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O eu que confronta

No documento Eneagrama (páginas 77-99)

“Existem diversas espécies de consideração. Na maioria dos casos, o homem se identifica com o que os outros pensam dele, com a maneira como o tratam, com sua atitude para com ele [...] pensa sempre que as pessoas não o apreciam o suficiente [...] Tudo isso o aborrece, o preocupa, o torna desconfiado; desperdiça em conjecturas ou em suposições enorme quantidade de energia; desenvolve nele, assim, uma atitude desconfiada e hostil para com os outros. Como olharam para ele, o que pensam dele, o que disseram dele, tudo isso assume, a seus olhos, enorme importância.”

“E considera não só as pessoas, mas a sociedade e as condições históricas. Tudo o que desagrada a tal homem lhe parece injusto, ilegítimo, falso e ilógico. E o ponto de partida de seu julgamento é sempre que as coisas podem e devem ser modificadas. A ‘injustiça’ é uma dessas palavras que servem frequentemente de máscara a [este tipo de] consideração [interna].”

Os dois parágrafos acima, citados por P. D. Ouspensky em Fragmentos de um Ensinamento Desconhecido, são de G. I. Gurdjieff

Então? Vamos nos conhecer melhor ou não?

Como diria G. I. Gurdjieff (um Tipo 8 “acordado” que foi, segundo o polêmico mestre Osho, “um dos Budas da nossa época”): “Lembre-se

de que você veio aqui, porque compreendeu a necessidade de lutar contra si mesmo e unicamente contra si mesmo. Agradeça, portanto, a quem lhe proporcione a ocasião para isso.” Na verdade, este aforismo – um

dos vários que estavam inscritos no toldo do “Study House”, no Prieuré (França), local onde Gurdjieff trabalhou com seus discípulos – abriga o grande mistério a ser conhecido por todos os seres humanos, mais especialmente pelos Tipos 8 “assumidos”. Espero que, tendo chegado até aqui, agradeçam a oportunidade que eu lhes ofereço de “lutar uni-

camente contra si mesmos” a partir de agora, já que há tanto tempo se

dedicam a lutar contra o mundo, contra seus “inimigos” e até contra o “tempo” e o “clima”!

O Poder: a grande fascinação dos “Guerreiros” do Eneagrama

Quando realizamos nosso workshop sobre o Eneagrama para o Projeto Simplesmente Copacabana, no Rio de Janeiro, contamos com a participação de uma jornalista que editava um jornal de bairro. Escre- vendo sobre seu Tipo, sob o título Por que 8, ela destacou:

“O poder me fascina. Vim a descobri-lo na caminhada da vida. A vida me empurrou para o resgate. No resgate descobri a força, o poder. Na medida em que avançava vim percebendo a minha verdadeira vocação: a liderança. As causas consideradas por mim justas e verdadeiras, as abraço com muita determinação. É por demais sedutor para mim tocar um pro- jeto em que possa ter o controle da situação. Dar oportunidade a outras pessoas me entusiasma e gosto da troca, desde que tenha o rumo das coisas. Guerreio sabendo o que quero, mas também quando não quero, simplesmente não faço. Entretanto, sinto uma enorme falta da inocência, da poesia, do frágil. Camuflo isso tudo em ações concretas.”

Este breve depoimento revela o que todo Tipo 8 sente – “O poder me fascina”, e finaliza com o que para todos eles é uma tremenda verdade: a necessidade da simplicidade e da inocência, às quais vou me referir no final deste capítulo.

No Brasil, temos um excelente exemplo histórico de um Tipo 8 para quem este depoimento também foi verdadeiro. Ele foi um dos mais conhecidos e polêmicos políticos deste pais, considerado aguer- rido e destemido, dedicou sua vida, a seu modo, a lutar pelas causas que considerou justas. Refiro-me ao falecido Senador Antônio Carlos Magalhães ou “ACM”.

Lembro quando o Senador ACM, contrariado com a famosa inter- venção no Banco Econômico, deu uma das tantas amostras do seu Tipo Eneagramático. A revista Veja do dia 23 de agosto de 1995 registrou uma das frases mais fortes ouvidas por um Presidente do Banco Central deste país:

“Você é um moleque, f. da p! Vou passar por cima de você! Quem é você para fechar um banco na Bahia? Lá as coisas não são assim.”

Por ser o senador amante declarado da Bahia, essa terra maravilhosa, e devoto fiel do Senhor do Bonfim, sua voz irada naquela ocasião, era a voz irada de todos os baianos que, há mais de 40 anos viam neste homem um grande líder. Essas atitudes públicas do senador refletiam seu tipo. Diante delas, qualquer Tipo 8 pode-se ver como em um espe- lho. O jornalista Marcos Sá Corrêa, no livro Política e Paixão, Editora Revan, define exatamente a tipologia deste polêmico e carismático homem público:

“ACM (era) conhecido pela agressividade que, sendo nele aparente- mente natural, (era) também um estilo cuidadosamente treinado. Como diz neste livro, está convencido de dever a ela – mais do que a outros atributos, seu grande trunfo político – o fato de ser reconhecido como um assunto jornalisticamente interessante.”

Todo Tipo 8 pode ser definido a partir dessa “agressividade” e de muitos Tipos 8 que detêm algum poder se pode dizer exatamente o que aparece numa das orelhas do citado livro: “Ninguém fica indiferente a

Antônio Carlos Magalhães, [ele] é um dos que mais acumularam inimi- gos. Afeto ou desafeto, admiração ou hostilidade, variadas são as atitudes que as pessoas assumem diante dele, mas ninguém o ignora.”

Como e porque Tipos 8 brigam desde cedo com “o mundo todo”

Numa das suas brilhantes tiras publicadas no Jornal do Brasil sob o título de “As Cobras”, o genial Luís Fernando Veríssimo (criador de muitos personagens, entre eles o Analista de Bagé, um analista muito 8, diga-se de passagem) nos resume esse estado de desconfiança e agressi- vidade pronto a se manifestar em todos os “representantes” deste Tipo Eneagramático. Duas cobras falam com uma terceira: “Todo mundo não está contra você desde que você nasceu, Pepe.” Ao que esta responde: “Ah, é? Então por que o obstetra já me recebeu com um tapa?”

Citei o texto desta tira porque ele combina com o depoimento em que Augusta, uma de nossas alunas, lembra o “momento provável” em que surgiu sua “máscara”:

“(...) É como se eu já tivesse nascido 8, e não me formado com o passar do tempo (...) Meu nascimento foi muito difícil e como todo 8 acha que deve brigar por tudo, eu briguei para nascer.

A hora do meu nascimento já havia passado e não nasci de parto normal; pela demora eu ‘não devia ter nascido’, pois além da demora eu estava com o pescoço enrolado no cordão umbilical, nasci talvez de teimosa ou por ser um 8 que nunca se dá por derrotado (...)”

Magno, outro participante dos nossos workshops revelou:

“Muito cedo, se me lembro bem aos cinco anos de idade, essa ‘másca- ra’ já se manifestava em mim, em como eu ‘mandava’ nas minhas irmãs ou como eu não aceitava ordens de meus pais (...) A minha sensação é que eu sempre fui assim, já nasci com essas características.”

Em primeiro lugar, os Tipos 8 em sua maioria lembram-se de uma infância em que tinham que se impor (ou se impunham) ao meio por alguma razão. Tinham que lutar para serem respeitados. Tinham que

“proteger-se” dos outros. Às vezes, enfrentaram ambientes agressivos, que os obrigaram a assumir responsabilidades muito cedo porque seus pais, por razões financeiras ou porque achavam correto, lhes exigiam de um modo ditatorial e imperativo que “aprendessem” a ser “fortes” desde crianças. Outros perceberam a fraqueza de um ou de ambos os pais, e decidiram não ser tão fracos quanto eles. O mesmo aluno lembra: “Meu pai sempre foi um intelectual e tentou, por todos os caminhos, me mostrar as coisas certas por intermédio da palavra, pois as poucas vezes que ele quis me obrigar a fazer qualquer coisa eu, como uma ‘boa mula’, me neguei. Achava que aquele ‘papo’ era uma fraqueza de meu pai, que ele deveria ser mais duro comigo, acredito que foi aí que minha máscara se consolidou. Minha mãe já não tinha tanta paciência assim e com ela não se brincava, mas eu sempre achava um jeito de deixá-la bem brava (...)”

Existem Tipos 8 que falam de uma infância difícil, em que foram vítimas de “injustiças”, de que se vingavam de um ou outro modo. Ainda em relação a isto, outra aluna Tipo 8 nos contou:

“Na infância, lembro de uma injustiça entre tantas outras. Esta ocorreu na escola por volta dos 7/8 anos. Uma colega, vizinha da mesma mesa circular (...) pegou seu lápis e tentou furar o meu braço (...) quando reclamei com a professora, esta me castigou. Eu não entendi nada! (...) Na família, antes dos sete anos, lembro-me de ter sido acusada de ter feito o que não fiz, acabando por me conformar (...) e ia pro castigo, é claro!”

Seu modo de se vingar era simples:

“Lembro que pegava dinheiro escondido de minha mãe pra comprar balas, sem pensar em culpa de fazer algo errado (...)”

Outros pertencem a famílias poderosas em que se sentiram sozinhos e/ ou obrigados a “tomar iniciativas” para não serem considerados inferio- res aos demais e onde ouviam constantemente frases como estas: “nunca se deve confiar nas pessoas”, “temos que proteger o que conseguimos e você deve preparar-se para isso”, ou “você apenas cumpre com os seus deveres, não está fazendo nada demais”. A necessidade de se mostrarem fortes e capazes os faz desenvolver o que comumente chama-se “força

de vontade”. A necessidade de perceber os riscos e possíveis perigos que aparentemente devem enfrentar sozinhos, desde cedo, os leva a desconfiar dos outros e a confiar demais nas suas próprias “forças”.

Isto provoca neles uma constante atitude de alerta, um constante estado interior que se poderia traduzir como “estar pronto para a luta”. Por isso decidem ser fortes, autoconfiantes, sem medo de nada, inclusive os que consideram ter tido infâncias felizes. A este respeito, vale a pena refletir sobre este depoimento:

“Tive uma infância feliz, mas muito competitiva, os jogos eram para ser ganhos (...) Cada jogo novo ou pessoa nova era uma ‘nova barreira para se conquistar’. Briguei muito desde cedo, ao ponto de que quando começava eu não conseguia mais parar. Mas, apesar do ‘gênio’, brinquei muito e na rua, com muitos amigos que logicamente eu conquistei, o que não significa que os tenha cativado.”

Para estar protegido do mundo, é necessário controlar tudo

Os Tipos 8 sentem que devem criar e conquistar um extenso território pessoal, do qual sejam os Controladores e donos absolutos. Precisam

saber tudo com antecedência, conhecer de que maneira podem ter certeza de estar no comando de toda e qualquer situação, seja esta pessoal e/ou profissional. Neste depoimento, no qual a palavra controle é repetida sete vezes (as itálicas são minhas), uma de nossas alunas reconhece o quanto essa necessidade a esgota:

“(...) preciso exercer o controle em tudo o que me cerca. Seja nas questões do trabalho, seja nas questões pessoais. A falta do meu controle em qualquer situação me deixa muito enraivecida. Preciso controlar tudo e apesar de já ter percebido, mesmo antes de estudar o Eneagra- ma, o quanto isso me faz mal, no sentido de gastar muita energia nessa incumbência de ter tudo sob o meu controle, ainda me é muito difícil suportar a falta de controle (...) No trabalho, posso perceber com clareza quando as coisas estão fora do meu controle e como isso me

incomoda, principalmente quando não estou bem informada. A falta de informação me deixa fora das coisas. É assim que me sinto. Na vida pessoal eu percebo isso quando me é difícil suportar as frustrações, ou seja, quando as coisas não acontecem do jeito que eu determino de forma que eu possa controlar.”

Os outros devem reconhecer e respeitar o “controle” e o “poder” dos Tipos 8, garantindo-lhes “obediência”, porque, de outro modo, poderão ser “punidos”. Um aluno escreve a respeito:

“[O Tipo 8] se impõe com muita facilidade se as coisas não estão indo como deveriam ser, ele não pode perder o controle da situação e, se necessário, usa o ‘chicote’, mas não com a intenção de ferir e sim de ensinar uma lição.”

Esse território está protegido sempre por uma espécie de cerca prote- tora contra os perigos, injustiças e inimigos que vêm e/ou que poderiam vir do mundo. Eles aperfeiçoam esse controle aprendendo, estudando,

sabendo como, precavendo-se de todo e qualquer ataque exterior,

num claro movimento ao Ponto 5 do Eneagrama. Os mais inteligentes e capazes se aperfeiçoam constantemente, e possuem uma tremenda capacidade de manipular dados e informações que, tanto confirmem suas ideias e posições, quanto colaborem para aumentar o seu senso de poder, controle e segurança. Paula, uma aluna, que é médica, escreve a respeito que:

“O controle das situações é o que o 8 tanto quer ter (...) e tanto assim que desde criança me vi às voltas com os livros e nunca porque alguém me mandasse, mas porque sentia necessidade de conhecer tudo, para que nada me pegasse desprevenida. Até os idiomas que aprendi eram uma forma de controle da situação, de não permitir que alguém falasse algo de mim, que eu não compreendesse, não dominasse...”

Lealdade e proteção:

algo valioso que se pode cobrar

Os Tipos 8 decidem quais pessoas serão da sua confiança, quais as pessoas que poderiam estar sob sua tutela e quais pessoas terão “direito” à sua permanente “proteção”, numa clara influência do Ponto 9 Enea- gramático e do movimento contra seta ao Ponto 2. Fazem isto apenas para aumentar o “controle”. É como se, desse modo, fossem criando e assegurando uma “rede” de poder e influência ao estilo dos chefões mafiosos dos anos 30.

Em outro trecho de seu depoimento, uma das alunas citadas revela: “(...) até me lembro de minha mãe dizendo, em tom jocoso, que eu era ‘a protetora dos fracos e oprimidos’ (...) Esta mania de proteger as pessoas da família e os amigos também é algo muito presente em mim, desde a infância. Uma necessidade de fazer tudo ao meu alcance, para deixá-los tranquilos e de bem com a vida.”

Porém, quando se sentem traídos, quando sentem que essa “leal- dade e proteção” não são recíprocas, os Tipos 8 reagem com fúria, e quem falhou pode estar certo que haverá uma punição. A mesma aluna acrescenta:

“Adoro meus amigos e sou amiga até o fim, mas se por acaso alguém fizer algo que me magoe, provavelmente não terá chances de fazê-lo outra vez. Pois a partir deste dia esta pessoa morreu para mim e ainda que viva ao meu lado não me diz mais nada. E ela saberá disto não só por palavras, mas por atitudes (...)”

Com outro aluno 8, a coisa não muda muito: “Procuro ser leal às pessoas, quem não corresponder está em maus lençóis.”

Conquistando novos territórios... Sem limites

O que Tipos 8 desejam é conseguir o mais e o maior possível de tudo...sem limites. Precisam assegurar o poder e garanti-lo no tempo. Os Tipos 8 decidem que esse imenso território desejado nunca poderá

ter limites e sabem que não vão parar de conquistar novos territórios e ainda que nunca nenhuma dessas conquistas será tida como a última. Ao invés do “castelo mental” no qual Tipos 5 desejam refugiar-se, e ao invés do “território limitado da sua própria ordem” que Tipos 1 tentam preservar, os Tipos 8 decidem que o único modo de enfrentar o mundo é criando uma ilimitada zona de poder pessoal, na qual eles se sintam com o controle absoluto e permanente. Sentem, instintivamente, que nunca deverão parar de estender-se e crescer. Descrevendo esse estado de perma- nente ambição num momento de total entusiasmo com respeito ao fato de sentir-se “maior que o mundo”, um dos nossos alunos escreveu:

“Minha máscara não me dá limites, posso ocupar qualquer espaço que eu quiser.”

Qualquer Tipo 8 poderia dizer o mesmo, e nesta frase o Traço Prin- cipal manifesta toda a sua potência.

O traço principal:

o excesso e a luxúria aumentam a agressividade

Para uma síntese do exposto até aqui, diríamos que em tudo o que Tipos 8 fazem, querem e dizem, existe excesso ou se procura o excesso: excesso de brigas, excesso de controle, necessidade excessiva de infor- mação e dados, excesso de cobrança, ambição excessiva de um “espaço” ilimitado a se conquistar. O excesso é o “grande calo” dos Tipos 8. Eles querem tudo em demasia. O Dicionário Aurélio define o excesso como “aquilo que excede ou ultrapassa o permitido, o legal, o normal” e atrela a palavra à violência: cometer excessos é uma forma de violência, de agressão, contra si mesmo e contra os outros. O excesso implica um descontentamento permanente para este Tipo Eneagramático, existe uma possibilidade muito grande (tinha que ser muito grande, não é ?) de nunca sentir-se satisfeito. Portanto, possui uma capacidade para frustrar-se com mais facilidade que os outros Tipos Eneagramáticos, excetuando-se os Tipos 4. Assim como Tipos 4 acham que a felicidade parece fugir deles a cada instante e sofrem pelo que falta no presente, os Tipos 8 jamais

se sentem satisfeitos com o que possuem no “presente” efetivamente. Sempre querem algo mais. Os Tipos 4 sofrem pelo que falta. Os Tipos 8 ficam com raiva pelo que querem a mais. Os Tipos 4 sentem que o que se perdeu no passado é melhor do que o que se tem no presente. Os Tipos 8 não se importam com o que obtiveram no passado, mas com o que obterão no futuro. Quando essas ânsias de ter mais são frustradas por uma ou outra razão, eles sofrem e novamente acham que “a vida” está sendo injusta com eles. Não conseguem ficar agradecidos pelo que possuem e desfrutam agora. Eles sempre querem mais, mais e mais. Esse querer mais tem a ver com coisas sensoriais, tangíveis, concretas, não do tipo de coisas que os 4 procuram. Assim como o “espaço” deve ser ilimitado, as coisas que ocupam esse espaço devem ser muitas e devem trazer o máximo de prazer e bem-estar. Portanto, sempre pode haver coisas melhores, carros melhores, comidas melhores, ganhos maiores, festas grandiosas, equipamentos de som mais possantes, computadores mais completos, técnicas mais modernas, informações mais completas, prazeres mais interessantes, gozos mais extravagantes. De tudo deve haver algo mais, algo que supere o atual!

Quando procurei o significado da palavra luxúria no Dicionário

Aurélio, achei o brasileirismo “cheio de luxo”. É muito interessante e

com certeza G. I. Gurdjieff teria gostado de citá-lo em alguma de suas obras quando fala sobre a psique humana. Como este é o capítulo que retrata os eneagramáticos “8” ou “80”, e deve ser bem incrementado e impiedoso (afinal, excesso é excesso!), vale a pena conferir o que significa: “Cheio de luxo: Bras. Fam. e pop. Diz-se do indivíduo implicante,(...) exigente, luxento (...prepare-se agora!) cheio de merda” (...!?) tudo isso entre outras coisas não menos “cheias”. Não fique zangado comigo. É o prestigiado Aurélio “o culpado e injusto”, tá?

Por outra parte, o excesso sempre foi e sempre será atrelado ao “pecado capital” da luxúria, que significa, segundo o mesmo Aurélio, “incontinência, lascívia, sensualidade e dissolução”.

Porém, o maior excesso dos Tipos 8 é o excesso de consideração

interna, de achar que “todos estão contra ele”, que todos conspiram ou

graaandes problemas, graaaandes injustiças. É para enfrentar todos esses graaandes perigos, que Tipos 8 decidem ter de tudo o máaaximo! Aqui começa a luxúria: como tudo o ameaça, eles devem ter sempre muito de tudo: muito dinheiro, muito poder, muita segurança, muitos amigos, muito, muito de tudo. Logicamente, esta atitude os fixa na sua agressi- vidade, os cristaliza nos seus excessos e então nada parece contentá-los. Este é um dos aspectos da “máscara” que os Tipos 8 deverão observar em si mesmos para não se tornarem seus escravos.

Raiva e ação instintiva

Sendo esta “máscara” parte do trio 8/9/1, no qual a influência maior provém do Centro do Movimento, temos que concordar em que as reações instintivas, viscerais e/ou “centradas na barriga”, são mais poderosas que as relacionadas aos Centros Emocional e Intelectual. O movimento até o Ponto 5 (intelecto) se realiza ora como uma reação de “segurança”, ora como um apoio para obter o que se deseja. O movimento ao Ponto 2 (emocional) tem a ver com uma “relação de conveniência”, com o que se pode “cobrar dos outros” pelo que se lhes dá. Então, temos que tanto os atos luxuriosos como os excessos revelam uma grande falta de raciocínio e reflexão. Lembra o depoimento no qual um dos alunos escreveu que “achava que aquele ‘papo’ (do seu pai ‘muito intelectual’) era uma fraqueza...”? Quando se quer mais, quando se procura mais, quando se ultrapassam os limites, é quase impossível

No documento Eneagrama (páginas 77-99)