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4 Resultados da Pesquisa

4.1 Discutindo os resultados

4.1.3 O uso do celular

Buscando compreender como a escola lida com os conhecimentos sobre sexualidade, quando atravessados pelas informações e conteúdos das redes sociais foram feitas perguntas durante as entrevistas em relação ao uso do celular na escola. De acordo com os professores entrevistados, o uso do celular é péssimo para o cotidiano escolar e são constantes os problemas e reclamações relacionados ao seu uso. Sousa (2015) esclarece que os alunos, quando são estimulados a realizarem alguma pesquisa em sala através do celular, sempre reclamam que não estão com créditos ou que não podem usá-los para acessarem a rede de Internet fornecida pelas operadoras de telefonia móvel. No entanto, diariamente estão conectados ao Facebook e ao WhatsApp.

Os entrevistados compreendem que os alunos não estão amadurecidos para o uso do celular em sala de aula. O acesso ao celular possibilita a distração dos alunos e eles perdem o assunto que está acontecendo na sala de aula. Sobre isso, Sousa explica:

Eu, na sala de aula, não deixo usar o celular. Porque se eu for deixar vou dar aula para as paredes. Este é o grande problema. Não é que a ferramenta seja ruim, mas vejo que eles não estão amadurecidos.

No decorrer das observações foi possível perceber que, embora seja proibido o uso do celular em sala de aula, existem acordos entre alguns professores e alunos para que este uso possa acontecer. Na reunião avaliativa bimestral - Conselho de Classe - que aconteceu no dia 06 de maio 2015, em que os professores e outros profissionais da escola discutiram sobre a aprendizagem dos alunos, os professores comentaram sobre o uso do celular e de outros dispositivos móveis na escola e aparentemente exauridos disseram o quanto isso atrapalha as

aulas e consequentemente o processo de ensino-aprendizagem. Deste modo, a diretora decidiu impor mais punições, como suspensões, para que a Lei Estadual de proibição do uso do celular na escola fosse respeitada.

Graziela (2014), que além de professora colabora também com a coordenação pedagógica da escola, como resultado do Conselho de Classe elaborou junto com a gestão escolar um Regime Interno que enfatiza a proibição do uso do celular na escola com base na Lei Estadual. A justificativa para esta iniciativa são os problemas rotineiros em relação ao uso do celular, dentre eles, a dificuldade no aprendizado causada pela distração com o celular, o acesso às redes sociais, sites pornôs, as brigas que são planejadas através das conversas pelo

WhatsApp e também imagens de professores e situações da escola que são fotografadas sem

autorização e compartilhadas na Internet. Como na Lei Estadual, o Regimento Interno enfatiza que o uso do celular só será permitido para fins pedagógicos. Vale ressaltar que, ao tomar ciência sobre o conteúdo do Regimento todos os alunos e professores precisaram assinar a documentação.

De fato, foi possível observar que, seja na sala de aula, nos corredores ou no pátio, os alunos utilizam o celular a todo instante e a escola ainda não consegue controlar ou proibir o seu uso. Enquanto professora e pesquisadora, acompanhei o conflito entre duas alunas relacionado ao uso do celular e da Internet:

As alunas Maiara40 e Juliana41 usaram o wifi através do celular de outra aluna e acabaram brigando uma com a outra. Juliana relatou que decidiu usar a Internet porque queria usar o Facebook, mas logo depois Maiara começou a implicar com ela. A discussão foi traçada a partir da indagação de Maiara sobre porquê a Juliana estava usando a Internet de outra pessoa. Após as palavras de implicância uma agrediu a outra fisicamente. Avisada sobre o ocorrido, a gestão escolar suspendeu as duas alunas por um dia das aulas e convocou seus responsáveis. (BARROS, 2015, ref. 30/09/2015)

Já nas primeiras observações de campo e entrevistas informais, foi possível perceber a preocupação com a distração e conflitos que o uso do celular proporciona. Sobre isto, Santos (2014), explicita:

Esta questão do celular é muito complicada, pois dentro do Estado há uma legislação que proíbe o uso do celular na escola. Como hoje o celular popularizou praticamente todas as pessoas possuem ou acessam a Internet, pois já têm planos mais baratos, que são utilizados inclusive pelos alunos. Dentro da escola existem algumas regras que restringem o uso do celular em sala de aula. No entanto, sempre há professores estressados, pois eles não

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Nome fictício. 41

respeitam e colocam o celular por baixo da mesa pra não serem pegos. Em qualquer situação que eles tenham oportunidade eles utilizam. No pátio acho não tem restrição quanto ao uso do celular. Os que não têm Internet ficam “catando” a Internet dos colegas ou wifi de moradores vizinhos à escola. Semana passada eles descobriram que na sala de recursos tem Internet. Eu não tinha senha, mas tive que ficar provando que eu não tinha e que o wifi estava desligado. Eles ficam nervosos e são capazes de ultrapassar qualquer regra pra utilizarem a Internet e o celular. E as regras existem.

Percebe-se, portanto, que a escola ainda encontra dificuldades em lidar com situações e problemas que envolvam o uso do celular. Na sala de aula, de acordo com as entrevistas, os alunos usam o celular escondido e não respeitam a lei e o Regimento. Para evitar possíveis discussões e aborrecimentos, os professores exigem que os alunos deixem os celulares desligados ou no modo vibratório sobre a mesa do professor com autorização para retirá-los apenas ao final da aula. Em contrapartida, como já foi dito anteriormente, uma minoria de professores combina com os alunos momentos da aula em que o celular poderá ser utilizado. Alves (2015) entende que esta postura é melhor do que proibir, já que os alunos não respeitam a lei e o Regimento constantemente.

Durante a aula que ministro - Ensino Religioso - por exemplo, pude perceber o não respeito à proibição do uso do celular na sala de aula pelas alunas Maiara, Raíssa e Aline42. Enquanto atendia outros alunos da turma, constatei o uso do celular pelas alunas para fazer

selfies e também pude ouvir que era para postar no Facebook. Neste dia, particularmente, no

papel de professora, tive dificuldades para iniciar a aula devido à postura das alunas e insistência em continuar utilizando o celular na aula. Enquanto professora, entendo o posicionamento de alguns colegas em relação ao uso do celular em sala de aula. De fato, pode atrapalhar e gerar confusão. É preciso insistir para que os alunos entendam quando podem ou não utilizar o celular.

Em outra ocasião, também na aula de Ensino Religioso, como atividade culminante do tema que foi discutido com o 9º ano, foi sugerido aos alunos a criação de alguns cartazes sobre intolerância religiosa. Ao invés de criarem espontaneamente as ideias em grupo, eles utilizaram o celular para pesquisar modelos de cartazes e imagens na Internet para depois copiarem. Quando apontei a importância de exercer a criatividade, as alunas Raíssa e Aline disseram que não queriam perder tempo. Dessa forma, pude perceber que os alunos procuram as redes e a Internet para encontrar informações, mas ainda ignoram a importância de criar a partir de suas próprias ideias.

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Portanto, como professora, compreendo os colegas que criam combinados com os alunos, pois isso facilita a boa convivência e de algum modo não gera tanto conflito entre alunos e professores, já que não é possível gerenciar a utilização do celular pelos alunos. Ao passar pelos corredores da escola, por exemplo, notei uma sala de aula com a porta aberta e rapidamente observei que havia alguns alunos terminando uma atividade. Os que já tinham terminado estavam usando seus celulares.

A gestão escolar tem consciência das situações de uso do celular na escola, mas se omite quanto aos combinados entre professores e alunos. Entende que, se o uso não afeta o andamento da escola em geral, não há problema. Por outro lado, outros professores que realmente proíbem o celular são vistos pelos alunos como os “chatos”, gerando conflitos entre os próprios docentes.