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O eu que ordena

No documento Eneagrama (páginas 125-153)

“A moral pode ser objetiva ou subjetiva. A moral objetiva é a mesma em toda a Terra; a moral subjetiva é diferente em toda parte, e cada qual a define a seu modo: o que é ‘bem’ para um é ‘mal’ para outro e vice-versa. A moralidade é pau de dois bicos, podemos apontá-lo como quisermos...”

G. I. Gurdjieff

Gurdjieff diz: “Outro exemplo, talvez pior ainda, é o do homem que considera que, em sua opinião, ‘deveria’ fazer algo, quando na realida- de não tem que fazer absolutamente nada. ‘Dever’ e ‘Não dever’ é um problema difícil; em outras palavras, é difícil compreender quando um homem realmente ‘deve’ e quando ‘não deve’ (fazer algo) (...)”

Gurdjieff citado em Fragmentos de um ensinamento

Ah, esses perfeitíssimos Tipos 1!

Lilian Witte Fibe, a impecável, séria e corretíssima ex-apresentadora do Jornal da Globo, foi, provavelmente, um dos melhores exemplos de Tipos 1 que identifiquei aqui no Brasil. Certa vez, li na seção “Ponto de Vista”, da Revista Veja de 19/4 de 96 ou foi 97? (quando retirei esse artigo da revista cortei acidentalmente o ângulo onde estava impresso o ano, desculpem! Ninguém é perfeito!), um artigo de sua autoria sob o título: “Profissionais da autopromoção”, no qual ela denunciava a “falta de ética” de alguns profissionais liberais e jornalistas que preten- diam usar seu prestígio para aparecer nas revistas e jornais promovendo seus nomes. A frase destacada do seu ensaio foi: “Não estou aqui para promover médicos ou cabeleireiros, não sou garota-propaganda.” Em qualquer caso, espero que o fato de citar somente a Lilian como exemplo de Tipo 1, não venha a provocar ciúmes em outras “figuras públicas” tão merecedoras como ela do título de o mais bem-comportado e discipli- nado brasileiro vivo. Por esta razão, as seguintes análises desta máscara serão feitas a partir de exemplares humanos, tão disciplinados e isentos como Lilian, e que, como bons Tipos 1, não têm nenhuma necessidade de autopromover-se, reclamam o direito de preservar suas privacidades e podem dizer como ela que: “Se não quero, não vou mesmo falar sobre assuntos só meus.” Ficou claro? Muito bem.

Então, talvez o modo mais perfeitamente simpático para iniciar esta análise do Tipo 1, seja compartilhar com você o seguinte caso. Costu- mamos solicitar aos alunos e participantes dos nossos workshops do Eneagrama, que escrevam suas impressões sobre seus Tipos. Um deles, Tiago, nos entregou seu trabalho per feitamente ordenado e impresso. Depois de admitir na introdução que ele era um Tipo 1 e que sua fixação principal era o perfeccionismo, ele escreveu o seguinte:

“O primeiro detalhe (perfeccionismo) já o estou executando visto que toda boa redação tem uma introdução, um meio e uma conclusão. Desta forma vemos portanto que, para mim, todas as coisas devem seguir normas e leis que as compartimentalizem e definam em assuntos ou áreas estanques.”

Todos rimos muito quando foi lida esta parte. Rir é importante. Quero que neste trabalho de observação que você fará de si mesmo, tenha sem- pre em mente a necessidade de realizá-lo com alegria. Os antigos sábios vedantinos costumavam exigir, como uma das mais importantes virtudes do discípulo que deseja conhecer a si mesmo, a alegria. Eles baseavam este pedido no fato de que se alguém procura atingir níveis superiores de consciência e está disposto a caminhar em direção à iluminação, não pode realizar esse maravilhoso trabalho com sinais de seriedade e rigidez. No caminho à união com o Ser, só se pode estar contente. Portanto, tente não levar-se muito a sério nesta busca maravilhosa. Aprendendo a rir de si mesmo, talvez você possa compreender que o trabalho de conquistar a si mesmo se tornará tão mais cheio de satisfações quanto maior for o prazer com que o consiga realizar. Não pense que para unir-se ao Espírito você precisa ser tão sério e tão severo consigo mesmo, que a alegria não tenha lugar no seu Sendero. Espero que tenha compreendido a mensagem Número 1! Agora, vamos começar a “pisar nos seus calos”, como diria Gurdjieff. Prepare-se!

O Tipo 1 e seu traço principal

Iniciaremos esta observação da Primeira Máscara com um depoi- mento de outro aluno: “Sinto a minha vida como uma busca incessante daquilo que julgo perfeito. O meu modelo perfeito sempre pode ser mais perfeito e isso me conduz a uma busca permanente de mais e mais perfeição.” Existem Tipos 1 que dizem que desde crianças foram “perfec- cionistas” e que esta maneira de manifestar-se foi reafirmada pelo meio em que se desenvolveram. Se este é o seu caso, o importante é observar como esta tendência foi afirmada no tempo e de que modo ela se tornou sua “máscara”. Por outro lado, existem os Tipos 1 que declaram ter sido “programados” para serem “perfeitos”. Neste caso, o que deveria mudar nessa programação? Defina-se você como um Tipo 1 essencial (ou seja, as características do seu tipo, resumidas na palavra “perfec- cionismo”, são sentidas como “naturais” e não provocadas) ou como

um Tipo 1 “fabricado pela programação” que lhe foi imposta quando criança, é necessário que você tente observar essa máscara diariamente a partir de agora. Para isto ser realizado, você não precisa se criticar nem continuar dando energia a esse seu “juiz interno” intransigente e severo consigo mesmo e com os outros, porque desta forma você não conseguirá compreender aquilo que está além dos fechados muros de seu aparentemente “correto-modo-certo de ver as coisas”. Apenas lhe ajudaremos nesta observação de si mesmo... Nossa ajuda não será perfeita, claro! Porém será importante para suas próprias descobertas futuras. Muito bem, vamos às primeiras observações...

Como surgiu sua máscara?

Um jovem aluno descreveu o surgimento de sua máscara desta forma: “Desde muito cedo me foi incutido um senso de responsabilidade, no sentido de que sempre deveria dar o exemplo para as minhas irmãs por ser o mais velho. Venho de uma família judaica e o fato de ter nascido homem e ser o primogênito preencheu uma série de expectativas fami- liares, que foram devidamente transferidas para mim...”

Outro, após iniciar seu trabalho de observação da sua Máscara 1 es- creveu: “Curiosamente ao me deparar com fotos da minha infância, notei que sempre estava vestido de forma arrumada e bem-comportada...”

Lembranças como estas são parte das experiências da maioria dos Tipos 1. Talvez, no seu caso, tenham sido as cobranças de ordem e bom comportamento que começaram a dar forma a ela. Talvez seus pais (ou um deles) tenham sido muito controladores. Revisavam suas coisas, checavam se tudo estava sendo feito adequadamente. Ser a boa menina ou o bom menino bem-comportado era um imperativo. Aparentemente, isso tinha certas compensações: ficar em paz?, evitar atritos com o pai que, muitas vezes, Tipos 1 lembram como severo ou autoritário demais? Talvez. O certo é que este constante atrito e cobrança externa provoca uma reação especial. Muitos 1 se declaram Inseguros. “Qual será o me-

de vital importância em algum momento de suas vidas. Por diferentes caminhos, Tipos 1 precisam encontrar respostas que lhes permitam saber sua posição no mundo. Muitos deles revelam uma grande necessidade de obter um “modelo adequado” para viver no mundo ou como saber fazer a coisa certa. “Procurei sempre um espelho para saber como agir, dificilmente agia de uma forma espontânea e livre, sempre precisei de um modelo externo”, escreveu um aluno. Uma mulher Tipo 1 me con- fessou que sua maior preocupação era perceber certa inabilidade para enfrentar o mundo: “O que fazer? Será que está certo?” O fato de serem cobrados e exigidos faz com que Tipos 1 sintam uma forte inseguran- ça na infância e juventude: “Por me sentir inseguro, não me expunha publicamente... Acho que a busca da perfeição da minha máscara se originou com uma obsessão por atingir o melhor de mim nas relações humanas...” De alguma forma, as cobranças contínuas geram nos Tipos 1 a necessidade urgente de encontrar um “modelo” que lhes permita ter certeza de que não serão mais cobrados... Assim surge a própria ordem, ou melhor, “o próprio território”, no qual Tipos 1 tentaram criar o melhor e mais perfeito modo de lidar com a existência. Um território reservado, “perfeito”, um modelo de ordem do qual ele se transforma em zeloso protetor. Um território próprio que lhe oferecerá a segurança e a certeza de que tudo esta OK.

O próprio “território”

Sim, “território”. Escolhi esta palavra para fazê-lo compreender al- guns aspectos relacionados com os Tipos 1, 9 e 8. Para cada um destes tipos que formam a parte superior do Eneagrama, a palavra “terrItó- rIo” tem um significado diferente e específico. No caso dos Tipos 1, o

“território” implica tudo o que tem a ver com sua ordem partICular.

Tipos 1 cuidam dessa ordem prIvatIva com verdadeira paixão. Nessa

ordem, tudo está sempre sob controle, tudo está bem-feito e ordenado. Essa ordem pode ser a casa para a mulher 1 ou o escritório do homem 1. Em ambos os casos, as coisas serão encontradas nas gavetas certas,

outras estarão claramente classificadas com etiquetas específicas e assim por diante. Tudo terá seu lugar e deverá estar sempre nas melhores e mais perfeitas condições. Desta forma, Tipos 1 sentirão certa sensação de bem-estar e tranquilidade. Mulheres e homens deste Tipo realizam e tentam impor certos rituais nessa ordem privativa. O escritório será regido por normas estritas, enquanto no lar a limpeza e ordem rigorosa de todas as coisas estarão garantidas graças às rígidas regras e rotinas que todos deverão respeitar. Certo Tipo 1 confessou: “... sou organizado, mas crio rituais precisos e também rígidos. Se escrevo, por exemplo, num determinado caderno sempre com uma caneta, fico confuso se não a encontro ao escrever. Os rituais que crio viram minha própria prisão...” Tipos 1 não pretendem ampliar seus “territórios” como os Tipos 8, nem o abrem a todos sem qualquer regra, como no caso dos bonachões e simpáticos 9. Pelo contrário, o “território” dos 1 será limitado, cercado, nas dimensões certas, regulamentado, porque ele é o mundoordenadoe CrIado para ter certeza de que nele tudo será perfeito ou pelo menos se

tentará que sempre seja o mais perfeito possível. Uma de nossas alunas Tipo 1 expressa esta questão de um modo muito exato:

“Gosto de tudo bonito e perfeito e gostaria de moldar o mundo com minhas mãos. Ele seria lindo e perfeito. O fato de achar que todos deveriam ter amor, correção e bondade é uma mania de perfeição...” Outro aluno declara: “Lembro-me que era sempre importante para mim ter uma concepção do mundo pronta, formada, que só era abandonada, com alguma dificuldade, quando subestimada e por uma outra que fosse mais perfeita e que incluísse as novas percepções adquiridas. Lembro-me de uma especialmente, na qual considerava o mundo e todas as pessoas boazinhas, eu então, era uma pessoa ótima, e as pessoas que não eram boazinhas não eram porque não podiam ver a verdadeira realidade dos fatos... Quando compreendi, lá pelos 10 anos, que a realidade que minha mãe me passava não era a única, fiquei bastante perdido. Procurei... uma forma de me comportar adequadamente ou um outro modelo de visão do mundo...”

Quando o modelo é achado, ele é transformado na ordem exemplar do Tipo 1. Fundamentalmente, a criação da própria ordem baseada no

“modelo” adequado será o modo de demonstrar ao mundo exterior que nessa ordem ninguém mais pode intervir, nem mexer. Os outros são suspeitos de não compreender essa ordem conseguida, dia a dia, com o apoio de um implacável senso de autocrítica que os números 1 possuem em dose ilimitada. Porém, bem-aventurados os que forem considerados aptos e preparados para compreender essa ordem fechada. Eles, sim, terão o direito de serem recebidos pelos números 1. Amigos serão aqueles que podem ser parte dessa ordem, dessa elite capaz de ver “a verdadeira

realidade” desse “território” exclusivo, criado não apenas no plano físico, mas também no psicológico. Sim, o “território” dos números 1 não é apenas físico. Ele se estende aos seus relacionamentos, aos seus trabalhos, às suas escolhas. Tudo deve estar de acordo com as regras e normas que regem essa preciosa ordem particular.

Como Tipos 1 descobriram que o melhor modo de evitar as cobranças de perfeição era criar as próprias lembranças (só que mais perfeitas, claro!)

Quando os Tipos 1 sentiam que a sua ordem entrava em conflito com a ordem externa (a família, a sociedade, os outros em resumo) ou que as cobranças vindas de fora eram invasivas demais, eles decidiram mostrar que essa ordem particular, criada dentro do seu “território”, não podia ser criticada... Esse seria seu modo de lidar com a realidade... Pelo menos é o que pareceu mais correto fazer, certo? A criação de seu mundo foi iniciada desse modo... se toda ordem é cobrada, controlada e sujeita a regras e deveres a ser observados corretamente, o lógico é

criar a própria ordem... Uma ordem que será observada e julgada de

fora como uma “perfeita e ordenada vida”, com “tudo no lugar certo”, uma ordem que jamais se mostrará desordenada... uma ordem perfeita da qual você conhece as regras, as leis... Quem poderá cobrar perfeição e ordem a você, agora? Ninguém, nunca mais... Você será um constante e perseverante criador e mantenedor de sua ordem exclusiva... Quando tudo está em ordem, é necessário mantê-lo em ordem... A ordem deve

ser preservada, não existe tempo para coisas desnecessárias... Constan- temente se perguntará se está tudo perfeito... sofrerá com seus erros e pensará como não voltar a cometê-los. Então, nesse momento o seu maior “inimigo interno” virá à tona.

O surgimento da raiva e do ressentimento

“O meu dia-a-dia é tenso, cheio de cobranças e exigências”, declara uma aluna Tipo 1, e acrescenta: “Para mim e para os outros. Acho que mais para mim, porque sinto que não faço as coisas do jeito que deveria ser. Me pego corrigindo ‘defeitos’ e ‘erros’ o tempo todo... sinto que tudo que faço não está suficientemente bom e poderia ser melhor... Quando bato os olhos nas coisas, o que sobressai são os erros. Eu acho estranho e não entendo como estas coisas me aborrecem tanto, mas não incomodam nada às outras pessoas. Este sentimento me frustra e me sinto insatisfeita, sempre buscando algo melhor, que nunca acontece...” Quando o “território” é criado física e psicologicamente, e a ordem pes- soal está consolidada, Tipos 1 não podem evitar sentir que os limites que foram criados têm uma face negativa. Torna-se evidente que esta ordem e este “território” não podem ser deixados nem abandonados, porque eles sentem que, se isso acontecer, esse mundo corre o risco de desabar. Então, aparece a sensação de perigo. Quando os Tipos 1 sentem esta ameaça latente de destruição da ordem, a raiva se manifesta. No caso dos Tipos 1 com influência 9, essa raiva estará internalizada e no caso dos Tipos 1 com influência 2, a raiva poderá ser manifesta de maneira muito explícita em algumas ocasiões. O limite e a ameaça a esse limite se tornam evidentes como aquilo que não os deixa abandonarem sua máscara de perfeição em nenhum momento. Já não precisa ser con- trolado de fora, agora ele se transformou no seu próprio controlador. Um controlador ameaçador que diz: “Você criou estes limites, então vigie-os, você não pode abandonar essa ordem por nenhum motivo, é a sua responsabilidade!” Tudo o que ameace seus esquemas, as maneiras de realizar suas ações, os modos de realizar seus trabalhos, tudo o que

contrarie seus planos, propostas, objetivos (ainda que tais ameaças sejam apenas modos diferentes e positivos de ver as coisas), será enfrentado com raiva. Essa raiva se manifestará como crítica, como severidade, como teimosia, como rigidez. “A Máscara 1 demonstra com muita nitidez a forma rígida, esquematizada de me relacionar com a vida. Quando me deparo com os percalços do caminho, tão naturais e possíveis, fico irado!”, reconhece um aluno. Tudo o que se oponha à ordem deverá ser destruído com argumentos irônicos, com demonstrações de suficiência que, logicamente, deverão ser as mais perfeitas possíveis, porque não é bom que as outras pessoas enxerguem a precariedade de suas “perfei- ções”. O ressentimento estará pronto para aparecer junto à raiva quando não se atinge o esperado. Veja, em seguida, como um dos nossos alunos descobre esta questão em si mesmo:

“Me identifiquei com o Tipo 1 por meio das frases chaves ‘tenho que’ e ‘você deveria’... Por dentro estou sempre dizendo ‘Eu tenho que...’ e ‘Você deveria’. Isso gera uma raiva contra mim mesmo por não corres- ponder às exigências que me autoimponho e contra os outros por não agirem conforme o meu ‘código interno’. Essa raiva se tornou um com- plicador maior já que sinto que tentei desde pequeno ser perfeito...”

O severo acusador interno o sagaz cobrador e vigilante dos limites, o astuto e impiedoso crítico interno, estará sempre presente e será sempre protegido pela raIva. Essa raiva terá sempre justificativa. Então será fácil

criticar ou menosprezar os outros, será fácil apontar os erros alheios, sim, você sabe como fazer isso de um modo... perfeito, porque você sabe como fazer isto com você! Por outro lado, a raiva e o ressentimento são cúmplices quando se julga os outros segundo os rígidos padrões internos. Vejamos isto no depoimento de um pai Número 1 que decide dar “uma lição” a uma de suas filhas:

“Entrei no quarto de minhas filhas e encontrei muita desordem (brinquedos espalhados por todos os cantos do quarto)... Exacerbou-se a raiva que nutria há muito tempo em relação à filha mais nova pelo seu desleixo e descaso com os estudos. Fui tomado de grande ira. Juntei todos os seus ‘ídolos’ (brinquedos) e atirei-os ao lixo (não é admissível que alguém que já possua certa compreensão possa gastar seu tempo e

seu amor com objetos inanimados). A meu ver, a dedicação e o carinho que minha filha menor dedicava àquelas ‘bugigangas’ eram altamente perniciosos, e eu não podia, em nenhuma hipótese, permitir que aquilo continuasse. Deveria ‘cortar’ essa tendência o mais breve possível, e este era o momento ideal, já que estava com raiva suficiente...”

Pois é: Tipos 1 estão sempre preocupados com a “questão moral”, com o “modo certo” que tudo deve ser feito. Eles se tornam muito crí- ticos em relação ao que hoje chama-se “politicamente correto.” Lembro que, numa passagem de Gurdjieff fala a seus alunos, um autêntico Tipo 1 perguntou ao Sr. Gurdjieff: “Não haverá um código absoluto de mo- ralidade que deveria se impor de igual modo a todos os homens?” Ele respondeu: “Sim. Quando pudermos usar todas as forças que contro- lam os centros, poderemos então ser ‘morais’. Mas, por ora, enquanto usarmos uma só parte das nossas funções, não poderemos ser ‘morais’. Atuamos mecanicamente em tudo o que fazemos e as máquinas não podem ser morais.”

O movimento em direção à angústia

Quando a procura da perfeição é considerada inútil porque não se consegue fazer com que a realidade seja o que você quer que ela seja, quando não se pode atingir o perfeito, quando os outros não compre- endem sua ordem e a atrapalham ou a negam, quando os outros não consideram os seus esforços em direção ao “perfeito”, quando não se recebe a compensação esperada, a raiva determina um movimento para

a angústia (Movimento a 4).

A angústia do Tipo 1 o deixa sem forças no começo. Tudo parece sem sentido, porque o suposto “único sentido” foi atropelado. Sobre este assunto, uma aluna declara: “Se falho em alguma coisa, sofro e me culpo, ou tento encontrar as razões disso fora de mim...” Outra confirma o movimento a 4 com estas palavras: “... Poucas vezes meu mundo foi mexido (atenção para as palavras ‘meu mundo foi mexido’) e meus ideais abalados. Quando isso acontece... é uma tragédia: sofro,

choro e penso no passado ou me fixo no futuro...”. O movimento a 4 se confirma definitivamente nestas últimas palavras (pensar no

passado e fixar-se no futuro), que lembram uma das razões principais

do sofrimento dos Tipos 4, como se verá na análise desta “máscara” no momento oportuno. A “saída” do presente no qual existia essa

ordem, esse “território” não abalado que agora sofre uma espécie de “ameaça” exterior, tira o Tipo 1 de seu plano de segurança, tira dele a certeza de que esse mundo foi melhor antes de acontecer tal ou qual coisa e voltará a ser melhor quando se volte a tê-lo firme, seguro e sem

No documento Eneagrama (páginas 125-153)