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O exercício físico – a ginástica e a natação

No documento Olímpia de Jesus de Bastos Mourato Nabo (páginas 95-98)

Capítulo III – A saúde e a higiene no universo doméstico através da

3.5 Do corpo

3.5.2 O exercício físico – a ginástica e a natação

Lacerda (1881) salientava os benefícios resultantes da manutenção do exercício, nomeada- mente, as actividades físicas que eram um meio de resistência ao frio. Com efeito, o “exerci- cio, os longos passeios, a actividade do corpo e do espirito são recursos eficazes, para se augmentar a produção do calor organico” (p.28).

87 De acordo com as palavras deste autor, o exercício físico em geral era “indispensavel para a conservação da saude” (p.61), desde que fosse moderado e atendesse às idades e ao espaço em que era executado. Desta forma,

[…] augmenta a actividade dos orgãos, torna a digestão mais facil, a circulação mais activa, a assimilação mais regular e, sob a sua influencia, desinvolvem-se os ossos, o peito e os musculos. No homem a marcha é o exercicio melhor e mais facil. Á creança é indispensavel que ande, corra, pule e se agite no seu bulicio infantil, accelerando a respiração, augmentan- do a energia das forças vitaes, desenvolvendo os orgãos e facilitando o crescimento. Comtu- do, para que os exercicios e a agitação produzam os seus effeitos salutares não devem effec- tuar-se em espaços acanhados, mas antes em grandes salões ou, melhor ainda, ao ar livre. De todos os modos de exercicio, o que melhor convem a toda a gente é sem contestação a mar- cha variada, em pleno ar, no campo, nas mattas e nos prados, e sobre um terreno ligeiramen- te acidentado (p. 61).

Lauret (1881) concebia a ginástica de acordo com duas funções: educativa e artística. Assim, no campo da higiene corporal, podia ser um método de cura e de prevenção de doenças. A educação física conferia civilidade ao Homem, sendo uma garantia de progresso social.

O autor definia ginástica, citando as palavras de Consiglieri Pedroso, do Compendio de Histo- ria Universal, como “meio de educação physica do homem” e considerava que havia adquiri- do uma “importancia social pela sua benefica influencia civilizadora”, pelo que era “introdu- zida como ensino obrigatorio em todas as escolas dos paizes mais adeantados” (p.4).

Lauret entendia a ginástica, com base na definição de Neumann, como uma

[…]arte que consiste no exercicio de todos os orgãos do corpo, - exercicio systematico exe- cutado em harmonia com regras determinadas e baseado nas leis anatomicas e physiologicas do nosso organismo.

Esta definição incerra os principaes fundamentos sobre que deve estabelecer-se a verdadeira gymnastica (p.3).

O autor situava os princípios fundamentais da “verdadeira gymnastica” nas antigas civiliza- ções orientais em que os seus povos praticavam já “methodicamente a arte gymnica” não só ao nível dos movimentos exercitados, mas também na conservação da saúde, na arte de curar e na educação física do corpo. Tal como afirmava a “mais vetusta menção que hoje conhece- mos de um systema de movimentos hygienicos e curativos, incontra-se nos annaes da China” (p.4).

Afinal, quais eram os princípios fundamentais em que se baseava a “verdadeira gymnastica”? Lauret (1882), pretendendo instruir os leitores sobre a “verdadeira gymnastica”, identificava o aperfeiçoamento físico, intelectual e moral do homem como princípios alcançar. Porém, tal aperfeiçoamento implicava abarcar o entendimento sobre o funcionamento do organismo humano: “conhecer a natureza do ser humano, isto é, a anatomia, a physiologia e as leis phy- sicas e mechanicas” e “estudar o movimento natural em si mesmo, seu mecanismo e as suas propriedades, seu effeito primitivo e simples, seu effeito secundario e complexo sobre a eco- nomia humana”. Seguindo um processo gradual, depois de se ter adquirido este conhecimento

88 restava estudar a relação entre o movimento natural e o movimento artificial e observar a sua anatomia, as suas propriedades fisiológicas e as suas diferentes aplicações à educação, à higiene e à terapêutica (pp.10-11).

Na visão deste professor de “gymnastica”, a ginástica era uma “sensata combinação da scien- cia com a arte, em conscienciosa observancia das leis da natureza” (p.13). E, mediante a exe- cução de “movimentos systematicamente ordenados e individualizados” tinha como objecti- vos proceder ao tratamento curativo e ao tratamento prophyilactico, aos quais correspon- diam, respectivamente, a gymnastica curativa e a gymnastica prophylactica (ou de desenvol- vimento) entre as quais, em certos casos, era difícil estabelecer uma separação. Na gymnastica prophylactica, os movimentos executados eram classificados em três grupos – movimentos livres (“a pé firme” e “mudando de lugar”), movimentos semi-livres e movimentos ligados. (Anexo III: figuras 36 e 37). A diferenciação entre os grupos de movimentos era feita através da utilização ou não de aparelhos, ou seja, qualquer “simples ingenho” que servisse de apoio aos movimentos. Os aparelhos seriam empregues nos movimentos semi-livres, neste caso os apparelhos eram móveis, e nos movimentos ligados, em que se usavam aparelhos fixos. (Anexo III: figura 38).

Soares (1883), como defensor da natação, animava os seus leitores para a sua prática, dando à aprendizagem um sentido de cumprimento do dever cívico face aos outros:

D’entre os exercicios corporaes […], a Natação é um dos mais uteis; […] onde encontrar uma arte, ou um exercicio mais util e mais nobre do que esse, que nos pode proporcionar o ensejo de salvarmos a propria vida n’um lance perigoso, ou mesmo (o que ainda é mais) a vida de um nosso similhante, de um companheiro de fadigas, de um amigo emfim? (p. 5).

Através do seu discurso, instruía-os no sentido de desmistificar os receios em relação ao meio aquático e garantia que

[…] em toda a edade se apprende a nadar, quando não haja (intenda-se bem) defeito organi- co que o impeça.

É uma simples questão de conformação physica.Para não se morrer afogado, é preciso per- manecer a cabeça fóra d’agua […]; e acontecerá isso tanto mais depressa quanto mais agi- tarmos os braços fóra d’agua, o que o homem que não sabe nadar faz por uma impulsão ins- tinctiva tentando lançar a mão a quanto julga ao alcance.

Ao homem […] para nadar é preciso que os movimentos dos braços e das pernas sejam alternadamente desincontrados, - isto é, que os braços se abram quando as pernas se unem e vice-versa (pp.11-12).

E, deste modo, as suas orientações serviriam para auxiliar a maioria dos indivíduos a ultrapas- sar as dificuldades inerentes à natação:

[…] as difficuladades naturaes que o apprendiz de nadador tem que vencer, vemos que são: - 1.º Conservar a cabeça fóra d’agua; 2.º Fazer movimentos desincontrados e cadentes com os braços e pernas; 3.º Vencer o medo e a impressão desagradavel que produz a immersão em agua fria. São pois muitas as difficuldades a superar ao mesmo tempo, o que nos explica as infructiferas e desanimadoras tentativas feitas pelo apprendiz de natação […] (p.12).

89 Soares defendia as virtudes do método de ensinar “a nadar em sêcco” (Anexo III: figuras 34 e 35) em detrimento do ensino da “natação já dentro d’agua”, justificando-o da seguinte forma:

Começar portanto o ensino da natação já dentro d’agua é accumular a um tempo todas as difficuldades, - sendo talvez de todas ellas a mais ardua de vencer, nas creanças o medo da agua, nos adultos o medo do ridiculo […].[…] quem desejar apprender a nadar, deve estudar os movimentos de natação fóra d’agua, e, sabidos elles, pol-os em execução no elemento próprio. Muita gente extranhará por certo que se ensine a nadar em sêcco, - e, […] zombará do methodo aqui apresentado. Como porêm não é elle invenção nossa, responderemos aos criticos que tal methodo está seguido desde 1852 para o ensino da natação nos corpos do exercito francez (p.12).

Almeida d’Eça (1883) considerava a “natação é um dos exercicios gymnasticos mais provei- tosos para a saude e ao mesmo tempo mais agradaveis (p.63).

No documento Olímpia de Jesus de Bastos Mourato Nabo (páginas 95-98)