social. Essa última é observada diante dos limiares do fenômeno turismo e, especificamente, estimulada por uma política pública de turismo do governo de Minas Gerais, a política dos circuitos turísticos (CTs). Portanto, detalha-se uma metodologia amparada por métodos e técnicas de pesquisa e formas de análises combinados ao contexto do estudo e que podem apresentar uma abordagem condizente com a perspectiva relacional buscada nesse estudo.