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4 Resultados da Pesquisa

4.2 As redes sociais e os gêneros discursivos

4.2.5 O Facebook, o WhatsApp e os gêneros discursivos

A Figura 23 esquematiza as perspectivas de Bakhtin apresentadas, relacionadas com a realidade do campo e objeto desta pesquisa. O esquema apresenta o processo de comunicação discursiva que acontece através do Facebook e do WhatsApp. Nele, o usuário é o ouvinte e os outros usuários os falantes, interligados através da atividade de enunciação pertinente às ferramentas destas redes sociais, configurando gêneros discursivos diversos. Deste modo, os gêneros discursivos configurados neste ciberespaço elaboram outros enunciados para além

deste espaço, possibilitando uma interação entre um usuário e os demais em outros lugares, caracterizando um processo de comunicação discursiva concomitante e expansivo.

Figura 23: Processo de comunicação discursiva por meio do Facebook e do WhatsApp. Fonte: autora.

Enquanto ferramenta discursiva, tanto o Facebook quanto o WhatsApp fazem parte do que Bakhtin (2011) chama de gêneros discursivos primários, considerando os enunciados e conversas virtuais cotidianas estabelecidas nos mesmos. No esquema, através destas redes sociais, todos os aspectos do processo discursivo estão conectados. Portanto, o sujeito falante ou enunciador seria o Usuário, dono de um perfil em uma destas redes. Os ouvintes, neste caso, seriam os Outros Usuários, donos de perfis individuais - ou páginas, no caso do

Facebook - às quais o falante tem acesso e mantém contato em rede ou até mesmo

pessoalmente. Também no caso específico do WhatsApp, em relação ao Facebook, a possibilidade de acesso a Outros Usuários “desconhecidos” é muito restrita, já que a particularidade desta rede pressupõe contato com usuários conhecidos que estejam na agenda de telefones do Usuário. Assim, o Usuário ou o Outro Usuário “desconhecido” deverá ter o contato salvo para que a primeira conversa possa ser estabelecida. Vale ressaltar que, em um processo dialógico, os papéis de falante e ouvinte se intercalam e são concomitantes, sendo o

esquema da Figura 23 uma representação de um momento discursivo, e não da experiência discursiva como um todo.

Considerando as observações de Bakhtin, este processo de troca de textos, símbolos, imagens, vídeos, entre outras possibilidades, seria parte da elaboração de enunciados produzidos e compartilhados por meio das ferramentas destas redes, entre um determinado grupo social conectado por meio delas. Tais trocas de informações, conhecimentos e experiências, ao mesmo tempo em que são produtos de gêneros discursivos dos grupos sociais, são produtores também de outros gêneros e possivelmente de outros grupos sociais.

Relacionando Bakhtin (2011) com Lemos (2009), o processo de comunicação discursiva acontece não apenas nos encontros presenciais. As conexões entre espaço e ciberespaço estão por toda a parte. Portanto, os lugares podem ser pensados como locais onde a linguagem se movimenta das suas mais variadas formas e representações.

Com isto, a evolução tecnológica possibilitou diversas formas de interação social, porém as peculiaridades básicas da linguagem, em relação ao dialogismo e à intertextualidade, conservam-se um novo meio para o gênero discursivo. Dessa forma, segundo Berto e Gonçalves (2011), o processo de interação é a principal explicação do contexto comunicacional atravessado pelas mídias digitais, cuja participação dos indivíduos tem sido cada vez mais constante e facilitada pelas mesmas.

Já a Figura 24 sintetiza a proposta da pesquisa, considerando o Facebook e o

WhatsApp como objetos de pesquisa e a escola como campo de pesquisa. Tendo foco na

problemática da pesquisa, considerando a constante presença destas redes sociais na escola (campo de pesquisa), a possibilidade de interação que ocorre por meio delas, a construção discursiva oral e escrita pelos jovens desta escola, sujeitos desta pesquisa, através deste meio, produzindo e reproduzindo os mais variados enunciados como alguns exemplos das figuras 11 a 21.

O esquema representado na Figura 24, sintetiza o processo de comunicação discursiva entre os sujeitos desta pesquisa tanto no Facebook quanto no WhatsApp, que é refletido no espaço escolar (campo desta pesquisa) e vice versa. Neste processo, os sujeitos estabelecem uma relação comunicacional entre usuário (falante) e outros usuários (ouvintes), interligados por meio da atividade de enunciação pertinente às ferramentas do Facebook e do WhatsApp, e também do contato pessoal entre eles, configurando gêneros discursivos diversos. Do mesmo modo, os gêneros discursivos configurados nestes espaços (Facebook, WhatsApp e escola) elaboram outros enunciados para além destes mesmos espaços, possibilitando uma interação entre usuário e outros usuários em diferentes locais.

Figura 24: Processo de comunicação discursiva entre os sujeitos desta pesquisa por meio do Facebook e do WhatsApp. Fonte: autora.

Destarte, Berto e Gonçalves ressaltam:

O homem enquanto ser social possui uma necessidade inerente de se comunicar, observada através das várias formas de linguagem (tais como a fala, a escrita e a linguagem de sinais), dos diversos códigos e das diferentes formas de construção linguística existentes. Esses diferentes formatos comunicativos são frutos de sucessíveis evoluções dos sistemas de linguagem. [...] Através delas tornou-se possível a interação simultânea, ou não, com diferentes indivíduos rompendo as barreiras geográficas, temporais e linguísticas, empecilhos que antes eram significantes no resultado do processo comunicacional. Todas essas evoluções tecnológicas observadas no âmbito comunicacional criaram uma nova forma de ser social, que satisfaz sua necessidade de expressão através da transferência e importação de conteúdos e informações digitais, e do diálogo com outras pessoas existentes, em muitos casos, apenas no plano virtual. (Ibid., p. 104)

Contudo, as informações trocadas nestes ambientes virtuais são também compartilhadas no campo físico material, a escola. Considerando o campo e os sujeitos desta pesquisa, a partir das observações de campo e de perfis do Facebook, e das entrevistas informais e formais, foi possível constatar o quanto os assuntos que iniciam ou são parte das interações no campo virtual, sobretudo em relação aos assuntos discutidos entre eles no

dentro da escola. Com foi visto, os alunos, quando estão na escola, aproveitam para interagir não somente com os sujeitos presentes no mesmo espaço físico, mas também com os que estão no espaço virtual, o ciberespaço.

Por fim, também foi possível observar que a sexualidade está dentre os conteúdos mais trocados e compartilhados entre os alunos nestes dois espaços e lugares interativos – escola e redes sociais. Sobre isso, Augé (1997) afirma que a relação que os indivíduos mantêm na Internet através dos dispositivos móveis gera não-lugares. Segundo o autor, há o lugar de interação que ocorre no espaço físico e nele os não-lugares surgem através da possibilidade de contato além deste espaço, a partir do uso da Internet. Para os profissionais entrevistados, os jovens, ainda no início da adolescência, têm a facilidade de se desdobrarem entre vários espaços físicos e não físicos. Assim, o contato com o ciberespaço facilitaria o interesse e a reprodução de significados, vivenciando prematuramente questões relacionadas à sexualidade, já que os valores compartilhados por este meio podem estar apontando para o assunto.

Dessa forma, o próximo e último capítulo pretende apresentar as considerações sobre todo este estudo levando em conta o que foi aqui discutido e o que poderá ser discutido em outros estudos, por não se enquadrar na proposta desta pesquisa.